quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Sobre o raro teixo

 


Sobre o raro teixo

 

Num texto publicado em 1983, no fascículo II do Volume I da “Iconographia Selecta Florae Azoricae”, A Fernandes, que foi presidente da Sociedade Broteriana, sobre o teixo (Taxus baccata) escreveu que aquela espécie, que existia na Europa, Argélia, Marrocos, Norte do Irão e do Afeganistão ao Butão, nos Açores podia ser encontrada nas ilhas do Corvo, Flores e Pico.

 

Sendo uma espécie considerada nativa, A. Fernandes coloca a hipótese de a espécie ser “de introdução muito antiga nos Açores e que esta tenha sido feita a partir de sementes levadas pelas aves migradoras que, voando do norte da Europa, faziam escala nas ilhas no seu caminho para Sul ou Oeste”.

 

Gonçalo Telles Palhinha, por sua vez, no Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, publicado em 1966, já após a morte do autor, sobre a distribuição geográfica do teixo refere que para além de existir nas três ilhas mencionadas, também pode ser encontrado na Madeira e em Portugal continental. Sobre a situação em termos de abundância, o mesmo autor refere o seguinte:

 

“Seubert di-la cultivada-in hortis et circa domos- e acrescenta que os habitantes diziam ser espontânea nas montanhas. Devido a cortes quase totais, para aproveitamento da madeira, só existe actualmente nas ilhas citadas, ao que julgo, em pouquíssima quantidade e em via de desaparecimento.”

 

Num texto intitulado “Salvar o teixo dos Açores da extinção”, cuja data desconhecemos, da autoria de Cátia Freitas e Pedro Casimiro, sobretudo devido à exploração intensiva do teixo para a construção de mobiliário, entre 1450 e 1760, e para uso da madeira como combustível a espécie quase desapareceu de tal modo que só existiriam 5 indivíduos na ilha do Pico.

 

Ao descrever a ilha de São Miguel; Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra, a dado passo ao enumerar as espécies de plantas existentes refere-se aos teixos do seguinte modo:

 

“…ginjas, azevinhos, urzes, tamujos, uveiras,[…] e alguns teixos, que já se vão acabando por serem muito prezados e buscados, para deles fazerem ricas mesas e bordas delas, cadeiras e fasquias para ricos escritórios, que com ele se guarnecem e já agora se ajudam com outros teixos trazidos da ilha do Pico, onde há muitos, e sem eles, suprindo em seu lugar, para as bordas e fasquias, o sanguinho que é também singular pau para isso.”

 

Mas não foi só nos Açores que o teixo foi explorado intensivamente. Com efeito, A. Fernandes referiu que o mesmo aconteceu na Europa. Segundo ele “graças à flexibilidade da sua madeira, o Teixo foi muito utilizado na Idade Média para construir arcos e flechas, funcionando, portanto, as florestas da época dessas árvores como verdadeiros arsenais de guerra”.

 

Num texto intitulado “Teixo: tanto amado como odiado” José Luís Louzada menciona que “as partes verdes desta espécie contêm um potente alcaloide venenoso, a taxina, capaz de causar graves efeitos no sistema nervoso e cardiovascular dos animais, podendo levar à sua morte. A sua toxicidade levou à associação do teixo ao culto dos mortos e tornou-o comum em cemitérios. Mas a morte dos cavalos e burros que acompanhavam os funerais, assim como de outros animais que comiam as suas folhas, acabou por levar a que fossem retirados de cemitérios e igrejas, e eliminados de locais tradicionais de pastoreio” e acrescenta que “embora seja venenoso, o teixo que conhecemos em Portugal é a fonte do precursor do Taxol, um dos medicamentos mais procurados para o tratamento do cancro.”

 

Se foi preciso ter ido à ilha da Madeira para ver um teixo pela primeira vez, em 1990 ou 1991, hoje os amantes das plantas poderão encontrá-lo na ilha de São Miguel, nomeadamente no Jardim António Borges, em Ponta Delgada, que está aberto ao público todos os dias ou no Parque Dona Beatriz do Canto, nas Furnas, que só costuma estar aberto ao público no mês de agosto e no Jardim Antero de Quental, em Vila Franca do Campo.

 

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32642, 26 de janeiro de 2022, p. 15)

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