quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Quem foi Marta Milanes Fernandez?


Quem foi Marta Milanes Fernandez?

Através do meu colega Tito Pires Coelho (1952-2009), que foi professor de Geografia na Escola Secundária das Laranjeiras, tomei conhecimento de que uma jovem cubana tinha fugido do seu país e que viveu durante algum tempo em Ponta Delgada.

Passados seis anos, através de uma publicação da, também, minha colega, Maria António Fraga, que foi professora de Física e Química, fiquei a saber que por mero acaso, estando ela em Ponta Delgada, conheceu a jovem cubana Marta Fernandez, que tal como ela estava hospedada no Convento da Esperança.

Marta Fernandez estabeleceu amizade com várias jovens micaelenses, entre as quais Maria Antónia Fraga que fez com que esta assistisse e acabasse por ser a fotógrafa do batizado daquela, nos primeiros meses de 1972.

Já este ano, através de pesquisas no “facebook”, Maria Antónia Fraga encontrou a página de Martha Fernandez, mas o reencontro não foi possível pois esta havia falecido, em 2015, nos Estados Unidos da América.

Estando a fazer pesquisas sobre a oposição nos últimos anos do Estado Novo no livro “História dos Açores, 1935-1974”, da autoria do Dr. Carlos Melo Bento, encontrei uma pequena referência a Marta Fernandez. Assim, referindo-se ao senhor Gentil Coelho o referido autor escreveu: “foi sempre um dirigente policial muito correcto ...tendo até protegido uma jovem refugiada e bela cubana, nos anos setenta, de que recebera ordem para recambiar para Fidel de Castro. Aquela foi por ele entregue aos americanos que lhe deram o estatuto de exilada”.

Não satisfeito com o que havia encontrado até então, decidi, nos primeiros dias de férias, investigar nos jornais de São Miguel, dos anos de 1971, 1972 e 1973, tendo encontrado mais informações que, a seguir, apresento.

Marta Milanes Fernandez, estudante liceal de 16 anos de idade, natural de Havana, Cuba, chegou a São Miguel a bordo de um cargueiro cipriota com tripulação grega.

De acordo com o jornal Correio dos Açores, de 6 de novembro de 1971, a jovem cubana antes de chegar a Ponta Delgada pediu a proteção do Bispo D. Manuel Afonso de Carvalho que “imediatamente acedeu em a receber e Martha ficou ontem alojada no Lar das Irmãs de Maria Imaculada, no Convento da Esperança”.

O mesmo jornal refere que “as autoridades portuguesas, através dos serviços da “Direção Geral de Segurança”, em Ponta Delgada, comunicaram a Martha Milanes Fernandez que poderá ficar no nosso país”. Esta decisão foi comunicada a Martha, ainda a bordo pelo “Inspector da “Direção Geral de Segurança” Sr. Gentil Garcia Coelho que para lá se deslocou para o efeito.

Marta Fernadez que chegou a Ponta Delgada depois de ter fugido de Cuba com a colaboração do seu namorado, Cristos Patrones, tripulante do cargueiro já referido, partiu para os Estados Unidos da América no dia 23 de março de 1973, mais propriamente para Nova Iorque, para onde foi residir com o tio Carlos Milanes.

Para os leitores interessados em conhecer como foi consumada a fuga de Cuba recomendo a leitura do texto de Silva Júnior, intitulado “Romance de Amor. A gentil cubana que pediu asilo às autoridades portuguesas”, publicada no Diário dos Açores de 27 de novembro de 1971.

O texto, onde é noticiada a saída de Marta de São Miguel, publicado no jornal “Açores”, de 23 de março de 1973, termina assim: “Resta que alguém, sabendo manejar a pena, escreva o “Romance de amor da bela Martha Milanes Fernandez, terminando-o – e são estes os nossos votos – dizendo que se casaram, tiveram muitos meninos e vivem em plena felicidade”. Até ao momento em que escrevo este texto, não tenho qualquer informação sobre se Marta e Cristos voltaram a encontrar-se após a sua despedida em São Miguel, em 1971.

( Correio dos Açores, 31024, 31 de agosto de 2016, p.16)

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