terça-feira, 3 de novembro de 2020

O dr. Lúcio Miranda e o encanto dos números

 



O dr. Lúcio Miranda e o encanto dos números

 

Em 2015, publiquei, neste jornal, um texto sobre o professor de matemática do Liceu Nacional Antero de Quental, atualmente Escola Secundária Antero de Quental, Lúcio Miranda, natural de Goa, que tinha uma predileção pelas artes, nomeadamente pela música. Foi fundador e vice-presidente da Academia Musical de Ponta Delgada e criou o “Centro de Estudos de Matemática e Física do Liceu Nacional de Antero de Quental.

 

Recentemente reli o seu texto “O encanto das Matemáticas”, publicado no Correio dos Açores, de 8 de outubro de 1932 que não perdeu atualidade. No texto de hoje, partilho com os leitores mais curiosos alguns dos conhecimentos que ele transmitiu e que para mim foram novidade.

 

A dado passo do seu texto, o Dr. Lúcio Miranda refere-se a Platão que manifestava tal predileção pelas matemáticas puras que dizia ser a Geometria “um método próprio de dirigir as almas para Deus”. E, querendo glorificar as harmonias da Natureza, tem esta síntese magnífica: «Deus geometriza eternamente»”.

 

Ainda sobre Platão, o Dr. Lúcio Miranda escreveu que tal foi a sua paixão pelos números que “levado pelo exagero da sua imaginação fantasista, chegou a conceber o número nupcial - aquele que havia de influenciar as consequências do matrimónio!”

 

Fomos tentar saber que número seria aquele e apenas encontramos dois textos na Internet. Segundo a resenha feita por Tassos Lycurgo a um trabalho de Glenn Erickson e Johun Fossa intitulado “Estudos sobre o número nupcial”, “Platão disse que o período de maior vigor do homem se dá dos 25 aos 35 anos de idade e das mulheres, dos 20 aos 40”. Tasso Lycurgo acrescenta que os autores mencionados concluem que “os filhos mais bem capacitados nasceriam, de acordo com a interpretação da passagem de Platão …. quando o pai tivesse 40 anos e a mãe, 30.”

 

De acordo com o distinto professor de Matemática que vimos referindo, “os números chegam a adquirir uma verdadeira personalidade aos olhos dos que lidam com eles. E na Aritmética aparecem, por isso, designações como a dos números amigos, primos entre si, perfeitos, abundantes e deficientes, exprimindo os laços de afinidade que os ligam aos outros ou as propriedades que os caracterizam.”

 

Como os números primos entre si eram os únicos que conhecia e que é do conhecimento da maioria dos alunos, pelos menos dos meus que estão no 8º ano de escolaridade, com recurso à internet, abaixo faço referência aos restantes.

 

Dois números são amigos quando um deles é igual à soma dos divisores próprios do outro, como por exemplo 284 e 220.

 

Para o nº 220 – 1+2+4+5+10+11+20+22+44+55+110= 284

Para o nº 284 – 1+2+4+71+142 =220

 

Um número é perfeito quando a soma dos seus divisores próprios é igual ao próprio número, como 28.

 

Para o nº 28 – 1+2+4+7+14 = 28

 

Um número é abundante quando é menor do que a soma dos seus divisores próprios, por exemplo o número 12

 

Para o nº 12 – 1+2+3+4+6 = 16

 

Por último, um número é deficiente se for maior do que a soma dos seus divisores próprios, como o número 10

 

Para o nº 10 – 1+2+5 = 8

 

No final do seu artigo o Dr. Lúcio Miranda referiu que havia duas disciplinas que inspiravam o terror aos alunos: o Latim e a Matemática. Hoje talvez seja a Físico-química e a Matemática.

 

Será que o modo como é ensinada a Matemática deste a mais tenra idade leva os alunos a se aperceberem da sua Perfeição, Harmonia e Beleza” ou faz com ao longo dos anos cresça a sua aversão à mesma?

 

Teófilo Braga

 

(Correio dos Açores, 32275, 4 de novembro de 2020, p.14)

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