Em
memória do professor José Carreiro de Almeida
No
passado dia 28 de março, faleceu, com 90 anos de idade, no Hospital do Divino
Espírito Santo, em Ponta Delgada, o professor José Carreiro de Almeida, natural
da freguesia do Pico da Pedra, onde nasceu a 14 de fevereiro de 1932.
Não
tinha uma proximidade muito grande com o professor Carreiro, mas sempre que nos
encontrávamos, no Pico da Pedra ou em Ponta Delgada, nomeadamente na Biblioteca
Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada e algumas vezes no Jardim José do
Canto, onde ele por mais de uma vez participou em visitas guiadas pelo meu
amigo Raimundo Quintal, era muito simpático comigo e conversávamos um pouco.
Como
o seu falecimento passou (quase) despercebido entre nós, decidi homenageá-lo
através deste modesto e incompleto texto biográfico.
Depois
de ter frequentado a escola primária no Pico da Pedra, onde completou a quarta
classe, esteve quatro anos no Seminário, tendo desistido por doença. Para
concluir o antigo quinto ano de escolaridade (hoje nono ano), frequentou um
colégio em Ponta Delgada que era dirigido pelo vila-franquense Afonso Borges. A
seguir, durante dois anos, frequentou o Magistério Primário, onde se formou
como professor.
Profissionalmente,
o professor Carreiro teve uma carreira longa, tendo lecionado durante 40 anos,
27 dos quais na formação de professores no Magistério Primário de Ponta
Delgada.
A
sua experiência de lecionação começou numa escola na freguesia de São José,
situada no lado Sul do Campo de São Francisco, passou pelos Fenais da Luz, onde
permaneceu durante 6 anos, e pela Fajã de Baixo, antes de ir ensinar Didática
na Escola do Magistério Primário de Ponta Delgada.
Sobre
o seu pensamento acerca do ensino e da profissão de professor, recordo as suas
palavras, publicadas no livro intitulado “Folheai e Recordai”, relativo ao
curso de 1972-1974 do Magistério Primário, que são também recomendações aos
novos professores:
“Há
já centenas de crianças que esperam por vós. Amai-as; amai-as muito, porque o
amor é o segredo, a pedra de toque que vos ajudará a compreendê-las e a
torná-las “elas mesmas”.
Não
vos esqueçais também de que o êxito da vossa atuação pedagógica está na medida
em que colaborardes uns com os outros: “É melhor haver cinco educadores
medíocres, trabalhando em verdadeiro espírito de cooperação do que dez bons
pedagogos isoladamente”.
Quer
durante o período em que lecionou, quer depois, o professor Carreiro foi Guia
de Turismo. Numa entrevista dada ao jornalista João Paz, publicada no Correio
dos Açores, ele referiu que se preparava muito para desempenhar bem o seu
trabalho, tendo afirmado o seguinte: “Nós, ao ensinarmos,
crianças de uma maneira muito especial, temos muito cuidado em preparar a
mensagem que lhes vamos transmitir para que eles compreendam. E levei este
hábito para o turismo, explicava tudo muito bem …”.
Benemérito,
o professor Carreiro, doou a menina dos seus olhos, um prédio que possuía junto
à igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, no Pico da Pedra, com o objetivo de lá
ser construído um lar de idosos, com uma única condição, a de que ao edifício fosse
dado o nome de seu pai, Manuel de Almeida Moniz.
Ele
e a irmã, Maria Luísa Carreiro de Almeida ofereceram, no passado dia 9 de junho
de 2021, uma nova ambulância, dedicada ao transporte de doentes não urgentes,
no valor aproximado de 50 mil euros, à Associação Humanitária dos Bombeiros de
Ponta Delgada.
Não tendo sido
devidamente homenageado em vida, a sua obra devia ficar registada para sempre
através de uma placa a colocar na casa onde nasceu.
Teófilo
Braga
(Correio dos Açores, 32708, 13 de abril de 2022, p.11)
Fotografia: Eng. Manuel Moniz da Ponte
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