terça-feira, 22 de setembro de 2020

O Padre Manuel Vicente, um apaixonado pelas plantas

 


O Padre Manuel Vicente, um apaixonado pelas plantas

 

O padre Manuel Vicente, nasceu na Rua João do Rego, 134, em Ponta Delgada, no dia 11 de janeiro de 1866 e faleceu no dia 15 de fevereiro de 1938, na cidade de Artesia, na Califórnia, nos Estados Unidos da América.

 

A sua missa nova realizou-se na Igreja de São José em Ponta Delgada, em agosto de 1893, com a presença de uma numerosa assistência de todas as classes sociais. O padre Manuel Vicente teve como padrinhos o Dr. Caetano de Andrade Albuquerque e o Dr. José Maria Tavares Ferreira.

 

Em 1897, o Padre Manuel Vicente fez parte de uma comissão que preparou a visita do Padre Sena Freitas à sua terra natal, depois de uma ausência de 40 anos. Para além do Padre Vicente, faziam parte o farmacêutico e jornalista Francisco Maria Supico, que presidia, e Eugénio Pacheco que chegou a ser reitor do Liceu de Ponta Delgada.

 

Depois do falecimento da irmã Rosa, com quem vivia o padre Manuel Vicente foi viver para os Estados Unidos, onde fundou a igreja Paroquial da Sagrada Família, em Artesia, pertencente à Arquidiocese de Los Angeles.

 

Quando faleceu, os seus paroquianos mandaram embalsamar o corpo numa urna com tampa de vidro que veio para Ponta Delgada, onde chegou no dia 15 de abril de 1938. Depois de estar exposto na Igreja Matriz, a urna foi colocada no jazigo da família no Cemitério de São Joaquim.

 

Apaixonado pelas flores, de acordo com Breno de Vasconcelos, o padre Manuel Vicente “organizou uma primorosa exposição de flores, com entradas pagas” que foi visitada por muitas pessoas que admiraram “não só as raras espécies, como a elegância com que as mesmas se encontravam dispostas”.

 

Depois de um período de abandono, o Jardim António Borges abriu ao público em junho de 1922. Foi responsável pela “ressurreição” do jardim o padre Manuel Vicente que teve o cuidado de “salvar algumas espécies florestais de valor, desconhecidas no meio da ramaria selvagem e inextrincável” e de “reconstruir o traçado primitivo do jardim, fazendo desaparecer “modificações de bárbaros e improvisados jardineiros”.

 

No dia de abertura ao público do jardim também houve o descerramento do busto do seu fundador, António Borges.

 

Depois de descerrado o busto pela senhora D. Isabel Pereira Athaíde do Canto Bettencourt, parente de António Borges, o padre Manuel Vicente discursou, exaltando a memória do fundador do jardim e dos cidadãos ilustres da sua geração, nomeadamente José Jácome Correia, José do Canto e Ernesto do Canto, tendo frisado “todo o seu amor pelas plantas e pelas flores”.

 

A cerimónia contou com a presença de Alice Moderno que recitou o soneto, dedicado ao Padre Vicente, que a seguir se transcreve:

 

Ao desvendar de um busto

                       Ao padre Manuel Vicente

 

Para aqueles que em vida porfiaram

- Fosse qual fosse o campo, a arena ou a liça-

No sonho da beleza que sonharam

- Acorda sempre o dia da justiça.

 

É lenta a gestação. A Consciência,

Fecundada ao calor de muitos sóis,

Já tarde reconhece o preço à Ciência

E glorifica a cinza dos Heróis.

 

Quantas vezes alegres, passeamos

À sombra hospitaleira destes ramos

E a memória do Autor ainda esquecida …

 

Soou enfim a inevitável hora

E não será lembrada só, agora,

Dos pássaros na orquestra enternecida.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32241, 23 de setembro de 2020, p. 12)

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