Com os pés na terra (554)
Principais plantas usadas em sebes (1)
Nos
últimos dias tenho participado em muitas conversas sobre o uso de várias
espécies vegetais em abrigos de proteção de várias culturas, sobretudo de frutícolas.
Sobre
o assunto conheço vários textos, com destaque para os seguintes: um da autoria
de Arlindo Cabral, engenheiro agrónomo, intitulado “Sebes vivas ou abrigos, nos
Açores-subsídios para o seu estudo”, publicado, em 1953, no nº 17 do Boletim da Comissão Reguladora
dos Cereais do Arquipélago dos Açores e outro da autoria de José Norberto
Brandão de Oliveira, Professor Associado da Universidade dos Açores, intitulado
“Espécies vegetais usadas nos Açores na formação de sebes”, publicado, em 1985,
pela Universidade dos Açores.
A
utilização de sebes vivas nos Açores deve-se, essencialmente, à necessidade de
proteção das culturas altamente prejudicadas pelos ventos e remonta, pelo menos,
ao século XIX.
Para
além daquela função, a “maior conservação da humidade do solo e atmosférica”
são outras vantagens das sebes vivas referidas por Arlindo Cabral. Por seu
lado, Brandão de Oliveira refere que algumas sebes têm uma função “mais de
compartimentação e noutros casos embelezamento”.
São
várias as características que devem ter as espécies escolhidas para sebes.
Abaixo, cito algumas das que foram referidas por Arlindo Cabral:
1- Propagarem-se
facilmente, de preferência por estaca;
2- Terem
crescimento rápido e vigoroso;
3- Serem
dotadas de folhagem persistente e com elevada densidade;
4- Possuírem
raízes profundas para melhor resistir aos ventos e não competir com as
culturas;
5- Oferecerem
maleabilidade à educação pela poda;
6- Não
serem portadoras de doenças ou de insetos prejudiciais às outras culturas ou a
elas próprias.
Brandão
de Oliveira menciona como principais espécies, por ordem decrescente de
importância, usadas nas sebes altas de proteção de frutícolas as seguintes:
Incenso (Pittosporum undulatum), Banksia ou cigarrilheira (Banksia
integrifolia), faia (Morella faya) e metrosídero (Metrosíderos
excelsa). Com menor frequência e apenas em algumas ilhas, aquele autor cita
a cameleira (Camellia japonica), a faia-da-holanda (Pittosporum
tobira), o loureiro (Laurus azorica) e o barrileiro (Corynocarpus
laevigatus).
Pelo
facto de meu pai ser agricultor e de, desde criança, participar em trabalhos no
campo, sobretudo nas colheitas, sempre prestei atenção ao que me rodeava e
recordo-me que na minha terra, a Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, as
espécies mais usadas em sebes eram a faia e o incenso, que protegiam as
bananeiras e laranjeiras, numa terra que tínhamos na Courela, a banksia que
existia em terrenos na Figueira do Casquete e o barrileiro, de que há, ainda,
um exemplar na Courela e que havia, na Rua do Jogo, num prédio que pertencia ao
sr. José “Americano”. Das espécies referidas, comíamos os frutos da faia e a
polpa dos frutos do barrileiro.
Termino
este texto com breves referências às quatro espécies, hoje, mais usadas em
sebes de proteção de frutícolas:
Incenso-
oriunda da Austrália, tem um rápido crescimento e uma boa rebentação. É
considerado uma planta invasora.
Faia-
nativa dos Açores, não cresce tão rapidamente como o incenso e reage bem às
podas.
Banksia-
originária da Austrália, apresenta um crescimento rápido e resiste bem aos
ventos do mar. As estacas têm alguma dificuldade em vingarem.
Metrosídero-
endémica da Nova Zelândia, apresenta um crescimento lento e é exigente quanto a
terrenos. Resiste muito bem ao “rocio”. É invasora em encostas rochosas.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores 32719, 28 de abril de 2022, p.7)
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