Coisas de Ponta Garça
Ponta Garça, com
29,38 km2 de área, é uma das seis freguesias do concelho de Vila
Franca do Campo. Gaspar Frutuoso, nas Saudades da Terra dá-nos uma explicação
para o seu nome: “…A que chamaram os antigos descobridores Ponta Garça por lhe
parecer de longe garça ou vulto o ar que lhe aparecia, da outra parte, branco
como ela, por um buraco ou vão que a mesma ponta tem na rocha”.
Na minha
juventude visitei várias vezes a freguesia de Ponta Garça, sobretudo durante as
festas de Nossa Senhora da Piedade e no Carnaval onde, na companhia de um
primo, mascarado visitava algumas famílias, entre as quais a de uma prima minha
que hoje está emigrada.
Mais tarde, já
adulto, quase todos os anos fazia o percurso pedestre entre a Gaiteira e a
Ribeira Quente e mais tarde entre a Praia da Amora e a Ribeira Quente.
Em 2007, no
âmbito da Associação Amigos dos Açores, quando colaborei na elaboração do
roteiro do percurso pedestre “Ponta Garça – Ribeira Quente” da autoria de Rita
Gomes Sousa, fiquei com a curiosidade de conhecer melhor a freguesia e
partilhar alguma da informação recolhida.
Neste texto, darei
a conhecer a descrição feita, por um ilustre visitante, acerca da penosa subida
da Gaiteira que era feita por quem se deslocava de Vila Franca para as Furnas.
De igual modo,
farei menção a um texto da autoria de Armando Cortes-Rodrigues sobre Gonçalo
Vieira, segundo alguns o maior cantador popular de São Miguel do seu tempo.
1- Gaiteira
Hoje, se é
relativamente fácil subir a Gaiteira pois temos ao nosso dispor veículos
motorizados, antes dos mesmos estarem ao nosso dispor era tarefa bastante
difícil e cansativa.
De acordo com o
relato de Briant Barrett, na sua obra S. Miguel no Início do Século XIX,
aquando de uma visita a esta ilha: “...as subidas e descidas inclinadas que
fazíamos preparavam-nos ainda para outras, pelas quais teríamos de passar até
que finalmente chegamos ao Monte da Gaiteira. Tendo eu pouca disposição para
andar a pé, continuei sentado no meu burro, até me aperceber que este não me
podia transportar mais, apesar dos esforços que o meu burriqueiro, rapaz preto
e robusto, tentava fazer empurrando-o por detrás. Apeei-me consequentemente e
escalei a montanha a pé, por cerca de uma milha. Esta era em certas partes mais
inclinada do que muita escadaria”.
2 - Gonçalo
Vieira
De acordo com o
Dr. Armando Cortes-Rodrigues, distinto escritor e etnólogo açoriano, natural de
Vila Franca do Campo, o “Tio Gonçalo Vieira” era natural do Burguete da Lomba
da Maia e casou em Ponta Garça, onde viveu e veio a falecer com 82 anos de
idade.
Sobre o local
onde morava em Ponta Garça, na altura onde viveu constituída por “pouco mais do
que uma rua, muito comprida e sinuosa, com casas de um lado e outro, dizia o
cantador:
Se fores à Ponta
Garça,
Perguntar pelo
Vieira,
Mora pr’a cá da
Furada,
Defronte de uma
Figueira
Para além de
participar em diversas folias do Espírito Santo, Gonçalo Vieira animou diversas
cantorias ao desafio. É dele a autoria da quadra, abaixo transcrita, de
agradecimento a uma oferta recebida por ocasião de um peditório que era feito
pelos mordomos que percorriam todas as portas da Ribeira Seca de Vila Franca do
Campo:
A mesa que nos
pusestes
De toalhas
estendidas
As almas do
purgatório
Vos ficam
agradecidas
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, 31 de Julho de 2013)
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