quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Deolinda Lopes Vieira e a Educação (1)

 


Deolinda Lopes Vieira e a Educação (1)

 

Deolinda Lopes Vieira nasceu em Beja, no dia 8 de julho de 1888 e faleceu em Lisboa, depois de uma longa vida de ativismo social e político, a 8 de junho de 1993. Bateu-se pelo derrube da Monarquia, lutou pela República e resistiu ao Estado Novo, nunca esquecendo o combate pelos direitos de todas as mulheres e por uma sociedade mais solidária.

 

Depois de ter frequentado o ensino primário em Beja, em Lisboa, frequentou a Escola Normal Primária, tendo concluído o curso de professora primária e tendo trabalhado na Escola-Oficina nº1 e na “Voz do Operário”.

 

No 1º Congresso Feminista e de Educação, onde foram homenageadas Alice Moderno, professora do ensino particular e Maria Evelina de Sousa, distinta professora primária de Ponta Delgada, Deolinda Lopes Vieira apresentou a tese “Educação de Anormais”, onde constavam as seguintes conclusões:

 

“Que a fundação de escolas especiais para a educação de anormais impõe-se e é necessária:

1ª Como medida preventiva contra o crime;

2º- Como medida de economia social, porque utiliza energias até aqui desprezadas:”

 

Deolinda Lopes Vieira justificou do seguinte modo o que a terá levado àquelas conclusões:

 

“Eu quero escolas especiais para anormais, mas revestidas de todos os cuidados para que aqueles que lá vão receber a sua educação não possam mais tarde, pela vida fora, sofrer com o sistema da sua educação. Os cuidados com estas escolas devem ir até ao seu próprio nome para que os próprios pais das crianças não se envergonhem de ter filhos que necessitem de uma educação tão especial.

 

Não pode ser.

 

Se tal fizéssemos tínhamos que, na mesma escola, fazer a seleção, o que viria a agravar o mal não só dos anormais como dos normais com graves prejuízos do ensino.

 

As crianças sofriam, os pais envergonhavam-se e o ensino não melhorava.

 

Além disto há ainda que atender ao pessoal pedagógico que não está devidamente habilitado com esta especialidade e, portanto, incapaz de poder bem desempenhar a sua missão, sempre impossível de o fazer se tivéssemos as crianças separadas por classes e não por escolas”.

 

Na 3ª Sessão Ordinária, ocorrida a 7 de maio e 1924, Deolinda Lopes Vieira, no período de Antes da Ordem do Dia apresentou uma moção sobre a “Escola Única” que abaixo se transcreve:

 

“Considerando que entre os problemas pedagógicos ultimamente e universalmente ventilados se destaca sobremaneira interessante o problema da “Escola Única”;

 

Considerando que da resolução de tão momentosa questão só benefícios podem advir para o triunfo das ideias pacifistas e de Solidariedade Humana;

 

Considerando mais, que ele está sendo defendido por alguns Conselhos Nacionais de Mulheres destacando-se entre eles o “Conselho das Mulheres Argentinas” que no Congresso de Copenhague se propõe tratar e defender o assunto, eu alvitro que o Congresso Feminista e de Educação tome na devida consideração tão magno problema e convide o “Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas” a estudá-lo e a proceder a um inquérito consultando para esse fim algumas individualidades em destaque no nosso meio pedagógico e social assim como todas as associações afins com os assuntos da Educação”.

(continua)

(Correio dos Açores, 32624, 5 de janeiro de 2022, p.14)

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