terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Binóculo e Louise Michel



O Binóculo e Louise Michel

O Binóculo foi um jornal humorístico de periodicidade primeiro quinzenal e depois semanal que se publicou em Ponta Delgada, tendo a sua redação na rua de são Brás, 98 e 100. O Binóculo foi um dos projetos dos dois irmãos editores de jornais João Cabral (1853-1916) e Augusto Cabral (1856-1924) que foram proprietários da Litografia Lusitana.

João Cabral, identificado em alguns jornais como professor de desenho, foi, segundo Ana C. Moscatel Pereira, a alma do binóculo e do seu filho “O Pist” foi “um artista de merito que estuda e que progride a olhos vistos [...]» e que ia «conquistando logar honroso não só pela firmeza do traço e correcção do desenho, mas tambem pela graça que faz presidir aos seus trabalhos”.

No seu número 47 relativo ao dia 18 de agosto de 1883, o jornal “O Binóculo” tem como assunto principal a vida da revolucionária francesa Louise Michel (1830-905) que foi professora, poetisa e escritora, foi uma das participantes da Comuna de Paris.

Como uma das principais militantes da Comuna de Paris, Louise Michel foi um pouco de tudo, desde enfermeira e condutora de ambulâncias até comandante de um batalhão feminino. A propósito da participação das mulheres nos combates escreveu: “Os nossos amigos homens são mais atreitos a desfalecimentos de coragem que nós, as mulheres. Durante a Semana Sangrenta, foram as mulheres que levantaram e defenderam a barricada da Place Blanche- e mantiveram-na até à morte”.

Tendo recebido uma educação inspirada pelos ideais da Revolução Francesa, estudou e tirou o curso de professora primária, mas como se recusou a prestar juramento a Napoleão III foi-lhe vedado o acesso ao ensino público.

Impedida de trabalhar no ensino público, Louise Michel usa a herança que recebeu do avô para abrir escolas na província. Mais tarde regressa a Paris e continua a ensinar durante quinze anos ao mesmo tempo que publica livros de poesia e romances.
Na sequência da derrota da Comuna, ela que tinha conseguido fugir, acabou por se entregar para que a sua mãe presa em seu lugar fosse libertada.

Condenada a dez anos de deportação, foi enviada para a Nova Caledónia onde manteve atividade política e foi autorizada a trabalhar como professora. Mais tarde, depois de ter sido presa por diversas vezes, exilou-se em Londres onde dirigiu, durante vários anos, uma escola libertária.

Desconhecemos se João Cabral simpatizava ou não com os ideais de Louise Michel e que fontes terá utilizado para dedicar a capa e um texto àquela revolucionária francesa.

No texto referido, depois de considerar que Louise Michel havia sido condenada a “uma pena severíssima imposta a uma mulher”, “seis anos de prisão, seguidos de 10 anos de vigilância policial” por ter participado numa manifestação em que foram saqueadas três padarias”, “O Binóculo” escreveu que ela não aceitou ser considerada criminosa comum, tendo afirmado “que o seu crime era político, e não devia ser tomada responsável pelo saque dado a algumas padarias, que não promoveu, e seria levado a efeito por alguns garotos, que, coitados, teriam fome”.

Sobre o espírito de sacrifício de Louise Michel, no texto referido podemos ler que ela era 2dotada de um temperamento capaz de suportar as mais rijas provações do infortúnio, sem murmurar uma queixa ou imprecação”.

Em relação à sua dedicação aos outros e à causa que abraçou, também se pode ler que “ela, no tempo de exílio, se despojava ali das meias que trazia nos pés para dar aos mais necessitados! “ e que “amava a revolução com entusiasmo, como fanatismo cego, não por amor de si, mas dos operários e da paz do universo”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30844 de 27 de janeiro de 2016, p.14)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Romeu


Romeu

A educação para os direitos dos animais ou para a defesa do bem-estar animal deve ser uma das prioridades para quem defende um mundo mais justo, pacífico e respeitador de todos os seres vivos.
Para além da educação, o Dr. J.P. Richier, conhecido psiquiatra francês, defende que as crianças e jovens não devem ter acesso a espetáculos violentos, entre os quais as touradas.
Depois de afirmar que “aquilo que devemos transmitir aos nossos filhos não são valores ou práticas imutáveis, mas sim valores e práticas que têm sentido e ideal no nosso mundo actual”, J.P. Richier acrescenta o seguinte:
A habituação à violência não evita, por outra parte, certas formas de trauma. Alguns apaixonados pelas touradas têm relatado uma primeira experiência, na infância, marcada pelos choros e pela perturbação. A posterior repetição da experiência violenta pode gerar, ao mesmo tempo, um trauma e uma impregnação da violência, que aparece como um mecanismo de defesa para absorver esse trauma. Por outra parte o relatório Brisset (2002) menciona o seguinte: “Enfim, os peritos sublinham que a violência é tanto mais traumatizante quanto ela é repetitiva, mesmo que uma só imagem ou uma só cena já o possam ser segundo algumas vivências ou na opinião dalgumas personalidades. A repetição da imagem violenta favorece, segundo certo número de psiquiatras, uma espécie de impregnação da violência.”

No que diz respeito à educação, as associações de proteção dos animais envolvidas na tentativa de minimizar os abandonos de animais de companhia, procurando persistentemente famílias de acolhimento, temporário ou definitivo, não têm tido, do meu ponto de vista, tempo nem recursos para chegar a outros animais e a uma campanha sistemática de sensibilização/educação.

Os recursos disponíveis pelo menos em português também não são abundantes, pelo que saudamos a publicação de “Romeu- o touro que não gostava de touradas”, uma história dedicada aos mais pequenos, com texto e ilustração de Tânia Bailão Lopes e prefácio do autor Heitor Lourenço.

No prefácio desta “história de Romeu, um touro pinga-amor, muito meigo e amigo de todos”, Heitor Lourenço escreveu:” Ninguém, nenhuma criatura, gosta de a sentir. Por isso acho que é dever do ser humano, uma vez que é dotado de uma elevada inteligência, fazer uso dela da melhor maneira, diminuindo o sofrimento e tornando o mundo melhor”.

Uma bonita história que se recomenda.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30843, 26 de janeiro de 2016, p.13)

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Bombas


BOMBAS

A confirmar-se o recente teste de uma bomba de hidrogénio por parte da Coreia do Norte, desde 16 de julho de 1945, ano em que foi realizado o primeiro teste nuclear, no Novo México, nos Estados Unidos, realizaram-se até hoje em todo o mundo 2056 testes nucleares.

A nível mundial, os Estados Unidos da América foi o país que realizou mais testes nucleares, 1032, em segundo lugar no “ranking” está a União Soviética/Rússia, com 715, e em terceiro lugar a França, com 210. Depois das grandes potências nucleares, também fizeram testes nucleares, a Inglaterra, a China, a Coreia do Norte, a Índia e o Paquistão.

Desde Setembro de 1996, encontra-se aberto para assinaturas o Tratado de Proibição Total de Ensaios Nucleares que estabelece que os signatários não devem realizar qualquer teste nuclear. O tratado que até agora foi assinado por 183 países, não conta com a aprovação dos seguintes países que possuem armas nucleares: China, Egito, Coreia do Norte, Índia, Irão, Israel, Paquistão e Estados Unidos.

Não sendo a primeira vez que a Coreia do Norte não respeita o Tratado de Proibição Total de Ensaios Nucleares não é, também, a primeira vez que vários países que o não assinaram, hipocritamente, vêm condenar aquele país.

Não sendo novidade, tanto os testes como as condenações, o que poderá ser novo é o facto de a Coreia do Norte ter testado não uma bomba nuclear “tradicional” mas uma bomba de hidrogénio.

Qual a diferença entre os dois tipos de bombas?

A primeira diferença é que para a mesma massa, uma bomba de fusão, bomba de hidrogénio ou bomba H possui uma potência três vezes maior do que uma de cisão, bomba atómica ou bomba A.

No que diz respeito ao “modo de funcionamento”, a bomba atómica baseia-se na cisão de um elemento químico que poderá ser o isótopo* 235 do urânio ou o plutínio-239.

Numa bomba atómica são colocadas num invólucro, duas quantidades do elemento químico separadas, subcríticas, que ao juntarem-se passam a supercríticas. Para que se dê a junção e a consequente explosão, uma dos processos utilizado consiste no uso de um explosivo convencional que provoca a junção das suas massas antes separadas. As bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaqui eram deste tipo.

As bombas de hidrogénio ao contrário das atómicas, baseadas na desintegração dos átomos, têm como fundamento a fusão de certos átomos leves, como o hidrogénio, com a emissão de muita energia.

Nas bombas de hidrogénio os isótopos de hidrogénio mais usados são o deutério (átomo com um neutrão) e o trítio (átomo com dois neutrões). Para que seja possível a fusão dos átomos é necessário o fornecimento de uma quantidade muito elevada de energia, o que é feito através de uma detonação de uma bomba de cisão colocada no centro da bomba H.

O primeiro teste de uma bomba H ocorreu a 31 de outubro de 1952, nos Estados Unidos da América.

Para que a população mundial viva em paz, não basta condenar o que fazem os outros. “Para que possa o ser humano receber com propriedade o título de “homo sapiens”, terá de abolir ou restringir esta grave ameaça” (Albert Einstein).

*isótopos- átomos de um mesmo elemento químico que possuem o mesmo número de protões e diferente número de neutrões.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30837, 20 de janeiro de 2016, p.14)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Poetas zoófilos


O Correio dos Açores e os poetas zoófilos

Nas pesquisas que temos vindo a efetuar sobre o tema da proteção dos animais, encontrámos no jornal Correio dos Açores em 1933 e em 1935 uma rubrica intitulada “Poetas Zoófilos” que poderá ter sido coordenada por Alice Moderno.
Entre os poetas que foram selecionados temos Gomes Leal, autor de “O bicho da seda e o verme”, Paulino de Oliveira que escreveu “As olaias e as cigarras”, Espínola de Mendonça autor de “A uma criança que maltratou um cão”, Louis Pergaud que escreveu “Les gardiens”, Luís Cebola, autor de “Dois amigos” e de “Burro velho”, Teixeira de Pacoaes autor de “Buda” e Alice Moderno que escreveu três sonetos com o tema “Fiel companheiro” e outro sobre “A Toutinegra”.
Dos autores referidos dois são açorianos, Espínola de Mendonça, natural de Ponta Delgada, e Alice Moderno, natural de Paris e que viveu primeiro na ilha Terceira e depois em São Miguel.
Termino esta nota transcrevendo o poema de Espínola de Mendonça publicado neste mesmo jornal a 9 de julho de 1933.

A Uma criança que maltrata um cão

Não maltrates o cão. Tem caridade
com o pobre animal.
Ele é tão nosso amigo e, na amizade,
ninguém é mais leal.

Se o malvado lhe inflige algum castigo,
a essa ingratidão
quantas vezes responde o cão amigo,
vindo beijar-lhe a mão!

E essa amizade pela vida fora
é sempre firme, pura.
E os amigos volúveis vão-se embora
nas horas de amargura.

Ele é tão nosso amigo! E a humanidade
nem sempre é como o cão!
Dispensa-lhe carinho, e, por piedade,
Não o maltrates, não.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30836, 19 de janeiro de 2016, p.13)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A propósito de bananas


A propósito de bananas

“Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem.”

Nos Açores cultivam-se várias espécies de bananeiras. O arquiteto-paisagista José Marques Moreira num livro cuja leitura se recomenda “Alguns aspectos de intervenção humana na evolução da paisagem da Ilha de S. Miguel (Açores)”, editado, em 1987, pelo Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, menciona a Musa paradisíaca L. e a Musa ensete Gmel.

Em 1925, de acordo com um texto publicado no Correio dos Açores, os Açores ainda não possuíam bananas “para vendê-las ao freguês exótico; mas como aos açorenses {…] não lhes sofre o ânimo deixarem de cultivar tudo quanto aos outros agricultores de qualquer parte do globo cultivam, brevemente produzirão bananas todos os dias para o consumo continental”. Através do mesmo texto, fica-se a saber que estava empenhada na concretização daquele objetivo a “Sociedade Corretora Limitada”.

Através de outro livro interessante, “Agricultura Açoriana…um caminho para a Europa. Os handicaps açorianos na directiva 75/268/CEE”, do Eng. Fernando Monteiro da Câmara Pereira, fica-se a saber que as plantações de bananeiras ocupavam, nos Açores, no indício da década de 60 do século passado, 950 hectares e que a produção estimada para 1980 era de 5000 toneladas.

Em 2007, nos Açores, a área cultivada com bananeiras era de 324 hectares e a produção foi de 5800 toneladas, o que representou 21% da produção total nacional. Em 2011, a área de cultivo de bananeira era de 297 hectares e a produção atingiu o total de 5 108 toneladas. Dois anos depois, em 2013, verificou-se um ligeiro decréscimo, tanto na área ocupada como na produção. Assim, nesse ano a área cultivada passou a ser de 290 hectares e a produção foi de 5030 toneladas.

Não temos dados estatísticos para Vila Franca do Campo, mas temos a sensação, pela observação da ocupação dos terrenos, que deverá ter havido um ligeiro aumento da área ocupada com bananeiras nos últimos anos.

Se por acaso estivermos errados no que diz respeito à afirmação anterior, não faltaremos à verdade se afirmarmos que cresceu a confiança dos produtores na cooperativa, desde que sangue novo, competente, honesto e dedicado chegou à sua direção.

Um problema com que alguns produtores se debatem e que não é de agora é o do furto de bananas, o qual infelizmente não é para matar a fome, mas para o comércio fortemente lucrativo, já que os comerciantes ladrões não arcam com os custos de produção.

Temos conhecimento de pelo menos meia dúzia de produtores da freguesia da Ribeira Seca que, ao longo dos anos, têm sido vítimas dos amigos do alheio.

Um deles, depois de quantias avultadas de bananas furtadas e desconfiando de um produtor/comerciante que colocava bananas num determinado espaço comercial, decidiu fazer umas pinturas dificilmente visíveis nos cachos e passou a seguir os passos do amigo do alheio. Ao fim de algum tempo, a sua desconfiança deixou de o ser, tendo apanhado o gatuno.

Apesar de ter ficado a saber quem lhe furtava, as burocracias com as várias entidades com vista ao merecido castigo de quem gostava de viver à custa do trabalho alheio foram tantas que, desgostoso, acabou por vender a sua propriedade.

Os outros dois, desesperados com os furtos de quantias avultadas de bananas roubadas, num dos casos cerca de 500 kg em três meses, para evitar que aqueles continuassem decidiram pintar as bananas, perdendo estas todo o seu valor comercial.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30831, 13 de janeiro de 2016, p.14)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A perseguição aos milhafres


A perseguição aos milhafres

O milhafre ou queimado, a nossa única ave de rapina diurna, pode ser considerado como um predador oportunista já que alimenta-se das presas mais abundantes e ou mais frágeis e fáceis de serem apanhadas. De acordo com alguns estudos, alimenta-se, essencialmente, de insetos, de pequenas aves e de ratos e coelhos.

Apesar de serem de grande utilidade para os agricultores, sempre foram sobrevalorizados os estragos e esquecidos os benefícios, daí serem alvo de perseguição e morte.

Através de um texto publicado, em 1983, no jornal “O Baluarte”, ficamos a saber que, na ilha de Santa Maria, na década de cinquenta do século passado, os milhafres eram fortemente perseguidos por matarem galinhas e por se atirarem a cordeiros e cabritos recém- nascidos.

O autor do texto mencionado relata as barbaridades cometidas por um vizinho a quem um milhafre arrebanhou uns frangos. Segundo ele, o referido vizinho conseguiu apanhar o meliante e fez o seguinte:

“Amarrou-o, arrancou-lhe as penas da cauda e depois, sem pressas, aqueceu uma verga nas brasas da lareira e, mordendo os beiços, furou-lhe os olhos. Eu e a malta assistíamos ali de cócoras ao espetáculo, ficamos todos ajudando a gozar a judiaria, tentando enfiar uma cana no bico do miserável do bicho. Ao atirá-lo por uma ribanceira abaixo, disse o vizinho satisfeito: anda maldito, vai agora matar galinhas!”

Em 1972, segundo um texto da autoria de Eduardo Rebelo, publicado no jornal “A Ilha”, o milhafre era “considerado como prejudicial à caça, tendo sido votado à morte pela nossa atual Comissão Venatória, que dá por cada bico 2$50.”

Naquela altura e até há alguns anos, os milhafres eram também odiados pela população que vivia nas zonas rurais por atacar os seus animais de capoeira, principalmente os pintainhos.

A seguir ao 25 de abril de 1974, durante o chamado Verão Quente, por cá assistiu-se à morte de alguns milhafres para os embalsamar. Nunca entendi tal atitude que apenas reflete a falta de bom gosto e de bom senso, pois se a ave era (é) o símbolo dos Açores este deveria estar vivo e bem vivo.

Hoje, por mais educação dita ambiental que se diz fazer, a maioria dos mais novos quando se fala em milhafre não faz a mínima ideia do que seja e os mais idosos, embora não tenham capoeiras e só comam alimentos provenientes dos mais diversos estabelecimentos comerciais, continuam a falar nos milhafres como aves altamente prejudiciais. Esta atitude só vem confirmar a atualidade do pensamento de Albert Einstein quando afirmou que era mais fácil destruir um átomo do que um preconceito.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30830, 12 de janeiro de 2916, p.13)

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Direita volver


Direita volver!?

Nos últimos tempos, tenho lido um conjunto de textos de pessoas ligadas ao Partido Social Democrata a chamar a atenção para a necessidade daquele partido retomar a matriz social-democrata que o caracterizava aquando da sua fundação.

Embora completamente desligado de quaisquer atividades partidárias e não siga com atenção a vida política atual, que é caraterizada essencialmente por uma guerra partidária por vezes entre partidos que têm mais em comum do que aquilo que os divide, de vez em quando procuro fazer comparações com o que se passava nos primeiros anos após a chamada Revolução dos Cravos.

No que diz respeito ao atual Governo da República, assistiu-se a algo inédito, isto é, os dois partidos com programas e ideologias (ou falta delas) mais próximas, Partido Social Democrata e Partido Socialista, não se entenderam, fazendo com que um político que se deveria ter demitido por ter alcançado um péssimo resultado passasse a ser primeiro-ministro.

Se nada me move contra a solução encontrada, não me esqueci do afastamento de António José Seguro que foi corrido da liderança socialista por ter ganho duas eleições por poucochinho.

No que se refere aos Açores, penso que o Partido Social Democrata está condenado à oposição por muitos anos, entre outras, por duas razões: por não ter sabido gerir o afastamento compulsivo do Dr. Mota Amaral e por ter perdido o seu espaço levemente social-democrata para o Partido Socialista que é hoje uma verdadeira União Nacional, digo União Regional, albergando no seu seio desde elementos ideologicamente da direita, extrema ou não, a ex-comunistas que despiram a vertente social da ideologia professada, mas que não abdicaram da ditadura que agora não é a dita do proletariado, mas a deles mesmos sobre todos os que não pensam como eles.

Os dois partidos da esquerda parlamentar que apoiam o atual Governo da República, que não é nem pode ser um governo de esquerda, também, ao longo dos tempos, têm evoluído da esquerda para o centro, tendo perdido ou pelo menos camuflado a sua matriz ideológica. Hoje, o Partido Comunista Português é um partido nacionalista com preocupações sociais e o o Bloco de Esquerda está muito longe das duas principais formações que lhe deram origem. a União Democrática Popular e o Partido Socialista Revolucionário.

Relativamente ao Partido Ecologista “Os Verdes”, que também suporta parlamentarmente o governo de António Costa, parece-me que está igual a si próprio, como prova a sua posição relativamente às eleições presidenciais que é a de impedir a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa e de Maria de Belém, cujas candidaturas são consideradas como “suportadas e corporizadas pelos grandes interesses económicos e apoiarem um modelo de sociedade que se afasta do projeto ecologista que o PEV defende para Portugal”.

Para terminar, no que diz respeito ao Partido Social Democrata, abaixo transcrevo um extrato de um texto publicado no jornal “A Ilha”, no dia 16 de novembro de 1974, que hoje não sei por quantos militantes daquele partido seria aceite:

“O Partido Popular Democrático:
- não é um partido conservador e capitalista, favorável à subsistência das estruturas sociais e económicas de antes de 25 de abril;

- não é um partido liberal no sentido económico, favorável a um sistema assente no lucro e na subalternização da justiça social à produção;

- não é um partido ao serviço do capitalismo, entendendo que este deve ser modificado através duma estratégia antimonopolista, pelo alargamento e gestão eficiente do sector público e através da transformação do estatuto da empresa.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30825, 6 de janeiro de 2016, p.14)

Câmara Municipal de Ponta Delgada: candeia que vai à frente ...


Câmara Municipal de Ponta Delgada: candeia que vai à frente…

Pela dimensão do concelho e pelo número de habitantes do mesmo, por existir um protocolo com Vila Franca do Campo e Nordeste, o Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada (Canil Municipal) é o que, nos Açores, mais animais recebe e consequentemente mais animais abate.

Podíamos atirar as culpas para os sucessivos autarcas, aqui estou a referir-me a todos, que até ao momento não compreenderam que a situação não se resolve com abates, quando as cadelas continuam a procriar e os donos continuam a abandonar as crias um pouco por todo o lado ou a levianamente entregá-las nos canis sem serem responsabilizados por isso.

Um verdadeiro prémio à irresponsabilidade e à crueldade são, também, os serviços prestados por autarquias que possuem recolha domiciliária de animais de companhia, com dias e horas marcadas, equiparando seres sencientes a lixo urbano.

Face a esta deplorável situação, há que aprender com outras comunidades e com as poucas autarquias que possuem canis onde não há abates sistemáticos e que não aceitam entregas de animais, como é o caso de Lisboa onde, apesar disso, o número de animais abandonados não aumentou.

Como já fizemos em textos anteriores, continuamos a afirmar que só através de repetidas campanhas de esterilização e de sistemáticas campanhas de sensibilização que envolvam todos os interessados, nomeadamente as associações locais de defesa dos animais, é possível ultrapassar a situação existente.

A notícia recente, divulgada em vários órgãos da comunicação social açoriana, que dá conta que decorreu entre 1 e 15 de dezembro uma campanha de esterilização de cadelas no concelho de Ponta Delgada, mas que terá abrangido os concelhos de Vila Franca do Campo e Nordeste, foi muito bem recebida por diversas pessoas que se preocupam com a causa animal e de certeza terá sido acarinhada pelas pessoas que nas associações locais, fazem o possível e o impossível, para acabar com o abandono e por dar uma família a todos os animais escorraçados por quem os devia cuidar.

Estão de parabéns a Câmara de Ponta Delgada, a Associação Zoófila Portuguesa e a Campanha de Esterilização de Animais Abandonados que estabeleceram uma parceria para que o projeto se tornasse uma realidade. De parabéns estão também o veterinário municipal de Ponta Delgada e as Clínicas Veterinárias aderentes (Capelas, Paim, São Gonçalo e Vila Franca do Campo) pois sem elas não teria sido possível a implementação do projeto que tinha por objetivo a esterilização de 60 cadelas.

Embora ainda não saiba os resultados alcançados, a minha saudação especial aos autarcas envolvidos, nomeadamente ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Dr. José Manuel Bolieiro e à Sr.ª vereadora Engª Luísa Magalhães pela concretização da campanha e pela intenção de “transformar o Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada (Canil Municipal) no futuro próximo num “Canil de Abate Zero””.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30824, 5 de dezembro de 2015, p.13)