domingo, 30 de janeiro de 2022

O JOVEM ANARQUISTA JOÃO ANGLIN


 



O JOVEM ANARQUISTA JOÃO ANGLIN

 

 

O gosto pela leitura, em geral, nomeadamente de quase tudo ao que aos Açores diz respeito, fez com que há alguns anos, possivelmente em 1996, tenha chegado às minhas mãos uma separata da revista “Insulana”[1] dedicada ao jornal de inspiração anarquista “Vida Nova”[2], de Ponta Delgada, que terei lido e não dado muita importância.

 

Em 2010, no âmbito do meu envolvimento na defesa dos animais, ao pesquisar sobre Alice Moderno, precursora dos atuais movimentos de defesa do ambiente e amiga dos animais, deparei-me com um texto de João Anglin, no jornal A Folha[3], que primeiro havia sido publicado no “Vida Nova”.

 

A leitura, quase simultânea, da História dos Açores, de Carlos Melo Bento, onde o Dr. João Anglin era apresentado como “professor liceal de grande mérito pedagógico, legionário nacionalista e um dos importantes esteios do regime” e do livro “A oposição ao Salazarismo em São Miguel e em Outras Ilhas Açorianas (1950-1974) ” onde a dado passo se pode ler que o Liceu Antero de Quental, em pleno regime salazarista conservava sob a gestão do Dr. João Anglin “significativos traços democráticos” e que aquele “estava longe de ser uma figura autoritária e era coadjuvado, nas suas funções, por professores de tradições democráticas, como o meu pai[4] e o Dr. João Bernardo Rodrigues.” despertou-me a curiosidade em conhecer melhor a personalidade do Dr. João Anglin que foi durante muitos anos reitor do Liceu Antero de Quental, escola onde frequentei os antigos 6º e 7º anos do Ensino Liceal, hoje correspondentes ao 10º e 11º anos de escolaridade.

 

A seguir, com vista a conhecer melhor a vida e a obra do Dr. João Anglin, o primeiro passo foi, na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, consultar todos os exemplares disponíveis do “Vida Nova”, fotografar todos os textos da sua autoria e depois lê-los. Terminada, digamos, esta primeira fase, fui procurar, na minha pequena biblioteca particular, todas as publicações sobre ele ou da sua autoria.

 

Através da investigação, que fiz até ao presente, pode-se concluir que, na sua adolescência, ele foi um militante libertário, já que, de acordo com João Freire,  não se limitou a “uma adesão intelectual à doutrina”, mas teve uma actividade de relevo “no sentido de difundir e alargar o raio de influência social” do ideal anarquista, como o demonstram os textos que publicou no mencionado jornal.

 

Nos parágrafos seguintes apresento a opinião do jovem João Anglin durante o período que vai de 8 de junho de 1908 a 22 de abril de 1911.

 

O 1º de Maio, data comemorada em Portugal desde 1890, foi tema usado por João Anglin em dois textos. Para além da denúncia da situação degradante em que viviam (e vivem) os mais explorados, nomeadamente os operários, há nos textos uma mensagem de denúncia do capitalismo e da transformação da data, por alguns, em dia de “festas e patuscadas” e uma palavra de esperança numa revolução que “se não fará esperar muito”. Só quando tal acontecer, escrevia Anglin, aquele dia deixará “de ser um dia de protesto e de luta para ser um dia de festa e regozijo universais”.

 

O combate aos vícios, como o tabagismo e o alcoolismo, foi uma das batalhas em que se envolverem muitos anarquistas. A propósito do alcoolismo, João Anglin lançou o seguinte apelo:

 

“Operários micaelenses! Abandonai a imunda taberna, esse antro de penúrias e desgraças; deixai de frequentar essas nojentas espeluncas que não vos prestam outro serviço senão o de arruinar a vossa saúde e consequentemente a de vossos filhos; renunciai a tudo isso e trabalhai com ardor pela causa da vossa emancipação que é uma causa justa, equitativa e racional”.

 

O Vida Nova, pela pena de João Anglin, foi também um dos pioneiros, nos Açores, na chamada de atenção para os maus tratos infligidos aos animais domésticos, nomeadamente aos animais de tiro (bois, cavalos e burros). Os seus apelos, que eram simultaneamente denúncias pelo facto das palavras não se traduzirem em atos, foram importantes, ou mesmo decisivos, no sentido da criação da Sociedade Micaelense Protectora dos Animais, que viria a ser legalizada a 13 de Setembro de 1911, mas que começou a ter um funcionamento efetivo com a chegada à sua presidência, em 1914, de Alice Moderno.

 

O antimilitarismo foi, também, um assunto que não esteve ausente das preocupações e textos de João Anglin e do “Vida Nova” à semelhança do que acontecia noutros jornais nacionais que publicavam cartas/apelos aos soldados ou cartas destes a descrever a vida nos quartéis. João Anglin, para além considerar os quartéis como “focos de imoralidade e ociosidade”, escreveu que com a incorporação no exército perdiam-se braços produtores (na agricultura) e quem beneficiava era “o Estado e toda essa corte de satélites que em torno dele adejam, porque assim é mais um autómato a servi-los, mais uma lança a defendê-los”.

 

A influência da Igreja Católica na sociedade micaelense foi um dos alvos de João Anglin como se pode confirmar através da leitura de alguns dos seus textos, nomeadamente os que polemizavam com o jornal “São Miguel” e o intitulado “Miséria”, escrito em defesa do contramestre da banda regional e de outros militares que foram detidos por não se terem confessado. Neste texto, para além da denúncia do militarismo, o autor, tal como outros anarquistas, mais do que combater os fundamentos da religião, aponta as suas baterias para os “ministros” que corrompem “as sublimes doutrinas do fundador do Cristianismo”.

 

A leitura atenta do que escreveu João Anglin sobre a igreja e a religião leva-nos a concluir que o seu anticlericalismo está associado à ligação existente, segundo os anarquistas, entre o clero e a sua oposição ao avanço da ciência.

 

Na maioria dos textos de João Anglin a educação e a instrução são os temas principais. Segundo ele, a sociedade retrógrada em que vivia só poderia ser destruída por meio da instrução que segundo ele é:

 

 “O único guia seguro que dirige os povos pela estrada que conduz à civilização; ela é também o meio eficaz para as massas proletárias se libertarem do jugo que lhes impõe a burguesia.

Só por meio de uma instrução baseada nos princípios da justiça e do amor, é que o povo compreenderá os seus direitos e gritará bem alto: Queremos liberdade.”

 

É por estar convicto de que, como escreveu E. Valladares, “as pessoas educadas para a liberdade e igualdade enxergariam o mundo a partir de uma óptica, bastante distinta daquela filtrada pela ideologia que justificava a dominação e a exploração” que João Anglin toma partido por Francisco Ferrer e Guardia, criador da Escola Moderna pois, segundo ele, nas Escolas Racionalistas “o ensino é baseado unicamente na razão, havendo da parte dos professores o máximo cuidado em não inculcar às crianças ideias que a ciência rejeita e a razão reprova. D’est’arte em lugar de escravos submissos as Escolas Racionalistas formavam homens rebeldes e conscientes, fortemente preparados para a luta contra a tirania”.

 

Contrariamente ao propalado pelos três grandes inimigos do anarquismo, o Estado, a Religião e o Capital, a ação dos anarquistas ao longo dos tempos tem privilegiado a propaganda e a violência só foi usada por correntes minoritárias ou por indivíduos isolados. De acordo com João Freire os anarquistas “identificando no estado, na propriedade privada açambarcada, no militarismo, no fanatismo religioso ou patriótico, etc., formas permanentes de violência, e desejando que esta situação cessasse - cessando com ela também a violência - não viam outro meio senão o uso de uma outra violência, esta justa, legítima e necessária, para atingir tão altruísta e benfazejo fim.”

 

Em muitos dos textos escritos por João Anglin há um apelo contínuo à instrução e educação e só esporadicamente surgem palavras apoiando a necessidade do uso da violência, de que é exemplo o seguinte extrato:

 

Multidões de famintos, cobertos de andrajos que vos afundais no lodaçal da miséria, reflecti na vossa situação desesperada, compenetrai-vos dos direitos que vos assistem, acordai da apatia em que até aqui tendes permanecido e levantai-vos impetuosamente, revolucionariamente, destruindo os males que vos oprimem, exterminando os vampiros que vos atormentam”.

 

A citação referida, está inserida no texto intitulado “O proletariado universal” que começa com um extrato de William Godwin. Ao escrever o mencionado texto João Anglin ter-se-á inspirado naquele autor ou no texto que abaixo se transcreve de Eça de Queirós:

 

“As revoluções não são factos que se aplaudam ou se condenem. Havia nisso o mesmo absurdo que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma liberdade, mais um direito, mais uma felicidade.

Decerto que os horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com a passagem dessa trovoada humana. Mas as misérias que se sofrem com as opressões, com os maus regímenes, com as tiranias, são maiores ainda.

……

As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias.”

             

Através da leitura dos textos da autoria de João Anglin, com aproximadamente cem anos, pode-se constatar que tanto a nível regional como a nível mundial tanto e tão pouco se alterou pelo que ainda, ao contrário do que ele dava a entender, está muito longe e é tortuoso e íngreme o caminho para uma sociedade mais justa, fraterna e pacífica. Mas, tal como escreveu Luce Fabbri:

 

 “É mais importante o caminho – até à anarquia -, do que a meta – porque à meta não se chega nunca e, em contrapartida, o caminho é o concreto. É muito importante que o caminho se torne coerente com a finalidade, pois é a única coisa palpável que temos. Se abandonamos o princípio como forma de chegar mais rápido à meta, suicidamo-nos”[5]

 

 

 

Pico da Pedra, 14 de março de 2021

 

 

 

T. Braga

 

 

Alguma Bibliografia

 

Freire, J. (1992). Anarquistas e operários. Ideologia, ofício e práticas sociais: o anarquismo e o operariado em Portugal, 1900-1940. Porto: Edições Afrontamento.

Freire, J. (2009). De onde vem a violência. A Ideia nº 66, pp. 3-9.

Queirós, E. (1979). Primeiro de Maio. Lisboa: O Jornal.

Valladares, E. (2000). Anarquismo e Anticlericalismo. São Paulo: Editora Imaginário, Rio de Janeiro: Instituto de Estudos Libertários, São Paulo: Nu-Sol.

 

 

(A Ideia, 94/95/96, outono de 2021)



[1] Órgão do Instituto Cultural de Ponta Delgada, publica-se desde 1944.

 

[2] O Jornal Vida Nova publicou-se, quinzenalmente, em Ponta Delgada entre 1908 e 1912 e intitulava-se de “órgão do operariado micaelense”. Foi seu diretor Francisco Soares Silva, proprietário de um atelier de pintura decorativa. Existe um trabalho sobre o jornal, datado de 1995, realizado no âmbito do Seminário “História Económica e Social Contemporânea”, da Universidade Lusófona, da autoria de Licínia Correia, que foi publicado, em 1996, na Revista “INSVLANA”, vol. LII.

 

[3] Jornal criado por Alice Moderno. Publicou-se, em Ponta Delgada, entre 1902 e1917.

 

[4] Dr. Lúcio Miranda, professor de matemática, pai de Sacuntala de Miranda e casado com D. Fedora Serpa de Miranda. Faleceu em Londres, onde se encontrava exilado.

[5] Utopia, nº 6, p. 82

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Sobre o raro teixo

 


Sobre o raro teixo

 

Num texto publicado em 1983, no fascículo II do Volume I da “Iconographia Selecta Florae Azoricae”, A Fernandes, que foi presidente da Sociedade Broteriana, sobre o teixo (Taxus baccata) escreveu que aquela espécie, que existia na Europa, Argélia, Marrocos, Norte do Irão e do Afeganistão ao Butão, nos Açores podia ser encontrada nas ilhas do Corvo, Flores e Pico.

 

Sendo uma espécie considerada nativa, A. Fernandes coloca a hipótese de a espécie ser “de introdução muito antiga nos Açores e que esta tenha sido feita a partir de sementes levadas pelas aves migradoras que, voando do norte da Europa, faziam escala nas ilhas no seu caminho para Sul ou Oeste”.

 

Gonçalo Telles Palhinha, por sua vez, no Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, publicado em 1966, já após a morte do autor, sobre a distribuição geográfica do teixo refere que para além de existir nas três ilhas mencionadas, também pode ser encontrado na Madeira e em Portugal continental. Sobre a situação em termos de abundância, o mesmo autor refere o seguinte:

 

“Seubert di-la cultivada-in hortis et circa domos- e acrescenta que os habitantes diziam ser espontânea nas montanhas. Devido a cortes quase totais, para aproveitamento da madeira, só existe actualmente nas ilhas citadas, ao que julgo, em pouquíssima quantidade e em via de desaparecimento.”

 

Num texto intitulado “Salvar o teixo dos Açores da extinção”, cuja data desconhecemos, da autoria de Cátia Freitas e Pedro Casimiro, sobretudo devido à exploração intensiva do teixo para a construção de mobiliário, entre 1450 e 1760, e para uso da madeira como combustível a espécie quase desapareceu de tal modo que só existiriam 5 indivíduos na ilha do Pico.

 

Ao descrever a ilha de São Miguel; Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, a dado passo ao enumerar as espécies de plantas existentes refere-se aos teixos do seguinte modo:

 

“…ginjas, azevinhos, urzes, tamujos, uveiras,[…] e alguns teixos, que já se vão acabando por serem muito prezados e buscados, para deles fazerem ricas mesas e bordas delas, cadeiras e fasquias para ricos escritórios, que com ele se guarnecem e já agora se ajudam com outros teixos trazidos da ilha do Pico, onde há muitos, e sem eles, suprindo em seu lugar, para as bordas e fasquias, o sanguinho que é também singular pau para isso.”

 

Mas não foi só nos Açores que o teixo foi explorado intensivamente. Com efeito, A. Fernandes referiu que o mesmo aconteceu na Europa. Segundo ele “graças à flexibilidade da sua madeira, o Teixo foi muito utilizado na Idade Média para construir arcos e flechas, funcionando, portanto, as florestas da época dessas árvores como verdadeiros arsenais de guerra”.

 

Num texto intitulado “Teixo: tanto amado como odiado” José Luís Louzada menciona que “as partes verdes desta espécie contêm um potente alcaloide venenoso, a taxina, capaz de causar graves efeitos no sistema nervoso e cardiovascular dos animais, podendo levar à sua morte. A sua toxicidade levou à associação do teixo ao culto dos mortos e tornou-o comum em cemitérios. Mas a morte dos cavalos e burros que acompanhavam os funerais, assim como de outros animais que comiam as suas folhas, acabou por levar a que fossem retirados de cemitérios e igrejas, e eliminados de locais tradicionais de pastoreio” e acrescenta que “embora seja venenoso, o teixo que conhecemos em Portugal é a fonte do precursor do Taxol, um dos medicamentos mais procurados para o tratamento do cancro.”

 

Se foi preciso ter ido à ilha da Madeira para ver um teixo pela primeira vez, em 1990 ou 1991, hoje os amantes das plantas poderão encontrá-lo na ilha de São Miguel, nomeadamente no Jardim António Borges, em Ponta Delgada, que está aberto ao público todos os dias ou no Parque Dona Beatriz do Canto, nas Furnas, que só costuma estar aberto ao público no mês de agosto e no Jardim Antero de Quental, em Vila Franca do Campo.

 

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32642, 26 de janeiro de 2022, p. 15)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Sobre o novo regime jurídico de gestão do arvoredo urbano

 


Sobre o novo regime jurídico de gestão do arvoredo urbano

 

Há cinco meses foi publicada a lei nº 59/2021, de 18 de agosto, que estabelece o regime jurídico de gestão do arvoredo urbano.

 

A lei referida que se aplica ao arvoredo urbano integrante do domínio público municipal, do domínio privado do município e ao património arbóreo pertencente ao Estado, caracteriza e regula as operações de poda, os transplantes e os critérios aplicáveis ao abate e à seleção de espécies a plantar, estabelecendo a sua hierarquização.

 

Perante as atrocidades cometidas pelas mais diversas entidades públicas, nomeadamente no que diz respeito à plantação de espécies desadequadas aos espaços e às pretensas podas, esta lei é bem-vinda. Mas, para que a sua aplicação plena aconteça é preciso que as entidades envolvidas, nomeadamente as autarquias, tomem medidas, nomeadamente em termos de formação do pessoal que lida com os espaços verdes, caso contrário será mais uma bonita lei que ficará pelo papel ou cuja aplicação só ocorrerá muitos anos depois.

 

Vamos aguardar um mês para ver se o primeiro prazo é cumprido pelo governo da República. Com efeito, aquela entidade tem a obrigação de, no prazo de seis meses, aprovar um guia de boas práticas que será uma referência para a elaboração dos instrumentos de gestão municipal.

 

Os municípios por sua vez terão de elaborar um regulamento municipal de gestão do arvoredo em meio urbano e um inventário municipal do arvoredo em meio urbano. Se para o regulamento as Câmaras Municipais têm o período de um ano para o concretizar, o inventário das plantas existentes se já não existe devia estar a ser feito.

 

Uma medida de grande alcance é o do reconhecimento, no prazo de 120 dias após a entrada em vigor da lei, da profissão de arborista que será o técnico credenciado para a execução de operações de manutenção de arvoredo. É também incumbência do governo criar as bases para o desenvolvimento daquela profissão, atribuindo ao Sistema Nacional de Qualificações a responsabilidade de, no prazo de um ano, definir e homologar um percurso formativo completo que confira aquela credenciação. Que passos já foram dados?

 

No que diz respeito à manutenção do arvoredo urbano, a lei obriga a que os trabalhos de intervenção, como plantação, rega, poda, controlo fitossanitário, abate, remoção de cepos, limpeza e remoção de resíduos, devem ser executados tendo em consideração o guia de boas práticas e por técnicos devidamente preparados e credenciados para o efeito.

 

A lei também obriga a que:

 

a) Os trabalhos de avaliação e gestão do património arbóreo devem ser programados e fiscalizados por técnicos superiores das autarquias ou das empresas prestadoras de serviços com o nível adequado de habilitação académica em arboricultura urbana;

 

b) As intervenções no património arbóreo, tais como plantações, transplantes, fertilizações, regas, manutenção de caldeiras, remoção de cepos e tratamentos fitossanitários, devem ser realizadas por jardineiros ou técnicos qualificados, e as que se revestem de maior complexidade, tais como avaliações fitossanitárias e biomecânicas, podas, abates por «desmontagem» e transplante de árvores de grande porte, devem ser executadas por técnicos arboristas certificados.

 

Será que as autarquias ou as empresas açorianas possuem técnicos superiores com a habilitação académica referida ou equivalente?

 

No que diz respeito às tão malfadadas podas, a lei, de algum modo combate o podar por hábito, sem ter em conta a saúde das árvores. De entre o que a lei estipula, destacamos o seguinte:

 

a) A poda de árvores classificadas de interesse público ou municipal ou pertencentes a espécies protegidas apenas é permitida por motivos de segurança, por necessidade de promover a sua coabitação com os constrangimentos envolventes ou quando vise melhorar as suas características, e desde que não resulte na perda da sua forma natural;

 

b) Excecionando -se os casos pontuais de necessária e urgente intervenção, a poda, seja de formação, manutenção ou de reestruturação, é realizada na época adequada aos objetivos definidos e de acordo com o guia de boas práticas.

Esperamos que esta lei seja mais um passo no sentido de as árvores deixarem de ser vítimas de más podas por parte de autarquias, escolas e outras entidades que, para além de porem em causa a sua beleza, também são a origem de problemas sanitários que levam à redução da sua esperança de vida.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32636, 19 de janeiro de 2022, p.15)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

O Jardim António Borges: apontamentos históricos

 


O Jardim António Borges: apontamentos históricos

 

António Borges da Câmara Medeiros, 3° filho do morgado António Pedro Borges da Câmara Medeiros e de Maria Francisca de Andrade e Albuquerque Bettencourt nasceu no solar do Calço da Furna, na Fajã de Baixo, a 14 de junho de 1812 e faleceu em Ponta Delgada, no dia 19 de março de 1879.

 

O seu interesse pelas plantas, jardins e agricultura poderá estar associado ou foi potencializado pelo facto de António Borges ter frequentado um curso agrícola na escola de Grignon, em França.

 

Seguindo o exemplo de José do Canto e de José Jácome Correia, António Borges iniciou, em 1858, a construção de um jardim no prédio que possuía na Lombinha.

 

Tudo leva a crer que seja da sua autoria o desenho do jardim e é sabido que ele dirigia os trabalhos de jardinagem, mesmo em condições atmosféricas adversas.

 

A maioria das espécies exóticas mandadas plantar por António Borges foram adquiridas por ele durante algumas viagens que fez pela Europa, sobretudo a viveiristas tanto em Paris como em Londres ou na Bélgica.

 

Com o falecimento de António Borges, durante alguns anos o jardim não teve a manutenção que devia até que, em 1922, um grupo de empresários propôs-se resgatá-lo “do seu atual sequestro, como propriedade particular que é, restituindo-lhe as condições que faziam d’esse pedaço de torrão um dos mais invejáveis embelezamentos citadinos”.

 

De acordo com uma notícia publicada no Correio dos Açores, no dia 1 de abril de 1922, o grupo citado, constituído pelo Dr. José Jacinto de Andrade Albuquerque, proprietário do jardim, Pedro de Lima Araújo, Manuel José de Vasconcelos, Manuel Joaquim Raposo e José Cristiano de Sousa, decidiu pôr mãos à obra com vista à recuperação do jardim, tendo por fim a criação de “novas condições que ali chamem o grande público como local de recreio, com iluminações, música, pavilhões para refrescos, cinematógrafo, jogos, sports, etc.”.

O principal responsável pelos trabalhos de recuperação do jardim foi o Padre Manuel Vicente, como provam as notícias publicadas nos jornais da época. Assim, o Diário dos Açores, de 9 de junho de 1922, relata uma visita ao jardim a poucos dias da sua inauguração e refere que, para além dos membros da sociedade, esteve presente “o técnico-amador dirigente dos trabalhos sr. Padre Manuel Vicente”.

 

À mesma conclusão se chega através da leitura do Correio dos Açores, de 10 de junho de 1922, quando é afirmado o seguinte: “Como chegámos à tabela, segundo nosso hábito, e os restantes convidados estivessem em tardança, guiados pelo Padre Manuel Vicente, que de galochas de borracha, por causa da humidade, sobretudo cautelosamente abotoado, olhar inspirado de criador, abrindo os braços, dava ordem a uma pequena tribo de trabalhadores…” e mais adiante : “Padre Manuel Vicente dispôs em volta dessa homenagem ao fundador do maravilhoso jardim uma decoração artística e sóbria, de flores e plantas e nessa nesga em que as árvores dum lado e outro da avenida se cruzam em fraternal abraço, o busto de António Borges…”

 

O Padre Manuel Vicente foi também um dinamizador da vida do Jardim António Borges após a sua abertura ao público, em 1992., como demonstram duas das suas iniciativas.

 

Na noite de São João de 1922, realizou-se um festival no Jardim António Borges, onde, a convite do Padre Manuel Vicente, cantaram Miss Helen Bartlett e Mr. Edgar Accetta. O jornal Diário dos Açores de 26 de junho, deu os parabéns àquele sacerdote “pelo êxito completo de mais esta festa tão distintamente organizada”.

 

O mesmo padre também organizou no mês de julho de 1922, no Jardim António Borges, uma “Festa Infantil” que constou de um grande baile de crianças. De acordo com o Correio dos Açores, de 25 de julho, “as crianças dançaram animadamente ao som marcial da banda “União” e até “as pessoas sisudas começavam a esboçar atitudes de querer participar das danças”.

 

No dia 11 de setembro de 1957, depois de mais um período de abandono, o Jardim António Borges foi inaugurado como Parque da Cidade.

 

O jardim foi comprado pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, presidida pelo Dr. Manuel da Silva Carreiro, aos herdeiros de António Borges, nomeadamente o Dr. José Jacinto de Andrade Albuquerque de Bettencourt e o seu filho, o engenheiro agrónomo Caetano de Andrade Albuquerque de Bettencourt.

 

Para além das verbas da própria Câmara Municipal, a aquisição do jardim só foi possível com o apoio da Junta Geral do Distrito, sendo governador o Dr. Carlos de Paiva, que inscreveu no seu orçamento uma importante verba e à colaboração do Ministério das Obras Públicas que também comparticipou financeiramente.

 

De acordo com o discurso do Dr. Manuel Carreiro proferido na inauguração, os principais trabalhos de restauração do jardim, que demoraram um mês e meio, foram, entre outros, os seguintes: recuperação de muros em ruínas, demolição de “construções motivadas pela exploração do cinema, que tanto desfeavam a entrada do jardim”, beneficiação do “grande reservatório de água e o modelar sistema de canalização”, regularização e revestimento de tetim das principais ruas, desentulho e cimentação dos lagos, colocação de relva em alguns espaços, fixação de bancos, construção de um parque infantil e vedação da parte sul.

 

Na visita que se seguiu à cerimónia de inauguração, onde os convidados foram acompanhados pelos membros da Câmara Municipal de Ponta Delgada e pelo Eng. Estrela Rego, a reportagem do Diário dos Açores dá destaque a “uma «ficus», de grandes e majestosas raízes aéreas e a “uma imponente araucária e outras árvores e palmeiras de regiões tropicais”.

 

Através de um desdobrável editado recentemente, fica-se a saber que a Câmara Municipal de Ponta Delgada, em 1968-70, construiu um aviário, um recinto para macacos e uma cerca para uma zebra.

 

Em 1987, a triste ideia do senhor Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada de “encher” o Jardim António Borges “de diversas espécies animais com o objetivo de constituir um polo de atração para a população citadina, que passava a frequentar, com mais assiduidade, aquela zona verde e a gozar os benefícios daí advindos, foi colhida sem aparente oposição no meio local”, exceto pelos Amigos dos Açores que defenderam que no jardim deviam ser feitos todos os melhoramentos possíveis, mas para que fosse classificado como Jardim Botânico.

 

Em 1999, finalmente a Câmara Municipal de Ponta Delgada, através do vereador Melo Medeiros, numa reportagem publicada no Diário dos Açores, no dia 9 de julho, deu a conhecer que “as principais preocupações da atual vereação em relação a esses espaços verdes [Jardim António Borges, Jardim Antero de Quental, Jardim Padre Sena Freitas e Relvão] são a sua conservação, embelezamento, dignificação e segurança” e  reconheceu “que no passado foram introduzidos elementos estranhos e incompatíveis com a natureza do Jardim António Borges, como a de animais de grande porte” e “o parque infantil”. Na mesma reportagem, o vereador Melo Medeiros garantiu a manutenção do parque infantil “por razões sentimentais, por servir de espaço de divertimento a muitas gerações”.

 

Já no século XXI, em 2008, ficou concluído o projeto de identificação das principais espécies botânicas do jardim, a que se seguiu, em 2010, a colocação de 153 placas de identificação botânica.

 

Mais recentemente, no ano 2020, por solicitação da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Raimundo Quintal, especialista em fitogeografia, elaborou o elenco florístico do Jardim António Borges que é constituído por “239 táxones pertencentes a 154 Géneros e a 82 Famílias”. Na mesma altura foram colocadas cerca de 580 placas identificativas, cada uma com a indicação do nome científico, do nome vulgar, da família e da origem.

 

Teófilo Braga

(Entre Ilhas, nº1, novembro de 2021)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Deolinda Lopes Vieira e a Educação (2)

 


Deolinda Lopes Vieira e a Educação (2)

 

No texto anterior demos a conhecer algumas ideias de Deolinda Lopes Vieira apresentadas no 1º Congresso Feminista e de Educação. Neste, fazemos referência à sua participação no 2º Congresso Feminista e da Educação, que se realizou já com a Ditadura Militar, entre os dias 24 e 28 de maio de 1928, onde apresentou uma tese sobre “A Escola Única”.

 

Dada o interesse histórico e a atualidade do tema - não nos podemos esquecer que nos nossos dias sopram ventos negros a puxar para o passado ditatorial e que muitas são as vozes a defender turmas homogéneas, isto é (quase) separadas por classes sociais – abaixo se transcreve a parte final da tese:

 

“A intenção social da Escola única- e esta é uma das que mais apaixona os seus adeptos- é estabelecer para todos a mesma escola, sem distinção de classes sociais ou de sexos, assentar todos igualmente no mesmo banco escolar, aproveitar de todos os indivíduos as suas energias e fornecer a todos as mesmas possibilidades de aperfeiçoamento.

 

Nada mais humano, equitativo e justo poderíamos tentar. Todas as crianças das diferentes camadas sociais seriam habituadas a conhecer-se, a estimar-se, numa palavra, a solidarizar-se, realizando assim o máximo de beleza moral que é lícito conquistar dentro das condições que se nos apresentam.

 

Isto será, sem dúvida, o mais eficaz destruidor do execrando preconceito de classe e o maior estímulo à fraternidade humana.”

 

Deolinda Lopes Vieira deixou-nos um vasto conjunto de textos em vários jornais e revistas de orientação libertária ou de pedagogia.

 

Num texto, publicado na revista “Amanhã”, nº1, de junho de 1909, depois de mencionar a necessidade de uma revolução na maneira de ensinar”, Deolinda Lopes Vieira defende que “para uma profícua educação intelectual é absolutamente necessário substituir o dogmático e obscuro método de ensino até aqui adotado nas escolas, por um método simples, racional e essencialmente científico. Deve-se habituar a criança a raciocinar, a processar ela própria, com a sua natural curiosidade, conjuntamente com o professor e auxiliado por ele, o porquê das cousas, recorrendo tanto quanto se possa a um processo empírico e a um método analítico, para que as noções adquiridas sobre os diferentes ramos do saber humano não lhes sejam impostas duma maneira confusa e abstrata, mas sim colhidas o mais experimentalmente possível”.

 

No mesmo texto é também defendida a abolição de todos os dogmas religiosos ou políticos de modo a que se possam “formar homens livres e independentes e não sectários desta ou daquela ideia política ou religiosa”.

 

No que diz respeito ao desenvolvimento físico das crianças, depois de mencionar as boas condições que devem possuir os edifícios para garantir um bom estado de saúde das mesmas, considera que não se deve desprezar “o desenvolvimento muscular da criança empregando-se para esse fim, durante os primeiros anos, os jogos infantis ao ar livre podendo e devendo serem aí introduzidos os trabalhos de jardinagem”.

 

Para além da cultura científica há que, segundo Deolinda Vieira, não menosprezar o “lado da moral”. Assim, escreveu ela que o professor deve “por meio do exemplo sobretudo, fazer dos seus alunos caracteres íntegros, corações que se dilatem pelo Bem, que saibam sentir, como se seus fossem, os sofrimentos dos seus semelhantes.”

 

Outro aspeto defendido no texto era o da coeducação. Segundo ela, “o sistema coeducativo fará desaparecer toda essa espécie de despeito que hoje existe entre o homem e a mulher. O homem tornar-se-á no que na realidade deve ser: amigo, o irmão da mulher; e vice-versa.”

 

Deolinda Lopes Vieira termina o seu texto, que não perdeu de todo atualidade, lançando o seguinte apelo: “Eduquemos as novas gerações integral, racional e cientificamente, e uma humanidade nova composta de organismos robustos, de cérebros ilustrados, de corações afetuosos, de carateres dignos, sucederá a esta humanidade de raquíticos, de ignorantes, de egoístas, de seres sem dignidade e sem energia.”

(Correio dos Açores 32630, de 12 janeiro de 2022, p.14)

domingo, 9 de janeiro de 2022

Mau uso das roçadoras



 

Exmos. Senhores

 Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande

Presidente da Junta de Freguesia do Pico da Pedra

 

Assunto: Mau uso das roçadoras

 

Vivo no Pico da Pedra há quase quarenta anos e praticamente todos os dias passo no caminho da Giesta que no passado chegou a ser muito elogiado por causa das flores (hortênsias) que o embelezavam.

 

Tenho acompanhado o esforço de arborização que tem sido feito pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, mas verifico que o mesmo não tem sido bem-sucedido.

 

No passado dia 1 de dezembro decidi fazer o percurso entre o cruzamento com a estrada da Ribeira Grande e a freguesia do Pico da Pedra a pé e verifiquei o que suspeitava. Depois das plantações as plantas têm sido vítimas das sedas das roçadoras, impedindo-as de ter um crescimento normal ou mesmo matando-as.

 

Em anexo, envio um conjunto de fotografias que comprovam o que atrás afirmei e solicito a Vossas Exas a tomada de medidas que evitem que o desleixo ou a falta de formação dos operadores das roçadoras continue a danificar o património natural da nossa terra e que acabem com o mau uso do dinheiro que é de todos os contribuintes.

 

Pico da Pedra, 8 de dezembro de 2021

 

Teófilo Braga

 

 

 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Deolinda Lopes Vieira e a Educação (1)

 


Deolinda Lopes Vieira e a Educação (1)

 

Deolinda Lopes Vieira nasceu em Beja, no dia 8 de julho de 1888 e faleceu em Lisboa, depois de uma longa vida de ativismo social e político, a 8 de junho de 1993. Bateu-se pelo derrube da Monarquia, lutou pela República e resistiu ao Estado Novo, nunca esquecendo o combate pelos direitos de todas as mulheres e por uma sociedade mais solidária.

 

Depois de ter frequentado o ensino primário em Beja, em Lisboa, frequentou a Escola Normal Primária, tendo concluído o curso de professora primária e tendo trabalhado na Escola-Oficina nº1 e na “Voz do Operário”.

 

No 1º Congresso Feminista e de Educação, onde foram homenageadas Alice Moderno, professora do ensino particular e Maria Evelina de Sousa, distinta professora primária de Ponta Delgada, Deolinda Lopes Vieira apresentou a tese “Educação de Anormais”, onde constavam as seguintes conclusões:

 

“Que a fundação de escolas especiais para a educação de anormais impõe-se e é necessária:

1ª Como medida preventiva contra o crime;

2º- Como medida de economia social, porque utiliza energias até aqui desprezadas:”

 

Deolinda Lopes Vieira justificou do seguinte modo o que a terá levado àquelas conclusões:

 

“Eu quero escolas especiais para anormais, mas revestidas de todos os cuidados para que aqueles que lá vão receber a sua educação não possam mais tarde, pela vida fora, sofrer com o sistema da sua educação. Os cuidados com estas escolas devem ir até ao seu próprio nome para que os próprios pais das crianças não se envergonhem de ter filhos que necessitem de uma educação tão especial.

 

Não pode ser.

 

Se tal fizéssemos tínhamos que, na mesma escola, fazer a seleção, o que viria a agravar o mal não só dos anormais como dos normais com graves prejuízos do ensino.

 

As crianças sofriam, os pais envergonhavam-se e o ensino não melhorava.

 

Além disto há ainda que atender ao pessoal pedagógico que não está devidamente habilitado com esta especialidade e, portanto, incapaz de poder bem desempenhar a sua missão, sempre impossível de o fazer se tivéssemos as crianças separadas por classes e não por escolas”.

 

Na 3ª Sessão Ordinária, ocorrida a 7 de maio e 1924, Deolinda Lopes Vieira, no período de Antes da Ordem do Dia apresentou uma moção sobre a “Escola Única” que abaixo se transcreve:

 

“Considerando que entre os problemas pedagógicos ultimamente e universalmente ventilados se destaca sobremaneira interessante o problema da “Escola Única”;

 

Considerando que da resolução de tão momentosa questão só benefícios podem advir para o triunfo das ideias pacifistas e de Solidariedade Humana;

 

Considerando mais, que ele está sendo defendido por alguns Conselhos Nacionais de Mulheres destacando-se entre eles o “Conselho das Mulheres Argentinas” que no Congresso de Copenhague se propõe tratar e defender o assunto, eu alvitro que o Congresso Feminista e de Educação tome na devida consideração tão magno problema e convide o “Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas” a estudá-lo e a proceder a um inquérito consultando para esse fim algumas individualidades em destaque no nosso meio pedagógico e social assim como todas as associações afins com os assuntos da Educação”.

(continua)

(Correio dos Açores, 32624, 5 de janeiro de 2022, p.14)