sábado, 2 de junho de 2012

A Comunicação Social Hoje



Hoje, a crise que ameaça a Terra, intimamente ligada à delapidação dos seus recursos e à subjugação da humanidade aos interesses de muito poucos, é uma crise diferente de todas as anteriores, pois a ela está associada a “ameaça da extinção da própria espécie humana”.
Esta crise que é simultaneamente do ambiente, do desenvolvimento e da energia, poderia ser facilmente resolvida se, como escreveu Tolstói, os homens não andassem a correr como que perseguidos por cães, sem serem “capazes de pensar em outra coisa a não ser enganar-se mutuamente para aumentar as suas riquezas”.
No caso específico dos problemas ambientais, que são problemas sociais, a solução terá de passar por alterações comportamentais tanto a nível individual como a grande escala. A corroborar esta afirmação, o sociólogo espanhol Manuel Castells afirmou, em 2003, que a maioria dos problemas ambientais mais elementares ainda não foi resolvida porque o “seu tratamento requer uma mudança nos meios de produção e de consumo bem como da nossa organização social e das nossas vidas pessoais”.
Durante algum tempo acreditei que seria possível construir uma Terra melhor para todos os seus habitantes, através da instrução e da educação e que um dos meios imprescindíveis para tal seriam, para além das escolas, os jornais, a rádio, a televisão e mais recentemente a internet.
Se antes pensava assim, atualmente tenho muitas dúvidas acerca do possível contributo da comunicação social para a ultrapassagem da crise em que estamos atolados, pois como refere J.H., numa nota à edição portuguesa do livro de Jerry Mander “Quatro argumentos para acabar com a televisão”, aquela deveria sugerir “a ideia duma grande liberdade e duma comunicação recíproca” mas na prática apresenta um carácter unilateral, sendo “uma “voz do dono” emanando de um centro incontestado”.
A nível internacional, nacional e regional, para além de se assistir à concentração das empresas proprietárias dos mais diversos meios de comunicação, como jornais, revistas, rádios, etc., verifica-se que, pelo menos, há a tentativa de controlo daqueles por parte dos detentores do poder político ou das oposições.
Mas, no meio de toda a minha descrença há alguma, ainda que pouca, esperança: a de que os pequenos jornais regionais ou locais, como o “Terra Nostra”, continuem, imunes a pressões, a informar, sem parcialidade, e a formar os seus leitores, dando espaço às mais diversas correntes de opinião.

Teófilo Braga

(Terra Nostra, nº 563, 25 de Maio de 2012, p.21)

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