Uma estranha
planta da Avenida da Paz
Não
me recordo quando, ao passar na Avenida da Paz, reparei nos recortes, nunca
vistos antes, das folhas de uma planta que procurei identificar sem sucesso.
Com o
recurso ao meu amigo Raimundo Quintal, um madeirense que, desde 1983, tem
estudado a fitodiversidade dos parques e jardins do nosso arquipélago,
nomeadamente os da ilha de São Miguel, fiquei a saber que a planta era uma
amoreira-da-china, também conhecida por amoreira-do-papel (Broussonetia papyrifera (L.) L’Hér. ex Vent.).
A amoreira-do-papel é uma
árvore de folha caduca e dioica pertencente à família Moraceae, nativa da China, Japão, Coreia, Taiwan e Polinésia. Com um crescimento rápido, atinge
uma altura que varia entre os 6 e os 15 metros.
A amoreira-do-papel, cujo nome específico está associado ao facto de a
fibra da casca ser usada na produção de papel de grande qualidade, é utilizada
em várias partes do mundo essencialmente como planta ornamental.
De acordo com algumas fontes, os seus
frutos são muito agradáveis ao paladar, podendo ser comidos frescos ou em
compotas, tendo propriedades diuréticas. As suas folhas, para além de induzirem
a transpiração e evitarem a diarreia, são usadas como cataplasma para combater
problemas de pele e associados a picadas de insetos.
Na ilha de Fiji a casca da
amoreira-do-papel é usada para o fabrico de tecidos que são usados em várias
cerimónias tradicionais, que vão do nascimento ao casamento.
Identificada a planta, o
passo seguinte foi tentar saber a sua abundância na ilha de São Miguel,
recorrendo à bibliografia, a pesquisas no campo e ouvindo pessoas amigas que
conhecem bem as plantas da nossa terra.
Desconhecendo-se a data
da sua introdução na ilha de São Miguel, apenas podemos afirmar que a
amoreira-do-papel já era conhecida em São Miguel, em 1851, data em que “O
Agricultor Micaelesnse”, órgão mensal da Sociedade Promotora da Agricultura
Micaelense, publicou um texto intitulado “Broussonetia”. Nele, a dada passo
pode-se ler o seguinte: “é uma elegante árvore, da qual crescem prosperamente
n’esta Ilha alguns indivíduos”.
O texto referido no
parágrafo anterior, para além de dar uma explicação sobre o modo como era
produzido o papel a partir da casca da amoreira-do-papel, termina com um
(quase) apelo à sua plantação na ilha, do seguinte modo: “Quantas árvores que
não tem serventia alguma, não roubam o lugar, que poderá ser ocupado por esta,
e inúmeras outras árvores de útil préstimo!”
No século passado, a
amoreira-do-papel não devia ser muita rara nos Açores, pois o Regente Agrícola
Silvano Pereira incluiu-a numa listagem das “Principais Plantas Cultivadas e
Espontâneas nos Açores”, publicada no Boletim da Comissão Reguladora dos
Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 18, de 1953.
Até ao momento, nenhum
dos meus conhecidos indicou a presença da amoreira-do-papel na nossa ilha, pelo
que atualmente, para além da planta existente no Pico da Pedra, só conheço uma
árvore existente na Fajã de Cima que observei no dia 2 de julho de 2020.
Quem introduziu a
amoreira-do-papel nos Açores? Quem a plantou e quando no Pico da Pedra?
Teófilo Braga
(A Voz, 199, março de 2022)
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