quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Conhecer as plantas do Paim é viajar pelo Mundo

 


Conhecer as plantas do Paim é viajar pelo Mundo

 

Se a presença de árvores e outras plantas em parques e jardins é geralmente apreciada, nas ruas nem sempre tal acontece, sobretudo quando as mesmas são de folha caduca.

 

O que talvez algumas pessoas não saibam é que, tanto em parques, jardins ou arruamentos, as árvores são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes das cidades.

 

De acordo com o prestigiado arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Teles são funções das árvores “garantir a presença de vida silvestre, promover a mais conveniente circulação da água e do ar, manter o equilíbrio dos ecossistemas, assegurar a fertilidade dos campos, contrabalançar com a sua presença o artificialismo do meio urbano que tanto afeta a saúde psicossomática das populações, e ainda a de valorizar a escala e a proporção dos volumes edificados.”

 

Quem tiver a oportunidade de fazer uma caminhada pelas ruas, praças e canadas do Bairro do Paim, vai surpreender-se com a variedade de plantas existentes, provenientes dos quatro cantos do mundo. Num passeio que fiz, sem o cuidado de tomar nota de tudo o que via, no passado dia 19 de agosto, identifiquei cerca de 50 espécies diferentes, espontâneas ou cultivadas. Destas últimas, destaco as ornamentais e algumas fruteiras.

 

Das espécies espontâneas, menciono apenas duas: o funcho (Foeniculum vulgare) e a cenoura-brava ou salsa burra (Daucus carota). Destas, o funcho é muito conhecido em virtude de ser utilizado na alimentação e na medicina popular.

 

Nos arruamentos há pouca variedade, existem essencialmente tílias (Tilia sp.), da Europa e da Ásia Menor e a mais abundante é a mélia ou amargoseira (Melia azedarach), da Ásia e Oceânia, de flores lilases, muito aromáticas, que é cultivada como ornamental em quase todo o mundo.

 

Na Praça da Autonomia Constitucional, que ficará linda quando as árvores que lá se encontram crescerem e florirem, podemos encontrar, para além das mélias já referidas, entre outras, árvores-do-fogo (Brachychiton acerifolius), oriunda da Austrália, magnólias-de-soulange (Magnolia x soulangeana), uma hortícola, de flores muito bonitas e os cardeais ou hibiscos-da Síria (Hibiscus syriacus), curiosamente provenientes da China, Coreia e Indochina.

 

Termino esta curta nota com uma referência a  plantas que nunca esperei encontrar e que devem estar relacionadas com uma possível ligação à terra de alguns moradores, algumas fruteiras que podem ser encontradas à frente de algumas casas.

 

O araçazeiro, também conhecido em alguns locais de São Miguel por goiaviera (Psidium cattleyanum), que é originário da América tropical, é a fruteira mais abundante. Para além daquela espécie, de entre outras, pode ser observada a papaeira (Carica papaya), nativa do Sul do México, da América Central e norte da América do Sul, o cafezeiro (Coffea arabica), da África tropical - florestas montanhosas da Etiópia, a nespereira, também conhecida por monequeira (Eriobotrya japónica), do Sudeste da China e a pitangueira (Eugenia uniflora) que veio do Brasil.

 

Como não há bela sem senão, numa área à espera de ser utilizada para a construção de um qualquer edifício é possível encontrar o penacho ou erva-das.pampas (Cortaderia selloana), proveniente da América do Sul e que apesar de muito bonita é,  de acordo com uma publicação do “Projeto LIFE+ Stop Cortaderia – Medidas urgentes para controlar a propagação de erva-das-pampas no Arco Atlântico”, “considerada uma das plantas invasoras mais nocivas no território do Arco Atlântico devido à sua capacidade de transformar e degradar habitats naturais e humanizados, de provocar problemas graves de saúde pública (alergias, etc.) e também a nível económico (e.g. na gestão de faixas marginais a vias de comunicação e de outros espaços)”.

 

Pico da Pedra, 23 de agosto de 2020

(Nova Persuasão, nº2, setembro de 2020)

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