terça-feira, 17 de junho de 2025

A anoneira

 


A ANONEIRA

 

A frequência de uma formação sobre a poda na cultura da anoneira, em que entre os formandos estavam dois pico-pedrenses e em que a formadora também era do Pico da Pedra, levou-me a escrever o presente texto que disponibilizo aos leitores da “Voz Popular”.

 

A anoneira (Annona cherimola Mill.), também conhecida por coração-negro ou coração-de-negro, é uma árvore ou arbusto de porte médio, pertencente à família Annonaceae.

 

A anoneira pode atingir dez metros de altura se crescer livremente. O tronco cilíndrico apresenta uma casca de cor verde acinzentada. As folhas são de forma variada, podendo ser ovais, ovais-lanceoladas, obovadas ou elípticas, de cor verde-escuro na página superior e de um verde mais claro na inferior. As flores, muito aromáticas, são de cor creme. Os frutos apresentam várias formas, sendo as mais comuns a cónica, a esférica e a oval. A polpa é branca e as sementes são de cor castanho-escura ou preta,

 

A anoneira terá chegado aos Açores no século XIX, não se sabendo quem foi o introdutor. No entanto, sabe-se que em 1857, já existiam no Jardim Botânico José do Canto cinco “variedades”.

 

Em 1953, a anoneira fazia parte da lista das “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores” elaborada pelo Regente Agrícola Silvano Pereira, publicada no nº 18 do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores.

 

Vinda da América do Sul, onde os seus frutos “em tempos muito antigos” eram “abundante comida das populações locais”, a anoneira atravessou o Oceano Atlântico e chegou à Europa, onde hoje é muito apreciada. Em Portugal, é cultivada sobretudo no arquipélago da Madeira e também nos Açores.

De acordo com Capelinha (2018) “a produção da anona na Madeira permanece desde a sua colonização, devido às suas condições edafoclimáticas, combinadas com as técnicas de cultivo e o conhecimento da população, fazendo com que a anona da Madeira se inclua na designação de denominação de origem protegida (DOP). Esta contribui de forma significativa para o desenvolvimento económico com uma produção anual de 1000 toneladas/ano, a Madeira tem como principais mercados, o Continente, França, Espanha e Inglaterra, tornando-se o fruto mais exportado, após a banana.”

 

Sobre a propagação da planta, o Eng.º Manuel Moniz da Ponte escreveu o seguinte:

“a multiplicação da anoneira faz-se por sementeira e enxertia. Quando se tem como objectivo a manutenção das características varietais das variedades seleccionadas, tem de se recorrer à propagação vegetativa e em particular à enxertia de garfo sobre porta-enxertos francos.

O tipo de enxertia mais utilizado é de “fenda cheia”, decorrendo durante os meses de Março a Maio”. (https://almanaqueacoriano.com/index.php/artigos/24-pomar/1073-a-anoneira).

 

A anoneira é cultivada essencialmente pela excelência dos seus frutos que, de acordo com o Dr. Oliveira Feijão, são adstringentes.

 

Uma referência ao uso das folhas secas, do córtex e dos frutos da anoneira, nos Açores, encontra-se no livro “Algumas plantas medicinais dos Açores” da autoria de Yolanda Corsépius. Segundo ela, a planta possui propriedades estomacais e antidiarreicas.

 

Num texto intitulado “Propriedades Farmacológicas da Annona cherimola Mill.” (https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/84542), da autoria de Bianca Capelinha, datado de 2018, podemos ler que o fruto, a raiz, a casca, as folhas e as sementes da anoneira têm sido usados tradicionalmente em várias regiões do planeta, sobretudo na América Latina.

Assim:

 

- Os frutos podem ser consumido frescos e utilizados na produção de iogurtes, gelados, sumos, vinho e licores;

 

- A decocção da casca é usada como tónico e para tratar a diarreia;

 

- A raiz mastigada é usada para aliviar a dor de dentes e usada em decocção com funções anti-helmínticas e antipiréticas;

 

- Nos Açores, as folhas são tradicionalmente utilizadas para tratar hipercolesterolemia.

 

Pico da Pedra, 12 de maio de 2025

 

Teófilo Braga

 

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