terça-feira, 17 de junho de 2014



Jardins de Vila Franca do Campo

Vila Franca do Campo possui várias áreas ajardinadas, destacando-se de entre elas pela sua dimensão e pela variedade das espécies botânicas presentes, o Jardim Antero de Quental, localizado na freguesia de São Miguel, e o Jardim Dr. António da Silva Cabral, situado na freguesia de São Pedro.
O Jardim Antero de Quental, que ocupa um antigo Largo, primeiramente denominou-se D. Luís I, para comemorar o casamento do monarca com D. Maria. Sobre este rei, Eça de Queirós, escreveu o seguinte: “pelas favoráveis feições do seu espírito liberal, transigente, modernizado, acessível às inovações, o chefe mais congénere e perfeito”.
Ocupando um local privilegiado na vila, já que à sua volta estão implantadas a Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo, a Igreja da Misericórdia e a Câmara Municipal, o jardim Antero de Quental é palco de diversas manifestações de carácter musical e é onde se concentram as pessoas nos arraiais das mais diversas festas religiosas, com destaque para as festas de São Miguel Arcanjo e  do Senhor Bom Jesus da Pedra.
Neste jardim é possível encontrar diversas espécies da flora exótica, como uma nolina (Nolina recurvata), árvore indígena do sudeste do México e duas magnólias (Magnolia grandiflora), originárias do sudeste dos E.U.A, um castanheiro da India (Aesculus x carnea), árvore de origem hortícola, uma melaleuca  (Melaleuca armillaris), planta australiana e uma árvore do fogo (Brachychiton acerifolium), também da Austrália.
O Jardim Dr. António da Silva Cabral, localizado em frente à Igreja dos Frades, deve o seu nome a um presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo que “revolucionou” o concelho.
Natural das Calhetas, concelho da Ribeira Grande, o Dr. António da Silva Cabral, depois dos seus estudos, regressou a São Miguel, tendo-se fixado em Vila Franca do Campo, onde foi médico municipal e da Misericórdia. Como presidente da Câmara promoveu diversos melhoramentos, de que se destacam o traçado da entrada poente da Vila, com a Avenida da Liberdade e o Jardim, o mercado de peixe, o cemitério e a primeira instalação da luz elétrica pública nos Açores.
Neste jardim, construído numa zona pedregosa destacam-se, entre muitas outras, as seguintes espécies: eucalipto-limão (Corymbia citriodora),  que ocorre naturalmente na Austrália, auracária (Araucaria heterophylla), espécie endémica da ilha de Norfolk, uma pequena ilha situada no oceano Pacífico, palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis), oriunda do arquipélago macaronésio das Canárias, dragoeiro (Dracaena draco), originária dos arquipélagos da Madeira e das Canárias, estrelícia gigante (Strelitzia nicolai), oriunda da África do Sul, lagestroemia (Lagerstroemia indica), nativa da China e da Índia, tulipeiro (Liriodendron tulipífera), da América do Norte.
Sob a presidência de José Estevam Pacheco de Melo, em 1992, através de um protocolo de cooperação com o Departamento de Biologia da Universidade dos Açores, a Câmara Municipal de Vila Franca do Campo procedeu à identificação das plantas existentes nos dois jardins já mencionados, tendo sido identificadas cerca de 60 espécies.
Hoje, passados tantos anos após a classificação das plantas, nos dois jardins, encontra-se de tudo um pouco, desde placas que já não têm a planta, possivelmente devido à morte desta, até várias plantas sem classificação ou que nunca terão sido identificadas, passando por placas onde os azulejos com a identificação já lá não se encontram. Para além do mencionado, há plantas em locais inapropriados e algumas podas mal executadas.
Está na hora da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo iniciar um trabalho com vista a colmatar todas as falhas existentes e de dar maior dignidade e algum destaque às plantas endémicas dos Açores.
Só com uma intervenção cuidadosa e feita por gente devidamente formada e sensível será possível fazer com que os jardins de Vila Franca do Campo se tornem em locais ainda mais aprazíveis de recreio e lazer, em espaços de preservação de espécies da flora de várias partes do mundo e em pontos de transmissão de conhecimentos tão importantes e mais atrativos do que as salas de aula.
                        Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 30363, 18 de Junho de 2014, p.16)

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