quarta-feira, 7 de outubro de 2020

O Jardim António Borges ontem e hoje

 


Com os pés na terra (473)

O Jardim António Borges ontem e hoje

Em textos anteriores sobre o Jardim António Borges tenho escrito sobre o papel do Padre Manuel Vicente na sua recuperação em 1922.  Por esclarecer, está ainda o papel que desempenharam na altura o mestre Manuel de Oliveira (Panela) e seus irmãos.

 

Hoje, volto a escrever sobre o mesmo espaço verde, referindo algumas alterações nele introduzidas que mereceram a minha oposição no passado e no final apresento algumas sugestões para a dinamização do mesmo, nomeadamente por parte das escolas que lhe ficam próximas.

 

Um desdobrável editado recentemente informa que a Câmara Municipal de Ponta Delgada, em 1968-70, construiu um aviário, um recinto para macacos e uma cerca para uma zebra.

 

Após uma consulta ao meu arquivo, recordei que 10 anos depois a Câmara Municipal de Ponta Delgada, pretendeu (não recordo se o fez) ampliar as referidas instalações. Na ocasião manifestei a minha oposição, publicada no Correio dos Açores, de 23 de janeiro de 1987, nos seguintes termos: “ A ideia do senhor Presidente da Câmara de Ponta Delgada de “encher” o Jardim António Borges de diversas espécies animais com o objetivo de constituir um polo de atração para a população citadina, que passava a frequentar, com mais assiduidade, aquela zona verde e a gozar os benefícios daí advindos, foi colhida sem aparente oposição no meio local”.

 

No mesmo texto, depois de ter apresentado várias razões para a não manutenção de animais selvagens em cativeiro, defendi que “o Jardim António Borges deveria sofrer todos os melhoramentos possíveis e continuar, como até aqui, como Jardim Botânico. Basta o “espetáculo” degradante que nos é dado pelos “reclusos” que já lá estão.”

 

Em 1999, finalmente a Câmara Municipal de Ponta Delgada, através do vereador Melo Medeiros, numa reportagem publicada no Diário dos Açores, no dia 9 de julho, deu a conhecer que “as principais preocupações da atual vereação em relação a esses espaços verdes [Jardim António Borges, Jardim Antero de Quental, Jardim Padre Sena Freitas e Relvão] são a sua conservação, embelezamento, dignificação e segurança” e  reconheceu “que no passado foram introduzidos elementos estranhos e incompatíveis com a natureza do Jardim António Borges, como a de animais de grande porte” e “o parque infantil”. Na mesma reportagem, o vereador Melo Medeiros garantiu a manutenção do parque infantil “por razões sentimentais, por servir de espaço de divertimento a muitas gerações”.

 

Hoje, o parque infantil continua a ser uma das principais razões para a presença de pessoas no Jardim e por isso a sua manutenção em boas condições é fundamental, pois quanto maior for a presença humana menos espaço há para o vandalismo.

 

Imprescindível é também a tomada de medidas para a dinamização de atividades no jardim, como a realização de “peddy papers”, exposições temporárias ou permanentes, sessões para crianças e jovens, tendo como instalações as do antigo reservatório de água/cisterna que não estão a ser devidamente aproveitadas.

 

Por último, há que envolver as escolas localizadas nas proximidades, algumas das quais ostentam a Bandeira Verde do Projeto Eco-Escolas.

 

Para estas, não menosprezando as ideias dos seus docentes e alunos, sugiro a implementação de um projeto intitulado “Adote uma árvore” que poderia ter como objetivos gerais, entre outros, os seguintes: conhecer a importância das árvores para os ecossistemas e para a vida na Terra e colaborar no esforço de valorização dos espaços verdes da cidade.

 

Como tarefas a realizar, apresento as seguintes sugestões: a seleção de uma árvore e a localização num mapa do jardim, a criação de um “herbário” coletivo com as folhas das várias árvores escolhidas pelos alunos, a fotografia ou o desenho da árvore em diferentes estações do ano, a realização de uma pesquisa sobre cada planta que inclua a sua designação científica, o nome comum, a sua origem geográfica e a sua utilização.

 

Os trabalhos dos alunos, sob a forma de textos, cartazes, pequenas apresentações em “powerpoint” ou filmes, deverão ser sempre apresentados à comunidade, na escola ou no próprio jardim.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32252, 8 de outubro de 2020, p. 17)

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