segunda-feira, 20 de agosto de 2018
O PICO DA CRUZ
O PICO DA CRUZ
Na freguesia do Pico da Pedra havia a tradição da subida ao Pico da Cruz, elevação com 366 m de altitude, situada a sul da localidade.
O Pico da Cruz localiza-se na zona central da ilha de São Miguel, na denominada Plataforma dos Picos que está encaixada entre o Maciço das Sete Cidades e o Maciço de Fogo. Nesta plataforma, o ponto mais alto é a Serra Gorda, com 485 m de altitude.
O Pico da Cruz encontra-se coberto por vegetação variada, com destaque para eucaliptos, criptomérias e acácias. Na sua base situa-se uma das mais interessantes grutas da ilha de São Miguel que apresenta o teto em forma de mãos postas.
Uma das últimas iniciativas em que participei, com a intenção de escalar o Pico da Cruz, realizou-se no dia 10 de junho de 2016, promovida pela Junta de Freguesia do Pico da Pedra. Na ocasião, para desilusão da maioria dos participantes não foi possível atingir o ponto mais alto, em virtude do trilho se encontrar obstruído.
No dia 4 de junho de 1988, depois de uma visita à Gruta do Pico da Cruz, onde foi possível observar junto à sua entrada uma orquídea muito bonita e rara, que nunca mais observei em São Miguel, o bico-de-queimado (Serapias cordigera), fizemos uma tentativa falhada para subir ao Pico da Cruz.
Se não me falha a memória, a última vez que consegui atingir o cume do Pico da Cruz, foi no dia 12 de fevereiro de 2004, num dos passeios pedestres, integrantes do projeto “Conhecer para Proteger”, organizados pelos Amigos dos Açores- Associação Ecológica.
Se é verdade que todos os caminhos vão dar a Roma, não é menos verdade que o melhor trilho que nos conduz ao cimo do Pico da Cruz localiza-se na propriedade da família Cordeiro que, aquando da visita organizada pelos Amigos dos Açores, para além de prontamente ter autorizado a passagem pela sua propriedade, também ofereceu aos participantes um espetáculo equestre.
Se o leitor fizer uma pesquisa, facilmente encontrará referências e relatos de visitas efetuadas ao Pico da Cruz.
O Padre António Furtado de Mendonça (1864-1940) nas suas “Memórias da Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres do Lugar do Pico da Pedra”, no ano de 1913, escreveu o seguinte:
“…E para que nada falte, a quem se quer deleitar com boas vistas o pico da Cruz, tão próximo d’esta freguesia, sendo um dos mais elevados de toda a ilha, proporciona n’uma tarde de verão um dos mais agradáveis passeios pelas duas extensas faixas do litoral da ilha, que d’alli se descobrem, pelos lados norte e sul.”
A melhor descrição, que conhecemos, de uma visita ao Pico da Cruz deve-se a Sebastião Carlos da Costa Brandão de Albuquerque (1833-1927), Visconde do Ervedal da Beira, que em 1894 foi colocado no Tribunal da Relação dos Açores.
No seu livro “Narrativas Insulares”, recentemente editado pela Letras Lavadas Edições, podemos ler o seguinte:
“De Ponta Delgada, avista-se muito bem, é um dos muitos cabeços que mais se destacam dos outros pela altura e isolamento em que se acham, mas a maior parte das pessoas ignora os tesouros que ele põe à sua disposição; ninguém vem dizer ao forasteiro, suba aquele outeiro, que não perde o seu tempo, suba que vê de lá dois mares; se olhar para sul divisa ao longe a ilha de Santa Maria…mais para cima encontra a grande e formosa Vila da Ribeira Grande no meio de arvoredos, encantadora pela alvura das suas habilitações e edifícios e pela sua situação e posição de esplendor.”
O leitor impossibilitado de subir ao Pico da Cruz poderá obter um panorama semelhante se subir a “torre” existente no Pinhal da Paz.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31602, 21 de agosto de 2018, p.14)
Fotografia: Amigos dos Açores, 2005
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