O padre Manuel Vicente e a nova vida do Jardim António Borges
Depois de um longo período de abandono, um
grupo de empresários propôs-se, em 1922, resgatar o jardim António Borges, “do
seu atual sequestro, como propriedade particular que é, restituindo-lhe as
condições que faziam d’esse pedaço de torrão um dos mais invejáveis
embelezamentos citadinos”.
De acordo com uma notícia publicada no
Correio dos Açores, no dia 1 de abril de 1922, o grupo citado, constituído pelo
Dr. José Jacinto de Andrade Albuquerque, proprietário do jardim, Pedro de Lima
Araújo, Manuel José de Vasconcelos, Manuel Joaquim Raposo e José Cristiano de
Sousa, decidiu por mãos à obra com vista à recuperação do Jardim António
Borges, com vista à criação de “novas condições que ali chamem o grande público
como local de recreio, com iluminações, música, pavilhões para refrescos,
cinematógrafo, jogos, sports, etc.
Quem foi o responsável pela recuperação do
Jardim António Borges, em 1922?
Num desdobrável publicado recentemente
pela Câmara Municipal de Ponta Delgada é afirmado que foi uma equipa liderada
pelo mestre Manuel de Oliveira Panela que se encarregou de ressuscitar o
jardim.
Nas pesquisas que efetuei, cheguei à
conclusão de que o principal responsável terá sido o Padre Manuel Vicente. Com
efeito, através da leitura do Diário dos Açores, de 9 de junho de 1922, que
relata uma visita ao jardim a poucos dias da sua inauguração, facilmente se
conclui o pepel de destaque do sacerdote referido na recuperação do jardim.
Assim, a dado passo pode-se ler que para além dos membros da sociedade esteve
presente “o técnico-amador dirigente dos trabalhos sr. Padre Manuel Vicente”.
No fim do texto referido também é feito um agradecimento ao sr. Albano da
Ponte, da Casa Bensaúde, que cedeu pessoal daquela entidade para a realização
de alguns trabalhos a pedido do padre Manuel Vicente.
Através da leitura do Correio dos Açores,
de 10 de junho de 1922, chega-se à mesma conclusão, isto é, o Padre Manuel
Vicente foi o principal responsável pela condução das obras de restauração do
Jardim António Borges. Com efeito, a dado passo do texto publicado no referido
dia, pode-se ler o seguinte: “Como chegámos à tabela, segundo nosso hábito, e
os restantes convidados estivessem em tardança, guiados pelo Padre Manuel
Vicente, que de galochas de borracha, por causa da humidade, sobretudo
cautelosamente abotoado, olhar inspirado de criador, abrindo os braços, dava
ordem a uma pequena tribo de trabalhadores…” e mais adiante : “Padre Manuel
Vicente dispôs em volta dessa homenagem ao fundador do maravilhoso jardim uma
decoração artística e sóbria, de flores e plantas e nessa nesga em que as
árvores dum lado e outro da avenida se cruzam em fraternal abraço, o busto de
António Borges…”
Por último, no texto do Correio dos Açores
citado, há uma referência a outros intervenientes na recuperação do jardim nos
seguintes termos: “O resultado desse trabalho, em que colaboraram o mestre
Manuel de Oliveira Panela e seus irmãos, que às Furnas foram buscar, foi
excelente e o jardim está realmente belo e fica sendo um adorável recinto da
nossa cidade”.
O Padre Manuel Vicente foi também um
dinamizador da vida do Jardim António Borges após a sua abertura ao público, em
1992. Abaixo, apresentamos duas das suas iniciativas.
Na noite de São João de 1922, realizou-se
um festival no Jardim António Borges, onde, a convite do Padre Manuel Vicente,
cantaram Miss Helen Bartlett e Mr. Edgar Accetta. O jornal Diário dos Açores de
26 de junho, deu os parabéns àquele sacerdote “pelo êxito completo de mais esta
festa tão distintamente organizada”.
O Padre Manuel Vicente também organizou no
mês de julho de 1922, no Jardim António Borges, uma “Festa Infantil” que
constou de um grande baile de crianças. De acordo com o Correio dos Açores, de
25 de julho, “as crianças dançaram animadamente ao som marcial da banda “União”
e até “as pessoas sisudas começavam a esboçar atitudes de querer participar das
danças”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32247, 30 de
setembro de 2020, p.12)