terça-feira, 31 de maio de 2016

ULMEIRO


ULMEIRO

A meados do passado mês de maio, estive em Lisboa e como é habitual voltei a fazer o meu roteiro por algumas livrarias da capital à procura de livros que não chegam cá, por serem provenientes de pequenas editoras, de livros que já não se encontram à venda, porque há muito se esgotaram e só é possível encontrar em alfarrabistas, e de livros que pela sua temática não são vendidos pelas grandes distribuidoras comerciais.

Ao contrário do que tem acontecido em anos anteriores em que as primeiras livrarias visitadas são as que se situam na Baixa de Lisboa, na zona do Chiado, este ano a minha primeira visita foi à Livraria Ulmeiro, na Avenida do Uruguai, onde tive a oportunidade de trocar breves palavras com o seu dono e onde passei algum tempo à procura de publicações sobre os Açores, sobre o Estado Novo e sobre os primeiros anos a seguir ao 25 de abril de 1974.

Através da internet, a Livraria Ulmeiro costuma fazer leilões de livros e aproveitei a visita para pagar e levantar alguns dos livros que havia adquirido anteriormente através deste processo de venda.

Um dos livros adquiridos foi “Açores: Do 25 de abril até aos nossos dias”, da autoria de um grupo de estudantes açorianos, alunos do Instituto Superior de Economia de Lisboa, editado, em 1977, pela Cooperativa Livreira Editorial e Cultural Arma Crítica.

Hoje, o livro que pretendia “transmitir o máximo de informações que permitam perceber com rigor e uma visão de conjunto os problemas que hoje se põem quanto ao futuro do Arquipélago” e que ambicionava preencher uma lacuna já que segundo os autores, há alguns anos não se publicava “um livro de fundo sobre o Arquipélago dos Açores”, está completamente desatualizado mas continua a ser de consulta obrigatória para quem quiser conhecer um pouco mais alguns dados estatísticos e as movimentações políticas que ocorreram no período conturbado que se seguiu ao 25 de abril de 1974.

Outro livro que adquiri foi “Katafaraum é uma nação” da autoria de José Martins Garcia, picoense que foi biógrafo de Vitorino Nemésio e que, segundo Beja Santos, dominou “diferentes modos e géneros discursivos: romance, conto, poesia, dramaturgia, ensaio e crítica”, editado, em 1974, pela Assírio e Alvim.

Este livro, ainda segundo Beja Santos, “foi encarado como um ajuste de contas com professores universitários, ousadia que lhe terá custado a carreira universitária em Lisboa. Segundo ele escreve em 28 de Abril de 1974, katafaraum ocorreu-lhe depois de ter assistido ao I Encontros dos Professores de Língua e Literatura Portuguesa onde, segundo ele, foram apresentadas algumas das mais ridículas bacoradas que algum mortal pôde escutar”.

Este livro não perdeu atualidade apesar do tempo decorrido desde a sua publicação. Se a guerra colonial já pertence ao passado, mas não pode cair no esquecimento, as formações de professores continuam e com menos interesse do que no passado recente, quando existiam os Centros de Formação de Escolas.

Para aguçar o apetite, a docentes e não só, abaixo transcreve-se um excerto da crónica

“Katafaraum ou o método da docência”.
“Eis algumas regras docentes:
1- O docente é filho da docência e não deve pugnar contra natura.
2- O saber ocupa lugar e o docente não deve ter a casa a abarrotar.
3- A felicidade é o equilíbrio entre o ter e o não dar.
4- Uma casa bem imaginada vale por duas construídas.
5- O método cura as dores estomacais.
6- O método só irrita os mal nascidos.
7- O método nunca sai sem chapéu.

A minha visita não terminou sem uma festinha ao gato mais fotografado de Lisboa, o Salvador. que é também a mascote da livraria.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30947, 1 de junho de 2016, p.12)

O FRACASSO DA PRETENSA TOURADA DE SOLIDARIEDADE


O FRACASSO DA PRETENSA TOURADA DE SOLIDARIEDADE

Apesar da publicidade na RTP-Açores, na RDP- Açores e no canal Azores TV (1) a tourada cujo lucro estava previsto ser doado à Liga Portuguesa Contra o Cancro foi um fracasso que os seus organizadores não assumiram por completo.

O porta-voz dos adeptos da tortura, o jornal Diário Insular limitou-se a publicar, no dia 31 de maio, um texto intitulado “Objetivo Cumprido”, o que, diga-se em abono da verdade, espelha o pretendido pelos organizadores, isto é, divertir-se com o sofrimento e a morte desnecessária de animais.

De acordo com o texto referido, o balanço do evento foi o seguinte: os espetadores nem encheram metade da praça, segundo o autor, devido ao estado do tempo que “não ajudou a que os indecisos de última hora rumassem à Monumental de Angra”, um forcado, Carlos Vieira, ficou lesionado e “os valores apurados, sendo muito ou pouco, serão sempre reconhecidos”

Face ao exposto, as seguintes hipóteses poderão ser levantadas:

1- Os ditos espetáculos de cravar ferros em animais, fazendo-os sangrar antes de serem mortos depois dos mesmos, já não têm os adeptos que tinham;

2- As pessoas que pretendem colaborar acham que o podem fazer ajudando diretamente as instituições, considerando que a solidariedade faz-se sem torturar animais;

3- Os contribuintes consideram que apoiar a entidade escolhida seria o mesmo que pagar mais um imposto, pois tratava-se de um serviço de um hospital público e que o governo já cobra impostos mais do que suficientes para financiar todos os serviços sob a sua responsabilidade.

(1) Video promocional:https://www.youtube.com/watch?v=OqsGyyi7NWQ&feature=youtu.be

http://www.rtp.pt/acores/sociedade/tourada-polemica-entrega-receita-ao-hospital-da-ilha-terceira-video_50502

José da Agualva

A propósito de declarações do Papa Francisco


A propósito de declarações do papa Francisco

“A razão por que eu dedico muito do meu tempo a ajudar animais, é porque já existe muita gente dedicada a fazer-lhes mal” (Autor desconhecido)

De vez em quando, surgem afirmações alegadamente atribuídas ao papa Francisco que são alvo de algum debate, acompanhado de insultos, por parte de quem nada faz e se dedica a enxovalhar quem se dedica, sem esperar por qualquer recompensa material, a defender causas sejam elas quais forem.

De acordo com alguma comunicação social, o papa Francisco terá lamentado, recentemente, que algumas pessoas sentem compaixão pelos animais e são indiferentes face às dificuldades dos vizinhos.

Não podemos confirmar a veracidade da afirmação, em que contexto foi proferida e se a comunicação social truncou parte do discurso, mas uma coisa é certa as pessoas que se servem da frase para menorizar quem abraçou a causa animal antes de atirarem pedras aos outros deviam ter em conta os seus telhados de vidro. Algumas delas nada fazem em prol dos seus semelhantes e quando o fazem é de modo interesseiro e exibicionista que humilha quem é “ajudado”.

A causa animal não compete com as outras e se há quem dê mais importância aos animais do que às pessoas, a esmagadora maioria dos animalistas defende um mundo mais justo e solidário para todos os animais, humanos ou não, ajuda diretamente os cidadãos mais frágeis, pois a sua entrada em organizações caritativas está vedada em virtude de muitas destas serem elitistas e dedicarem-se mais à caridadezinha do que à solidariedade, que são coisas bastante diferentes.

A propósito da relação entre humanos e animais, num magnífico texto intitulado “Vadios”, o escritor, recentemente falecido, Paulo Varela Gomes escreveu o seguinte:
“Na devastação causada pela desigualdade e a injustiça, os humanos podem contar com o animal que os protege e ampara desde sempre. Aparentemente não podem contar com mais nada.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30946, 31 de maio de 2016 p.16)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Espírito Santo


Há uma ligação íntima entre touradas à corda e festas do Espírito Santo?

Os defensores das touradas à corda, nomeadamente aqueles que querem que aquela brutalidade seja considerada património imaterial da humanidade, pretendem fazer crer que não há festas do Espírito Santo sem touradas à corda.

Se formos às origens das festas do Espírito Santo em Portugal Continental ou mesmo nas várias ilhas dos Açores facilmente se concluirá que tal não corresponde à verdade. Com efeito, consulte-se os micaelenses Armando Corte Rodrigues ou Aníbal Bicudo e não verão qualquer referência a touradas nas festas do Espírito Santo. De igual modo, sendo a introdução das touradas em São Jorge e na Graciosa datadas do século passado, a partir da Terceira, prova-se que só passou a haver associação entre as duas coisas a partir de então.

Na ilha de São Miguel, sendo a reintrodução das mesmas mais recente, também se confirma que só por oportunismo da indústria tauromáquica e falta de fé, de compaixão, de educação e de escrúpulos, por parte dos mordomos de algumas irmandades é que se associam impérios do Espírito Santo a touradas à corda que até, em abono da verdade, não o são.

Se formos à ilha Terceira, onde as duas coisas parecem estar intimamente associadas, a verdade é que tal se deve ao oportunismo da indústria tauromáquica que se aproveita da ingenuidade, da deseducação e do vício das pessoas para sacar dinheiro. A confirmar o mencionado, o insuspeito historiador terceirense Frederico Lopes, no seu livro Notas Etnográficas, afirmou que as touradas à corda são o “remate certo de todas as festas, quer religiosas quer profanas”.

Como afirmou Frederico Lopes a indústria tauromáquica também associou touradas às festas do Espírito Santo, mas como se verá a seguir nem sempre às de corda. Com efeito, uma consulta ao jornal “O Angrense”, que se publicou na ilha Terceira entre 1836 e 1910, verifica-se que se realizavam touradas de praça para apoiar impérios e claro os ganadeiros e outros.

A título de exemplo, abaixo transcrevemos as seguintes notícias:

“Realiza-se amanhã, 30, uma corrida de touros, na praça de São João em benefício do Espírito Santo de S. João de Deus” (O Angrense, 3 de agosto de 1874).

“Deve realizar-se, no próximo domingo, a corrida de touros, na praça de S. João, em benefício do Império dos Quatro Cantos”(O Angrense, 31 de outubro de 1875)

Embora desconheçamos mais pormenores, parece-nos que no passado há algo de diferente com o que se passa hoje. Assim, se no passado as touradas, embora condenáveis, eram de beneficência, isto é, em princípio destinavam-se a financiar os impérios, hoje, com a inclusão das touradas nos programas dos impérios o objetivo é precisamente sacar dinheiro dos irmãos ou da irmandade, que se devia destinar à solidariedade com os mais desfavorecidos, para o entregar a uma indústria anacrónica e imoral.

Face ao exposto, por que mantém um silêncio cúmplice a hierarquia da Igreja Católica?

Açores, 26 de maio de 2016

José Ormonde

terça-feira, 24 de maio de 2016


A tentativa de proibir as touradas em 1869

A contestação à realização de touradas é tão antiga como elas próprias, tendo vindo a crescer nos últimos anos um pouco por toda a parte, incluindo na vizinha Espanha, o centro difusor das mesmas para o resto do mundo, onde o movimento abolicionista da tauromaquia tem alcançado vitórias significativas.

Em Portugal, ao longo dos tempos foram muitas as tentativas de abolir as touradas que chegaram a estar proibidas por várias vezes, a primeira das quais, pelo Cardeal D. Henrique que publicou a Bula do Papa Pio V que proibia as touradas, mas sem quaisquer efeitos práticos porque não foi respeitada.

Na sessão de 9 de julho de 1869, há quase 150 anos, os deputados Joaquim Alves Matheus, José de Aguilar, António Pereira da Silva, Augusto da Cunha Eça e Costa, João Carlos de Assis Pereira de Mello, Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Mello, Henrique Barros Gomes, António Joaquim da Veiga Barreira, José Dionysio de Mello e Faro, Barão da Ribeira de Pena, Henrique de Macedo Pereira Continha, José Augusto Correia de Barros, Francisco Pinto Beata, Luiz Vicente d’Affonseca, Henrique Cabral de Noronha e Menezes, Filippe José Vieira, José Luiz Vieira de Sá Júnior, Joaquim Nogueira Soares Vieira propuseram um projeto de lei, datado do dia 5 do referido mês, com apenas dois artigos:

“Artigo 1.º São proibidas as corridas de touros no continente do reino e nas ilhas adjacentes.

Artigo. 2.º Fica revogada toda a legislação em contrário.”

Do discurso do deputado Joaquim Alves Matheus, que foi quem apresentou a iniciativa, destacamos: os seguintes passos:


“Não se avalia a civilização de um povo somente pela natureza das suas instituições políticas, pelo maior ou menor adiantamento da sua indústria, pelo número e perfeição de seus melhoramentos; patenteia-se e aquilata-se ela também e principalmente pela qualidade da sua índole, pelo estado dos seus costumes, e ate pela preferência que ele dá a certos espetáculos e divertimentos.

Lutar com animais bravos, maltrata-los e feri-los com traças ardilosas ou com destemida temeridade, mas por gosto e sem necessidade, é cousa repugnante e deplorável e que a moral não autoriza, e que muito dói a corações generosos. Semelhantes espetáculos não amenizam os instintos, nem levantam o nível moral de um povo, bem ao revés d’isto só servem para obdurar os ânimos, tolhendo os progressos da sua moralidade e empanando com uma nódoa os brilhos da atual civilização.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30941, 24 de maio de 1869. P.16)

Projetos do passado




Projetos do passado


Desde sempre, nos Açores, foram sonhados projetos que pela sua megalomania, pela sua desadequação à evolução dos tempos, por serem sorvedouros de dinheiros públicos, muitas vezes para benefício de interesses privados, nunca deviam sair das cabeças dos seus promotores.

Neste texto vou recordar algumas tentativas de criação de prisões para os animais e a instalação de “fábricas” onde se queima o futuro.

Com os olhos postos no passado, chegou a existir em São Miguel um esboço de zoológico que terminou depois de algumas denúncias que alertavam para o facto de não estarem garantidas as condições de segurança para os visitantes, para os habitantes das vizinhanças e para os próprios animais e não estarem salvaguardados todos os parâmetros de bem-estar para os animais (alojamentos, fatores do ambiente, enriquecimento do meio, agrupamento social, rotinas de maneio, alimentação, disponibilidade de água, etc.).

Desaparecido há mais de uma década o chamado Jardim Zoológico do Pico da Pedra, a ideia de instalação de um zoológico na ilha de São Miguel foi agarrada pela Câmara Municipal de Nordeste que chegou a ter um espaço reservado para tal. Não sabemos se chegou a haver projeto, o que sabemos é que felizmente o projeto que seria ruinoso para o orçamento camarário e não seria bom para os animais, pois como escreveu Desmond Morris, que durante dez anos foi responsável pelos mamíferos do Zoo de Londres: “Sei que os bons jardins zoológicos são importantes por muitas razões, mas aprendi o suficiente para me aperceber dos danos causados aos animais ao mantê-los cativos. E simplesmente não quis continuar”.

Morta a ideia da criação de zoológicos, que em São Miguel já vem dos últimos anos do Estado Novo, surgiu recentemente um projeto que pretende a criação de um aquário em Ponta Delgada.
Não vou esgrimir argumentos contra prisões para animais por serem por demais conhecidos, apenas quero reafirmar a minha discordância com a implementação de tal projeto que tal como os zoológicos é um projeto sem futuro.

Outro projeto que vai atrapalhar o futuro dos açorianos, nomeadamente dos micaelenses e dos terceirenses é o da incineração (queima) de resíduos sólidos que é apresentado como um projeto economicamente viável e ambientalmente sem mácula, o que não corresponde à verdade. Com efeito, se assim fosse cada fornecedor de resíduos em vez de pagar por os produzir devia receber, tal como acontece nas restantes indústrias. Além disso, se a queima de resíduos polui menos do que o fumo de um cigarro ou do que o fogo-de-artifício usado uma noite em Ponta Delgada por que razão “andam às aranhas” para escolher os equipamentos mais “seguros”?

Mas, não vou voltar a perder o meu precioso tempo com a apresentação de argumentos contrários, irei sim dar a conhecer que a ideia de queimar resíduos não faz parte da última geração de inventos e que não foram os senhores da AMISM, com ou sem senhas de presença, a terem o infeliz pensamento. Pelo contrário, pelo menos na ilha de São Miguel, a incineração de resíduos é uma ideia do passado, dos tempos do marcelismo.

Em 1972, os resíduos de Ponta Delgada, eram depositados na Rocha Quebrada, na freguesia da Relva, o que era contestado pelos donos e rendeiros dos terrenos confinantes que viam as suas terras, tal como os caminhos de acesso, serem cobertas de papéis e plásticos transportados pelos ventos.

Numa tentativa de resolver o assunto, a 23 de dezembro de 1971, em reunião ordinária, a Câmara Municipal de Ponta Delgada decidiu, por unanimidade, solicitar a uma firma especializada, um orçamento para o fornecimento e montagem dum equipamento de incineração de lixos com a capacidade de processar de 50 a 100 toneladas diárias.

Possivelmente o que não abundava ou era usado com parcimónia na altura, o dinheiro, não terá chegado e o projeto não avançou.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30942, 25 de maio de 2016, p.14)

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Antero de Quental e o seu ativismo socialista


Antero de Quental e o seu ativismo socialista

Antero de Quental (1842-1891) muito conhecido, entre nós, sobretudo pela sua poesia, sendo considerado um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos, esteve ligado ao movimento socialista, tendo pertencido a várias organizações de tendência socialista e ao Partido Socialista, o qual nada tem a ver com as várias organizações socialistas que surgiram durante o Estado Novo nem com o atual partido que ostenta o mesmo nome.

Antero de Quental pertenceu ao Centro Promotor - Centro Promotor de Melhoramentos das Classes Laboriosas, fundado em 1852, e onde coabitavam liberais, republicanos, socialistas e maçons. Em 1872, o Centro Promotor opta pelo socialismo, tendo publicado um manifesto onde “aconselha os trabalhadores dos campos e das cidades que se abracem fraternalmente e que se constituam numa sociedade nacional como solidariedade das classes; que se formem cooperativas de consumo e de produção; que se ilustrem pelo trabalho e desenvolvimento da inteligência; que se regenerem pela sua economia e pelos seus próprios esforços, fundando a iniciativa na moral, na verdade e na justiça”.

Entre os pontos constantes do novo Programa do Centro Promotor, destacamos os seguintes:
a- Suspensão do exército permanente e a sua substituição pelo armamento geral da população;
b- Ensino primário gratuito e obrigatório;
c- Expropriação dos terrenos incultos e sua integração nos municípios que serão obrigados a cultiva-los e a empregar os produtos em utilidade pública;
d- Troca de serviços e produtos entre sociedades, evitando-se nela o uso da moeda.

Com o desaparecimento do Centro Promotor, em 1872, surgem a APTN- Associação Promotora do Trabalho Nacional e a Fraternidade Operária, duas organizações de que Antero de Quental foi um dos fundadores.

De acordo com os seus estatutos, os fins da Fraternidade Operária eram “socorrer-se e auxiliar-se criando para isso, por meio de quotização, um fundo monetário” e “tratar, por meio da cooperação, dos desenvolvimentos intelectuais e morais das classes operárias”.

Antero de Quental esteve também ligado à secção Portuguesa da AIT- Associação Internacional dos Trabalhadores, que teve como primeiro secretário José Nobre França, tendo sido da sua autoria do opúsculo “O que é a Internacional”, cuja primeira edição foi da Typographia do Futuro, em 1871, sem indicação do autor.

Ao contrário do que é afirmado por algumas pessoas que insistem que Antero de Quental foi um dos fundadores do Partido Socialista, a sua adesão formal àquele partido, segundo Maria Filomena Mónica e Fernando Catroga, só ocorreu em 1877, dois anos depois da sua fundação. Dos seus principais dirigentes destacaram-se Nobre França que redigiu o primeiro programa do partido e José Fontana, que terá sido um dos principais dinamizadores do movimento operário em Portugal, tendo estado ligado ao Centro Promotor e à Federação de Lisboa da Associação Internacional dos Trabalhadores, tendo posteriormente sido expulso desta organização.

Em 1878, o Partido Socialista muda de nome após fundir-se com as associações sindicais da AIT, passando a designar-se POSP- Partido dos Operários Socialistas de Portugal. Antero de Quental, depois de algum afastamento das associações socialistas, adere ao POSP, tendo sido várias vezes seu candidato a deputado.

Sobre o objetivo da sua participação nas eleições, em 1879. Antero de Quental foi claro quando escreveu: “Não pretendo ser deputado…A candidatura, neste caso, é apenas um pretexto, uma ocasião”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30937, 19 de maio de 2016, p.14)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Motivações para maltratar um animal


Motivações para maltratar um animal

Quase todos os dias recebemos denúncias sobre animais chamados de companhia ou de produção que de uma forma ou de outra são alvo de crueldade por parte dos seus donos e não só. De igual modo, e com uma frequência quase igual, tomamos conhecimento de abandonos de animais pelas mais diversas razões.

No passado dia 13 de maio, assistimos a uma conversa na qual uma senhora, que havia sido intimada pelo SEPNA-GNR a colocar um chip no seu cão, dizia que ia ver se era possível colocá-lo num canil para ser mais barato e que se tal não fosse possível deixava o animal lá.

Face ao exposto, as autarquias têm de tomar medidas para penalizar todas as pessoas que por dá cá aquela palha deixam os seus animais “de estimação” nos canis.

Mas, o que leva as pessoas a tratarem com crueldade os animais?

Antes de citar dois autores que escreveram sobre o assunto, quero referir que uma das razões está na manutenção de algumas tradições que teimam em sobreviver aos avanços da ciência e da ética, como é caso das touradas.

Num texto intitulado “O desenvolvimento da crueldade para com os animais e humanos nas crianças”, da autoria de Mark Dadds e Cynthia Turner, da Universidade de Griffith, publicado na Revista Portuguesa de Pedagogia, no ano 2000, os autores citam nove motivações que justificam o comportamento cruel contra os animais, mencionadas por S Kellert e A. Felthous num texto datado de 1985.

Aqui vão elas:
- Motivação para controlar um animal, incluindo a motivação para “moldar o comportamento de um animal ou eliminar características indesejáveis do mesmo”;
- Retaliação contra um animal, por exemplo bater num animal pelo facto de ele ter feito algo de que não se gosta;
- Satisfação com o dano causado a uma espécie ou raça de que se não gosta;
- Expressão de agressividade através de um animal, esta diz respeito ao treino de animais para agredirem outros ou pessoas;
- Aperfeiçoar a agressividade de um animal;
- Valor do choque e do divertimento, por exemplo queimar um gato.
- Vingança ou retaliação contra outras pessoas através de maus tratos aos seus animais de estimação;
- A deslocação da hostilidade e agressividade de uma pessoa para um animal;
- O sadismo não-específico, abrangendo “o desejo de infligir danos, sofrimento, ou morte a um animal, na ausência de qualquer provocação ou sentimentos especialmente hostis em relação ao animal”, tendo como principal objetivo “o prazer que resulta de causar danos e sofrimento”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30936, 18 de maio de 2016, p.14)

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Coisas do Ponta Delgada


Coisas do Ponta Delgada

O senhor António Ponta Delgada era uma pessoa que tinha uma lata muito grande, tanto para enganar os seus concidadãos como para convencer os juízes de que a razão estava sempre de um lado, que por acaso era sempre o dele.

Ainda hoje, as pessoas, sobretudo as de idade mais avançada da freguesia onde vivia, lembram-se de episódios da sua vida atribulada e quando se encontram recordam alguns deles.

Assim aconteceu, no passado dia 26 de março, quando, por acaso, encontraram-se quatro pessoas cuja idade anda por volta dos 60 anos, tendo na ocasião recordado antigos habitantes da localidade, sobretudo os que emigraram e os que pela sua vida deixaram histórias que ainda não caíram no esquecimento.

No texto de hoje vou tentar reproduzir duas das histórias que poderão ser ou não invenção das mentes dos que as contaram. À primeira decidi atribuir o título de “Cega para andar” e à segunda “No Tribunal”.

1- Cega para andar

O senhor António Ponta Delgada era um negociante famoso no que toca a enganar quem tinha a ousadia de comprar-lhe seja o que for.

Certo dia, uma pessoa queria comprar uma égua que lhe servisse para os seus trabalhos na lavoura e decidiu falar com o senhor António Ponta Delgada que possuia um animal à venda.

Alguns dias depois, ao encontrar o António. Ponta Delgada perguntou-lhe: António., já sei que tu és capaz de enganar meio mundo, mas quero que sejas sincero comigo e diz-me lá se essa água que tu tens para vender e que tem bom aspeto anda bem.

A resposta não tardou: Oh Manuel, já me conheces há muitos anos, mas a ti que és meu amigo não te engano. Podes levar esta égua à vontade pois ela é cega para andar.

No dia seguinte, o senhor Manuel encontrou o senhor António Ponta Delgada e disse-lhe: Lá me enganaste, esta égua anda aos trambolhões, não se desvia de nada e se me distraio bate contra tudo o que lhe aparece pela frente.

Resposta pronta de António Ponta Delgada: Com os outros minto, contigo falei a verdade, então não te disse que a égua era cega.

Antes de contar a segunda história, quero explicar que na localidade, não sei se noutras também, cego para andar significava andava bem e ou depressa.

2- No Tribunal

O senhor António. Ponta Delgada comprou um carro de bois numa freguesia da costa norte da ilha de São Miguel e como não havia maneira de pagar ao antigo dono, este apresentou queixa e o caso foi levado a tribunal.

No dia do julgamento o senhor António. Ponta Delgada dirigiu-se à casa do vendedor do carro e alegando que não estava bem vestido pediu-lhe, a título de empréstimo, uma camisa, o que veio a acontecer.

No julgamento, a situação parecia não sair do impasse com o senhor António. Ponta Delgada a dizer que já havia saldado a dívida e o vendedor a dizer o contrário.

Até que o senhor Antonio Ponta Delgada para convencer o juiz afirmou. “Senhor doutor juiz, este senhor é um grande mentiroso, saiba Vossa Excelência que, se continuarmos aqui, daqui a pouco ele vai ter o descaramento de dizer que esta camisa que trago vestida é dele”.

Diz-se que terá convencido o juiz e não teve de pagar nada a quem realmente devia.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 30931, 11 de maio de 2016, p. 13)

terça-feira, 10 de maio de 2016

Santo Antão


SANTO ANTÃO

Na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo a tradição já não é o que era pelo menos no que diz respeito ao culto a Santo Antão.

No passado, Santo Antão era alvo de uma celebração no seu dia, 17 de janeiro, através de uma pequena festa, cujo programa fazia parte iluminação, arraial abrilhantado por uma filarmónica e por vezes fogo preso, para além de fogueiras de louro, na véspera.

Hoje, na localidade referida, apenas se regista a presença de Santo Antão anualmente na procissão de São Miguel, denominada, pelo Padre Ernesto Ferreira, procissão do trabalho.

Mas quem foi Santo Antão?

Foi um monge egípcio que viveu por volta de 251-356, tendo morrido com 105 anos de idade. Decidiu viver isolado no cimo de uma montanha, tendo lá permanecido cerca de 20 anos.

No seu isolamento foi procurado por muitas pessoas que após as visitas viram desaparecer as suas doenças. Assim, Santo Antão passou a ser “venerado como protetor contra a peste e doenças contagiosas”. Depois, surgiu uma congregação religiosa, que para angariar fundos para a manutenção de hospitais que tratavam doenças contagiosas, criava porcos que andavam pelas diversas localidade e que eram alimentados pelas pessoas, daí que a sua imagem esteja associada a um porquinho.

Santo Antão é apenas o santo protetor dos porcos?

Se é verdade que primeiro foram os porcos, depois passaram a ser colocados sob a sua proteção todos os animais domésticos que na Itália antiga eram benzidos no seu dia.

Mais tarde, Santo Antão passou a ser o padroeiro dos lavradores, hoje, na Ribeira Seca, de número bastante reduzido quando comparado com o existente há três décadas.

Respeitando as crenças de cada um, nada tenho contra as boas tradições e muito menos contra a evolução, mas querer transformar o santo protetor de todos os animais em patrono do setor leiteiro acho que é abusivo.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30930, 10 de maio de 2016, p.12)

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Ainda o Movimento da Escola Moderna


Ainda o Movimento da Escola Moderna

Acabei de ler o livro de Pedro Francisco González, professor da Universidade dos Açores, “O Movimento da Escola Moderna. Um percurso cooperativo na construção da profissão docente e no desenvolvimento da pedagogia escolar”, cuja leitura recomendo a todos os interessados nas questões do ensino e da educação.
O livro mencionado, resultado da tese de doutoramento do autor apresentada na Faculdade de Educação da Universidade de Salamanca, “pretende mostrar a dimensão humana e pessoal de um movimento pedagógico contemporâneo, ao mesmo tempo que apresenta os fundamentos e caraterísticas que sustentam a sua proposta pedagógica”.
Insatisfeito com o estado da educação e com a minha própria prestação profissional, busco constantemente encontrar pistas para me motivar e para motivar os alunos para, por um lado, adquirirem todos os conhecimentos que os programas estabelecem e para, por outro lado, satisfazerem as suas curiosidades que vão muito para além do que o Ministério exige.
Assim, a leitura deste livro, tal como a minha participação nos sábados pedagógicos promovidos pelo MEM- Movimento da Escola Moderna, em Ponta Delgada, têm-me feito refletir sobre o que é possível fazer para termos uma escola melhor, sem esquecer que esta só é possível se também tivermos uma sociedade melhor.
Várias são as razões que levam as pessoas a aproximar-se e a aderir ao MEM. Se algumas pessoas são atraídas, pelo menos numa primeira fase, pelas técnicas ou instrumentos usados no movimento, outras participam no MEM pois consideram que nele “poderão satisfazer a necessidade de intervenção social e realizar-se como cidadãos”.
O grupo de pessoas que participou no estudo efetuado por Pedro González, membros do MEM, valoriza a “coerência entre a sua vida pessoal e profissional” e acredita “firmemente que os objetivos para conquistar e afiançar a liberdade e para construir, consolidar e aperfeiçoar a democracia se conseguem, também e numa parte significativa, através da escola”.
Para o MEM o processo educativo está centrado no aluno, enquanto membro de um grupo e a educação deve incidir sobre as dimensões pessoal e social dos indivíduos.
De acordo com Sérgio Niza, citado por Pedro González, o processo pedagógico que é defendido pelo MEM apresenta as seguintes dimensões:
-Funcional- o interesse do aluno é o ponto de partida para toda a atividade que se deseja realizar;
- Instrumentalista- há unidade da perceção, da ação e da fala no desenvolvimento da criança;
- Aspetos de organização e dimensão institucional – a turma e a escola devem ter uma organização que seja coerente com as finalidades propostas no âmbito social. Por outras palavras, defende-se “uma organização cooperativa do trabalho, com um carácter, ou melhor, com uma tendência para a autogestão.
Através da leitura do livro, para além de ficarmos a conhecer melhor a organização do movimento, fica-se a saber que o MEM não se inspirou apenas no pedagogo francês Freinet, mas também em outros como Vigotsky, psicólogo bielorusso que defendia que “o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida” e que a “função do professor é a organização social das aprendizagens”.
Em relação a figuras portuguesas que influenciaram a construção do movimento, para além da “liderança exercida do ponto de vista axiológico” por parte do professor Sérgio Niza, há a registar, entre outros, o pedagogo Rui Grácio, que “defendia que a qualidade da docência não era independente do estatuto profissional dos professores, nem das suas possibilidades de participação no processo educativo” e António Sérgio, político e pedagogo, muito influenciado pelo socialismo de Proudhon, que defendia que o ensino “destinava-se a preparar o cidadão, a aperfeiçoar o agricultor e a educar para a liberdade e para a cooperação”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30926, 5 de maio de 2016, p.12)

terça-feira, 3 de maio de 2016


Em memória de Paulo Varela Gomes

“Que será preciso para acabar com a tradição da tourada? Que sobressalto do coração será necessário para despertar em nós a piedade pelos animais?” (Paulo Varela Gomes)

No passado sábado, dia 30 de abril, faleceu o historiador, escritor e jornalista Paulo Varela Gomes que nasceu em 1952. Era filho de João Varela Gomes e Maria Eugénia Varela Gomes, dois combatentes pela liberdade e opositores ao Estado Novo.

Enquanto lutava contra um cancro, escreveu um magnífico texto que merece uma reflexão de todos nós que, transitoriamente, habitamos neste planeta, tão maltratado, intitulado “Morrer é mais difícil do que parece”.

Do referido texto, publica-se, abaixo, um excerto:

«A vida é muito menos cheia de prosápia do que a morte. É uma espécie de maré pacífica, um grande e largo rio. Na vida é sempre manhã e está um tempo esplêndido. Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga me a pensar nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que vou abandonar”.

De entre os vários combates que travou ao longo da vida, integrado em organizações estudantis, políticas, sindicais ou individualmente, não podemos esquecer a defesa dos animais, sendo de destacar a sua clarividente opinião relativa à tauromaquia.

Num texto publicado no jornal Público intitulado “Morrer como um touro”. Paulo Varela Gomes manifesta-se contra a criação por parte do Ministério da Cultura de uma seção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura, alegando que se tratava de uma tradição que devia ser mantida.

De entre os argumentos dos defensores das touradas, Paulo Varela Gomes refere-se ao da tradição nos seguintes termos:

“Mas a tradição é mais antiga, do tempo em que humanos e animais lutavam na arena para excitar os nervos da multidão com o sangue e a morte anunciada. A piedade, que é um valor mais antigo do que Cristo, veio, na sua interpretação cristã, salvar disto os humanos. Esqueceu-se, porém, dos animais”.

E acrescenta:

“…Por desespero, coragem ou raiva (não é o mesmo?), o touro arremete pela última vez. Em Espanha morre. Aqui, neste país de maricas, é levado lá para fora para, como é que se diz? ah sim: ser abatido. A multidão retira-se humanamente, portuguesmente, de barriga cheia de cultura portuguesa, na tradição milenar à qual nenhuma piedade chegou.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30925, 4 de maio de 2016, p.13)

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Maio mês da tortura


Maio de 2016, mês da tortura

Tal como manda a tradição e impõe o vício adquirido por muita deseducação que começa quase no berço, a 1 de Maio começa a época oficial das touradas à corda.

Hoje, na ilha que as importou e as manteve e que é centro difusor das mesmas, a ilha Terceira, estão marcadas três touradas à corda e este mês realizar-se-ão 35 (trinta e cinco).

Segundo um economista que deve ser bom no excell mas má na vida real, isso será um grande contributo para o PIB pois há muitas despesas na realização das ditas, como o pagamento aos ganadeiros, as taxas e licenças cobradas pelas autarquias, as licenças para os foguetes, a gasolina e o gasóleo para os transportes, os custos dos tratamentos dos feridos, se houver mortes há ainda as despesas com os funerais, etc. Enfim, não se cria riqueza, mas é uma alegria e haverá sempre alguém que pagará a crise, distribuindo migalhas pelos mais desfavorecidos e milhões pelos empresários chupistas.

Como se isso não bastasse, uma associação que devia ser solidária, mas que é adepta da caridadezinha e pouco açoriana, decide organizar a 29 de maio uma tourada para angariar fundos para a criação de uma bolsa para estudos na área da oncologia.

Sobre a sua falta de açorianidade todos sabemos que desde sempre a direção da Liga- Liga Portuguesa Contra o Cancro esteve centrada na ilha Terceira e as delegações noutras ilhas nunca tiveram qualquer autonomia, o que não sabíamos era que, para além da localização, havia ligação à indústria tauromáquica que como se sabe vive da exploração, tortura e morte de animais para divertimento humano.

Conhecendo como se conhece os dirigentes terceirenses da Liga e os da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, entidades parceiras no infeliz evento, não é difícil concluir que se o objetivo fosse a criação de uma bolsa, eles a título individual ou através das suas empresas possuem meios mais do que suficientes para a criação de três ou quatro bolsas.
Mas, a bolsa não é mais do que um pretexto para organizarem mais uma tourada que é o que, no fundo, eles gostam.

José Ormonde

Açores, 1 de maio de 2016