quinta-feira, 5 de maio de 2016

Ainda o Movimento da Escola Moderna


Ainda o Movimento da Escola Moderna

Acabei de ler o livro de Pedro Francisco González, professor da Universidade dos Açores, “O Movimento da Escola Moderna. Um percurso cooperativo na construção da profissão docente e no desenvolvimento da pedagogia escolar”, cuja leitura recomendo a todos os interessados nas questões do ensino e da educação.
O livro mencionado, resultado da tese de doutoramento do autor apresentada na Faculdade de Educação da Universidade de Salamanca, “pretende mostrar a dimensão humana e pessoal de um movimento pedagógico contemporâneo, ao mesmo tempo que apresenta os fundamentos e caraterísticas que sustentam a sua proposta pedagógica”.
Insatisfeito com o estado da educação e com a minha própria prestação profissional, busco constantemente encontrar pistas para me motivar e para motivar os alunos para, por um lado, adquirirem todos os conhecimentos que os programas estabelecem e para, por outro lado, satisfazerem as suas curiosidades que vão muito para além do que o Ministério exige.
Assim, a leitura deste livro, tal como a minha participação nos sábados pedagógicos promovidos pelo MEM- Movimento da Escola Moderna, em Ponta Delgada, têm-me feito refletir sobre o que é possível fazer para termos uma escola melhor, sem esquecer que esta só é possível se também tivermos uma sociedade melhor.
Várias são as razões que levam as pessoas a aproximar-se e a aderir ao MEM. Se algumas pessoas são atraídas, pelo menos numa primeira fase, pelas técnicas ou instrumentos usados no movimento, outras participam no MEM pois consideram que nele “poderão satisfazer a necessidade de intervenção social e realizar-se como cidadãos”.
O grupo de pessoas que participou no estudo efetuado por Pedro González, membros do MEM, valoriza a “coerência entre a sua vida pessoal e profissional” e acredita “firmemente que os objetivos para conquistar e afiançar a liberdade e para construir, consolidar e aperfeiçoar a democracia se conseguem, também e numa parte significativa, através da escola”.
Para o MEM o processo educativo está centrado no aluno, enquanto membro de um grupo e a educação deve incidir sobre as dimensões pessoal e social dos indivíduos.
De acordo com Sérgio Niza, citado por Pedro González, o processo pedagógico que é defendido pelo MEM apresenta as seguintes dimensões:
-Funcional- o interesse do aluno é o ponto de partida para toda a atividade que se deseja realizar;
- Instrumentalista- há unidade da perceção, da ação e da fala no desenvolvimento da criança;
- Aspetos de organização e dimensão institucional – a turma e a escola devem ter uma organização que seja coerente com as finalidades propostas no âmbito social. Por outras palavras, defende-se “uma organização cooperativa do trabalho, com um carácter, ou melhor, com uma tendência para a autogestão.
Através da leitura do livro, para além de ficarmos a conhecer melhor a organização do movimento, fica-se a saber que o MEM não se inspirou apenas no pedagogo francês Freinet, mas também em outros como Vigotsky, psicólogo bielorusso que defendia que “o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida” e que a “função do professor é a organização social das aprendizagens”.
Em relação a figuras portuguesas que influenciaram a construção do movimento, para além da “liderança exercida do ponto de vista axiológico” por parte do professor Sérgio Niza, há a registar, entre outros, o pedagogo Rui Grácio, que “defendia que a qualidade da docência não era independente do estatuto profissional dos professores, nem das suas possibilidades de participação no processo educativo” e António Sérgio, político e pedagogo, muito influenciado pelo socialismo de Proudhon, que defendia que o ensino “destinava-se a preparar o cidadão, a aperfeiçoar o agricultor e a educar para a liberdade e para a cooperação”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30926, 5 de maio de 2016, p.12)

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