sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O priolo: de praga a jóia da coroa


O priolo: de praga a jóia da coroa

Penso que hoje ninguém põe em causa o trabalho que tem sido feito em prol da conservação do priolo, ave única no mundo, que vive na zona montanhosa situada a leste da ilha de São Miguel nem os milhões de euros já investidos nos vários projetos que têm sido implementados nos concelhos do Nordeste e da Povoação.

Se hoje o priolo é classificado como uma espécie em perigo, no passado foi, a par com outras aves, considerado uma praga agrícola e como tal foi combatido pelas entidades oficiais, que incentivavam o seu abate, e foi perseguido pelos agricultores.

Embora a principal causa para o seu quase desaparecimento tenha sido a destruição e redução do seu habitat, sobretudo para a plantação de criptomérias e para a criação de pastagens, a perseguição movida pelos agricultores, que recebiam incentivos para os matar, a sua captura e morte por parte de colecionadores também contribuíram para que o seu número se reduzisse drasticamente.

Segundo uma nota publicada no Correio dos Açores, no dia 18 de novembro de 1971, chegou-se a duvidar da sua existência como se pode ler: “Nos últimos anos tem sido por mais de uma vez discutida ou posta em dúvida, nos sectores mais diretamente ligados aos estudos de ornitologia, a presença em S. Miguel de uma ave rara, que segundo parece, hoje só existe nesta ilha”.

Na mesma notícia, é mencionado o aparecimento de um priolo “na Lagoa das Furnas, na propriedade ao lado do antigo Jardim José do Canto”, tendo o exemplar sido apanhado e ido para o Museu Carlos Machado, “onde se encontra a enriquecer a coleção ali existente”.

Hoje, embora a evolução das mentalidades não tenha acompanhado a evolução da tecnologia, ninguém de bom senso considera mais importante uma ave empalhada num museu do que uma ave viva e em liberdade.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31017, 23 de agosto de 2016, p.16)

Imagem daqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Priolo

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