terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Açores e Açorianos n' A IDEIA


AÇORES E AÇORIANOS N’A IDEIA

“A Ideia” é uma revista de cultura libertária portuguesa cujo primeiro número foi publicado em Maio de 1974, em Paris. Ao longo dos seus quarenta e dois anos de existência, “A ideia” que passou por várias fases, estando durante algum tempo suspensa, define-se como “uma revista que faz da cultura o seu campo de ação. Através da criação poética e plástica, da expressão filosófica, da pesquisa social, da investigação histórica, da abertura a uma ciência humanizada, desligada de interesses lucrativos do dispositivo industrial/militar”, tendo por fim a criação das “bases dum espírito livre, criativo, gratuito e solidário, contributo efectivo para a realização plena de todos os seres vivos”.

Não tendo, por ora, acesso a todos os números publicados, neste texto, apenas, farei referência aos últimos três números dirigidos por António Cândido Franco, professor da universidade de Évora, que é autor de uma monumental biografia de Agostinho da Silva intitulada “O Estranhíssimo Colosso”, resultado de 10 anos de investigação.

No número duplo, 71/72, publicado em 2013, tal como no do ano seguinte, há referências ao Café Gelo, situado no Rossio, que foi um antigo botequim surgido no século XIX, onde se reuniam “anarquistas ligados à carbonária” e onde terá sido planeado o atentado contra a família real, em 1908. Mais tarde, no Café Gelo reuniram-se vários poetas surrealistas, ente os quais o açoriano José Sebag (1936-1989).

Sobre este açoriano quase desconhecido, também para mim que apenas me lembro dele como locutor da RDP, a revista “A Ideia” escreve: “Publicou em vida um único livro, O Planeta Precário (Açores, 1959), que foi atirado às águas do mar salgado pelo autor na viagem de regresso a Lisboa, salvando-se apenas o exemplar antes enviado por correio a João Gaspar Simões…José Carlos González, depois da morte do amigo, recolheu a sua criação poética em livro, Cão até Setembro (1991) ”.

Depois da leitura da Revista procurei mais informações sobre José Sebag e tive a oportunidade de ler algumas crónicas da sua autoria publicadas no jornal “Açores” no chamado Verão Quente.

Numa delas, a propósito da relação entre escritores e militares, José Sebag escreve: “Ou será que os escritores (e os intelectuais, por extensão) estão minados por um intimo ressentimento face aos militares, por estes lhes terem arrebatado a oportunidade e a hora de abater o fascismo? ... Ou será ainda que os escritores portugueses estiveram estes anos todos falando e defendendo uma abstração e agora que é possível e necessário falar do (e com) o povo real, não sabem como, não sabem quando, não sabem de quê?”

No número duplo, 73/74, publicado em 2014, que dá grande destaque ao “Surrealismo e Café Gelo”, pode ser lido um texto de Cristina Dias, doutoranda na Universidade de Évora, intitulado “A Revolução poética postulada no ensaio de Natália Correia: Poesia de arte de realismo poético”.

No último número editado, 75/76, relativo ao ano de 2015, é publicado o “Memorando Jaime Brasil”, ilustre jornalista e escritor terceirense, amigo íntimo de Vitorino Nemésio, que segundo Luís Amaro teve uma vida “nobremente acidentada – conheceu, como tantos de igual craveira cívica, a prisão, a mordaça, o exílio; talvez, em certos períodos até anteriormente ao Estado Novo, a fome…”

Neste número, também pode ser lida uma recensão crítica de Jaime Brasil ao livro de Nemésio “Mau tempo canal”, publicada em primeira mão no jornal “O Primeiro de Janeiro”.

Ainda neste número, não foi esquecida Natália Correia, através do texto de Miguel Real “Natália Correia e o Surrealismo”. Segundo o autor referido, Natália Correia cuja ligação ao surrealismo é frágil, “possui um espírito, uma vida e uma obra verdadeiramente heterodoxas e libertárias”.

Por último, Rui Machado, terceirense que entre outros trabalhos escreveu textos para Katia Guereiro e para os “Madredeus”, publica um poema intitulado “Plano à maneira de Carl Th. Dreyer”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30868 de 24 de fevereiro de 2016, p.14)

O último número d’A Ideia pode ser lida aqui: https://issuu.com/a.directa/docs/a_ideia_2015_n_75-76_web?e=6449204/32877278

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