O dinamismo da Escola Primária da
Ribeira Seca de Vila Franca do Campo
No
passado domingo, dia 15 de Junho, dia em que o concelho de Vila Franca do Campo
homenageou o professor Eduardo Calisto Soares de Amaral, fiquei a saber que as
Escolas da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, inauguradas em 1962,
funcionaram como tal pela última vez este ano letivo.
Embora
com alguma mágoa por assistir ao encerramento da escola que frequentei, não vou
discutir aqui a opção tomada, que, não tenho dúvidas, estará ligada à falta de
crianças existentes na freguesia. Neste texto, limitar-me-ei a relatar um pouco
do que foi a referida escola para uma comunidade que não tinha qualquer outro
meio de dinamização cultural e desportiva.
Fugindo
à norma, a Escola Primária da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, fruto
sobretudo do dinamismo dos seus professores mais do que de diretrizes
superiores, abriu-se à comunidade, a partir da década de sessenta do século
passado.
Como
primeiro exemplo, posso apontar a apresentação de uma revista, se não estou em
erro no ano de 1965, cujo texto foi da autoria do professor Eduardo Calisto
Soares de Amaral. Para além de dinamizar a cultura da localidade, onde as
mulheres passavam o dia em casa e os homens não tinham qualquer alternativa às
tabernas, através da venda de bilhetes aos assistentes, a escola angariou
fundos para proceder a melhoramentos no edifício e para a implementação de
projetos.
Fruto
de trabalho de uma boa equipa constituída pelos professores Adelaide da Conceição Soares
(diretora da Escola Feminina), Margarida Simas Borges, Claudete Marques, Válter
Soares Ferreira e Octávio da Silva Costa e Eduardo Calisto de Amaral (Diretor
da Escola Masculina), a 1 de Dezembro
de 1966, foram inaugurados vários melhoramentos na escola de que se destacam um
nicho dedicado a Nossa Senhora da Conceição, o arranjo dos jardins, instalações
condignas para a cantina escolar e uma pequena piscina que era motivo de
orgulho para todos os habitantes e de admiração para os forasteiros.
Todos os melhoramentos possíveis graças a apoios da
Junta Geral do Distrito, da Câmara Municipal, do Engenheiro Luís Lopes Cabral,
responsável pela orientação técnica e de particulares só aconteceram, segundo o
jornal “A Vila”, graças “ao entusiamo moço dos agentes do ensino da Ribeira
Seca que, em união de sentimentos, não olharam a fadigas e muito menos a
comodidades pessoais para dotarem a sua escola com as comodidades que sonharam
para ela que doutra forma não poderiam auferir.”
A Escola da Ribeira Seca também se destacou das demais
pelas Festas Escolares anuais que realizava com programas diversificados.
Para além de trabalhos escritos e manuais “conduzidos
no sentido da vida”, realizados pelos alunos ao longo do ano, em 1972, do programa
constou vários números recitativos, algumas canções, uma “lição de ginástica ao
espelho”, corridas diversas, saltos, jogos de miniandebol e de minibasquetebol
e, como não poderia deixar de ser devido à presença da piscina, natação.
No
ano em que se realizou a animada festa escolar referida anteriormente, exerciam
a sua profissão nas escolas da Ribeira Seca os seguintes professores: Eduardo
Calisto Amaral, Adelaide Soares, Válter Manuel Soares Ferreira, Ildebranda
Matias e Ilda Cesarina Borges.
A abertura da escola à comunidade que já se iniciara nos últimos anos do
antigo-regime, foi alargada, após o 25 de Abril de 1974. Com efeito, o
professor Eduardo Calisto de Amaral, na qualidade de diretor da Escola da
Ribeira Seca, foi pioneiro na abertura das instalações da mesma para a prática
desportiva e recreativa dos jovens.
Para concretizar o mencionado, foi cedido, num dos alpendres fechados, um
espaço para reuniões da Associação Desportiva e Cultural da Ribeira Seca, a
primeira associação de juventude da localidade, que tinha “por objetivo unir
todos aqueles que no aspeto desportivo e cultural estejam dispostos a dar o seu
melhor para um engrandecimento do desporto e da cultura no nosso local”.
Possuidores de uma chave da escola, os responsáveis pela associação organizavam
jogos de mesa e de campo, com destaque para o voleibol e para o futebol.
Espero, em próximo número deste jornal, continuar a divulgar o trabalho
desta escola em prol da cultura e da educação da juventude da localidade e do
concelho.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30369, 25 de Junho de 2014,
p.11)
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