quarta-feira, 4 de maio de 2022

Plantas usadas em sebes (2)

 


Plantas usadas em sebes (2)

 

No texto anterior, fiz referência a algumas espécies usadas nas sebes altas de proteção de frutícolas, neste mencionarei algumas espécies utilizadas, em São Miguel, em sebes mais baixas que têm por principal função a compartimentação dos terrenos, embora também sirvam para proteção de culturas ou embelezamento.

 

Os exemplos que a seguir apresento, são essencialmente da Ribeira Seca de Vila Franca de Vila Franca do Campo, minha terra natal.

 

Sobretudo em terrenos próximos do mar, como nos situados por cima da Praia da Leopoldina, usava-se a cana (Arundo donax) para separar as várias parcelas cultivadas com vinha. Nativa do sul e este da Ásia e da bacia do Mediterrâneo, a cana que se encontra em todas as ilhas dos Açores, era anualmente cortada para ser usada para suportar as videiras.

 

Conheci uma pequena sebe de cardeal-roxo ou hibisco-da-síria (Hibuscus rosa-sinensis) na Rua do Jogo. Nativo da Ásia oriental, o cardeal-roxo é cultivado nos Açores sobretudo com fins ornamentais. Hoje, são mais comuns sebes de outra espécie, o Hibiscus rosa-sinensis.

 

Na Ribeira Nova, era o buxo ou buxeiro (Buxus sempervirens) a espécie usada como sebe ao longo da ribeira. Ainda hoje lá existem alguns pés, um deles com mais de 5 m de altura quando alguma literatura menciona que cresce até 2,5 m.

 

Nativo da Europa, norte do Irão e norte da África, o buxo é também usado como planta ornamental e com fins medicinais. Em 2002, na Ribeira Seca da Ribeira Grande, usavam a infusão das folhas para tratamento de problemas intestinais e na década de 60 e 70 do século passado, as crianças da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo sentiam-se “orgulhosas” por possuírem seus piões feitos de madeira de buxo, por serem os mais resistentes ao choque.

 

Em alguns quintais da Rua do Jogo  era uma sebe de sabugueiro (Sambucus nigra) que fazia as divisórias.  Também conhecido por sabugo ou rosa-de-bem-fazer, a planta é natural da Europa e norte de África e é usada para os mais diversos fins. Assim, com os seus caules que são ocos as crianças faziam uns brinquedos que eram conhecidos por “estalos” e que surgiam na época da apanha das laranjas. O seu miolo, hoje substituído pela esferovite, era usado na construção dos pêndulos elétricos

 

O Padre Ernesto Ferreira no seu livro “A Alma do Povo Micaelense” fala numa crença associada ao seu uso. Assim, acreditava-se que um rosário, feito com cinco ou sete rodelas de sabugueiro posto ao pescoço das crianças, tinha o condão de preservá-las do garrotilho, doença comum na infância causada por um vírus que provocava “inchaço nas vias respiratórias superiores, envolvendo a laringe e a traqueia.

 

A ginja, groselha, braguinha ou tamarinos (Elaegnus umbellata) é outra das espécies ainda usadas hoje como sebe, de que é exemplo uma existente na Ribeira Nova. Oriunda da Ásia, embora seja uma espécie fixadora de azoto tem a desvantagem de ser invasora.

 

Os seus frutos apresentam propriedades antioxidantes e podem ser comidos frescos ou em compotas.

 

O ligustro ou alfinheiro (Ligustrum henryi) era usado sobretudo para separar pastagens, havendo alguns vestígios no Caminho do Mato. Hoje, em São Miguel, conhecemos muitas sebes de ligustro sobretudo na Covoada, nos Arrifes e no Pico da Pedra.

 

O ligustro, originário da China, é também cultivado como planta ornamental e como planta melífera. Tem a vantagem de pegar muito bem de estaca e a desvantagem das suas raízes superficiais poderem prejudicar as culturas.

 

O mióporo (Myoporum acuminatum) é uma espécie originária da Austrália, que servia de sebe na minha Escola Primária, hoje desativada.

 

Embora seja de crescimento rápido, de se adaptar bem a vários tipos de solo e tolerar bem a salinidade, tem as desvantagens de ser pouco tolerante aos ventos e ser hospedeiro da mosca do Mediterrâneo. Talvez por estas razões ou por serem muito raras nunca mais vimos sebes com esta espécie na ilha de São Miguel.

 

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32724, 4 de maio de 2022, p.13)

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