Conhecer
as plantas do Paim é viajar pelo Mundo
Se a presença de árvores e outras plantas
em parques e jardins é geralmente apreciada, nas ruas nem sempre tal acontece,
sobretudo quando as mesmas são de folha caduca.
O que talvez algumas pessoas não saibam é
que, tanto em parques, jardins ou arruamentos, as árvores são fundamentais para
a melhoria da qualidade de vida dos habitantes das cidades.
De acordo com o prestigiado arquiteto
paisagista Gonçalo Ribeiro Teles são funções das árvores “garantir a presença
de vida silvestre, promover a mais conveniente circulação da água e do ar,
manter o equilíbrio dos ecossistemas, assegurar a fertilidade dos campos,
contrabalançar com a sua presença o artificialismo do meio urbano que tanto
afeta a saúde psicossomática das populações, e ainda a de valorizar a escala e
a proporção dos volumes edificados.”
Quem tiver a oportunidade de fazer uma
caminhada pelas ruas, praças e canadas do Bairro do Paim, vai surpreender-se
com a variedade de plantas existentes, provenientes dos quatro cantos do mundo.
Num passeio que fiz, sem o cuidado de tomar nota de tudo o que via, no passado
dia 19 de agosto, identifiquei cerca de 50 espécies diferentes, espontâneas ou
cultivadas. Destas últimas, destaco as ornamentais e algumas fruteiras.
Das espécies espontâneas, menciono apenas
duas: o funcho (Foeniculum vulgare) e a cenoura-brava ou salsa burra (Daucus
carota). Destas, o funcho é muito conhecido em virtude de ser utilizado na alimentação
e na medicina popular.
Nos arruamentos há pouca variedade,
existem essencialmente tílias (Tilia sp.), da Europa e da Ásia Menor e a
mais abundante é a mélia ou amargoseira (Melia azedarach), da Ásia e
Oceânia, de flores lilases, muito aromáticas, que é cultivada como ornamental
em quase todo o mundo.
Na Praça da Autonomia Constitucional, que
ficará linda quando as árvores que lá se encontram crescerem e florirem,
podemos encontrar, para além das mélias já referidas, entre outras,
árvores-do-fogo (Brachychiton
acerifolius), oriunda
da Austrália, magnólias-de-soulange (Magnolia x soulangeana), uma
hortícola, de flores muito bonitas e os cardeais ou hibiscos-da Síria (Hibiscus
syriacus), curiosamente provenientes da China, Coreia e Indochina.
Termino
esta curta nota com uma referência a
plantas que nunca esperei encontrar e que devem estar relacionadas com
uma possível ligação à terra de alguns moradores, algumas fruteiras que podem
ser encontradas à frente de algumas casas.
O
araçazeiro, também conhecido em alguns locais de São Miguel por goiaviera (Psidium
cattleyanum), que é originário da América tropical, é a fruteira mais
abundante. Para além daquela espécie, de entre outras, pode ser observada a papaeira
(Carica papaya), nativa do Sul do México, da América Central e norte da
América do Sul, o cafezeiro (Coffea
arabica), da África tropical - florestas montanhosas da Etiópia, a
nespereira, também conhecida por monequeira (Eriobotrya japónica), do Sudeste da China e a pitangueira (Eugenia uniflora) que veio do Brasil.
Como não há bela sem senão, numa área à
espera de ser utilizada para a construção de um qualquer edifício é possível
encontrar o penacho ou erva-das.pampas (Cortaderia
selloana), proveniente da América do
Sul e que apesar de muito bonita é, de
acordo com uma publicação do “Projeto LIFE+ Stop Cortaderia – Medidas
urgentes para controlar a propagação de erva-das-pampas no Arco Atlântico”, “considerada
uma das plantas invasoras mais nocivas no território do Arco Atlântico devido à
sua capacidade de transformar e degradar habitats naturais e humanizados, de provocar
problemas graves de saúde pública (alergias, etc.) e também a nível económico
(e.g. na gestão de faixas marginais a vias de comunicação e de outros espaços)”.
Pico da Pedra, 23 de agosto de 2020
(Nova Persuasão, nº2, setembro de 2020)
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