terça-feira, 13 de outubro de 2020

Maria Mendonça

 



Sobre Maria Mendonça

 

Já há algum tempo havia pensado conhecer melhor a vida e a obra da escritora e jornalista Maria Mendonça, mas só agora decidi fazê-lo, depois de uma pessoa residente no Nordeste me ter chamado a atenção para o facto dela nas suas conversas fazer referência à obra e vida da multifacetada Alice Moderno que continuo a investigar.

 

Maria da Trindade de Mendonça, natural de Nordeste, nasceu a 16 de fevereiro de 1916 e faleceu na mesma localidade no dia 28 de fevereiro de 1997, depois de ter vivido uma parte significativa da sua vida, 35 anos, na Ilha da Madeira.

 

Tal como Alice Moderno, Maria Mendonça foi mulher que “tocou vários instrumentos” ou que teve “sete ofícios”, pois para além de se dedicar ao jornalismo e à cultura, foi também uma mulher de negócios.

 

Tendo começado a escrever para os jornais aos 16 anos, Maria Mendonça foi correspondente de vários jornais portugueses.

 

Na área do jornalismo, destacamos a sua passagem pelo jornal “Eco do Funchal” de que foi chefe de redação e depois diretora. Maria Mendonça introduziu alterações no jornal, como a inclusão de novas seções culturais e recreativas o que levou a que o mesmo passasse de semanal a trissemanal.

 

Sobre os escritos de Maria Mendonça no “Eco do Funchal”, João Carlos Abreu, no Correio dos Açores, de 7 de junho de 2020, escreveu o seguinte: “enfrentado a censura da altura, ela chamava a atenção dos governos de Lisboa de sofrerem de amnésia em relação às duas ilhas atlânticas, criando-lhes claustrofobia, promovendo-lhes o atraso.”

 

Maria Mendonça esteve também ligada ao jornal o “Re-Nhau-Nhau” que, de acordo com informação constante da página web da Direção Regional do Arquivo e Biblioteca da Madeira, “marcou presença na imprensa regional madeirense pelo seu carácter caricaturista e humorístico. As caricaturas, bem como o conteúdo satírico, pretendiam denunciar as diferenças existentes nas várias camadas sociais e o período político conturbado que se vivia nessa altura”.

 

Na área dos negócios Maria Mendonça foi sócia da escritora Natália Correia e do marido Alfredo Machado numa empresa que explorava um estabelecimento comercial de nome “Rodapé” que, na Rua do Salitre, em Lisboa, vendia móveis e antiguidades.

 

Na Madeira, em 1972, Maria Mendonça comprou o estúdio de uma família de fotógrafos que em 1979 foi adquirido pelo Governo Regional da Madeira que, em 1982,  o transformou no Museu Vicentes.

 

No quintal do estúdio referido, localizado na Rua da Carreira, durante alguns anos funcionou o restaurante-esplanada “O Pátio”, onde Maria Mendonça promoveu encontros literários e tertúlias que contaram com a presença de algumas personalidades da oposição ao regime político da altura, não agradando à Censura e à PIDE, como a escritora Maria Lamas que era próxima do Partido Comunista Português ao qual aderiu depois de 25 de Abril de 1974, e da escritora  Etelvina Lopes de Almeida, colaboradora de Maria Lamas em alguns projetos, opositora ao Estado Novo que mais tarde foi deputada na Assembleia Constituinte e na Assembleia da República pelo Partido Socialista.

 

Sobre o papel de Maria Mendonça na promoção da literatura e dos livros, Thierry Proença dos Santos escreveu o seguinte: “Depois de realizada a “Semana do livro Açoriano”, no Funchal, em 1951, pelo impulso de Rogério Correia e de Maria Mendonça, os mesmos organizam a “Semana do Livro Madeirense”, em 1953. É também nesse período que é criada a primeira Casa Editora na Madeira, a “Eco do Funchal” por iniciativa da açoriana Maria Mendonça. A mesma agente ergue em Lisboa, em 1954, aquando da 24.ª Feira do Livro, o pavilhão do “Livro Insular” que ocupou lugar de destaque”.

 

Autora de várias obras, destacamos “A Madeira Vista por Intelectuais e Artistas Portugueses”, de 1954, e “Férias nos Açores- Ligeiros Apontamentos”, sem data, “A Personalidade Multifacetada do Jornalista Manuel Inácio de Melo”, de 1984, e “Os Açores através da Saudade”, de 1991,

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32257, 14 de outubro de 2020, p.17)

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