quarta-feira, 13 de abril de 2022

Em memória do professor José Carreiro de Almeida

 


Em memória do professor José Carreiro de Almeida

 

No passado dia 28 de março, faleceu, com 90 anos de idade, no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, o professor José Carreiro de Almeida, natural da freguesia do Pico da Pedra, onde nasceu a 14 de fevereiro de 1932.

 

Não tinha uma proximidade muito grande com o professor Carreiro, mas sempre que nos encontrávamos, no Pico da Pedra ou em Ponta Delgada, nomeadamente na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada e algumas vezes no Jardim José do Canto, onde ele por mais de uma vez participou em visitas guiadas pelo meu amigo Raimundo Quintal, era muito simpático comigo e conversávamos um pouco.

 

Como o seu falecimento passou (quase) despercebido entre nós, decidi homenageá-lo através deste modesto e incompleto texto biográfico.

 

Depois de ter frequentado a escola primária no Pico da Pedra, onde completou a quarta classe, esteve quatro anos no Seminário, tendo desistido por doença. Para concluir o antigo quinto ano de escolaridade (hoje nono ano), frequentou um colégio em Ponta Delgada que era dirigido pelo vila-franquense Afonso Borges. A seguir, durante dois anos, frequentou o Magistério Primário, onde se formou como professor.

 

Profissionalmente, o professor Carreiro teve uma carreira longa, tendo lecionado durante 40 anos, 27 dos quais na formação de professores no Magistério Primário de Ponta Delgada.

 

A sua experiência de lecionação começou numa escola na freguesia de São José, situada no lado Sul do Campo de São Francisco, passou pelos Fenais da Luz, onde permaneceu durante 6 anos, e pela Fajã de Baixo, antes de ir ensinar Didática na Escola do Magistério Primário de Ponta Delgada.

 

Sobre o seu pensamento acerca do ensino e da profissão de professor, recordo as suas palavras, publicadas no livro intitulado “Folheai e Recordai”, relativo ao curso de 1972-1974 do Magistério Primário, que são também recomendações aos novos professores:

 

“Há já centenas de crianças que esperam por vós. Amai-as; amai-as muito, porque o amor é o segredo, a pedra de toque que vos ajudará a compreendê-las e a torná-las “elas mesmas”.

Não vos esqueçais também de que o êxito da vossa atuação pedagógica está na medida em que colaborardes uns com os outros: “É melhor haver cinco educadores medíocres, trabalhando em verdadeiro espírito de cooperação do que dez bons pedagogos isoladamente”.

 

Quer durante o período em que lecionou, quer depois, o professor Carreiro foi Guia de Turismo. Numa entrevista dada ao jornalista João Paz, publicada no Correio dos Açores, ele referiu que se preparava muito para desempenhar bem o seu trabalho, tendo afirmado o seguinte: “Nós, ao ensinarmos, crianças de uma maneira muito especial, temos muito cuidado em preparar a mensagem que lhes vamos transmitir para que eles compreendam. E levei este hábito para o turismo, explicava tudo muito bem …”.

 

Benemérito, o professor Carreiro, doou a menina dos seus olhos, um prédio que possuía junto à igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, no Pico da Pedra, com o objetivo de lá ser construído um lar de idosos, com uma única condição, a de que ao edifício fosse dado o nome de seu pai, Manuel de Almeida Moniz.

 

Ele e a irmã, Maria Luísa Carreiro de Almeida ofereceram, no passado dia 9 de junho de 2021, uma nova ambulância, dedicada ao transporte de doentes não urgentes, no valor aproximado de 50 mil euros, à Associação Humanitária dos Bombeiros de Ponta Delgada.

 

Os irmãos Carreiro de Almeida, também, doaram à Junta de Freguesia do Pico da Pedra um terreno, nas Giestas, para a construção do Parque de Atividades “Susana Maria Carreiro Moniz”, obra ainda não realizada, mas que não pode cair no esquecimento. O espaço deverá merecer, por parte da Junta de Freguesia do Pico da Pedra, uma atenção especial, tal como a que foi dedicada, pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, ao Parque Pedagógico Maria das Mercês Carreiro.

 

Não tendo sido devidamente homenageado em vida, a sua obra devia ficar registada para sempre através de uma placa a colocar na casa onde nasceu.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32708, 13 de abril de 2022, p.11)

Fotografia: Eng. Manuel Moniz da Ponte

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