A
obra de José do Canto como fonte de inspiração
É com muito gosto que, a pedido do Dr.
Augusto Athayde, escrevo um breve texto sobre um homem cuja obra foi ímpar no
seu tempo e que é fonte de inspiração para as gerações presentes e futuras. De
acordo com o arquiteto Pedro Maurício Borges, José do Canto foi
“um lavrador, que foi também bibliófilo,
botânico, paisagista, sportsman, e, esquecendo o conselho do agrónomo romano
Colunella para não ser edificador, também fez de arquiteto e mestre-de-obras.”
Para evitar ser repetitivo, dado que
muitas outras pessoas já o fizeram, o meu depoimento centra-se na obra de José
do Canto no Concelho de Vila Franca do Campo, nomeadamente na sua mata
ajardinada da Lagoa do Congro, que durante alguns anos foi o local escolhido
pelos vila-franquenses para comemorar o seu feriado Municipal, 24 de junho, Dia
de São João.
O meu primeiro contacto com José do Canto
ocorreu nos finais da década de 70 do século passado, através da leitura do
excelente texto “A primavera micaelense e o seu decorador José do Canto”, de
Aníbal Bicudo, datado de 1922. De acordo
com o autor a ele se deve “a gigantesca obra do povoamento dos nossos campos,
os primores da nossa agricultura avançada e a metamorfose, enfim, da nossa
economia rural”.
O meu interesse pela vida e obra de José
do Canto, nunca esmoreceu, pois continuei a ler tudo o que sobre ele foi
escrito, a consultar as listagens das plantas, que semeou e plantou, escritas
pelo seu punho e a visitar as suas grandes obras: O Jardim José do Canto, em
Ponta Delgada, a Mata-Jardim José do Canto, nas Furnas e mais amiudadamente o
que resta da mata ajardinada da Lagoa do Congro.
No
que concerne ao concelho de Vila Franca do Campo, José do Canto administrou uma
vasta área que incluía a Lagoa do Congro e que ia do Porto Formoso à Ribeira
das Tainhas. No seu prédio em Vila Franca do Campo, o maior de toda a Casa,
José do Canto promoveu, segundo Pedro Borges, a domesticação da “paisagem
silvestre com a sequência de operações de arroteamento, vedação e abertura de
caminhos de penetração” e através da edificação de “infraestruturas de apoio à
produção”.
Em
Vila Franca do Campo, com o fim de aumentar a produtividade da terra
disponível, a par das pastagens artificiais que criou, José do Canto cultivou
milho, trigo, leguminosas e plantou e replantou várias espécies vegetais, de
que se destacam pinheiros, buxos, vinháticos, carvalhos, criptomérias, faias da
Holanda e eucaliptos.
A
par com as atividades económicas já referidas, José do Canto aproveitou o
espaço envolvente à Lagoa do Congro para o recreio, criando uma mata ajardinada
de que restam alguns vestígios, como a profusão de tis, as cameleiras e azáleas
existentes nas bordas dos caminhos de acesso à lagoa.
No passado mês de setembro de 2019, um
conjunto de peticionários entregou na ALRA- Assembleia Legislativa da Região
Autónoma dos Açores uma petição subscrita por mais de quinhentas pessoas onde
num dos considerandos recorda que não se pode desrespeitar a “memória dos
nossos antepassados que usavam aquele verdadeiro monumento natural como área de
lazer, nem o trabalho visionário de José do Canto, pelo que apelavam àquela
entidade e ao Governo Regional dos Açores para que tomassem medidas no sentido
de no mais curto período de tempo implementar um plano de recuperação e gestão
que entre outras ações inclua a recuperação da mata ajardinada criada por José
do Canto e a transformação do espaço num
Parque Botânico.
Sabendo que as diversas forças partidárias não foram
contrárias ao sugerido pelos peticionários, que o próprio Governo dos Açores
também não e que já encarregou alguns técnicos de fazerem alguns estudos, seria
uma forma de homenagear a memória e o legado de José do Canto (1820-2020), se
os primeiros trabalhos no terreno começassem a ser feitos ainda este ano que é
o do bicentenário do seu nascimento.
Teófilo Braga
2 de agosto de 2020
(José do Canto, página do Facebook, 19 de setembro de 2020)
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