quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Entrar com o pé esquerdo



Nunca me pronunciei, nem o vou fazer aqui, sobre as pessoas que ocupam cargos políticos porque mais importante do que elas são as políticas que são implementadas e estas, a maior parte das vezes, não são da responsabilidade de quem as implementa, mas dos partidos políticos e dos interesses económicos e outros que estes são obrigados a satisfazer. Mas, uma coisa é certa, a composição do novo Governo Regional dos Açores, liderado pelo meu antigo aluno da Escola Secundária Antero de Quental, Dr. Vasco Cordeiro, apanhou de surpresa muito boa gente.
O elenco do atual governo causou pasmo a muitas das pessoas que comigo convivem ou partilham opiniões sobretudo porque, disseram elas, alguns dos atuais secretários podiam também o ser se as eleições tivessem sido ganhas pelo Partido Social Democrata (PSD).
A mim, nada me espanta. Se é grande a tentação para a “vã glória de mandar” também é uma caraterística do Partido Socialista (PS) a sua capacidade para a reutilização e reciclagem de pessoas de todos os quadrantes político/partidários, da esquerda extrema à extremada direita.
A aptidão referida não é apenas do PS mas sim de todos os partidos que ocupam ou são do arco do poder. Assim, a nível nacional, o PSD tem sido o partido âncora para vários ex-militantes da extrema esquerda com destaque, pelas posições que ocupam, para Durão Barroso e Nuno Crato.
Hoje, para além das pessoas, nada distingue os dois mais votados partidos políticos regionais, o PS e o PSD. Longe, vão os tempos em que o PPDA considerava a “social-democracia, situada no centro-esquerda das tendências políticas possíveis” como sendo a orientação com capacidade para “vencer o atraso económico com que nos debatemos e corrigir as situações existentes de profunda injustiça social” (Documentos Preliminares do PPDA, Julho de 1974) e o PS combatia “o sistema capitalista e a dominação burguesa” e estava “certo de que, em parte alguma, o neocapitalismo conseguirá instaurar uma sociedade inspirada pelos ideais de igualdade social, antes vai agravando, sob formas insidiosas, a exploração do maior número pela minoria” (Declaração de Princípios do Partido Socialista, Setembro de 1973).
Depois desta longa introdução, queria fazer uma referência à Secretaria Regional dos Recursos Naturais que é liderada pelo meu antigo colega da Escola Secundária Antero de Quental, Luís Nuno Ponte Neto de Viveiros, desejando-lhe, com toda a sinceridade, os melhores êxitos pessoais.
Propositadamente não lhe desejei sucesso a nível governativo porque considero que alguém lhe armou uma cilada, tendo muitas dúvidas sobre a sua capacidade para dela se desvencilhar com sucesso.
A designação da Secretaria tem muito que se lhe diga. Com efeito, depois de ter criado a Secretaria Regional do Ambiente, o Partido Socialista após colocar o socialismo na gaveta, agora arrumou o ambiente num armário onde ele não cabe. Assim, para esclarecer o mencionado, abaixo apresento os conceitos de recursos naturais (mas restrito) e de ambiente, extraído de um Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente:
Recursos naturais- Denominação aplicada a todas as matérias-primas, tanto aquelas renováveis como as não renováveis, obtidas diretamente da natureza, e aproveitáveis pelo homem.
Ambiente - Conjunto dos agentes físicos, químicos, biológicos e dos fatores sociais suscetíveis de exercerem um efeito direto ou mesmo indireto, imediato ou a longo prazo, sobre todos os seres vivos, inclusive o homem.
A segunda questão que levanto é a da dimensão da secretaria. A não ser que se transforme o ambiente num mero adorno, juntar “as políticas relativas à agricultura, ambiente e mar, quer no âmbito mais específico das pescas, quer no âmbito mais vasto de aproveitamento das potencialidades deste recurso natural que é o Mar dos Açores” é demais para um só secretário.
Por último, não podia deixar de mencionar o facto do Eng. Luís Viveiros, que não tem a obrigação de dominar todas as áreas, mas que para um bom desempenho tem de estar bem assessorado, ter cometido uma gaffe monumental quando pela primeira vez falou sobre o tratamento de resíduos sólidos e disse que nos Açores não está prevista a construção de incineradoras mas sim "unidades de valorização de resíduos não recicláveis".
De um recém-chegado à política esperava que apresentasse a opção do seu governo, mesmo não concordando com ela, e que não se escondesse atrás de sinónimos. Assim, não!
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 27297, 28 de Novembro de 2012)

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