sábado, 19 de setembro de 2020

A obra de José do Canto como fonte de inspiração

 


A obra de José do Canto como fonte de inspiração

 

É com muito gosto que, a pedido do Dr. Augusto Athayde, escrevo um breve texto sobre um homem cuja obra foi ímpar no seu tempo e que é fonte de inspiração para as gerações presentes e futuras. De acordo com o arquiteto Pedro Maurício Borges, José do Canto foi

“um lavrador, que foi também bibliófilo, botânico, paisagista, sportsman, e, esquecendo o conselho do agrónomo romano Colunella para não ser edificador, também fez de arquiteto e mestre-de-obras.”

 

Para evitar ser repetitivo, dado que muitas outras pessoas já o fizeram, o meu depoimento centra-se na obra de José do Canto no Concelho de Vila Franca do Campo, nomeadamente na sua mata ajardinada da Lagoa do Congro, que durante alguns anos foi o local escolhido pelos vila-franquenses para comemorar o seu feriado Municipal, 24 de junho, Dia de São João.

 

O meu primeiro contacto com José do Canto ocorreu nos finais da década de 70 do século passado, através da leitura do excelente texto “A primavera micaelense e o seu decorador José do Canto”, de Aníbal Bicudo, datado de 1922.  De acordo com o autor a ele se deve “a gigantesca obra do povoamento dos nossos campos, os primores da nossa agricultura avançada e a metamorfose, enfim, da nossa economia rural”.

 

O meu interesse pela vida e obra de José do Canto, nunca esmoreceu, pois continuei a ler tudo o que sobre ele foi escrito, a consultar as listagens das plantas, que semeou e plantou, escritas pelo seu punho e a visitar as suas grandes obras: O Jardim José do Canto, em Ponta Delgada, a Mata-Jardim José do Canto, nas Furnas e mais amiudadamente o que resta da mata ajardinada da Lagoa do Congro.

 

No que concerne ao concelho de Vila Franca do Campo, José do Canto administrou uma vasta área que incluía a Lagoa do Congro e que ia do Porto Formoso à Ribeira das Tainhas. No seu prédio em Vila Franca do Campo, o maior de toda a Casa, José do Canto promoveu, segundo Pedro Borges, a domesticação da “paisagem silvestre com a sequência de operações de arroteamento, vedação e abertura de caminhos de penetração” e através da edificação de “infraestruturas de apoio à produção”.

Em Vila Franca do Campo, com o fim de aumentar a produtividade da terra disponível, a par das pastagens artificiais que criou, José do Canto cultivou milho, trigo, leguminosas e plantou e replantou várias espécies vegetais, de que se destacam pinheiros, buxos, vinháticos, carvalhos, criptomérias, faias da Holanda e eucaliptos.

A par com as atividades económicas já referidas, José do Canto aproveitou o espaço envolvente à Lagoa do Congro para o recreio, criando uma mata ajardinada de que restam alguns vestígios, como a profusão de tis, as cameleiras e azáleas existentes nas bordas dos caminhos de acesso à lagoa.

No passado mês de setembro de 2019, um conjunto de peticionários entregou na ALRA- Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores uma petição subscrita por mais de quinhentas pessoas onde num dos considerandos recorda que não se pode desrespeitar a “memória dos nossos antepassados que usavam aquele verdadeiro monumento natural como área de lazer, nem o trabalho visionário de José do Canto, pelo que apelavam àquela entidade e ao Governo Regional dos Açores para que tomassem medidas no sentido de no mais curto período de tempo implementar um plano de recuperação e gestão que entre outras ações inclua a recuperação da mata ajardinada criada por José do Canto e  a transformação do espaço num Parque Botânico.

 

Sabendo que as diversas forças partidárias não foram contrárias ao sugerido pelos peticionários, que o próprio Governo dos Açores também não e que já encarregou alguns técnicos de fazerem alguns estudos, seria uma forma de homenagear a memória e o legado de José do Canto (1820-2020), se os primeiros trabalhos no terreno começassem a ser feitos ainda este ano que é o do bicentenário do seu nascimento.

 

Teófilo Braga

2 de agosto de 2020

 

(José do Canto, página do Facebook, 19 de setembro de 2020)

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