A ANONEIRA
A frequência de uma formação sobre a poda na cultura
da anoneira, em que entre os formandos estavam dois pico-pedrenses e em que a
formadora também era do Pico da Pedra, levou-me a escrever o presente texto que
disponibilizo aos leitores da “Voz Popular”.
A anoneira (Annona cherimola Mill.), também conhecida por coração-negro ou
coração-de-negro, é uma árvore ou arbusto de porte médio, pertencente à família
Annonaceae.
A
anoneira pode atingir dez metros de altura se crescer livremente. O tronco
cilíndrico apresenta uma casca de cor verde acinzentada. As folhas são de forma
variada, podendo ser ovais, ovais-lanceoladas, obovadas ou elípticas, de cor
verde-escuro na página superior e de um verde mais claro na inferior. As
flores, muito aromáticas, são de cor creme. Os frutos apresentam várias formas,
sendo as mais comuns a cónica, a esférica e a oval. A polpa é branca e as
sementes são de cor castanho-escura ou preta,
A anoneira terá chegado aos Açores no século XIX, não
se sabendo quem foi o introdutor. No entanto, sabe-se que em 1857, já existiam
no Jardim Botânico José do Canto cinco “variedades”.
Em 1953, a anoneira fazia parte da lista das
“Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores” elaborada pelo Regente
Agrícola Silvano Pereira, publicada no nº 18 do Boletim da Comissão Reguladora
dos Cereais do Arquipélago dos Açores.
Vinda
da América do Sul, onde os seus frutos “em tempos muito antigos” eram
“abundante comida das populações locais”, a anoneira atravessou o Oceano
Atlântico e chegou à Europa, onde hoje é muito apreciada. Em Portugal, é
cultivada sobretudo no arquipélago da Madeira e também nos Açores.
De acordo com
Capelinha (2018) “a produção da anona na Madeira permanece desde a sua
colonização, devido às suas condições edafoclimáticas, combinadas com as
técnicas de cultivo e o conhecimento da população, fazendo com que a anona da
Madeira se inclua na designação de denominação de origem protegida (DOP). Esta
contribui de forma significativa para o desenvolvimento económico com uma
produção anual de 1000 toneladas/ano, a Madeira tem como principais mercados, o
Continente, França, Espanha e Inglaterra, tornando-se o fruto mais exportado,
após a banana.”
Sobre
a propagação da planta, o Eng.º Manuel Moniz da Ponte escreveu o seguinte:
“a multiplicação da anoneira faz-se por sementeira e
enxertia. Quando se tem como objectivo a manutenção das características
varietais das variedades seleccionadas, tem de se recorrer à propagação
vegetativa e em particular à enxertia de garfo sobre porta-enxertos francos.
O tipo de enxertia mais utilizado é de “fenda cheia”,
decorrendo durante os meses de Março a Maio”. (https://almanaqueacoriano.com/index.php/artigos/24-pomar/1073-a-anoneira).
A anoneira é cultivada essencialmente pela
excelência dos seus frutos que, de acordo com o Dr. Oliveira Feijão, são
adstringentes.
Uma
referência ao uso das folhas secas, do córtex e dos frutos da anoneira, nos
Açores, encontra-se no livro “Algumas plantas medicinais dos Açores” da autoria
de Yolanda Corsépius. Segundo ela, a planta possui propriedades estomacais e
antidiarreicas.
Num texto intitulado “Propriedades Farmacológicas da
Annona cherimola Mill.” (https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/84542),
da autoria de Bianca Capelinha, datado de 2018, podemos ler que o fruto, a raiz,
a casca, as folhas e as sementes
da anoneira têm sido usados tradicionalmente em várias regiões do planeta,
sobretudo na América Latina.
Assim:
- Os frutos
podem ser consumido frescos e utilizados na produção de iogurtes, gelados,
sumos, vinho e licores;
- A decocção
da casca é usada como tónico e para tratar a diarreia;
- A raiz
mastigada é usada para aliviar a dor de dentes e usada em decocção com funções
anti-helmínticas e antipiréticas;
- Nos
Açores, as folhas são tradicionalmente utilizadas para tratar
hipercolesterolemia.
Pico da
Pedra, 12 de maio de 2025
Teófilo
Braga
Sem comentários:
Enviar um comentário