Sindicalismo agrícola em São Miguel
Com este texto, para além de registar uma
época da nossa história recente, pretendo homenagear todos os trabalhadores
rurais da nossa terra. Como não posso nomear todos, aqui ficam os nomes de alguns,
pedindo perdão aos que involuntariamente esqueci, que trabalharam as terras que
transitoriamente estou a cuidar: Durval Carreiro (Carreirinho), Artur (da
Canada), Eduardo Vicente, José Brum, João Salema, Manuel de Sousa, José
Fernando Araújo, Gilberto Mansinho e Carlos Agostinho
De acordo com as estatísticas, em 1970,
existiam no distrito de Ponta Delgada (ilhas de Santa Maria e São Miguel)
14 310 assalariados rurais, o que correspondia a 65% da população rural do
distrito.
Com o golpe de estado de 25 de abril de
1974, impulsionados por partidos de esquerda foram criados em 1974 e 1975
vários sindicatos de trabalhadores rurais na ilha de São Miguel que, de acordo
com um texto não assinado publicado, no nº 2 da revista “Trabalho”, de
novembro/dezembro de 1981, eram “dirigidos em grande parte por sindicalistas
não reformistas próximos do MES”.
Em algumas localidades da ilha de São
Miguel, com destaque para o Pico da Pedra e a Fajão de Baixo realizaram-se
reuniões de trabalhadores rurais. A título de exemplo, regista-se a reunião
realizada no Pico da Pedra, a 1 de maio de 1975, com a presença de
trabalhadores rurais de Santa Cruz e do Rosário, do Livramento, das Capelas, de
São Vicente Ferreira e do Pico da Pedra e a realizada, a 29 do mesmo mês, na
Junta de Freguesia da Fajã de Baixo que contou com a presença de “cerca de 50
camponeses representando à volta de 11 freguesias micaelenses”.
Embora não possuamos dados, cremos que terá
sido diminuto o número de trabalhadores rurais sindicalizados na ilha de São
Miguel e a sua duração foi efémera. Sobre esta, na revista referida que tinha
como um dos administradores o micaelense Eduardo Pontes, em 1981, existia
apenas um Sindicato Agrícola, resultante da fusão dos anteriores, mas que vivia
da atividade de um funcionário e não tinha implantação na maioria das empresas
agrícolas, não desenvolvia qualquer trabalho sindical ou atividade reivindicativa.
A fusão dos vários sindicatos de
trabalhadores rurais ocorreu em julho de 1978, tendo numa reunião realizada na
Fajã de Baixo, que contou com a presença das direções dos Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais da Lagoa, do Livramento, do Pico da Pedra e da Cultura do
Ananás, da Fajã de Baixo, sido eleita a Comissão Diretiva Provisória do agora
designado Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas de São Miguel, que ficou
constituída por José Luís Pereira da Ponte (presidente) e José Horácio
(tesoureiro).
Quais eram as principais reivindicações
dos sindicatos agrícolas de São Miguel, em 74/75?
Para responder a esta questão, por falta
de bibliografia disponível, socorremo-nos de um comunicado da Comissão
Pró-sindicato dos Trabalhadores Rurais do Concelho de Vila Franca do Campo que,
de entre outras medidas urgentes que deveriam ser tomadas pelas autoridades e
pelas Forças Armadas, referia as seguintes:
1-
Fim dos despedimentos;
2-
Proibição da criminosa prática de deixar
de cultivar milho, batatas e feijão, entre as vinhas, por conduzir à diminuição
da produção e aumento dos despedimentos.
3-
Proibição do arranque das vinhas para
transformação dos terrenos em pastagens.
Por parte dos proprietários e dos
rendeiros, a criação dos Sindicatos não foi bem vista. Com efeito, se as
exigências dos trabalhadores rurais não afetavam muito os grandes, para os
pequenos e médios, a situação não era bem assim, pois, não organizados em
cooperativas de produtores, era-lhes difícil suportar o aumento das despesas já
que não tinham, muitas vezes, garantida a venda dos produtos da terra.
Na altura, alguns dos dirigentes foram
intimidados e alguns trabalhadores aconselhados a não aderirem aos sindicatos
por “estarem ligados ao Partido Comunista”. No Pico da Pedra, segundo o jornal
Voz Popular, de abril de 1977, o presidente do Sindicato daquela freguesia, sr.
António Brum, “foi alvo de uma queixa a aguardar sentença em tribunal, por
parte de duas entidades patronais” pelo facto de, segundo os queixosos, ser
também sócio do Sindicato dos Estufeiros.
Teófilo Braga
(Correio
dos Açores, 32229, 9 de setembro de 2020, p.11)
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