quinta-feira, 28 de abril de 2022

Principais plantas usadas em sebes (1)

 


Com os pés na terra (554)

Principais plantas usadas em sebes (1)

 

Nos últimos dias tenho participado em muitas conversas sobre o uso de várias espécies vegetais em abrigos de proteção de várias culturas, sobretudo de  frutícolas.

 

Sobre o assunto conheço vários textos, com destaque para os seguintes: um da autoria de Arlindo Cabral, engenheiro agrónomo, intitulado “Sebes vivas ou abrigos, nos Açores-subsídios para o seu estudo”, publicado, em 1953,  no nº 17 do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores e outro da autoria de José Norberto Brandão de Oliveira, Professor Associado da Universidade dos Açores, intitulado “Espécies vegetais usadas nos Açores na formação de sebes”, publicado, em 1985, pela Universidade dos Açores.

 

A utilização de sebes vivas nos Açores deve-se, essencialmente, à necessidade de proteção das culturas altamente prejudicadas pelos ventos e remonta, pelo menos, ao século XIX.

 

Para além daquela função, a “maior conservação da humidade do solo e atmosférica” são outras vantagens das sebes vivas referidas por Arlindo Cabral. Por seu lado, Brandão de Oliveira refere que algumas sebes têm uma função “mais de compartimentação e noutros casos embelezamento”.

 

São várias as características que devem ter as espécies escolhidas para sebes. Abaixo, cito algumas das que foram referidas por Arlindo Cabral:

 

1-      Propagarem-se facilmente, de preferência por estaca;

2-      Terem crescimento rápido e vigoroso;

3-      Serem dotadas de folhagem persistente e com elevada densidade;

4-      Possuírem raízes profundas para melhor resistir aos ventos e não competir com as culturas;

5-      Oferecerem maleabilidade à educação pela poda;

6-      Não serem portadoras de doenças ou de insetos prejudiciais às outras culturas ou a elas próprias.

 

Brandão de Oliveira menciona como principais espécies, por ordem decrescente de importância, usadas nas sebes altas de proteção de frutícolas as seguintes: Incenso (Pittosporum undulatum), Banksia ou cigarrilheira (Banksia integrifolia), faia (Morella faya) e metrosídero (Metrosíderos excelsa). Com menor frequência e apenas em algumas ilhas, aquele autor cita a cameleira (Camellia japonica), a faia-da-holanda (Pittosporum tobira), o loureiro (Laurus azorica) e o barrileiro (Corynocarpus laevigatus).

 

Pelo facto de meu pai ser agricultor e de, desde criança, participar em trabalhos no campo, sobretudo nas colheitas, sempre prestei atenção ao que me rodeava e recordo-me que na minha terra, a Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, as espécies mais usadas em sebes eram a faia e o incenso, que protegiam as bananeiras e laranjeiras, numa terra que tínhamos na Courela, a banksia que existia em terrenos na Figueira do Casquete e o barrileiro, de que há, ainda, um exemplar na Courela e que havia, na Rua do Jogo, num prédio que pertencia ao sr. José “Americano”. Das espécies referidas, comíamos os frutos da faia e a polpa dos frutos do barrileiro.

 

Termino este texto com breves referências às quatro espécies, hoje, mais usadas em sebes de proteção de frutícolas:

 

Incenso- oriunda da Austrália, tem um rápido crescimento e uma boa rebentação. É considerado uma planta invasora.

 

Faia- nativa dos Açores, não cresce tão rapidamente como o incenso e reage bem às podas.

 

Banksia- originária da Austrália, apresenta um crescimento rápido e resiste bem aos ventos do mar. As estacas têm alguma dificuldade em vingarem.

 

Metrosídero- endémica da Nova Zelândia, apresenta um crescimento lento e é exigente quanto a terrenos. Resiste muito bem ao “rocio”. É invasora em encostas rochosas.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores 32719, 28 de abril de 2022, p.7)

quarta-feira, 20 de abril de 2022

A propósito de tulipeiros

 


A propósito de tulipeiros

 

O tulipeiro-arbóreo (Liriodendron tulipifera L.) é uma árvore caducifólia, da família Magnoliaceae, oriunda do Leste da América do Norte que entre nós está em floração nos meses de maio e junho.

 

Alguns autores, afirmam que o tulipeiro foi trazido para a Europa, em 1640, por John Tradescant filho, que era botânico e jardineiro do rei Carlos I, de Inglaterra, numa das suas viagens realizadas aos Estados Unidos para colher sementes.

 

A primeira descrição da espécie, que terá ocorrido cerca de vinte anos depois, deve-se a John Evelyn, jardineiro, horticultor e escritor inglês que foi um dos fundadores da Royal Society.

 

De acordo com Paulo Araújo, Maria Carvalho e Manuela Ramos, cujo livro “À sombra de árvores com história”, editado pela associação de defesa do ambiente Campo Aberto, do Porto, em 2004, vimos citando, o tulipeiro só foi introduzido em França “um século mais tarde, mas em 1880 é publicada uma Histoire du Tulipier, com menção especial à forma das flores desta árvore e sua semelhança com as tulipas, razão para o nome vulgar em vários idiomas e para o epíteto da espécie, tulipifera. A palavra que identifica o género Liriodendron deriva dos termos gregos leirion, lírio e dendron, árvore.”

 

O tulipeiro, que é uma árvore que em condições excecionais pode atingir uma altura de 50 metros e o perímetro de 7 metros, tendo uma velocidade de crescimento média a alta, para além de ser usado como planta ornamental, é utilizado para a extração de um óleo com propriedades medicinais. A sua madeira para além de poder ser utilizada no fabrico de pasta de papel também serve para a produção de mobiliário.

 

Para além de poder ser usado com a função de “melhoria climática”, através do abaixamento de temperatura e sombreamento, o tulipeiro, que de acordo com António Saraiva, “é uma árvore de grande beleza, de folhas verde-claras com forma muito particular, e com flores lindíssimas” e “as folhas outonais, de cores amareladas são muito bonitas”, embeleza as paisagens

 

Há exemplares notáveis em Portugal Continental, sobretudo no norte do país, sendo de destacar os existentes na cidade do Porto. António Saraiva, no livro “As árvores na cidade”, destaca entre outros, um existente na Rua João de Deus que será o mais antigo, com cerca de 300 anos. Na Madeira, destacam-se os tulipeiros existentes na Quinta do Palheiro Ferreiro, no Parque Municipal do Monte e na Quinta Monte Palace.

 

Desconhece-se data exata da sua introdução nos Açores, contudo sabe-se, através do órgão da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, “O Agricultor Micaelense”, que, em abril de 1848, foram pedidas sementes de tulipeiros ao sr. Dabney, da ilha do Faial e que aqueles já “medravam bem nesta ilha (de S. Miguel)”.

 

Em 1849, o mesmo periódico refere a presença de um tulipeiro existente no jardim de João Carlos Scholtz, em Ponta Delgada, “que chegou em poucos anos a majestosas dimensões”.

 

Em virtude de os tulipeiros preferirem solos um pouco ácidos e locais com elevada humidade ambiental, os Açores têm todas as condições para os usar como plantas ornamentais.  O único senão está no facto de serem necessários grandes espaços.

 

Na ilha de São Miguel há exemplares muito bonitos e de grande porte, nomeadamente no Jardim Antero de Quental e no Jardim Botânico José do Canto, em Ponta Delgada, no Jardim Dr. António da Silva Cabral, em Vila Franca do Campo, no Parque Terra Nostra, no Parque Beatriz do Canto e na Mata-Jardim José do Canto, nas Furnas.

 

Raimundo Quintal no texto “Árvores monumentais nos jardins, parques e matas de São Miguel”, publicado em 2019, defende a classificação de um conjunto de exemplares na Mata Jardim José do Canto, de um conjunto de exemplares no Parque Terra Nostra e de um exemplar no Parque Beatriz do Canto.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32713, 20 de abril de 2022, p.11)

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Uma estranha planta da Avenida da Paz

 

Uma estranha planta da Avenida da Paz

 

Não me recordo quando, ao passar na Avenida da Paz, reparei nos recortes, nunca vistos antes, das folhas de uma planta que procurei identificar sem sucesso.

 

Com o recurso ao meu amigo Raimundo Quintal, um madeirense que, desde 1983, tem estudado a fitodiversidade dos parques e jardins do nosso arquipélago, nomeadamente os da ilha de São Miguel, fiquei a saber que a planta era uma amoreira-da-china, também conhecida por amoreira-do-papel (Broussonetia papyrifera (L.) L’Hér. ex Vent.).

 

A amoreira-do-papel é uma árvore de folha caduca e dioica pertencente à família Moraceae, nativa da China, Japão, Coreia, Taiwan e Polinésia. Com um crescimento rápido, atinge uma altura que varia entre os 6 e os 15 metros.

 

A amoreira-do-papel, cujo nome específico está associado ao facto de a fibra da casca ser usada na produção de papel de grande qualidade, é utilizada em várias partes do mundo essencialmente como planta ornamental.

 

De acordo com algumas fontes, os seus frutos são muito agradáveis ao paladar, podendo ser comidos frescos ou em compotas, tendo propriedades diuréticas. As suas folhas, para além de induzirem a transpiração e evitarem a diarreia, são usadas como cataplasma para combater problemas de pele e associados a picadas de insetos.

 

Na ilha de Fiji a casca da amoreira-do-papel é usada para o fabrico de tecidos que são usados em várias cerimónias tradicionais, que vão do nascimento ao casamento.

 

Identificada a planta, o passo seguinte foi tentar saber a sua abundância na ilha de São Miguel, recorrendo à bibliografia, a pesquisas no campo e ouvindo pessoas amigas que conhecem bem as plantas da nossa terra.

 

Desconhecendo-se a data da sua introdução na ilha de São Miguel, apenas podemos afirmar que a amoreira-do-papel já era conhecida em São Miguel, em 1851, data em que “O Agricultor Micaelesnse”, órgão mensal da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, publicou um texto intitulado “Broussonetia”. Nele, a dada passo pode-se ler o seguinte: “é uma elegante árvore, da qual crescem prosperamente n’esta Ilha alguns indivíduos”.

 

O texto referido no parágrafo anterior, para além de dar uma explicação sobre o modo como era produzido o papel a partir da casca da amoreira-do-papel, termina com um (quase) apelo à sua plantação na ilha, do seguinte modo: “Quantas árvores que não tem serventia alguma, não roubam o lugar, que poderá ser ocupado por esta, e inúmeras outras árvores de útil préstimo!”

 

No século passado, a amoreira-do-papel não devia ser muita rara nos Açores, pois o Regente Agrícola Silvano Pereira incluiu-a numa listagem das “Principais Plantas Cultivadas e Espontâneas nos Açores”, publicada no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 18, de 1953.

 

Até ao momento, nenhum dos meus conhecidos indicou a presença da amoreira-do-papel na nossa ilha, pelo que atualmente, para além da planta existente no Pico da Pedra, só conheço uma árvore existente na Fajã de Cima que observei no dia 2 de julho de 2020.

 

Quem introduziu a amoreira-do-papel nos Açores? Quem a plantou e quando no Pico da Pedra?

 

Teófilo Braga

(A Voz, 199, março de 2022)

 

Em memória do professor José Carreiro de Almeida

 


Em memória do professor José Carreiro de Almeida

 

No passado dia 28 de março, faleceu, com 90 anos de idade, no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, o professor José Carreiro de Almeida, natural da freguesia do Pico da Pedra, onde nasceu a 14 de fevereiro de 1932.

 

Não tinha uma proximidade muito grande com o professor Carreiro, mas sempre que nos encontrávamos, no Pico da Pedra ou em Ponta Delgada, nomeadamente na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada e algumas vezes no Jardim José do Canto, onde ele por mais de uma vez participou em visitas guiadas pelo meu amigo Raimundo Quintal, era muito simpático comigo e conversávamos um pouco.

 

Como o seu falecimento passou (quase) despercebido entre nós, decidi homenageá-lo através deste modesto e incompleto texto biográfico.

 

Depois de ter frequentado a escola primária no Pico da Pedra, onde completou a quarta classe, esteve quatro anos no Seminário, tendo desistido por doença. Para concluir o antigo quinto ano de escolaridade (hoje nono ano), frequentou um colégio em Ponta Delgada que era dirigido pelo vila-franquense Afonso Borges. A seguir, durante dois anos, frequentou o Magistério Primário, onde se formou como professor.

 

Profissionalmente, o professor Carreiro teve uma carreira longa, tendo lecionado durante 40 anos, 27 dos quais na formação de professores no Magistério Primário de Ponta Delgada.

 

A sua experiência de lecionação começou numa escola na freguesia de São José, situada no lado Sul do Campo de São Francisco, passou pelos Fenais da Luz, onde permaneceu durante 6 anos, e pela Fajã de Baixo, antes de ir ensinar Didática na Escola do Magistério Primário de Ponta Delgada.

 

Sobre o seu pensamento acerca do ensino e da profissão de professor, recordo as suas palavras, publicadas no livro intitulado “Folheai e Recordai”, relativo ao curso de 1972-1974 do Magistério Primário, que são também recomendações aos novos professores:

 

“Há já centenas de crianças que esperam por vós. Amai-as; amai-as muito, porque o amor é o segredo, a pedra de toque que vos ajudará a compreendê-las e a torná-las “elas mesmas”.

Não vos esqueçais também de que o êxito da vossa atuação pedagógica está na medida em que colaborardes uns com os outros: “É melhor haver cinco educadores medíocres, trabalhando em verdadeiro espírito de cooperação do que dez bons pedagogos isoladamente”.

 

Quer durante o período em que lecionou, quer depois, o professor Carreiro foi Guia de Turismo. Numa entrevista dada ao jornalista João Paz, publicada no Correio dos Açores, ele referiu que se preparava muito para desempenhar bem o seu trabalho, tendo afirmado o seguinte: “Nós, ao ensinarmos, crianças de uma maneira muito especial, temos muito cuidado em preparar a mensagem que lhes vamos transmitir para que eles compreendam. E levei este hábito para o turismo, explicava tudo muito bem …”.

 

Benemérito, o professor Carreiro, doou a menina dos seus olhos, um prédio que possuía junto à igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, no Pico da Pedra, com o objetivo de lá ser construído um lar de idosos, com uma única condição, a de que ao edifício fosse dado o nome de seu pai, Manuel de Almeida Moniz.

 

Ele e a irmã, Maria Luísa Carreiro de Almeida ofereceram, no passado dia 9 de junho de 2021, uma nova ambulância, dedicada ao transporte de doentes não urgentes, no valor aproximado de 50 mil euros, à Associação Humanitária dos Bombeiros de Ponta Delgada.

 

Os irmãos Carreiro de Almeida, também, doaram à Junta de Freguesia do Pico da Pedra um terreno, nas Giestas, para a construção do Parque de Atividades “Susana Maria Carreiro Moniz”, obra ainda não realizada, mas que não pode cair no esquecimento. O espaço deverá merecer, por parte da Junta de Freguesia do Pico da Pedra, uma atenção especial, tal como a que foi dedicada, pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, ao Parque Pedagógico Maria das Mercês Carreiro.

 

Não tendo sido devidamente homenageado em vida, a sua obra devia ficar registada para sempre através de uma placa a colocar na casa onde nasceu.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32708, 13 de abril de 2022, p.11)

Fotografia: Eng. Manuel Moniz da Ponte

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Simão Toco e o Farol da Ferraria

 


Simão Toco e o Farol da Ferraria

 

Há alguns anos, o Manuel Pato, num dos passeios pedestres organizados pelos Amigos dos Açores, apresentou-me Carlos Toco, que trabalhava na extinta CTM- Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos, a bordo do navio Ponta Delgada. Na altura troquei algumas palavras com ele e fiquei a saber que o seu pai, Simão Gonçalves Toco, havia sido ajudante de faroleiro no Farol da Ferraria.

 

No passado dia 25 de janeiro, acompanhei uma turma de uma colega minha da Escola Secundária das Laranjeiras numa visita ao Farol da Ferraria, que data de 22 de outubro de 1901 e possui uma torre de 18 m de altura e 107 m de altitude, possuindo um alcance de 27 milhas (50 km).

 

No farol, para além do magnífico e bem conservado edifício e de todo o equipamento que merece ser visitado, tive a oportunidade de ver uma fotografia de Simão Gonçalves Toco e uma placa com os seguintes dizeres: “Aqui viveu e prestou serviço, como ajudante de faroleiro, o cidadão Simão Toco (1963-1974), fundador do Tocoísmo”,

 

Depois da visita, decidi investigar mais sobre a vida de Simão Toco, recorrendo-me a pessoas amigas, que conheceram alguns dos filhos, e à internet.

 

Para além do filho, Carlos que estando reformado vive atualmente em Angola, Simão Toco trouxe para São Miguel duas filhas, Ilda Rosa que vive em Inglaterra e Esperança que já faleceu.

 

Maria Antónia Fraga conheceu e estabeleceu relações de amizade com as duas irmãs que eram pensionistas no Convento da Esperança e estudavam na Escola Comercial e Industrial de Ponta Delgada e Carmélio Rodrigues, antigo funcionário da Secretaria daquela escola, conheceu a Ilda e falou diversas vezes com Simão Toco quando este se deslocava àquele estabelecimento de ensino para tratar de assuntos relativos às filhas.

 

Simão Gonçalves Toco foi um nacionalista e líder religioso angolano que foi deportado com a família (filhos) pela ditadura salazarista para a ilha de São Miguel, em 1963, tendo permanecido cá até 1974.

 

Ao longo dos 11 anos que esteve em São Miguel Simão Toco, fundador do tocoismo, um dos maiores movimentos cristãos de Angola, que neste momento conta com sedes em vários países, nunca esmoreceu e trocou cartas com os seus seguidores naquela antiga colónia portuguesa.

 

Segundo ele, nos Ginetes, passou muitas dificuldades, recebia pouco, os filhos não podiam viver com ele e a mulher não veio para São Miguel por ser muito doente. Mais tarde, teve algum aumento e as filhas uma bolsa de estudo para poderem estudar.

 

Simão Toco não se envolvia na política, não era contra o estado e respeitava todas as religiões. Segundo ele, todos os cristãos deviam respeitar todas as crenças.

 

Após o seu regresso a Angola apenas a 31 de agosto de 1974, já depois da chamada Revolução dos Cravos, Simão Toco amante da paz, e antevendo o desentendimento entre os movimentos de libertação, tomou a iniciativa de promover conversações entre a FLNA, o MPLA e a UNITA com vista a um entendimento que permitisse uma transição pacífica rumo à independência.

 

Como é sabido, nem a sua iniciativa, nem outras tiveram qualquer sucesso, tendo-se seguido uma guerra fratricida, entre 1975 e 2002 com resultados desastrosos para a economia e sociedade angolanas e com mais de 500 mil mortes e mais de 1 milhão de pessoas deslocadas internamente.

 

Se no passado, os seguidores de Simão Toco foram perseguidos, presos e até mortos ou deslocados das suas terras para serem mais facilmente controlados, porque resistiram contra a exploração colonial, hoje os tocoistas são mais de 2 milhões em todo o mundo e Simão Toco é considerado uma das personalidades mais importantes na luta pela libertação os povos africanos.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32702, 6 de abril de 2022, p.11)