terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Direita volver


Direita volver!?

Nos últimos tempos, tenho lido um conjunto de textos de pessoas ligadas ao Partido Social Democrata a chamar a atenção para a necessidade daquele partido retomar a matriz social-democrata que o caracterizava aquando da sua fundação.

Embora completamente desligado de quaisquer atividades partidárias e não siga com atenção a vida política atual, que é caraterizada essencialmente por uma guerra partidária por vezes entre partidos que têm mais em comum do que aquilo que os divide, de vez em quando procuro fazer comparações com o que se passava nos primeiros anos após a chamada Revolução dos Cravos.

No que diz respeito ao atual Governo da República, assistiu-se a algo inédito, isto é, os dois partidos com programas e ideologias (ou falta delas) mais próximas, Partido Social Democrata e Partido Socialista, não se entenderam, fazendo com que um político que se deveria ter demitido por ter alcançado um péssimo resultado passasse a ser primeiro-ministro.

Se nada me move contra a solução encontrada, não me esqueci do afastamento de António José Seguro que foi corrido da liderança socialista por ter ganho duas eleições por poucochinho.

No que se refere aos Açores, penso que o Partido Social Democrata está condenado à oposição por muitos anos, entre outras, por duas razões: por não ter sabido gerir o afastamento compulsivo do Dr. Mota Amaral e por ter perdido o seu espaço levemente social-democrata para o Partido Socialista que é hoje uma verdadeira União Nacional, digo União Regional, albergando no seu seio desde elementos ideologicamente da direita, extrema ou não, a ex-comunistas que despiram a vertente social da ideologia professada, mas que não abdicaram da ditadura que agora não é a dita do proletariado, mas a deles mesmos sobre todos os que não pensam como eles.

Os dois partidos da esquerda parlamentar que apoiam o atual Governo da República, que não é nem pode ser um governo de esquerda, também, ao longo dos tempos, têm evoluído da esquerda para o centro, tendo perdido ou pelo menos camuflado a sua matriz ideológica. Hoje, o Partido Comunista Português é um partido nacionalista com preocupações sociais e o o Bloco de Esquerda está muito longe das duas principais formações que lhe deram origem. a União Democrática Popular e o Partido Socialista Revolucionário.

Relativamente ao Partido Ecologista “Os Verdes”, que também suporta parlamentarmente o governo de António Costa, parece-me que está igual a si próprio, como prova a sua posição relativamente às eleições presidenciais que é a de impedir a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa e de Maria de Belém, cujas candidaturas são consideradas como “suportadas e corporizadas pelos grandes interesses económicos e apoiarem um modelo de sociedade que se afasta do projeto ecologista que o PEV defende para Portugal”.

Para terminar, no que diz respeito ao Partido Social Democrata, abaixo transcrevo um extrato de um texto publicado no jornal “A Ilha”, no dia 16 de novembro de 1974, que hoje não sei por quantos militantes daquele partido seria aceite:

“O Partido Popular Democrático:
- não é um partido conservador e capitalista, favorável à subsistência das estruturas sociais e económicas de antes de 25 de abril;

- não é um partido liberal no sentido económico, favorável a um sistema assente no lucro e na subalternização da justiça social à produção;

- não é um partido ao serviço do capitalismo, entendendo que este deve ser modificado através duma estratégia antimonopolista, pelo alargamento e gestão eficiente do sector público e através da transformação do estatuto da empresa.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30825, 6 de janeiro de 2016, p.14)

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