sábado, 30 de junho de 2018

sexta-feira, 29 de junho de 2018

terça-feira, 26 de junho de 2018

Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (1)


Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (1)

O MRPP- Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado foi fundado, em Lisboa, a 18 de setembro de 1970 e o seu órgão central, o jornal “Luta Popular” saiu pela primeira vez em 1971.

Perseguido pela ditadura antes do 25 de abril de 1974, havendo pelo menos uma presa política açoriana que esteve na prisão de Caxias, após aquela data teve o primeiro preso político, José Luís Saldanha Sanches, diretor do “Luta Popular”, em virtude de o jornal ter publicado, a 30 de maio de 1974, um texto apelando aos soldados para que não embarcassem para as colónias.

A legalização do MRPP só ocorreu a 18 de fevereiro de 1975 e no mês seguinte a sua atividade foi suspensa. Com efeito, a 19 de março, o jornal “A União” noticia a suspensão, pelo Conselho da Revolução, de três partidos políticos, entre eles o MRPP (os outros foram o PDC-Partido da Democracia Cristã e a AOC – Aliança Operária e Camponesa).

De acordo com o Conselho da Revolução tal facto deveu-se ao seu contributo “para a perturbação da ordem pública ou desrespeito ao programa do MFA, com prejuízo para a própria disciplina das forças armadas”.

Em resposta à decisão do Conselho da Revolução, o MRPP considerou a medida antidemocrática, sendo uma tentativa de, através do silenciamento do partido, calar a voz do movimento operário patriótico e antifascista.

A 27 de maio de 1975, o Conselho da Revolução voltou à carga e decidiu calar a voz do MRPP, tendo no dia seguinte os militares do COPCON, comandados por Otelo Saraiva de Carvalho, prendido 400 militantes daquele partido, a maioria em Lisboa.

Até ao momento, não temos uma data precisa para registar o início da atividade organizada do MRPP nos Açores, sendo a primeira notícia a que tivemos acesso relativa ao mês de maio de 1975.

Um grupo de simpatizantes do MRPP de Angra convocou um comício para o dia 31 de maio de 1975, a realizar pelas 21 horas, no Liceu de Angra do Heroísmo. O objetivo principal do comício foi dar a conhecer o partido que, segundo os organizadores, “o Povo da nossa Ilha não conhece ainda, ou conhece mal”. O convite à comparência foi publicado no jornal A União no dia do comício e na véspera do mesmo.

A 31 de maio de 1975, o MRPP realizou-se o comício que ocorreu após uma conversa entre um dirigente do partido e o Governador Civil, Dr. Oldemiro Figueiredo, que terá sugerido que no mesmo não fossem abordadas quaisquer divergências com o Movimento das Forças Armadas.

A tentativa de evitar que o MRPP divulgasse os seus pontos de vista e as discordâncias com o rumo dos acontecimentos no referido comício, realizado no Ginásio do Liceu de Angra do Heroísmo, não surtiu qualquer efeito e a prova é que o PCP emitiu um comunicado sobre o mesmo, que foi publicado no Diário Insular de 4 de junho de 1975 a criticar duramente as orientações daquele partido.

No seu comunicado intitulado “A reação nos Açores arranja novos aliados”, a Comissão Distrital de Angra do Heroísmo do PCP compara o MRPP aos grupos separatistas e alerta “todos os trabalhadores, todos os que querem um Portugal verdadeiramente livre e democrático, todos os que querem construir um verdadeiro socialismo, para estarem atentos a todas as manobras da reação e aumentarem a vigilância popular contra a reação, a sabotagem económica e todas as manobras que visem quebrar a união do povo com o MFA”.

No mesmo comunicado pode ler-se, também, o seguinte:

“Em S. Miguel, a reação criou os seus grupos terroristas e fascistas como a FRIA e a FLA que visam o lançamento de golpes armados que tirem ao Povo Açoriano as liberdades já conquistadas. Aqui na Terceira, não conseguiu ainda formar esses grupos, dada a maior implantação das forças progressistas e a consciência política do Povo Terceirense. No entanto arranjaram um grupo terrorista e fascista para os apoiar – o MRPP que, sábado dia 35/5, realizou o seu comício em Angra.

Teófilo Braga
Correio dos Açores, 31556, 27 de junho de 2018, p.16

domingo, 24 de junho de 2018

Nos cem anos do nascimento de Freinet e de Vygotski


Nos cem anos do nascimento de Freinet e de Vygotski


Celestin Freinet e Lev Vygotski nasceram no meso ano, 1896, o primeiro a 15 de outubro e o segundo a 17 de novembro.

Para assinalar os 100 anos dos seus nascimentos, a revista NOESIS, de Janeiro- Março de 1997, entrevistou Sérgio Niza, do MEM-Movimento da Escola Moderna, que falou da importância das duas personalidades para aquele movimento e para o ensino/aprendizagem, em geral.

Neste texto, apresentamos uma síntese dos aspetos que consideramos mais importantes das entrevistas referida.

Sobre o que distingue entre o Movimento Freinet e o MEM, Sérgio Niza referiu que enquanto Freinet acreditava que as técnicas mudavam a escola e a sua pedagogia e por isso pensava que a pedagogia se podia construir como uma técnica de vida, tendo construído um modelo escolar, o MEM partiu da autoformação dos professores para fazer avançar as suas práticas.

Em relação às técnicas usadas por Freinet, Sérgio Niza recordou que ele “construiu uma pequena impressora para tirar os textos dos alunos, cultivou a correspondência interescolar e a cooperativa escolar, além disso organizava saídas da escola, as aulas-passeio onde os alunos recolhiam informação que depois serviam para a escrita de textos e introduziu a ideia do texto livre, em formato e em tema. Outras duas ideias que ele implementou foi a criação de um jornal que serviu para o estabelecimento de uma rede entre professores e a de uma cooperativa que editou os materiais de apoio à Escola Moderna.

Sérgio Niza recordou também algumas práticas que ainda hoje são usadas no contexto da pedagogia de contrato e da diferenciação pedagógica nas aprendizagens cooperativas, como a organização dos alunos por ateliers de imprensa, de artes plásticas, de trabalhos manuais, etc., bem como a existência de um plano individual de trabalho que era uma espécie de contrato estabelecido entre alunos e o professor.

Sobre algumas contradições de Freinet, Sérgio Niza refere que apesar dele ter cortado com as ideias da Escola Nova que era pedocentrica, isto é, considerava o aluno como o centro de toda a atividade, a Escola Moderna manteve o mesmo objetivo mas utilizou a cooperativa e a organização como formadoras do carácter, da cidadania e compreendeu que era a forma como os alunos se organizavam, se estruturavam para realizar determinadas tarefas que os formava.

Sobre se o enfoque deve ser dado ao ensinou ou à aprendizagem, Sérgio Niza recordou que Freinet acabou por perceber que o mais importante era a aprendizagem e não o ensino pois a dada altura propôs as chamadas lições à posteriori, isto é colocava primeiro os alunos numa situação de pesquisa e tratamento experimental e só depois fazia a síntese e reestruturação final dos materiais ou da informação.

Sobre se faz ou não sentido comemorar Freinet hoje, a resposta foi afirmativa porque o que tem acontecido é que o esforço tem sido no sentido de tornar a escola extensível a todos e tem-se esquecido de criar uma escola democraticamente participada pelos alunos e Freinet foi no dizer de Sérgio Niza foi uma das poucas pessoas que se bateram pela transformação das relações professores-alunos em relações democráticas.

Além do referido Freinet bateu-se por criar uma escola progressista e não uma escola à parte para todos os que falharam na escola dita normal e defendeu uma formação cívica assente na convicção de que o desenvolvimento moral se processa a partir da organização das relações entre as pessoas. Freinet também mostrou que os avanços na pedagogia só se podem fazer se os professores se juntarem e fizerem em cooperação progressos nas suas práticas.

Sobre o contributo do bielorrusso Lev Semenovitch Vygotsky que se dedicou a várias áreas do saber, tendo estudado direito e filologia, ensinado literatura, fundado a revista literária “Verask” e lecionado Psicologia e Pedagogia, Sérgio Niza escreveu que ele nos ensinou que os alunos aprendem sobretudo no convívio cultural com os adultos e com os pares, o que quer dizers que não se aprende principalmente com as lições formais, sendo o papel mais importante do professor o da organização social das aprendizagens e não o da função ensinante.

Fonte:
NOESIS, janeiro/março de 1997, pp. 70-73

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Na Feira do Livro de Lisboa e não só


Na Feira do Livro de Lisboa e não só


Este ano, concretizou-se a minha, muitos anos adiada, intensão de visitar a Feira do Livro de Lisboa.

Em jeito de balanço, afirmo que valeu a pena por vários motivos, com destaque não só para os preços reduzidos, mas sobretudo para a variedade da oferta disponível que nunca se consegue em São Miguel.

Os Açores estiveram presentes na Feira do Livro, através da Direção Regional da Cultura que disponibilizou obras de vários editores, como os Amigos dos Açores- Associação Ecológica, o Instituto Cultural de Ponta Delgada, o Instituto Açoriano de Cultura, O Núcleo Cultural da Horta, a Sociedade Afonso Chaves, a Publiçor, etc.

Através da observação das publicações disponíveis, facilmente se chega à conclusão de que continuamos um grupo de ilhas isoladas, pois o que é editado numa ilha dificilmente é disponibilizado nas outras. A título de exemplo, refiro o livro “Notícia do Archipelago dos Açores e do que há de mais importante na sua História Natural”, da autoria do médico Acúrcio Garcia Ramos cuja edição pelo Instituto Açoriano de Cultura desconhecíamos e que é fundamental para quem se interessa pelo património natural dos Açores.

Ainda no que diz respeito aos Açores, no dia 2 de junho, tive a oportunidade de assistir à apresentação dos livros “A Alma das Nossas Gentes”, de Augusto Gomes, e “Álbum Micaelense” de José de Almeida Mello, ambos com uma assistência muito reduzida.

No que diz respeito à apresentação do primeiro livro, que contou com a presença de uma neta do autor, se não foi feita uma apresentação da obra recentemente reeditada, houve o cuidado de fazer um elogio, muito merecido, ao trabalho do autor que como poucos soube registar as tradições açorianas.

Em relação ao segundo, lamenta-se a brevidade com que a obra foi lançada, cremos que, essencialmente, fruto de uma confusão de horários que levou a que o apresentador e o autor chegassem ao local com algum atraso.

Na Feira do Livro, tive também a oportunidade de assistir ao lançamento do livro “Um Projecto Libertário, sereno e racional”, da autoria do sociólogo João Freire, fundador e animador durante quatro décadas da revista que ainda hoje se publica, A Ideia.

Embora ainda não tenhamos lido o livro pelas páginas folheadas e pelas intervenções dos convidados, temos a certeza de que será muito polémico no meio libertário em virtude do autor defender a participação política dos libertários através de um partido político.

Durante a minha presença em Lisboa, tal como acontece sempre que lá me desloco, visitei o Espaço Ulmeiro, onde para além de diversas revistas e jornais antigos, tive a oportunidade de comprar o livro de Tolstoi “A próxima Revolução”, editado em 1908, o livro “A vida inquieta e gloriosa de Victor Hugo”, editado em 1965, da autoria do terceirense Jaime Brasil que era considerado “um dos maiores jornalistas portugueses” e o livro de João Gomes Esteves “ A Liga Republicana das Mulheres Portuguesas- Uma organização política e feminista (1909-1919), editado em 1991, com o apoio da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres.

Este último livro é muito importante não só para quem quiser estudar a história da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e a sua luta pela igualdade de direitos para todos, homens e mulheres, mas também para quem se interessa pelo estudo da vida e da obra de duas açorianas, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, que foram sócias da organização referida.

Mas, não só na Feira do Livro, nas Livrarias e nos alfarrabistas se consegue adquirir bons livros. A Feira da Ladra é um local que merece ser visitado, pois a preços muito reduzidos é possível encontrar raridades ou obras de vultos da cultura nacional e internacional.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31549, 19 de junho de 2018, pág. 12)

sábado, 16 de junho de 2018

A propósito de um sábado pedagógico inesquecível


A propósito de um sábado pedagógico inesquecível

“Para nós, ética, pedagogia e democracia são exatamente a mesma coisa” (Sérgio Niza)

No passado dia 12 de maio, realizou-se, no Anfiteatro da Escola Secundária das Laranjeiras, mais um Sábado Pedagógico, promovido pelo Núcleo Regional de São Miguel do Movimento da Escola Moderna (MEM), um dos núcleos de uma associação de âmbito nacional que tem como principal objetivo a formação contínua dos seus membros em sistema de autoformação cooperada.

Lídia Grave-Resendes e Júlia Soares no livro, que recomendamos, “Diferenciação Pedagógica”, editado pela Universidade Aberta, afirmam que o modelo de formação de professores do MEM “começou a ser considerado, desde os anos 80, por especialistas internacionais tanto europeus como americanos, como um método de ponta na formação contínua de professores”

Com um número recorde de participantes, mais de setenta, a sessão teve duas partes distintas. Na primeira parte, houve um momento de partilha por parte do Grupo Cooperativo de Matemática que, para além de comunicar aos presentes o percurso e o trabalho efetuado desde a criação do grupo, deu a conhecer a importância do trabalho em conjunto sobretudo em termos anímicos. A segunda parte da sessão contou com a presença do pedagogo Sérgio Niza, um dos fundadores do Movimento que de acordo com António Nóvoa “é a presença mais constante, mais coerente e inspiradora da pedagogia portuguesa dos últimos 50 anos”.

Por terem sido muito variados os ensinamentos partilhados durante a sua intervenção, neste texto não podemos fazer referência a tudo o que nos foi transmitido por Sérgio Niza. Por não ter tirado apontamentos, para além do que memorizei, uso como fontes o livro “Sérgio Niza. Escritos sobre a Educação”, editado pelas Edições Tinta da China, em 2015, e o livro “O Movimento da Escola Moderna”, de Pedro González,, editado pela Porto Editora, em 2002.

Sobre a história do MEM, todos ficaram a saber que o mesmo foi perseguido pelo Estado Novo, tendo o próprio Sérgio Niza sido proibido de ensinar tanto no ensino público como no privado.

Em jeito de resposta a alguém mal informado, que me disse que sendo o MEM muito antigo, já devia estar ultrapassado, recordo o que escreveu Sérgio Niza sobre a presença do MEM na sociedade portuguesa: “Sem nós, a educação em Portugal não pode passar. Hoje, o Movimento da Escola Moderna Portuguesa, quer o detestem, quer o estimem, é um dado adquirido para a cultura portuguesa”.

Para melhor esclarecer os adeptos de ministros ou modelos autoritários e quem estagnou na profissão, recordo que “todo o mundo é composto de mudança” (Luís de Camões). No que diz respeito ao MEM, Sérgio Niza escreveu: “… Hoje, portanto, já não somos António Sérgio, já não somos Rui Grácio, já não somos Maria Amália Borges, já não somos Freinet. Somos aquilo que pudemos construir a partir deles e, quantas vezes, contra eles. Mas já não somos também nem eu, nem a Rosalina; somos uma dinâmica muito forte e contraditória, com muitas áreas de luz e muitas áreas de penumbra, tal como a vida real, autentica, para sermos autênticos e verdadeiros”.

Outro aspeto muito importante da comunicação foi sobre a democracia na escola. Sobre o assunto Sérgio Niza destacou a importância em termos de formação para os alunos a sua participação democrática direta na escola, dentro e fora da sala de aula.

Ainda sobre o mesmo tema, Sérgio Niza escreveu: “Todo o poder se afirma por via da representatividade faz reproduzir a ideia de representação que pressupões sempre uma ideia de elite. Há uns (que são) os eleitos e os outros…porque nós sabemos que (os eleitos) têm sempre mais poder, mais capacidade de intervenção. São questões fundamentais da democracia, que a democracia política não conseguiu resolver, mas que a democracia educativa poderá resolver”.

Na intervenção de Sérgio Niza, entre outros temas, foi abordado o modelo pedagógico do MEM e a polémica questão dos trabalhos de casa que por serem tão importantes para alguns docentes e pais, deviam ser feitos nas salas de aula.

Termino, convidando todas as pessoas que se preocupam com a educação e os meus colegas, de espírito aberto, a lerem os livros referidos acima e a participarem numa das próximas iniciativas do MEM que são gratuitas e abertas a todos os interessados.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31544, 13de junho de 2018, p.19)

sexta-feira, 15 de junho de 2018

quinta-feira, 14 de junho de 2018

terça-feira, 5 de junho de 2018

“Não foi para morrer que nós nascemos”. O movimento Ecológico do Porto (1974-1982)


“Não foi para morrer que nós nascemos”. O movimento Ecológico do Porto (1974-1982)

Numa coedição do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e das Edições Afrontamento, foi publicado recentemente, o livro de Bruno Madeira intitulado “Não foi para morrer que nós nascemos”. O movimento Ecológico do Porto (1974-1982)”.

Como se sabe, antes da chamada Revolução dos Cravos existia apenas uma organização de defesa do ambiente, a LPN-Liga para a Proteção da Natureza, fundada em 1948 por iniciativa do Prof. Carlos Baeta Neves e que teve uma ação, embora importante, muito limitada pelos entraves à participação cívica impostos pelo Estado Novo.

O livro referido, veio colmatar uma grande lacuna até então existente, pois veio dar a conhecer não só as principais organizações criadas após o 25 de abril de 1974, como as diversas publicações, as principais iniciativas e os pioneiros do multifacetado movimento de defesa do ambiente em Portugal.

Das organizações que surgiram logo a seguir à implantação do regime democrático, destaco o MEP-Movimento Ecológico Português fundado no dia 27 de julho de 1974, em Lisboa, por um conjunto de pessoas, sendo a mais conhecida o professor do primeiro ciclo, jornalista e escritor Afonso Cautela que também foi o responsável pela edição do jornal da organização denominado Frente Ecológica.

No Porto, tiveram grande responsabilidade pelo surgimento do movimento ecológico dois exilados que regressaram ao país, Jacinto Rodrigues e José Carlos Costa Marques. Este último, foi responsável, a partir de outubro de 1974, pela coleção Viver é Preciso, ligada às Edições Afrontamento, que ainda hoje existe e que publicou um conjunto de livros que muita influência exerceram sobre os seus leitores.

De acordo com Bruno Madeira, através dos escritos de José Carlos Marques, conclui-se que “o movimento ecologista portuense, afirma a equidistância e a recusa dos modelos capitalista e socialista soviético – ambos tidos como sistemas produtivistas e incompatíveis com o ideário e soluções propostas pelos ambientalistas”.

José Carlos Marques que tem visitado os Açores, a última vez aquando da apresentação do fabuloso livro de Aldo Leopold, “Pensar como uma montanha”, na qualidade de editor das Edições Sempre-em-Pé, que acaba de lançar o livro de Ivan Illich “Para uma História das Necessidades”, é quanto a mim a figura principal do movimento ecológico português. Sem ser muito exaustivo refiro que José Carlos Marques, em atividade desde abril de 1974, esteve ligado o MEP, foi um dos fundadores do Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto e da sua revista “Alternativa”, foi um dos responsáveis pela revista “A Urtiga”, esteve envolvido na organização do I Festival pela Vida e Contra o Nuclear e foi um dos fundadores e é o atual presidente da associação de defesa do ambiente Campo Aberto.

Outra organização criada logo após o 25 de abril de 1974 foi o NPEPVS – Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem que reuniu um grupo de pessoas que estiveram envolvidas numa tentativa de criação, ainda durante a ditadura de um “Clube dos Amigos da Natureza”.

Na criação desta organização esteve envolvido Nuno Gomes de Oliveira que também esteve ligado ao Grupo Autónomo de Intervenção Ecológica do Porto e foi colaborador da revista “Alternativa”. A partir de 1983, foi o principal dinamizador do Parque Biológico de Gaia, tendo sido seu diretor até 2016.

Que influência tiveram as organizações, as publicações ou as personalidades referidas nos Açores?

Começando pelo fim, o NPEPVS teve uma delegação nos Açores que chegou a possuir uma sede em Vila Franca do Campo. Em relação a Afonso Cautela sabemos que os seus textos, alguns disponíveis na internet, chegaram ao arquipélago e as publicações da responsabilidade de José Carlos Marques foram e continuam a ser lidas por alguns açorianos.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31538, 6 de junho de 2018, p. 17)