Apontamentos sobre a peste bubónica em
Vila Franca do Campo
A peste negra
ou peste bubónica é uma doença causada
pelo bactéria Yersinia pestis,
que desencadeou uma pandemia, na segunda metade do século
XIV, matando um terço da população europeia.
Com origem na
Ásia central, a infeção é transmitida pelas pulgas de roedores que com a morte
destes, os seus hospedeiros naturais, procuram outros entre os quais os
humanos, originando assim as epidemias.
Alguns
autores, põem a hipótese de fatores climáticos estarem associados ao aumento
das populações de roedores e de pulgas numa dada região, em épocas determinadas.
Em
Portugal Continental o último surto de peste bubónica ocorreu em 1899, o
arquipélago da Madeira foi atingido pela doença em 1905 e os Açores em 1908,
tendo persistido neste arquipélago durante cinco décadas.
Sobre
os primeiros anos da peste bubónica nos Açores, recomenda-se a leitura da «Terceira
Parte “Peste nos Açores – A campanha da Ilha Terceira (1908-1909) e a
desratização do Arquipélago Açoriano”», do livro “Peste Bubónica”, da autoria
de Carlos Maciel Ribeiro Fortes.
No
estudo e no combate à doença, na Ilha Terceira, notabilizou-se António de Sousa
Júnior, Doutor em Medicina e futuro Ministro da Instrução, que para tal voltou
à sua terra natal, tendo estado em São Miguel onde realizou algumas
conferências sobre o assunto.
De
acordo com J.A. David de Morais, nos Açores, os anos mais castigados foram o de
1931, onde se registaram 151 óbitos e o de 1932, em que ocorreram 102 óbitos.
Ainda segundo o autor referido, entre 1930 e 1949, ocorreram 732 mortes por
peste bubónica, o que corresponde a uma média de 37 óbitos por ano.
O
jornal “Correio dos Açores”, de 3 de janeiro de1923, noticia o que terão sido
os primeiros casos de peste bubónica, pelo menos naquele ano, no concelho de
Vila Franca do Campo. Com efeito, a nota referida menciona que os três
primeiros casos ocorreram na freguesia de Água d’Alto e que as autoridades
administrativas e sanitárias se reuniram para tomar “as mais rigorosas
providências para que a horrível doença não se alastre ao resto do Concelho”.
Com
a leitura da mesma notícia fica-se a saber “que antes do aparecimento d’estes 3
casos foram encontrados bastantes ratos e alguns gatos mortos, o que denota que
a epizootia da peste está ali bastante adiantada”.
A
28 de março de 1923, o Correio dos Açores publica um texto do seu
correspondente em Vila Franca do Campo, onde este refere o aparecimento de um
presumível caso de peste bubónica na Rua Direita.
Para
além de dar conta do aparecimento de “mais ratos pestosos”, a notícia refere
que a Câmara Municipal fornece “desinfetantes para uso de todas as Repartições
Públicas, escolas, Igrejas e casas de pessoas reconhecidamente pobres”.
Em
1932, no dia 9 de janeiro, o Correio dos Açores publica um texto do seu
correspondente em Vila Franca do Campo, onde este dá a conhecer vários casos de
peste bubónica no concelho. Assim, segundo ele, foi detetado um caso na
freguesia de São Pedro e 11 casos na freguesia de Água d’Alto, tendo nesta
morrido 2 pessoas.
Para
o combate à doença a Câmara Municipal tinha marcado uma reunião aberta às
autoridades de saúde do concelho com vista a tomar medidas, como a aquisição de
desinfetantes para desinfeções tanto públicas como particulares, soro e vacina
ati-pestosa”.
A
Igreja, outrora um dos meios mais importantes para divulgação de informações,
também não ficou alheia. Com efeito, os párocos das duas freguesias referidas
durante as missas fizeram “a leitura das prescrições médicas aconselhadas pela
autoridade sanitária, acompanhando essa leitura de avisos salutares para que
todos se compenetrem da gravidade da doença”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32 169, 1 de julho de
2020, p.13)
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