quinta-feira, 30 de agosto de 2018

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A Madeira continua a ser um jardim


A Madeira continua a ser um jardim

Já visitei a ilha da Madeira por quatro vezes, sempre com objetivos diferentes. Por razões profissionais, para troca de experiências no âmbito da Educação Ambiental, numa visita integrada num Projeto INTERREG, como integrante de um Curso sobre Património Cultural e Natural, destinado a professores, promovido pelo Centro Nacional de Cultura, em viagem turística e, por último, para participar no lançamento de um livro sobre o Jardim José do Canto.

Se me perguntassem que razões apresentava para aconselhar uma visita à Madeira, apontava as seguintes: o património natural, os trilhos pedestres, os jardins, o património cultural, a sua Biblioteca Pública e Arquivo Regional e a Livraria Esperança.

No que diz respeito ao património natural e à sua conservação, não vou referir-me à riqueza dos seus endemismos. Neste texto, apenas, quero realçar o trabalho hercúleo de reflorestação com espécies autóctones no maciço montanhoso do Pico do Areeiro, realizado pela Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal.

Tendo já participado há alguns anos, como voluntário, numa sessão de plantação, este ano tive a oportunidade de visitar uma parte da área intervencionada e de conhecer o Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha onde a associação tem instalações e onde também faz plantações.

Relativamente aos jardins, poderia enumerar vários cuja visita deve ser obrigatória, como o Jardim da Quinta do Palheiro Ferreiro, o Jardim Botânico da Madeira, o Jardim Tropical Monte Palace, o Jardim da Quinta da Vigia, a Quinta Jardins do Lago e o Jardim da Quinta da Casa Branca.

Na recente visita, estive nos últimos três jardins referidos, onde tive a oportunidade de ver plantas que para mim eram totalmente desconhecidas. Embora recomende uma visita a todos, destaco o Jardim da Quinta da Casa Branca que para além do jardim propriamente dito, possui uma área agrícola com bananeiras, papaeiras, abacateiras e maracujazeiros e uma pequena horta de plantas aromáticas.

Na Quinta da Casa Branca, hotel botânico, entre as mais de 260 espécies que podem ser observadas no jardim, destaco a árvore da canela (Cinnamomum verum), a macadâmia (Macadamia integrifólia), o pau-brasil (Paubrasilia echinata), a coralina-crista de galo (Erythrina crista-galli), a planta-dos-dentes (Plumeria rubra var. acutifólia), a chama-da-floresta (Spathodea campanulata), a palmeira azul (Brahea armata) e a árvore-das-salsichas (Kigelia africana).

Em relação ao património religioso/arte sacra, aberto a crentes e não crentes, recomenda-se uma visita à Sé do Funchal que possui uma cruz processional que é considerada um dos melhores exemplares da ourivesaria manuelina ou à Igreja do Colégio, um bom exemplo de templo jesuíta, cuja capela-mor possui um retábulo que é “uma das joias da talha madeirense”.

O que mais me encantou na última visita à Madeira foi, sem sombra de dúvidas, a Livraria Esperança que visitei todos os dias em que esteve aberta.

Localizada no centro do Funchal, a Livraria Esperança que é a maior livraria de Portugal e “uma das maiores livrarias do Mundo” possui “mais de 20 salas num espaço de cerca de 1200 m2 e mais de 107 000 livros diferentes expostos de capa.”

Criada em 1886 por Jacinto Figueira de Sousa, a partir de 1991, a livraria que se encontra informatizada, passou a pertencer à Fundação Livraria Esperança, uma Instituição Particular de Solidariedade Social que destina metade das receitas à oferta de livros às crianças da Madeira.

O leitor açoriano, na Livraria Esperança, pode encontrar muitos livros editados nos Açores ou sobre os Açores que hoje não estão disponíveis entre nós. A título de exemplo, refiro que encontrei um livro sobre Alice Moderno, que não tive a oportunidade de adquirir noutro local, vários livros da autoria do Marquês de Jácome Correia e o livro de Manuel Ferreira intitulado “As voltas que Santa Clara Deu”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31608, 28 de agosto de 2018, p. 16)

sábado, 25 de agosto de 2018

Em defesa da Reserva Natural da Lagoa do Fogo


Em defesa da Reserva Natural da Lagoa do Fogo

Da criação da Reserva Natural e dos atropelos ao longo dos tempos

A preocupação com a degradação da natureza não é recente, tendo ao longo dos tempos várias vozes se erguido a apelar e a exigir a sua conservação. Em termos de entidades oficiais, a nível mundial, podemos considerar que 1972 foi um ano em que se deram os passos mais importantes com a realização, em Estocolmo, da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano.

Aquele evento, onde foi criado o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), e aprovada a Declaração do Ambiente que foi considerado por John McCormick como “o acontecimento isolado que mais influiu na evolução do movimento ambientalista internacional” e onde “o pensamento progrediu das metas limitadas de proteção da natureza e conservação dos recursos naturais para a visão mais abrangente da má utilização da biosfera por parte dos humanos”.

Em Porttugal, por aquela altura, foram tomadas algumas medidas para a conservação da natureza que se estenderam aos Açores, como foi a criação no Faial e no Pico de “duas zonas de reserva integral, de acordo com a defesa da Natureza e das espécies florestais existentes”, a zona da Caldeira e a Montanha do Pico.

Na sequência daquela decisão governamental, o jornal Correio dos Açores, em 1972, lançou um apelo, para que a Lagoa do Fogo não fosse esquecida, nos seguintes termos:

“…acode-nos ao bico da pena o caso especial da nossa Lagoa do Fogo, de longa data a carecer de igaul medida ministerial, na justa defesa da sua beleza primitiva à volta de um conjunto panorâmico que importa salvar integralmente e enquanto é tempo”.

Há 46 anos, a visão profética do Correio dos Açores parece que se está a concretizar hoje com o aumento do fluxo turístico para a Região. Assim, a criação da Reserva da Lagoa do Fogo e de outras em várias ilhas, segundo o jornal, destinava-se a potegê-las “da mão do homem” e da “sua fúria por vezes tão destruidora como criminosa”, evitando assim as consequências do facto dos Açores irem “ser considerados como zona prioritária no sector do turismo”.

Criada em 1974, o que tem sido feito até hoje, em que a área está integrada no Parque Natural da ilha de São Miguel, tem sido quase só a mudança da lesgislação, adequando-a às alterações que ocorrem noutras paragens.

Ao longo dos tempos, desde a sua criação, a Reserva Natural da Lagoa do Fogo tem assistido a um conjunto de atropelos à sua integridade enquanto área destinada prioritariamente à salvaguarda dos ecossistemas, características naturais ou espécies de flora e fauna.

Não sendo exaustivos, registamos, a seguir, alguns exemplos onde a atuação das entidades foi de autorização, conivência ou inação:

- A plantação de extensas matas de criptoméria;
- A apanha de “leiva” para o cultivo do ananás;
- Associada à extracção de leiva, a propagação das espécies exóticas e invasoras como a Clethra arborea, a Leycesteria formosa, a conteira, a silva, o pica-rato e o gigante.
- A plantação de vastas áreas de eucaliptos na encosta Sul, nomeadamente no Pico da Praia;
- A tentativa, concretizada, de ajardinar e plantar ornamentais, como azáleas, cedros, hortênsias na encosta Sul, por parte dos Serviços Municipais de Ponta Delgada;
- O pastoreio por cabras e as queimadas provocadas por cabreiros;

Com a redução dos preços das viagens aéreas, o turismo tem crescido, nos últimos anos, na ilha de São Miguel e com ele, para além dos bem-vindos benefícios para a economia local, surgem os problemas associados à sobrecarga humana das zonas visitadas, entre as quais as mais sensíveis, as áreas protegidas.

Nada que não fosse de esperar, mas que o governo regional, uma vez mais, não quis ou não foi capaz de, atempadamente, tomar medidas para não depenar ou mesmo matar a nossa galinha dos ovos de ouro, o património natural dos Açores.

No caso da Lagoa do Fogo, pensamos que tem havido algum desnorte, quando, por exemplo, houve uma, não pensada, candidatura da praia ao concurso das Sete Praias Maravilhas de Portugal para pouco depois proibir “banhos e natação” ou quando se estabeleceu um prazo, muito alargado, para que um grupo de trabalho apresente medidas para regular o acesso à lagoa e conservar a qualidade da água.

De uma recente visita

No passado dia 22, acompanhado de familiares, uma das quais, em 1981, havia feito parte do percurso comigo, decidi descer à Lagoa do Fogo, contornar as suas margens e caminhar até Água d’ Alto, passando pelo percurso pedestre das Quatro Fábricas da Luz.

Começando pelo trilho que liga o miradouro à lagoa, verifico que há uma grande alteração no trajeto. Com efeito, há alguns anos quase não havia necessidade de escadas, pois o mesmo serpenteava aproveitando as curvas de nível. Hoje, com as escadas ter-se-á diminuído a distância, mas tornado tanto a subida, como a descida mais difíceis para quem não tenha uma boa condição física. Além disso, se se pretende oferecer qualidade a quem nos visita, o estado em que se encontram os degraus é deplorável e mesmo perigoso. Assim, alguns estão partidos e outros com desníveis muito altos e com ferros espetados, resultado da falta de manutenção e da erosão provocada pela água das chuvas que não foi devidamente desviada.

No que diz respeito à vegetação, verifico uma maior presença de espécies exóticas, algumas delas invasoras, entre elas destaco as conteiras. Também, não faz qualquer sentido, para além de ser ilegal, se a lei fosse para ser cumprida por todos sem exceção, uma pequena plantação de criptomérias existentes no inicio do trilho.

Na zona das Captações de Água, que é mantida pelos Serviços Municipalizados de Ponta Delgada, verifiquei que se continua a não perceber a diferença entre uma Reserva Natural e um Jardim. Com efeito, se aqueles serviços ajardinam muito bem as zonas onde mantêm as suas captações, na Reserva Natural deviam respeitar a legislação e não introduzir exóticas, como azáleas e hortênsias e muito menos penachos, uma terrível espécie invasora que facilmente domina a vegetação herbácea e arbustiva. Como só detetamos a presença de duas plantas, sugerimos a sua retirada antes que as mesmas se propaguem, o que tornará, mais tarde, difícil e cara a sua erradicação.

O aumento das espécies invasoras mostra que o combate às mesmas não passou de conversa para encher papel ou de meras ações pontuais, como aconteceu nesta reserva em 2009, quando foi contratada uma associação ambientalista para fazer o combate às mesmas, como reação a algumas ações de limpeza de infestantes organizadas pela efémera Liga dos Amigos da Lagoa do Fogo.

Por último, uma referência à fiscalização e à educação ambiental ou à ausência das mesmas. É lamentável que quando por quase todo o lado se construíram Centros de Interpretação, alguns megalómanos, a Reserva da Lagoa do Fogo tenha ficado no esquecimento e que a educação ambiental que já teve melhores dias nos Açores tenha desaparecido.

A par da prioritária educação ambiental, esta Reserva precisa de uma fiscalização permanente, sobretudo nos meses em que o número de visitantes é maior.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31607, 26 de agosto de 2018, pp. 6 e 7)

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A Junta de Freguesia deseduca


A Junta de Freguesia deseduca

A Junta de Freguesia do Pico da Pedra parece que, também, já aderiu à onda de deseducação ambiental. Com efeito, ignorando a chamada política dos três Rs que coloca como primeira prioridade a redução da produção de resíduos, depois a sua reutilização e em terceiro lugar a reciclagem, num folheto editado por ocasião do 183º aniversário da criação da freguesia a única menção que é feita é a seguinte: “Cultive esta ideia” e “Reciclar fica mais bonito”.

Mais recentemente, chegou-nos à caixa de correio um desdobrável elaborado por um conjunto de jovens do Programa OTL- J onde aquela ideia errónea é reafirmada.

Não vamos dar importância à gralha existente no texto, onde aparece “conselho” em vez de “concelho”, mas achamos que deveria ter havido uma revisão do mesmo antes da sua distribuição.

No que diz respeito à mensagem, continuamos a reafirmar que está errada e aproveitamos para afirmar que a luta contra o aquecimento global, que agora virou moda, mas nada se faz, só será consequente se as palavras forem complementadas pelos atos.

É contraditório querer contribuir para uma eficiente gestão dos resíduos quando se utiliza apenas uma página de uma folha. O correto seria usar as duas páginas com um bom texto informativo ou a apresentação de uma paginação diferente, utilizando menos papel.

Pico da Pedra, 23 de agosto de 2018

T.B.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O PICO DA CRUZ


O PICO DA CRUZ

Na freguesia do Pico da Pedra havia a tradição da subida ao Pico da Cruz, elevação com 366 m de altitude, situada a sul da localidade.

O Pico da Cruz localiza-se na zona central da ilha de São Miguel, na denominada Plataforma dos Picos que está encaixada entre o Maciço das Sete Cidades e o Maciço de Fogo. Nesta plataforma, o ponto mais alto é a Serra Gorda, com 485 m de altitude.

O Pico da Cruz encontra-se coberto por vegetação variada, com destaque para eucaliptos, criptomérias e acácias. Na sua base situa-se uma das mais interessantes grutas da ilha de São Miguel que apresenta o teto em forma de mãos postas.

Uma das últimas iniciativas em que participei, com a intenção de escalar o Pico da Cruz, realizou-se no dia 10 de junho de 2016, promovida pela Junta de Freguesia do Pico da Pedra. Na ocasião, para desilusão da maioria dos participantes não foi possível atingir o ponto mais alto, em virtude do trilho se encontrar obstruído.

No dia 4 de junho de 1988, depois de uma visita à Gruta do Pico da Cruz, onde foi possível observar junto à sua entrada uma orquídea muito bonita e rara, que nunca mais observei em São Miguel, o bico-de-queimado (Serapias cordigera), fizemos uma tentativa falhada para subir ao Pico da Cruz.

Se não me falha a memória, a última vez que consegui atingir o cume do Pico da Cruz, foi no dia 12 de fevereiro de 2004, num dos passeios pedestres, integrantes do projeto “Conhecer para Proteger”, organizados pelos Amigos dos Açores- Associação Ecológica.

Se é verdade que todos os caminhos vão dar a Roma, não é menos verdade que o melhor trilho que nos conduz ao cimo do Pico da Cruz localiza-se na propriedade da família Cordeiro que, aquando da visita organizada pelos Amigos dos Açores, para além de prontamente ter autorizado a passagem pela sua propriedade, também ofereceu aos participantes um espetáculo equestre.

Se o leitor fizer uma pesquisa, facilmente encontrará referências e relatos de visitas efetuadas ao Pico da Cruz.

O Padre António Furtado de Mendonça (1864-1940) nas suas “Memórias da Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres do Lugar do Pico da Pedra”, no ano de 1913, escreveu o seguinte:

“…E para que nada falte, a quem se quer deleitar com boas vistas o pico da Cruz, tão próximo d’esta freguesia, sendo um dos mais elevados de toda a ilha, proporciona n’uma tarde de verão um dos mais agradáveis passeios pelas duas extensas faixas do litoral da ilha, que d’alli se descobrem, pelos lados norte e sul.”

A melhor descrição, que conhecemos, de uma visita ao Pico da Cruz deve-se a Sebastião Carlos da Costa Brandão de Albuquerque (1833-1927), Visconde do Ervedal da Beira, que em 1894 foi colocado no Tribunal da Relação dos Açores.

No seu livro “Narrativas Insulares”, recentemente editado pela Letras Lavadas Edições, podemos ler o seguinte:

“De Ponta Delgada, avista-se muito bem, é um dos muitos cabeços que mais se destacam dos outros pela altura e isolamento em que se acham, mas a maior parte das pessoas ignora os tesouros que ele põe à sua disposição; ninguém vem dizer ao forasteiro, suba aquele outeiro, que não perde o seu tempo, suba que vê de lá dois mares; se olhar para sul divisa ao longe a ilha de Santa Maria…mais para cima encontra a grande e formosa Vila da Ribeira Grande no meio de arvoredos, encantadora pela alvura das suas habilitações e edifícios e pela sua situação e posição de esplendor.”

O leitor impossibilitado de subir ao Pico da Cruz poderá obter um panorama semelhante se subir a “torre” existente no Pinhal da Paz.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31602, 21 de agosto de 2018, p.14)
Fotografia: Amigos dos Açores, 2005

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O LEGADO DE JOSÉ DO CANTO



O LEGADO DE JOSÉ DO CANTO

Muito já se escreveu sobre o legado de José do Canto para a sociedade açoriana, contudo penso que ainda muito há a pesquisar para conhecermos a fundo o homem multifacetado que ele foi.

José do Canto, em criança, sonhou ser médico, na juventude queria estudar botânica e, ao contrário do que pretendia, acabou por se matricular em Matemática. Tendo desistido da frequência universitária para casar com sua prima Maria Guilhermina, acabou por ser gestor de uma empresa agrícola de sucesso e um botânico amador, isto é, que amava o que fazia.

Sobre o seu amor ou a sua paixão pelas plantas escreveu: “… mas o que me restabeleceria completamente ao meu antigo vigor seriam umas férias absolutas…ver e examinar as plantinhas, classificá-las, descobrir algumas novas que, introduzidas, possam ser úteis ou elegantes…”

José do Canto não se distinguiu, apenas, pelo contributo que deu ao desenvolvimento da agricultura, sobretudo através da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense. Com efeito, também, se preocupou com o ensino/educação, tendo sido membro ativo da Sociedade dos Amigos das Letras e Artes, instituição que criou várias escolas primárias em diversos locais da ilha de São Miguel, apoiou instituições de solidariedade como o Asilo da Infância Desvalida e o Hospício de Maria Tereza, cujas instalações mandou construir em memória de sua irmã D. Maria Teresa do Canto que faleceu num desastre, em 1857.

Ainda no que diz respeito à sua preocupação para com os mais desfavorecidos, José do Canto por diversas vezes teve intervenção durante as crises dos cereais, no sentido de impedir a subida dos preços dos alimentos essenciais à sua subsistência.

Relativamente às artes/letras, José do Canto foi um mecenas que apoiou os estudos de Marciano Henriques e custeou a publicação de livros de Bulhão Pato, de Feliciano de Castilho e de Gomes de Amorim. Como bibliófilo José do Canto deixou-nos uma biblioteca camoniana que é considerada, pelo Professor universitário Justino Mendes de Almeida, um “monumento imperecível”.

José do Canto foi também coautor de estudos importantes, como a “Memória sobre a possibilidade e utilidade da construção de um molhe em Ponta Delgada”, tendo na luta pela construção da doca, segundo ele, perdido anos de vida.

José do Canto teve uma pequena participação política, tendo presidido à Junta Geral. Contudo, tendo, em 1852, sido proposto para se candidatar a deputado, recusou. Na ocasião escreveu um pequeno texto intitulado “Aos micaelenses que pretendiam eleger-me deputado”.

Para despertar a curiosidade para a sua leitura, aqui vai um pequeníssimo extrato sobre a caracterização da sociedade do seu tempo:

“Uma dívida pública enorme, impossível de pagar na totalidade, e que só com o pagamento dos juros dessagra o país, e extinguirá em pouco tempo o seu numerário ..;

“Os homens públicos, sem fé, nem honestidade, os cidadãos honestos, poucos em número, e sem a força ou energia de suplantarem os que abusam da sua cordura;

Termino, com uma citação de um texto que o Dr. Eugénio Pacheco, professor, republicano e autonomista, escreveu aquando do seu falecimento:

“Recordemos apenas que, apesar dos seus méritos, José do Canto tinha a rara virtude da modéstia. Desprezou todas as honras e jamais se armou à popularidade. Podendo aspirar a muito alto, circunscreveu-se apenas a bem servir a sua Pátria. O seu desprendimento de vaidades assinalou-se primeiro no opúsculo em que rejeitou a candidatura de Deputado por este círculo e realizou-se depois em toda a sua vida. Das mercês que lhe quiseram conferir aceitou unicamente a de sócio da Academia Real das Ciências porque nessa eleição ia um preito ao seu querido Camões. Nobre e grandioso exemplar de vida prestante e pura!”

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31597, 14 de agosto de 2018, p. 12)

domingo, 12 de agosto de 2018

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Base das Lajes uma ameaça aos açorianos e a todos os povos do mundo


Base das Lajes uma ameaça aos açorianos e a todos os povos do mundo

Introdução
A posição geográfica dos Açores, entre o continente Europeu e o Americano, fez com que o arquipélago desempenhasse ao longo dos tempos um papel importante na ligação entre os vários povos.

Se no século XVI, a importância dos Açores esteve ligada à escala de navios, no século XX, foi o seu uso militar que passou a estar em destaque. Com efeito, na primeira Guerra Mundial esteve instalada uma base naval e na Segunda Guerra Mundial passaram a existir duas bases aéreas.

A utilização com fins militares continua até hoje, através de acordos com os Estados Unidos da América, permitindo o uso de várias infraestruturas na Ilha Terceira onde se situa a Base das Lajes. Esta, nos últimos anos, tem visto a sua importância ser reduzida, o que se traduz na diminuição do número de americanos, civis e militares, presentes e na redução do número de trabalhadores civis portugueses ao serviço dos americanos.

Neste texto, daremos a conhecer as instalações militares existentes ao longo dos tempos, abordaremos a questão do seu uso, falaremos na fraca contestação à sua presença e terminamos com uma referência ao movimento de opinião recente que apela à descontaminação da Ilha Terceira.

Instalações militares nos Açores
De acordo com o Anuário Comercial de 1976, citado por um Grupo de Estudantes Açorianos Alunos do Instituto Superior de Economia de Lisboa que elaborou o livro “Açores: Do 25 de abril até aos nossos dias” (1), editado pela Cooperativa Livreira Editorial e Cultural Arma Crítica, naquela época existiam 29 instalações militares nacionais espalhadas pelas nove ilhas do arquipélago.

Embora com dúvidas sobre se o número apontado corresponde ao real, os autores referidos mencionam dezanove instalações militares estrangeiras distribuídas pelas seguintes ilhas: Santa Maria, com cinco instalações; São Miguel, com duas; Flores, com três e Terceira, com nove.

Pela importância em termos militares e sociais, recordamos que em 1970 trabalhavam para os americanos 1815 portugueses, neste texto apenas faremos referência às instalações existentes na ilha Terceira, onde se localiza a Base das Lajes, cedida aos Estados Unidos da América, após negociações iniciadas em 1943.

De acordo com as mesmas fontes, na Terceira para além da Base Aérea, existe o Porto da Praia da Vitória com um “cais para acostagem de navios de grande tonelagem, no geral só utilizado pelos americanos. O cais foi alargado e aprofundado em 1968 para o estabelecimento de uma base de submarinos “Polaris”, três zonas de depósitos de combustíveis (Praia da Vitória, Cinco Picos e Cabrito), três zonas de transmissões (Vila Nova, Agualva e Cinco Picos), depósito de munições (Cabrito), Estação de Controlo Espacial -Aeroporto das Lajes, um “Posto de observação e reservatório de explosivos (da Força Aérea e Marinha), camuflados por relva, no interior da ilha, próximo da zona do Cabrito. Há também, a referência à “existência de explosivos nucleares, com índice de radioatividade, por toda a ilha, o que terá provocado que a NESTLÉ se recusasse a abrir sucursais na ilha”.

Base das Lajes como instrumento de agressão aos povos

Ao longo dos tempos, a Base das Lajes tem servido ao imperialismo americano para atacar povos indefesos, pois nas guerras o número de vítimas civis é sempre maior do que nos exércitos em confronto.

Não pretendendo ser exaustivos, aqui vão alguns exemplos da sua utilização:

- Em julho de 1958 intervenção americana no Líbano com vista a proteger o “governo pró-Ocidente”;
- Em 1964, auxilio americano a Tschombé, Pelas Lajes também passaram paraquedistas belgas;
- Em 1973, apoio militar aos israelitas durante a última guerra israelo-árabe;
- Em 1975, envio de material de guerra para as forças de direita no Líbano;
- Entre agosto de 1990 e fevereiro de 1991, escala e reabastecimento de aviões para a guerra do Golfo;
- Foi o principal local de passagem de prisioneiros para a prisão de Guantánamo, em Cuba (estima-se que entre 2002 e 2008, 728 dos 744 prisioneiros transportados para Guantánamo terão passado por “jurisdição portuguesa”) (2).

Contestação à presença militar nos Açores

A contestação à presença de tropas estrangeiras nos Açores se era inexistente antes do 25 de abril de 1974, depois do mesmo continuou quase nula. Com efeito, os maiores partidos políticos são inteiramente subservientes aos interesses dos mais poderosos, estados estrangeiros ou grupos económicos nacionais ou internacionais, os partidos com assento parlamentar, mesmo os que se dizem de esquerda ignoram o assunto para não perderem votos na ilha Terceira e nunca houve nenhum movimento pacifista ou mesmo grupo libertário nos Açores que levantasse a bandeira da paz.

Se hoje, como escrevemos, os partidos de esquerda limitam-se a exigir melhores condições para os trabalhadores portugueses das Lajes, ou a descontaminação da ilha Terceira, no passado tinham uma posição clara em relação à presença militar dos Estados Unidos em território nacional. Com efeito, aquando das eleições de 1975, o PCP defendia a “liquidação das bases militares estrangeiras em território português”, a UDP, uma das organizações que deu origem ao Bloco de Esquerda, pugnava pela saída dos “americanos, alemães, ingleses e franceses … das bases em território nacional” e o MRPP (hoje PCTP/MRPP) defendia o “desmantelamento e retirada das bases e forças militares estrangeiras” (3).

A Contaminação/Descontaminação da Ilha Terceira

Para além do aumento da radioatividade devido à existência ou passagem de armamento nuclear, a presença norte-americana na Base das Lajes provocou a contaminação de solos e de aquíferos profundos. A esta contaminação ambiental poderá estar associada uma diminuição da qualidade de vida ou mesmo ser responsável por doenças do foro oncológico, o que como de costume é negado pelas entidades oficiais.

Sobre este assunto, as maiores forças partidárias, a maioria conivente com a presença de bases militares estrangeiras em Portugal, parece ter acordado da longa letargia e passou a exigir a descontaminação ambiental da ilha Terceira.

No mesmo sentido um grupo de cidadãos da ilha Terceira criou uma petição (4) onde é exigido que o Estado Português assuma as suas responsabilidades.

A guerra é um crime contra a humanidade, por isso não basta exigir a descontaminação dos locais conspurcados.

Urge lançar um movimento que lute pelo desarmamento do globo terrestre, pela solução pacífica dos conflitos e que exija o fim das despesas militares e que exija a saída de Portugal da NATO e o encerramento de todas as bases militares estrangeiras em Portugal.

(1) A.A:V.V. (1977). Açores: Do 25 de Abril até aos nossos dias. Lisboa: Cooperativa Livreira Editorial e Cultural Arma Crítica.
(2).https://observador.pt/2015/01/15/importancia-da-base-das-lajes-em-sete-factos/
(3) Eleições 75 primeiras eleições livres- o programa do MFA e dos partidos políticos. Alfragide: Edições Acrópole Lda.
(4) http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=terceira

(A Batalha, nº 280, Maio/Julho 2018, p.10)

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Um Jardim Comestível


Um Jardim Comestível

O Jardim Botânico José do Canto, com a área de 5,8 hectares, embora não possua a riqueza existente no tempo do seu criador que inventariou cerca de 6 000 espécies, continua a ser um espaço de grande riqueza botânica com espécies de plantas dos quatro cantos do mundo.

Uma das curiosidades do Jardim, talvez menos conhecida, é a presença, na lista das suas espécies, de um conjunto de plantas produtoras de frutos comestíveis.

No texto de hoje, damos a conhecer algumas das plantas referidas, indicando alguns usos dos seus frutos.

Começamos pela bananeira-prata (Musa x paradisiaca) que é uma variedade de bananeira menos comum na ilha de São Miguel e que se distingue das outras por possuir uma maior altura e pelo sabor dos seus frutos.

O castanheiro (Castanea sativa), muito conhecido e apreciado pela sua madeira e pelos seus frutos, também está presente no jardim através de, entre outros, um bonito exemplar.

A anoneira (Annona cherimola), planta nativa da cordilheira dos Andes, cujos frutos para além de muito saborosos têm propriedades nutricionais e medicinais dignas de relevo.

No jardim, também, está presente a nespereira ou moniqueira (Eriobotrya japonica) cujos frutos são muito apreciados e usados em compotas e tartes.

O género Psidium está presente com duas espécies, cujos frutos são muito apreciados em São Miguel. Assim, temos a goiabeira (Psidium guajava) e o araçazeiro (Psidium cattleianum).

Outra planta presente no jardim é o tomateiro arbóreo ou tamarilho (Solanum betaceum) cujos frutos, também conhecidos em Vila Franca do Campo por mamonas, são muito nutritivos e pobres em calorias, sendo usados em compotas, geleias, saladas ou para fabrico de licores.

A pitangueira (Eugénia uniflora) mais rara na ilha de São Miguel e muito comum na Madeira é outa espécie que marca presença no jardim, podendo os seus frutos doces e perfumados ser comidos ao natural ou usados em licores, geleias ou sumos. A pitangueira é, também, muito usada como planta ornamental.

Outra planta muito usada como ornamental é a costela-de-adão (Monstera deliciosa) que poucas pessoas sabem que o seu fruto, para além de comestível, é muito saboroso, devendo ser consumido apenas quando está muito maduro, isto é quando a sua casca verde cai de forma natural.

Pouco conhecido entre nós é o jambeiro ou jambo-rosa (Syzygium jambos) cujos frutos sabem a rosas.

Mais raro, é o diospiros-americano (Diospyros virginiana), espécie nativa do este dos Estados Unidos da América. Os seus frutos, muito ricos em vitaminas, quando maduros são muito doces.

Outra planta existente no jardim é a guabiroba (Campomanesia reitziana) que é uma espécie originária do Brasil cujas flores são melíferas e os seus frutos muito deliciosos, desde que consumidos bem maduros.

A palmeira-da-geleia (Butia capitata), originária do Brasil, Uruguai e Argentina, produz uns frutos que no Brasil são usados para fazer sucos, geleias e licores.

Por último, também pode ser observada a mangueira (Magnifera indica), originária do sul e sudeste da Ásia, cujos frutos são muito ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31591, 7 de agosto de 2018, p.19

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Maria Evelina de Sousa na Madeira


A Revista Pedagógica de Maria Evelina de Sousa na ilha da Madeira

Sob a responsabilidade editorial de Francisco José Figueiroa Júnior, em 1912, publicou-se na ilha da Madeira a revista pedagógica quinzenal “O Defensor” que era impressa no Funchal na Typographia Camões.

No número cinco da referida publicação, de 1 de maio de 1912, foi publicada uma pequena nota sobre a Revista Pedagógica, fundada e dirigida por Maria Evelina de Sousa que, abaixo, se transcreve na integra:

“Recebemos a visita d’este nosso bem redigido collega que, sob s direcção da da distinta professora D. Maria Evelina de Sousa, se publica na cidade de Ponta Delgada, no vizinho archipelago dos Açores.

Este campeão escolar entrou agora no seu 4º ano de publicação, pelo que o felicitamos na pessoa da sua distinta directora, ambicionando-lhe longa vida e persistência bastante na lucta pela defeza da causa que se propoz defendar”.

Teófilo Braga
3 de agosto de 2018

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Clube de Amigos

Sobre o futuro monumento ao emigrante


Sobre o futuro monumento ao emigrante

Através do boletim da Casa do Povo, VOZ POPULAR, nº 186, do corrente mês de agosto, ficámos a saber que existe a pretensão de instalar um monumento ao emigrante onde hoje está o um tanque no espaço verde que ladeia parte da Igreja Paroquial.

Sobre a intensão, nada temos contra. Mas, mais do que monumentos pensamos que o melhor que se pode fazer por eles é acolhê-los sempre bem e ao mesmo tempo que lutarmos para que nesta região sejam criadas condições para que ninguém seja escorraçado da sua terra pelos donos disto tudo e obrigado a emigrar para ganhar a vida e viver com dignidade.

Relativamente à localização, embora desconheçamos as razões apontadas pela Comissão Fabriqueira, pensamos que não há uma única possível. Mesmo, junto à igreja, sem destruir o que está feito, há espaços com idêntica visibilidade e que em nada prejudicam o destaque que pretendem dar ao monumento.

Pico da Pedra, 2 de agosto de 2018

Teófilo Braga

Não apaguem a memória


Não apaguem a memória

Quem ler o título do Correio dos Açores de hoje e olhar para a imagem fica com a ideia errada de que pretendem instalar um monumento ao emigrante onde hoje está o tanque que alimentava os antigos sanitários públicos que entraram em funcionamento em setembro de 1984.

Como não encontrámos no boletim da Casa do Povo, A VOZ, nenhuma referência à inauguração ou à simples entrada de funcionamento dos sanitários públicos, para memória futura, abaixo, deixamos algumas notas.

A obra foi feita por iniciativa de uma Junta de Freguesia que tinha como presidente Armindo João Moniz Botelho, secretário Manuel da Costa Couto e como tesoureiro José Ventura Almeida.

Numa altura em que o dinheiro não abundava, a obra só foi possível porque os membros da junta abdicaram dos abonos a que tinham direito num total de aproximadamente 300 contos (trezentos mil escudos).

Pico da Pedra, 2 de agosto de 2018

T. Braga

Ainda o acesso à Lagoa do Fogo


Como é habitual para o governo está tudo bem. Haja paciência!