Deolinda
Lopes Vieira e a Educação (2)
No
texto anterior demos a conhecer algumas ideias de Deolinda Lopes Vieira
apresentadas no 1º Congresso Feminista e de Educação. Neste, fazemos referência
à sua participação no 2º Congresso Feminista e da Educação, que se realizou já
com a Ditadura Militar, entre os dias 24 e 28 de maio de 1928, onde apresentou
uma tese sobre “A Escola Única”.
Dada
o interesse histórico e a atualidade do tema - não nos podemos esquecer que nos
nossos dias sopram ventos negros a puxar para o passado ditatorial e que muitas
são as vozes a defender turmas homogéneas, isto é (quase) separadas por classes
sociais – abaixo se transcreve a parte final da tese:
“A
intenção social da Escola única- e esta é uma das que mais apaixona os seus
adeptos- é estabelecer para todos a mesma escola, sem distinção de classes
sociais ou de sexos, assentar todos igualmente no mesmo banco escolar,
aproveitar de todos os indivíduos as suas energias e fornecer a todos as mesmas
possibilidades de aperfeiçoamento.
Nada
mais humano, equitativo e justo poderíamos tentar. Todas as crianças das
diferentes camadas sociais seriam habituadas a conhecer-se, a estimar-se, numa
palavra, a solidarizar-se, realizando assim o máximo de beleza moral que é
lícito conquistar dentro das condições que se nos apresentam.
Isto
será, sem dúvida, o mais eficaz destruidor do execrando preconceito de classe e
o maior estímulo à fraternidade humana.”
Deolinda
Lopes Vieira deixou-nos um vasto conjunto de textos em vários jornais e
revistas de orientação libertária ou de pedagogia.
Num
texto, publicado na revista “Amanhã”, nº1, de junho de 1909, depois de
mencionar a necessidade de uma revolução na maneira de ensinar”, Deolinda Lopes
Vieira defende que “para uma profícua educação intelectual é absolutamente
necessário substituir o dogmático e obscuro método de ensino até aqui adotado
nas escolas, por um método simples, racional e essencialmente científico. Deve-se
habituar a criança a raciocinar, a processar ela própria, com a sua natural
curiosidade, conjuntamente com o professor e auxiliado por ele, o porquê das
cousas, recorrendo tanto quanto se possa a um processo empírico e a um método analítico,
para que as noções adquiridas sobre os diferentes ramos do saber humano não
lhes sejam impostas duma maneira confusa e abstrata, mas sim colhidas o mais
experimentalmente possível”.
No
mesmo texto é também defendida a abolição de todos os dogmas religiosos ou
políticos de modo a que se possam “formar homens livres e independentes e não
sectários desta ou daquela ideia política ou religiosa”.
No
que diz respeito ao desenvolvimento físico das crianças, depois de mencionar as
boas condições que devem possuir os edifícios para garantir um bom estado de
saúde das mesmas, considera que não se deve desprezar “o desenvolvimento
muscular da criança empregando-se para esse fim, durante os primeiros anos, os
jogos infantis ao ar livre podendo e devendo serem aí introduzidos os trabalhos
de jardinagem”.
Para
além da cultura científica há que, segundo Deolinda Vieira, não menosprezar o
“lado da moral”. Assim, escreveu ela que o professor deve “por meio do exemplo
sobretudo, fazer dos seus alunos caracteres íntegros, corações que se dilatem
pelo Bem, que saibam sentir, como se seus fossem, os sofrimentos dos seus
semelhantes.”
Outro
aspeto defendido no texto era o da coeducação. Segundo ela, “o sistema
coeducativo fará desaparecer toda essa espécie de despeito que hoje existe
entre o homem e a mulher. O homem tornar-se-á no que na realidade deve ser:
amigo, o irmão da mulher; e vice-versa.”
Deolinda
Lopes Vieira termina o seu texto, que não perdeu de todo atualidade, lançando o
seguinte apelo: “Eduquemos as novas gerações integral, racional e
cientificamente, e uma humanidade nova composta de organismos robustos, de
cérebros ilustrados, de corações afetuosos, de carateres dignos, sucederá a
esta humanidade de raquíticos, de ignorantes, de egoístas, de seres sem
dignidade e sem energia.”
(Correio dos Açores 32630, de 12 janeiro de 2022, p.14)
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