Deolinda
Lopes Vieira e a Educação (1)
Deolinda
Lopes Vieira nasceu em Beja, no dia 8 de julho de 1888 e faleceu em Lisboa, depois de uma longa vida de ativismo social e político, a 8
de junho de 1993. Bateu-se pelo derrube da Monarquia, lutou pela República e
resistiu ao Estado Novo, nunca esquecendo o combate pelos direitos de todas as
mulheres e por uma sociedade mais solidária.
Depois de ter
frequentado o ensino primário em Beja, em Lisboa, frequentou a Escola Normal
Primária, tendo concluído o curso de professora primária e tendo trabalhado na
Escola-Oficina nº1 e na “Voz do Operário”.
No 1º Congresso
Feminista e de Educação, onde foram homenageadas Alice Moderno, professora do
ensino particular e Maria Evelina de Sousa, distinta professora primária de
Ponta Delgada, Deolinda Lopes Vieira apresentou a tese “Educação de Anormais”, onde constavam as
seguintes conclusões:
“Que
a fundação de escolas especiais para a educação de anormais impõe-se e é
necessária:
1ª
Como medida preventiva contra o crime;
2º-
Como medida de economia social, porque utiliza energias até aqui desprezadas:”
Deolinda
Lopes Vieira justificou do seguinte modo o que a terá levado àquelas
conclusões:
“Eu
quero escolas especiais para anormais, mas revestidas de todos os cuidados para
que aqueles que lá vão receber a sua educação não possam mais tarde, pela vida
fora, sofrer com o sistema da sua educação. Os cuidados com estas escolas devem
ir até ao seu próprio nome para que os próprios pais das crianças não se
envergonhem de ter filhos que necessitem de uma educação tão especial.
Não
pode ser.
Se
tal fizéssemos tínhamos que, na mesma escola, fazer a seleção, o que viria a
agravar o mal não só dos anormais como dos normais com graves prejuízos do
ensino.
As
crianças sofriam, os pais envergonhavam-se e o ensino não melhorava.
Além
disto há ainda que atender ao pessoal pedagógico que não está devidamente
habilitado com esta especialidade e, portanto, incapaz de poder bem desempenhar
a sua missão, sempre impossível de o fazer se tivéssemos as crianças separadas
por classes e não por escolas”.
Na
3ª Sessão Ordinária, ocorrida a 7 de maio e 1924, Deolinda Lopes Vieira, no
período de Antes da Ordem do Dia apresentou uma moção sobre a “Escola Única”
que abaixo se transcreve:
“Considerando
que entre os problemas pedagógicos ultimamente e universalmente ventilados se
destaca sobremaneira interessante o problema da “Escola Única”;
Considerando
que da resolução de tão momentosa questão só benefícios podem advir para o
triunfo das ideias pacifistas e de Solidariedade Humana;
Considerando
mais, que ele está sendo defendido por alguns Conselhos Nacionais de Mulheres
destacando-se entre eles o “Conselho das Mulheres Argentinas” que no Congresso
de Copenhague se propõe tratar e defender o assunto, eu alvitro que o Congresso
Feminista e de Educação tome na devida consideração tão magno problema e convide
o “Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas” a estudá-lo e a proceder a um
inquérito consultando para esse fim algumas individualidades em destaque no
nosso meio pedagógico e social assim como todas as associações afins com os
assuntos da Educação”.
(continua)
(Correio dos Açores, 32624, 5 de janeiro de 2022, p.14)
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