terça-feira, 26 de junho de 2018
Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (1)
Os primeiros tempos do MRPP nos Açores (1)
O MRPP- Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado foi fundado, em Lisboa, a 18 de setembro de 1970 e o seu órgão central, o jornal “Luta Popular” saiu pela primeira vez em 1971.
Perseguido pela ditadura antes do 25 de abril de 1974, havendo pelo menos uma presa política açoriana que esteve na prisão de Caxias, após aquela data teve o primeiro preso político, José Luís Saldanha Sanches, diretor do “Luta Popular”, em virtude de o jornal ter publicado, a 30 de maio de 1974, um texto apelando aos soldados para que não embarcassem para as colónias.
A legalização do MRPP só ocorreu a 18 de fevereiro de 1975 e no mês seguinte a sua atividade foi suspensa. Com efeito, a 19 de março, o jornal “A União” noticia a suspensão, pelo Conselho da Revolução, de três partidos políticos, entre eles o MRPP (os outros foram o PDC-Partido da Democracia Cristã e a AOC – Aliança Operária e Camponesa).
De acordo com o Conselho da Revolução tal facto deveu-se ao seu contributo “para a perturbação da ordem pública ou desrespeito ao programa do MFA, com prejuízo para a própria disciplina das forças armadas”.
Em resposta à decisão do Conselho da Revolução, o MRPP considerou a medida antidemocrática, sendo uma tentativa de, através do silenciamento do partido, calar a voz do movimento operário patriótico e antifascista.
A 27 de maio de 1975, o Conselho da Revolução voltou à carga e decidiu calar a voz do MRPP, tendo no dia seguinte os militares do COPCON, comandados por Otelo Saraiva de Carvalho, prendido 400 militantes daquele partido, a maioria em Lisboa.
Até ao momento, não temos uma data precisa para registar o início da atividade organizada do MRPP nos Açores, sendo a primeira notícia a que tivemos acesso relativa ao mês de maio de 1975.
Um grupo de simpatizantes do MRPP de Angra convocou um comício para o dia 31 de maio de 1975, a realizar pelas 21 horas, no Liceu de Angra do Heroísmo. O objetivo principal do comício foi dar a conhecer o partido que, segundo os organizadores, “o Povo da nossa Ilha não conhece ainda, ou conhece mal”. O convite à comparência foi publicado no jornal A União no dia do comício e na véspera do mesmo.
A 31 de maio de 1975, o MRPP realizou-se o comício que ocorreu após uma conversa entre um dirigente do partido e o Governador Civil, Dr. Oldemiro Figueiredo, que terá sugerido que no mesmo não fossem abordadas quaisquer divergências com o Movimento das Forças Armadas.
A tentativa de evitar que o MRPP divulgasse os seus pontos de vista e as discordâncias com o rumo dos acontecimentos no referido comício, realizado no Ginásio do Liceu de Angra do Heroísmo, não surtiu qualquer efeito e a prova é que o PCP emitiu um comunicado sobre o mesmo, que foi publicado no Diário Insular de 4 de junho de 1975 a criticar duramente as orientações daquele partido.
No seu comunicado intitulado “A reação nos Açores arranja novos aliados”, a Comissão Distrital de Angra do Heroísmo do PCP compara o MRPP aos grupos separatistas e alerta “todos os trabalhadores, todos os que querem um Portugal verdadeiramente livre e democrático, todos os que querem construir um verdadeiro socialismo, para estarem atentos a todas as manobras da reação e aumentarem a vigilância popular contra a reação, a sabotagem económica e todas as manobras que visem quebrar a união do povo com o MFA”.
No mesmo comunicado pode ler-se, também, o seguinte:
“Em S. Miguel, a reação criou os seus grupos terroristas e fascistas como a FRIA e a FLA que visam o lançamento de golpes armados que tirem ao Povo Açoriano as liberdades já conquistadas. Aqui na Terceira, não conseguiu ainda formar esses grupos, dada a maior implantação das forças progressistas e a consciência política do Povo Terceirense. No entanto arranjaram um grupo terrorista e fascista para os apoiar – o MRPP que, sábado dia 35/5, realizou o seu comício em Angra.
Teófilo Braga
Correio dos Açores, 31556, 27 de junho de 2018, p.16
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