terça-feira, 29 de setembro de 2020

O padre Manuel Vicente e a nova vida do Jardim António Borges

 


O padre Manuel Vicente e a nova vida do Jardim António Borges

 

Depois de um longo período de abandono, um grupo de empresários propôs-se, em 1922, resgatar o jardim António Borges, “do seu atual sequestro, como propriedade particular que é, restituindo-lhe as condições que faziam d’esse pedaço de torrão um dos mais invejáveis embelezamentos citadinos”.

 

De acordo com uma notícia publicada no Correio dos Açores, no dia 1 de abril de 1922, o grupo citado, constituído pelo Dr. José Jacinto de Andrade Albuquerque, proprietário do jardim, Pedro de Lima Araújo, Manuel José de Vasconcelos, Manuel Joaquim Raposo e José Cristiano de Sousa, decidiu por mãos à obra com vista à recuperação do Jardim António Borges, com vista à criação de “novas condições que ali chamem o grande público como local de recreio, com iluminações, música, pavilhões para refrescos, cinematógrafo, jogos, sports, etc.

 

Quem foi o responsável pela recuperação do Jardim António Borges, em 1922?

 

Num desdobrável publicado recentemente pela Câmara Municipal de Ponta Delgada é afirmado que foi uma equipa liderada pelo mestre Manuel de Oliveira Panela que se encarregou de ressuscitar o jardim.

 

Nas pesquisas que efetuei, cheguei à conclusão de que o principal responsável terá sido o Padre Manuel Vicente. Com efeito, através da leitura do Diário dos Açores, de 9 de junho de 1922, que relata uma visita ao jardim a poucos dias da sua inauguração, facilmente se conclui o pepel de destaque do sacerdote referido na recuperação do jardim. Assim, a dado passo pode-se ler que para além dos membros da sociedade esteve presente “o técnico-amador dirigente dos trabalhos sr. Padre Manuel Vicente”. No fim do texto referido também é feito um agradecimento ao sr. Albano da Ponte, da Casa Bensaúde, que cedeu pessoal daquela entidade para a realização de alguns trabalhos a pedido do padre Manuel Vicente.

Através da leitura do Correio dos Açores, de 10 de junho de 1922, chega-se à mesma conclusão, isto é, o Padre Manuel Vicente foi o principal responsável pela condução das obras de restauração do Jardim António Borges. Com efeito, a dado passo do texto publicado no referido dia, pode-se ler o seguinte: “Como chegámos à tabela, segundo nosso hábito, e os restantes convidados estivessem em tardança, guiados pelo Padre Manuel Vicente, que de galochas de borracha, por causa da humidade, sobretudo cautelosamente abotoado, olhar inspirado de criador, abrindo os braços, dava ordem a uma pequena tribo de trabalhadores…” e mais adiante : “Padre Manuel Vicente dispôs em volta dessa homenagem ao fundador do maravilhoso jardim uma decoração artística e sóbria, de flores e plantas e nessa nesga em que as árvores dum lado e outro da avenida se cruzam em fraternal abraço, o busto de António Borges…”

 

Por último, no texto do Correio dos Açores citado, há uma referência a outros intervenientes na recuperação do jardim nos seguintes termos: “O resultado desse trabalho, em que colaboraram o mestre Manuel de Oliveira Panela e seus irmãos, que às Furnas foram buscar, foi excelente e o jardim está realmente belo e fica sendo um adorável recinto da nossa cidade”.

 

O Padre Manuel Vicente foi também um dinamizador da vida do Jardim António Borges após a sua abertura ao público, em 1992. Abaixo, apresentamos duas das suas iniciativas.

 

Na noite de São João de 1922, realizou-se um festival no Jardim António Borges, onde, a convite do Padre Manuel Vicente, cantaram Miss Helen Bartlett e Mr. Edgar Accetta. O jornal Diário dos Açores de 26 de junho, deu os parabéns àquele sacerdote “pelo êxito completo de mais esta festa tão distintamente organizada”.

 

O Padre Manuel Vicente também organizou no mês de julho de 1922, no Jardim António Borges, uma “Festa Infantil” que constou de um grande baile de crianças. De acordo com o Correio dos Açores, de 25 de julho, “as crianças dançaram animadamente ao som marcial da banda “União” e até “as pessoas sisudas começavam a esboçar atitudes de querer participar das danças”.

 

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32247, 30 de setembro de 2020, p.12)

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