quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A propósito de bananas


A propósito de bananas

“Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem.”

Nos Açores cultivam-se várias espécies de bananeiras. O arquiteto-paisagista José Marques Moreira num livro cuja leitura se recomenda “Alguns aspectos de intervenção humana na evolução da paisagem da Ilha de S. Miguel (Açores)”, editado, em 1987, pelo Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza, menciona a Musa paradisíaca L. e a Musa ensete Gmel.

Em 1925, de acordo com um texto publicado no Correio dos Açores, os Açores ainda não possuíam bananas “para vendê-las ao freguês exótico; mas como aos açorenses {…] não lhes sofre o ânimo deixarem de cultivar tudo quanto aos outros agricultores de qualquer parte do globo cultivam, brevemente produzirão bananas todos os dias para o consumo continental”. Através do mesmo texto, fica-se a saber que estava empenhada na concretização daquele objetivo a “Sociedade Corretora Limitada”.

Através de outro livro interessante, “Agricultura Açoriana…um caminho para a Europa. Os handicaps açorianos na directiva 75/268/CEE”, do Eng. Fernando Monteiro da Câmara Pereira, fica-se a saber que as plantações de bananeiras ocupavam, nos Açores, no indício da década de 60 do século passado, 950 hectares e que a produção estimada para 1980 era de 5000 toneladas.

Em 2007, nos Açores, a área cultivada com bananeiras era de 324 hectares e a produção foi de 5800 toneladas, o que representou 21% da produção total nacional. Em 2011, a área de cultivo de bananeira era de 297 hectares e a produção atingiu o total de 5 108 toneladas. Dois anos depois, em 2013, verificou-se um ligeiro decréscimo, tanto na área ocupada como na produção. Assim, nesse ano a área cultivada passou a ser de 290 hectares e a produção foi de 5030 toneladas.

Não temos dados estatísticos para Vila Franca do Campo, mas temos a sensação, pela observação da ocupação dos terrenos, que deverá ter havido um ligeiro aumento da área ocupada com bananeiras nos últimos anos.

Se por acaso estivermos errados no que diz respeito à afirmação anterior, não faltaremos à verdade se afirmarmos que cresceu a confiança dos produtores na cooperativa, desde que sangue novo, competente, honesto e dedicado chegou à sua direção.

Um problema com que alguns produtores se debatem e que não é de agora é o do furto de bananas, o qual infelizmente não é para matar a fome, mas para o comércio fortemente lucrativo, já que os comerciantes ladrões não arcam com os custos de produção.

Temos conhecimento de pelo menos meia dúzia de produtores da freguesia da Ribeira Seca que, ao longo dos anos, têm sido vítimas dos amigos do alheio.

Um deles, depois de quantias avultadas de bananas furtadas e desconfiando de um produtor/comerciante que colocava bananas num determinado espaço comercial, decidiu fazer umas pinturas dificilmente visíveis nos cachos e passou a seguir os passos do amigo do alheio. Ao fim de algum tempo, a sua desconfiança deixou de o ser, tendo apanhado o gatuno.

Apesar de ter ficado a saber quem lhe furtava, as burocracias com as várias entidades com vista ao merecido castigo de quem gostava de viver à custa do trabalho alheio foram tantas que, desgostoso, acabou por vender a sua propriedade.

Os outros dois, desesperados com os furtos de quantias avultadas de bananas roubadas, num dos casos cerca de 500 kg em três meses, para evitar que aqueles continuassem decidiram pintar as bananas, perdendo estas todo o seu valor comercial.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30831, 13 de janeiro de 2016, p.14)

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