Plantas usadas em sebes (2)
No
texto anterior, fiz referência a algumas espécies usadas nas sebes altas de
proteção de frutícolas, neste mencionarei algumas espécies utilizadas, em São
Miguel, em sebes mais baixas que têm por principal função a compartimentação
dos terrenos, embora também sirvam para proteção de culturas ou embelezamento.
Os
exemplos que a seguir apresento, são essencialmente da Ribeira Seca de Vila
Franca de Vila Franca do Campo, minha terra natal.
Sobretudo
em terrenos próximos do mar, como nos situados por cima da Praia da Leopoldina,
usava-se a cana (Arundo donax) para separar as várias parcelas
cultivadas com vinha. Nativa do sul e este da Ásia e da bacia do Mediterrâneo,
a cana que se encontra em todas as ilhas dos Açores, era anualmente cortada para
ser usada para suportar as videiras.
Conheci
uma pequena sebe de cardeal-roxo ou hibisco-da-síria (Hibuscus rosa-sinensis)
na Rua do Jogo. Nativo da Ásia oriental, o cardeal-roxo é cultivado nos Açores
sobretudo com fins ornamentais. Hoje, são mais comuns sebes de outra espécie, o
Hibiscus rosa-sinensis.
Na
Ribeira Nova, era o buxo ou buxeiro (Buxus sempervirens) a espécie usada
como sebe ao longo da ribeira. Ainda hoje lá existem alguns pés, um deles com
mais de 5 m de altura quando alguma literatura menciona que cresce até 2,5 m.
Nativo da Europa, norte
do Irão e norte da África, o buxo é também usado como planta
ornamental e com fins medicinais. Em 2002, na Ribeira
Seca da Ribeira Grande, usavam a infusão das folhas para tratamento de
problemas intestinais e na década de 60 e 70 do século passado, as crianças da
Ribeira Seca de Vila Franca do Campo sentiam-se “orgulhosas” por possuírem seus
piões feitos de madeira de buxo, por serem os mais resistentes ao choque.
Em alguns quintais da Rua do Jogo era uma sebe de sabugueiro (Sambucus nigra)
que fazia as divisórias. Também
conhecido por sabugo ou rosa-de-bem-fazer, a planta é natural da Europa e norte
de África e é usada para os mais diversos fins. Assim, com os seus
caules que são ocos as crianças faziam uns brinquedos que eram conhecidos por
“estalos” e que surgiam na época da apanha das laranjas. O seu miolo, hoje
substituído pela esferovite, era usado na construção dos pêndulos elétricos
O Padre Ernesto Ferreira no seu livro “A Alma do Povo Micaelense” fala
numa crença associada ao seu uso. Assim, acreditava-se que um rosário, feito
com cinco ou sete rodelas de sabugueiro posto ao pescoço das crianças, tinha o
condão de preservá-las do garrotilho, doença comum na infância causada por um
vírus que provocava “inchaço nas vias respiratórias superiores,
envolvendo a laringe e a traqueia.
A
ginja, groselha, braguinha ou tamarinos (Elaegnus umbellata) é outra das
espécies ainda usadas hoje como sebe, de que é exemplo uma existente na Ribeira
Nova. Oriunda da Ásia, embora seja uma espécie fixadora de azoto tem a
desvantagem de ser invasora.
Os
seus frutos apresentam propriedades antioxidantes e podem ser comidos frescos
ou em compotas.
O
ligustro ou alfinheiro (Ligustrum henryi) era usado sobretudo para
separar pastagens, havendo alguns vestígios no Caminho do Mato. Hoje, em São
Miguel, conhecemos muitas sebes de ligustro sobretudo na Covoada, nos Arrifes e
no Pico da Pedra.
O
ligustro, originário da China, é também cultivado como planta ornamental e como
planta melífera. Tem a vantagem de pegar muito bem de estaca e a desvantagem
das suas raízes superficiais poderem prejudicar as culturas.
O
mióporo (Myoporum acuminatum) é uma espécie originária da Austrália, que
servia de sebe na minha Escola Primária, hoje desativada.
Embora
seja de crescimento rápido, de se adaptar bem a vários tipos de solo e tolerar
bem a salinidade, tem as desvantagens de ser pouco tolerante aos ventos e ser
hospedeiro da mosca do Mediterrâneo. Talvez por estas razões ou por serem muito
raras nunca mais vimos sebes com esta espécie na ilha de São Miguel.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32724, 4 de maio de 2022, p.13)
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