Com os pés na terra (473)
O Jardim António Borges ontem e hoje
Em textos anteriores sobre o Jardim
António Borges tenho escrito sobre o papel do Padre Manuel Vicente na sua
recuperação em 1922. Por esclarecer,
está ainda o papel que desempenharam na altura o mestre Manuel de Oliveira
(Panela) e seus irmãos.
Hoje, volto a escrever sobre o mesmo
espaço verde, referindo algumas alterações nele introduzidas que mereceram a
minha oposição no passado e no final apresento algumas sugestões para a
dinamização do mesmo, nomeadamente por parte das escolas que lhe ficam próximas.
Um
desdobrável editado recentemente informa que a Câmara Municipal de Ponta
Delgada, em 1968-70, construiu um aviário, um recinto para macacos e uma cerca
para uma zebra.
Após uma consulta ao meu arquivo, recordei
que 10 anos depois a Câmara Municipal de Ponta Delgada, pretendeu (não recordo
se o fez) ampliar as referidas instalações. Na ocasião manifestei a minha
oposição, publicada no Correio dos Açores, de 23 de janeiro de 1987, nos
seguintes termos: “ A ideia do senhor Presidente da Câmara de Ponta Delgada de
“encher” o Jardim António Borges de diversas espécies animais com o objetivo de
constituir um polo de atração para a população citadina, que passava a
frequentar, com mais assiduidade, aquela zona verde e a gozar os benefícios daí
advindos, foi colhida sem aparente oposição no meio local”.
No mesmo texto, depois de ter apresentado
várias razões para a não manutenção de animais selvagens em cativeiro, defendi
que “o Jardim António Borges deveria sofrer todos os melhoramentos possíveis e
continuar, como até aqui, como Jardim Botânico. Basta o “espetáculo” degradante
que nos é dado pelos “reclusos” que já lá estão.”
Em 1999, finalmente a Câmara Municipal de
Ponta Delgada, através do vereador Melo Medeiros, numa reportagem publicada no
Diário dos Açores, no dia 9 de julho, deu a conhecer que “as principais
preocupações da atual vereação em relação a esses espaços verdes [Jardim
António Borges, Jardim Antero de Quental, Jardim Padre Sena Freitas e Relvão]
são a sua conservação, embelezamento, dignificação e segurança” e reconheceu “que no passado foram introduzidos
elementos estranhos e incompatíveis com a natureza do Jardim António Borges,
como a de animais de grande porte” e “o parque infantil”. Na mesma reportagem,
o vereador Melo Medeiros garantiu a manutenção do parque infantil “por razões
sentimentais, por servir de espaço de divertimento a muitas gerações”.
Hoje, o parque infantil continua a ser uma
das principais razões para a presença de pessoas no Jardim e por isso a sua manutenção
em boas condições é fundamental, pois quanto maior for a presença humana menos
espaço há para o vandalismo.
Imprescindível é também a tomada de
medidas para a dinamização de atividades no jardim, como a realização de “peddy
papers”, exposições temporárias ou permanentes, sessões para crianças e jovens,
tendo como instalações as do antigo reservatório de água/cisterna que não estão
a ser devidamente aproveitadas.
Por último, há que envolver as escolas
localizadas nas proximidades, algumas das quais ostentam a Bandeira Verde do
Projeto Eco-Escolas.
Para estas, não menosprezando as ideias
dos seus docentes e alunos, sugiro a implementação de um projeto intitulado
“Adote uma árvore” que poderia ter como objetivos gerais, entre outros, os
seguintes: conhecer a importância das árvores para os ecossistemas e para a
vida na Terra e colaborar no esforço de valorização dos espaços verdes da cidade.
Como tarefas a realizar, apresento as
seguintes sugestões: a seleção de uma árvore e a localização num mapa do
jardim, a criação de um “herbário” coletivo com as folhas das várias árvores
escolhidas pelos alunos, a fotografia ou o desenho da árvore em diferentes
estações do ano, a realização de uma pesquisa sobre cada planta que inclua a
sua designação científica, o nome comum, a sua origem geográfica e a sua
utilização.
Os trabalhos dos alunos, sob a forma de
textos, cartazes, pequenas apresentações em “powerpoint” ou filmes, deverão ser
sempre apresentados à comunidade, na escola ou no próprio jardim.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32252, 8 de
outubro de 2020, p. 17)
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