quinta-feira, 1 de agosto de 2013

PONTA GARÇA


Coisas de Ponta Garça


Ponta Garça, com 29,38 km2 de área, é uma das seis freguesias do concelho de Vila Franca do Campo. Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra dá-nos uma explicação para o seu nome: “…A que chamaram os antigos descobridores Ponta Garça por lhe parecer de longe garça ou vulto o ar que lhe aparecia, da outra parte, branco como ela, por um buraco ou vão que a mesma ponta tem na rocha”.

Na minha juventude visitei várias vezes a freguesia de Ponta Garça, sobretudo durante as festas de Nossa Senhora da Piedade e no Carnaval onde, na companhia de um primo, mascarado visitava algumas famílias, entre as quais a de uma prima minha que hoje está emigrada.

Mais tarde, já adulto, quase todos os anos fazia o percurso pedestre entre a Gaiteira e a Ribeira Quente e mais tarde entre a Praia da Amora e a Ribeira Quente.

Em 2007, no âmbito da Associação Amigos dos Açores, quando colaborei na elaboração do roteiro do percurso pedestre “Ponta Garça – Ribeira Quente” da autoria de Rita Gomes Sousa, fiquei com a curiosidade de conhecer melhor a freguesia e partilhar alguma da informação recolhida.

Neste texto, darei a conhecer a descrição feita, por um ilustre visitante, acerca da penosa subida da Gaiteira que era feita por quem se deslocava de Vila Franca para as Furnas.

De igual modo, farei menção a um texto da autoria de Armando Cortes-Rodrigues sobre Gonçalo Vieira, segundo alguns o maior cantador popular de São Miguel do seu tempo.

1-   Gaiteira


Hoje, se é relativamente fácil subir a Gaiteira pois temos ao nosso dispor veículos motorizados, antes dos mesmos estarem ao nosso dispor era tarefa bastante difícil e cansativa. 

De acordo com o relato de Briant Barrett, na sua obra S. Miguel no Início do Século XIX, aquando de uma visita a esta ilha: “...as subidas e descidas inclinadas que fazíamos preparavam-nos ainda para outras, pelas quais teríamos de passar até que finalmente chegamos ao Monte da Gaiteira. Tendo eu pouca disposição para andar a pé, continuei sentado no meu burro, até me aperceber que este não me podia transportar mais, apesar dos esforços que o meu burriqueiro, rapaz preto e robusto, tentava fazer empurrando-o por detrás. Apeei-me consequentemente e escalei a montanha a pé, por cerca de uma milha. Esta era em certas partes mais inclinada do que muita escadaria”.

2 - Gonçalo Vieira

De acordo com o Dr. Armando Cortes-Rodrigues, distinto escritor e etnólogo açoriano, natural de Vila Franca do Campo, o “Tio Gonçalo Vieira” era natural do Burguete da Lomba da Maia e casou em Ponta Garça, onde viveu e veio a falecer com 82 anos de idade.

Sobre o local onde morava em Ponta Garça, na altura onde viveu constituída por “pouco mais do que uma rua, muito comprida e sinuosa, com casas de um lado e outro, dizia o cantador:

Se fores à Ponta Garça,
Perguntar pelo Vieira,
Mora pr’a cá da Furada,
Defronte de uma Figueira

Para além de participar em diversas folias do Espírito Santo, Gonçalo Vieira animou diversas cantorias ao desafio. É dele a autoria da quadra, abaixo transcrita, de agradecimento a uma oferta recebida por ocasião de um peditório que era feito pelos mordomos que percorriam todas as portas da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo:

A mesa que nos pusestes
De toalhas estendidas
As almas do purgatório
Vos ficam agradecidas

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31 de Julho de 2013)

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