A PROPÓSITO DA BOMBA DE HIROSHIMA
“De
todas as alterações que os homens introduziram na natureza a fissão nuclear em
escala industrial é sem dúvida a mais perigosa e a mais profunda. Em
consequência disso, as radiações ionizantes tornaram-se o mais sério agente de
poluição do meio ambiente e a mais grave ameaça à sobrevivência do homem sobre
a Terra.” Schumacher, Small is Beautiful
A
6 de Agosto de 1945, a Alemanha já estava derrotada, a Itália já se havia
rendido e Hitler e Mussolini, já se encontravam no Inferno a pagar pelos seus
pecados. Apenas restava o Japão que ainda resistia, mas já estava de joelhos.
Pelas
8 horas e 15 minutos do mencionado dia um avião dos Estados Unidos lançou uma
“ogiva secreta de quase 20 quilos e potência equivalente a quase 20 mil
toneladas de TNT”. O resultado, segundo Ireneu Gomes, foi a morte de 78 150
pessoas só no primeiro segundo após a detonação da bomba, 13 983 desaparecidos
e 130 mil pessoas mortas, ao longo dos anos, vítimas da radiação.
Como
se este horror fosse pouco, três dias depois outra bomba foi lançada sobre a
cidade de Nagasaki, onde terão morrido cem mil pessoas.
Para
alguns autores, a derrota do Japão estava assegurada pelo que o lançamento das
duas bombas atómicas foi um crime contra a humanidade já que as principais
vítimas foram populações indefesas e não passou de uma demonstração de força para
todo o mundo e em especial para a União Soviética.
A
rendição do Japão foi o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da “guerra
fria”. Começou uma corrida louca aos armamentos, desde os ditos convencionais,
aos nucleares, passando pelos químicos, por parte das duas superpotências
imperialistas, os Estados Unidos da América e a União Soviética.
Hoje,
com a quantidade e a qualidade dos armamentos disponíveis, se algum dos
conflitos regionais se transformar numa guerra mundial as consequências para a
humanidade serão incalculáveis. Como muto bem escreveu Albert Einstein, que é
considerado um dos pais da bomba atómica e que se terá arrependido de ter
escrito uma carta, a 2 de Agosto de 1939, ao presidente dos Estados Unidos da
América, Franklin Roosevelt, onde mencionava a possibilidade da criação de um
novo tipo de bomba e sugeria os caminhos a serem seguidos: “Não sei que armas
serão empregadas numa Terceira Guerra Mundial. Mas tenho a certeza de que, se
houver uma Quarta Guerra Mundial, as armas serão paus e pedras”.
Nos
Açores, os jornais referiram-se ao evento, nos dias a seguir, tendo relatado o
ocorrido nas duas cidades japonesas e feito menção aos prodígios da energia
nuclear.
No
dia 9 de Agosto, o Correio dos Açores transcreveu uma notícia com origem em
Lisboa e datada do dia anterior, intitulada: “A bomba atómica lançada sobre
Hiroshima matou todos os seres vivos: homens e animais”. De acordo com a mesma
notícia o “segredo do novo invento “foi levado por “uma senhora que conseguiu
fugir da Alemanha para o campo aliado”.
Noutro
texto, publicado no Correio dos Açores, no mesmo dia, refere-se a revolução que
a descoberta da fissão nuclear trará para a humanidade. Assim, na altura,
acreditava-se que a invenção poderia “fazer mover, indefinidamente, toda a
espécie de veículos mecânicos, com uma quantidade diminuta de novos
combustíveis, e será o fim do petróleo e de todos os seus derivados, será o fim
das grandes fábricas que produzem energia” e resolveria “o problema das
comunicações interplanetárias”.
No
dia 16 de Agosto, o Correio dos Açores reproduz um texto publicado, em 1920,
pela revista portuguesa de engenharia “Eletricidade e Mecânica”. Neste, o
autor, para além de fazer uma descrição do átomo, hoje já ultrapassada, prevê a
utilização da energia atómica como substituta do carvão e refere as suas
possíveis utilizações.
A
dado passo do texto, o autor refere que Sir Oliver Lodge, numa comunicação na
Royal Society of Arts, em Londres, considerou que a energia atómica era tão
“rica de aplicações” que se congratulava pelo facto do homem ainda não a saber
utilizar. Segundo ele, a descoberta do modo como usar a energia atómica só
devia ocorrer quando o homem tivesse “a inteligência e a moralidade necessárias
para bem aplica-la, porque se esta descoberta for feita pelos maus, este
planeta tornar-se-á inabitável”.
Infelizmente,
a moralidade muitas vezes mete férias e a inteligência quando existe não é
usada.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, nº 30405, 6 de Agosto de 2014)
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