Jardins de Vila Franca do Campo
Vila
Franca do Campo possui várias áreas ajardinadas, destacando-se de entre elas
pela sua dimensão e pela variedade das espécies botânicas presentes, o Jardim
Antero de Quental, localizado na freguesia de São Miguel, e o Jardim Dr. António
da Silva Cabral, situado na freguesia de São Pedro.
O
Jardim Antero de Quental, que ocupa um antigo Largo, primeiramente denominou-se
D. Luís I, para comemorar o casamento do monarca com D. Maria. Sobre este rei,
Eça de Queirós, escreveu o seguinte: “pelas favoráveis feições do seu espírito
liberal, transigente, modernizado, acessível às inovações, o chefe mais
congénere e perfeito”.
Ocupando
um local privilegiado na vila, já que à sua volta estão implantadas a Igreja
Matriz de São Miguel Arcanjo, a Igreja da Misericórdia e a Câmara Municipal, o
jardim Antero de Quental é palco de diversas manifestações de carácter musical
e é onde se concentram as pessoas nos arraiais das mais diversas festas
religiosas, com destaque para as festas de São Miguel Arcanjo e do Senhor Bom Jesus da Pedra.
Neste
jardim é possível encontrar diversas espécies da flora exótica, como uma nolina
(Nolina recurvata), árvore indígena do sudeste do México e duas magnólias
(Magnolia grandiflora), originárias do sudeste dos E.U.A, um castanheiro da
India (Aesculus x carnea), árvore de origem hortícola, uma melaleuca (Melaleuca
armillaris), planta australiana e uma árvore do fogo (Brachychiton acerifolium), também da Austrália.
O
Jardim Dr. António da Silva Cabral, localizado em frente à Igreja dos Frades,
deve o seu nome a um presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo que
“revolucionou” o concelho.
Natural
das Calhetas, concelho da Ribeira Grande, o Dr. António da Silva Cabral, depois
dos seus estudos, regressou a São Miguel, tendo-se fixado em Vila Franca do
Campo, onde foi médico municipal e da Misericórdia. Como presidente da Câmara
promoveu diversos melhoramentos, de que se destacam o traçado da entrada poente
da Vila, com a Avenida da Liberdade e o Jardim, o mercado de peixe, o cemitério
e a primeira instalação da luz elétrica pública nos Açores.
Neste
jardim, construído numa zona pedregosa destacam-se, entre muitas outras, as
seguintes espécies: eucalipto-limão (Corymbia
citriodora), que ocorre
naturalmente na Austrália, auracária (Araucaria heterophylla), espécie endémica da ilha de Norfolk, uma
pequena ilha situada no oceano Pacífico, palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis), oriunda do
arquipélago macaronésio das Canárias, dragoeiro (Dracaena draco), originária dos arquipélagos da Madeira e das
Canárias, estrelícia gigante (Strelitzia
nicolai), oriunda da África do Sul, lagestroemia (Lagerstroemia indica), nativa da China e da Índia, tulipeiro (Liriodendron tulipífera), da América do
Norte.
Sob
a presidência de José Estevam Pacheco de Melo, em 1992, através de um protocolo
de cooperação com o Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, a
Câmara Municipal de Vila Franca do Campo procedeu à identificação das plantas
existentes nos dois jardins já mencionados, tendo sido identificadas cerca de
60 espécies.
Hoje,
passados tantos anos após a classificação das plantas, nos dois jardins,
encontra-se de tudo um pouco, desde placas que já não têm a planta,
possivelmente devido à morte desta, até várias plantas sem classificação ou que
nunca terão sido identificadas, passando por placas onde os azulejos com a identificação
já lá não se encontram. Para além do mencionado, há plantas em locais
inapropriados e algumas podas mal executadas.
Está
na hora da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo iniciar um trabalho com
vista a colmatar todas as falhas existentes e de dar maior dignidade e algum
destaque às plantas endémicas dos Açores.
Só
com uma intervenção cuidadosa e feita por gente devidamente formada e sensível
será possível fazer com que os jardins de Vila Franca do Campo se tornem em
locais ainda mais aprazíveis de recreio e lazer, em espaços de preservação de
espécies da flora de várias partes do mundo e em pontos de transmissão de
conhecimentos tão importantes e mais atrativos do que as salas de aula.
Teófilo Braga
(Correio
dos Açores, 30363, 18 de Junho de 2014, p.16)
Sem comentários:
Enviar um comentário