O Padre
Manuel Vicente, um apaixonado pelas plantas
O padre Manuel Vicente, nasceu na Rua João
do Rego, 134, em Ponta Delgada, no dia 11 de janeiro de 1866 e faleceu no dia
15 de fevereiro de 1938, na cidade de Artesia, na Califórnia, nos Estados
Unidos da América.
A sua missa nova realizou-se na Igreja de
São José em Ponta Delgada, em agosto de 1893, com a presença de uma numerosa
assistência de todas as classes sociais. O padre Manuel Vicente teve como
padrinhos o Dr. Caetano de Andrade Albuquerque e o Dr. José Maria Tavares
Ferreira.
Em 1897, o Padre Manuel Vicente fez parte
de uma comissão que preparou a visita do Padre Sena Freitas à sua terra natal,
depois de uma ausência de 40 anos. Para além do Padre Vicente, faziam parte o
farmacêutico e jornalista Francisco Maria Supico, que presidia, e Eugénio
Pacheco que chegou a ser reitor do Liceu de Ponta Delgada.
Depois do falecimento da irmã Rosa, com
quem vivia o padre Manuel Vicente foi viver para os Estados Unidos, onde fundou
a igreja Paroquial da Sagrada Família, em Artesia, pertencente à Arquidiocese
de Los Angeles.
Quando faleceu, os seus paroquianos
mandaram embalsamar o corpo numa urna com tampa de vidro que veio para Ponta
Delgada, onde chegou no dia 15 de abril de 1938. Depois de estar exposto na
Igreja Matriz, a urna foi colocada no jazigo da família no Cemitério de São
Joaquim.
Apaixonado pelas flores, de acordo com
Breno de Vasconcelos, o padre Manuel Vicente “organizou uma primorosa exposição
de flores, com entradas pagas” que foi visitada por muitas pessoas que
admiraram “não só as raras espécies, como a elegância com que as mesmas se
encontravam dispostas”.
Depois de um período de abandono, o Jardim
António Borges abriu ao público em junho de 1922. Foi responsável pela
“ressurreição” do jardim o padre Manuel Vicente que teve o cuidado de “salvar
algumas espécies florestais de valor, desconhecidas no meio da ramaria selvagem
e inextrincável” e de “reconstruir o traçado primitivo do jardim, fazendo desaparecer
“modificações de bárbaros e improvisados jardineiros”.
No dia de abertura ao público do jardim
também houve o descerramento do busto do seu fundador, António Borges.
Depois de descerrado o busto pela senhora
D. Isabel Pereira Athaíde do Canto Bettencourt, parente de António Borges, o
padre Manuel Vicente discursou, exaltando a memória do fundador do jardim e dos
cidadãos ilustres da sua geração, nomeadamente José Jácome Correia, José do
Canto e Ernesto do Canto, tendo frisado “todo o seu amor pelas plantas e pelas
flores”.
A cerimónia contou com a presença de Alice
Moderno que recitou o soneto, dedicado ao Padre Vicente, que a seguir se
transcreve:
Ao desvendar de um busto
Ao
padre Manuel Vicente
Para aqueles que em vida
porfiaram
- Fosse qual fosse o
campo, a arena ou a liça-
No sonho da beleza que
sonharam
- Acorda sempre o dia da
justiça.
É lenta a gestação. A
Consciência,
Fecundada ao calor de
muitos sóis,
Já tarde reconhece o
preço à Ciência
E glorifica a cinza dos
Heróis.
Quantas vezes alegres,
passeamos
À sombra hospitaleira
destes ramos
E a memória do Autor
ainda esquecida …
Soou enfim a inevitável
hora
E não será lembrada só,
agora,
Dos pássaros na orquestra
enternecida.
Teófilo Braga
(Correio dos
Açores, 32241, 23 de setembro de 2020, p. 12)
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