José
Pereira Botelho, médico dos desfavorecidos
Filho de José Jacinto Pereira Canejo e de
Maria Máxima de Faria, José Pereira Botelho nasceu na Lagoa, no dia 2 de
outubro de 1813, e faleceu, em Ponta Delgada, no dia 6 de fevereiro de 1896.
Depois de ter estudado em Ponta Delgada,
em 1834, foi para Paris, onde estudou medicina. Terminado o curso, em 1940,
regressou a Portugal, tendo feito um exame na Escola Médico-Cirúrgica para poder
ficar legalmente habilitado a exercer a sua profissão, o que ocorreu no mesmo
ano, em Ponta Delgada.
Em 1842, José Pereira Botelho casou com
Maria Ermelinda de Medeiros, filha de Joaquim António de Paula Medeiros e
Francisca Hickling de Medeiros.
Em 1847, fez parte da Junta Governativa do
distrito, tendo a experiência não sido positiva o que fez com que desgostoso se
ausentasse por seis meses da ilha, tendo rumado a França onde assistiu a
preleções, contatou figuras eminentes da ciência e visitou hospitais.
Embora, segundo Francisco Maria Supico,
não houvesse “democrata mais convicto, mais lúcido e mais sincero adepto das
sãs ideias republicanas”, José Pereira Botelho não aceitou, em 1852, ser
representante dos micaelenses nas cortes e “até de seus direitos de eleitor
deixou absolutamente de fazer uso”.
Francisco Maria Supico, na biografia do
Dr. José Pereira Botelho publicada, em 1885, no “Almanach para 1886”, brinde do
“Diário de Annuncios” aos seus assinantes, depois de referir a desilusão
daquele ilustre médico com a política, menciona a sua intensa participação
cívica na sociedade micaelense nos seguintes termos:
“Às
comissões de salvação pública nas crises económicas ou de calamidade epidémicas
que esta ilha tem atravessado, às de beneficência e às de instrução, é que não
recusou ainda o concurso da sua inteligência e da sua atividade.”
Aos 73 anos, o Dr. José Pereira Botelho
abandonou a sua atividade pública e a propósito o “Novo Diário dos Açores”, de
2 de outubro de 1886, dedicou-lhe um número especial. Alice Moderno colaborou
com o poema que abaixo se transcreve:
O Dr. José Pereira Botelho
Quando
o vejo surgir aureolado
Pelos
finos cabelos cor de prata,
Eu
creio que a minha alma se desata
E
ascende, vai ao céu em voo alado.
No
seu olhar profundo se retrata
Um
coração bondoso e dedicado;
Na
sua alma-sacrário imaculado
Floresce
a caridade- essência grata!
Quando
às vezes me envolve a nostalgia,
Corro
junto ao Doutor, brota a alegria
E
recupero a fé- divina graça!
Quem
me dera segui-lo com mil flores
Perfumadas,
gentis, de várias cores,
Alcatifar
as ruas em que passa! …
No final do século XIX, os promotores das
comemorações do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, não se esqueceram de recordar a
solidariedade para com os mais desfavorecidos, através da realização de
romagens à sua sepultura no Cemitério de São Joaquim.
Sobre o assunto, o jornal “O Repórter, de
Alfredo da Câmara, anuncia, no dia 24 de abril de 1898, uma “visita aos túmulos
dos grandes propagadores das ideias socialistas- dr. Antero de Quental e dr.
José Pereira Botelho. É uma dívida de gratidão, que os artistas pagam aos dois
ilustres micaelenses que pugnaram pela sua causa.” Num número especial do
referido jornal publicado no 1º de maio daquele ano, “O Repórter” transcreve a
biografia já citada da autoria de Francisco Maria Supico.
A propósito da sua última morada, no seu
testamento, o Dr. José Pereira Botelho manifestou o seu desejo nos seguintes
termos:
“Quero
ser sepultado como são sepultados os nossos irmãos pobres, inválidos e
desprotegidos, sem aparato, sem dobre de sinais, sem convites e sem lápide ou
outro qualquer distintivo que assinale o local da minha sepultura: depois de
morto não quero que as vaidades me sobrevivam.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 32181, 15 de julho de 2020, p.16)
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