sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril na Secundária das Laranjeiras- Açores


Ontem assisti a um interessante espectáculo comemorativo do 25 de Abril. Fiquei surpreendido com o notável desempenho dos alunos envolvidos. Não queria, também, deixar de referir o envolvimento dos docentes que apesar de maltratados pelos governos e espezinhados pelo ECD, continuam a trabalhar para além dos seus horários em prol dos seus alunos e da educação das gerações mais novas.

Ontem, apesar do desencanto para com a Escola, ganhei algumas forças.

Deixei a Escola com a sensação de que nem tudo está perdido.

sábado, 18 de abril de 2009

Mesa Redonda- Debate


Assista, hoje, à mesa redonda- debate "A Luta dos professores e a defesa da Escola Pública", a partir das 14 horas, aqui:http://passapalavra.info/.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Insucesso e abandono no Ensino Secundário



Um estudo da Secretaria da Educação revela que são poucos os alunos que completam o Secundário em apenas três anos e são muitos os que abandonam a escola nessa fase
O Ensino Secundário nos Açores atravessa uma "situação crítica", com níveis de sucesso "débeis", havendo todos os anos um número substancial de jovens que frequentam as várias modalidades deste nível "sem que obtenham as competências esperadas, acabando muito deles por ingressar de modo desqualificado no mercado de trabalho", revela o Estudo Sobre o Rendimento Escolar no Nível Secundário de Educação, relativo aos três anos lectivos entre 2004/05 e 2006/07 , feito pela Secretaria Regional da Educação e Ciência.
Um estudo que abrangeu as 19 escolas com Ensino Secundário nos Açores à data de 2004, num universo de 1702 alunos nos Cursos Científico-Humanísticos (CCH) e 236 nos Cursos Tecnológicos (CT), que só existiam em sete escolas. Os resultados falam por si: nos CCH, a percentagem de alunos diplomados que conseguiram fazer o Secundário em apenas três anos foi de 35 por cento e nos CT de apenas 19 por cento, confirmando-se a tendência para um pior rendimento escolar na vertente tecnológica.
Por escolas, os resultados são ainda mais díspares: nos CCH, na escola com melhor rendimento escolar, mesmo assim somente 52,6 por cento dos alunos que começaram o Secundário em 2004 conseguiram concluí-lo em 2007, sendo que na escola com pior rendimento, apenas 12,8 por cento dos alunos fez o Secundário em três anos. Nos CT, o quadro é desanimador: se na escola com melhor rendimento, ainda assim 50 por cento dos alunos conseguiu fazer o Secundário em três anos, houve também escolas em que ninguém concluiu o Secundário no prazo ideal, ou seja, todos os alunos dos CT naquela escola ficaram retidos pelo menos uma vez entre o 10 e o 12º ano.
Refira-se que o 11º ano é o ano onde os alunos conseguem em média melhores resultados, quer nos CCH, quer nos CT, sendo nos anos de entrada e de saída no Secundário (10º e 12º ano) que se registam mais retenções. Nos CT, a média de retenções no 10º ano chega mesmo aos 34 por cento, enquanto que nos CCH, o ano que regista em média mais retenções é o 12º ano, com uma percentagem de 28 por cento.
O "choque" da entrada no Secundário no 10º ano nota-se também ao nível do abandono escolar, com as maiores taxas a verificarem-se naquele ano, quer nos CCH (11 por cento), quer nos CT (31 por cento). No total dos três anos lectivos analisados, 543 alunos abandonaram a escola nos CCH e 112 nos CT, sendo que é nos Cursos Tecnológicos que mais pesa percentualmente o abandono escolar no Secundário: 47 por cento dos alunos, por comparação com os 31 por cento dos Cursos Científico-Humanísticos, percentagens bastante elevadas, que só não se tornam mais negras para as estatísticas da Educação nos Açores, porque já se está fora do âmbito da escolaridade obrigatória.
Positiva é, mesmo assim, a tendência consolidada para uma melhoria da percentagem de alunos que faz o Ensino Secundário em apenas três anos, que subiu de 27 para 35 por cento nos CCH nos três estudos realizados pelo Governo até agora desde 2002, enquanto que nos CT, essa percentagem de sucesso subiu de 9 para 19 por cento.

Fonte: Paula Gouveia, Açoriano Oriental, 15 de Abril de 2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

O novo «senso comum» da educação capitalista


A educação escolar nos dias que correm já não é considerada uma forma de ampliar as oportunidades, desenvolver programas de educação intercultural, melhorar as oportunidades de vida das mulheres e dos jovens, mas antes uma maneira de organizar a educação escolar com o fim de promover a competitividade, de tornar rentável o investimento na formação dos futuros recursos humanos. Tanto os socialistas, como os sociais-democratas, liberais e conservadores uniram-se para fazer vencer estas novas regras de jogo, condicionando e estreitando os objectivos políticos do que deveria ser um verdadeira educação, como um direito igual para todos.

O aparecimento simultâneo de reformas educativas em diferentes continentes e países, apesar de se materializar em distintos tempos, lugares e formas, leva-nos a concluir que as actuais reestruturações na educação devem entender-se como um fenómeno global e coerente, plenamente sintonizado com a ideologia neoliberal dominante, e que parece vir a configurar-se como um novo «senso comum», tão poderoso que é capaz de condicionar toda a discussão sobre a matéria.

O esquema é semelhante por todo o lado. Começa com a fabricação de uma imagen catastrofista da educação ( fracasso escolar, indisciplina, etc) para, de seguida, se desfraldar a bandeira de «modernização», da «eficácia» e assim se lançar todo um programa de reestruturação que leva invariavelmente a um enviesamento dos objectivos da educação no sentido de a colocar ao serviço das necessidades e das regras dos mercados e não tanto com vista à formação integral dos indivíduos e dos jovens em idade escolar.

Não é por acaso que o abortado Tratado da Constituição Europeia designa os serviços públicos, tais como o da educação, como Serviços Económicos de Interesse Geral (SEIG), evitando assim definir a educação como um direito, ao mesmo tempo que dilui a responsabilidade do Estado por outros agentes sociais. Ou seja, deixa-se aos provedores privados a iniciativa de desenvolver as suas actividades lucrativas no novo mercado da educação, e só os sectores ou segmentos que não sejam rentáveis serão entregues ao sector público.

Este novo discurso vêm sempre acompanhado pelo chavão da «liberdade de escolha» que se tornou, pelos vistos, a nova base da igualdade entre todos os cidadãos! E já nem sequer se fala que as diferenciações entre os estabelecimentos escolares devam ser minimizadas, proporcionando os recursos necessários àqueles que mais os carecem para poderem melhorar. E isto verifica-se quando precisamente a investigação e análise em educação nos mostra que o sistema de cheques e créditos escolares, e a escolha e o reforço das escolas privadas não favorecem uma melhor educação nem garantem um igual acesso ao bem essencial que é a educação. Uma tal tendência tem mesmo provocado a redefinição e restrição dos fins do que deve ser a matéria própria para a educação, bem como a segregação e o aumento da estratificação social, a drenagem dos recursos das escolas públicas para as privadas, e a transformação da educação num promissor negócio, com óbvias consequências negativas para os jovens dos grupos sociais mais cadenciados.

Aceitar ou não os alunos, com maus resultados nos exames, que provoquem uma consequente descida da posição de uma certa escola no Ranking nacional do mercado da educação, passa a ser uma decisão da gestão das escolas, que conduz à deslocação da atenção sobre as necessidade dos alunos para as necessidades da escola, que passa então a ser o centro da política educativa. No fundo, trata-se de pura gestão empresarial… das escolas, eliminando-se num golpe toda a abordagem personalizada dos jovens educandos e a sua formação integral como objectivo último do sistema educativo.

A introdução dos sistemas e métodos de gestão e funcionamento empresariais nas escolas gera todo um novo ecossistema organizacional que leva à diferenciação dos funcionários docentes( funcionalização do pessoal docente), onde os «ex-professores» se «proletarizam» em tarefas burocrático-funcionais ao serviço da melhor perfomance da escola-empresa. Um fenómeno a que alguns chamam de McDonaldização e que remetem para um gerencialismo e empresarialização das organizações escolares à imagem e ao estilo do que acontece com os conhecidos estabelecimentos de Fast-food espalhados por todo o mundo.

Não se duvida que a escola deva ter uma ligação com as necessidades do mercado laboral. O que já é fortemente questionável é sujeitar as escolas aos diktats do todo-poderoso mercado e fixar metas e objectivos em função das necessidades educativas que não são das próprias pessoas, transformando-as muito simplesmente em puros recursos humanos e mão-de-obra descartável.

A educação deixa então de ser um bem público, uma responsabilidade colectiva, um direito das pessoas, para se transformar em objecto gestionável destinado a servir os objectivos da economia e do mercado, onde a competição individual e as necessidades lucrativas das empresas determinarão as orientações em matéria de política educativa.

Este novo «senso comum» explica, em grande medida, porque é que cada vez mais, muitos jovens, e respectivas famílias, não se preocupam tanto com a qualidade de educação que recebem, e com a igualdade no acesso à educação, preferindo fixarem-se obsessivamente com as boas classificações, custe o que custar, e a simples aquisição de certas competências que possam ser trocadas (ou permutadas) por empregos ( muitas vezes, precários e mal pagos) existentes no mercado laboral.

Eis o que nos espera o refinado negócio da educação do admirável mundo novo do capitalismo global e das suas divindades: a competitividade (a concorrência, a competição e a guerra entre indivíduos e empresas) e o sacrossanto mercado ( transformado agora em deus secularizado que tudo explica e a todos escraviza)


Adaptação de um texto publicado no quinzenário madrileno Diagonal

Fonte: Blogue A Sinistra Ministra