terça-feira, 6 de outubro de 2015

Ainda sobre livrarias e livros


Ainda sobre livrarias e livros

Em texto anterior, escrevi sobre algumas livrarias que sempre que posso costumo visitar e adquirir as novidades que muitas vezes não chegam aos Açores. Hoje, faço referência a outra, à Feira da Ladra e a alguns livros adquiridos este ano.
Uma livraria que vale a pena visitar é a Fonte das Letras, localizada em Évora. Com 15 anos de existência, a livraria que é generalista dedica uma atenção especial às pequenas editoras e possui um programa cultural ao longo do ano.
De entre as aquisições que fiz, destaco o boletim “O Gorgulho”, boletim informativo sobre biodiversidade agrícola da associação Colher para Semear, a separata nº 1 do Gorgulho, intitulada “Pierre Rabhi em Nome da Terra”, com uma seleção de textos de Pierre Rabhi, um agricultor francês que é “um dos pioneiros da agroecologia”, sendo um dos “grandes vultos que têm vindo a desbravar o terreno conducente a uma agricultura respeitadora dos princípios vitais de existência na Terra”.
Um livro, necessariamente polémico, que adquiri foi “Fátima, SA”; A beatice, contra a Fé de Jesus; O Dinheiro, contra Deus Abba-Mãe; A mítica deusa, contra Maria, a mãe de Jesus”, da autoria do controverso presbítero e jornalista Mário de Oliveira. O autor do livro é o conhecido e polémico Padre Mário da Macieira da Lixa que durante o Estado Novo foi duas vezes preso pela Pide, tendo sido acusado de subversão pelo Tribunal Plenário do Porto.
Outro livro que mais do que leitura deve ser de consulta obrigatória é o Dicionário no Feminino (séculos XIX e XX), com 900 páginas e 3000 entradas, editado pela Livros Horizonte, sob a coordenação de António Ferreira de Sousa, Ilda Soares de Abreu e Maria Emília Stone.
Como no melhor pano cai a nódoa, o historiador José Pacheco Pereira considera que o mesmo foi uma oportunidade perdida, tendo notado várias ausências injustificadas. Sobre esse assunto, transcreve-se abaixo um excerto de um texto da sua autoria:

“Na área que conheço melhor, a da política oposicionista, o “Dicionário” é pouco útil apesar do seu título genérico e enganador, e a intenção expressa de retratar o “emergir das mulheres na vida da sociedade”. Lá vem uma lista detalhada de entradas sobre congregações religiosas, organizações republicanas e maçónicas mas muito pouco sobre organizações políticas de mulheres depois de 1926. Onde está o Movimento Democrático das Mulheres e os seus percursores? Onde está a Associação Feminina Portuguesa para a Paz, cujas listas são usadas, mas que não tem entrada autónoma como organização? Onde está a Obra das Mães para a Educação Nacional, ou o Movimento Nacional Feminino?
Um local onde se pode adquirir livros em segunda mão a bom preço é a Feira de Ladra, a mais antiga feira da cidade de Lisboa, que se realiza à terça-feira e ao sábado.
Este ano, comprei o Dicionário de Mulheres Rebeldes, editado, em outubro de 2006, pela Ela por Ela, a primeira editora feminista portuguesa, fundada e dirigida por Ana Barradas que é também a autora do livro.
No mencionado livro há referência a quatro mulheres açorianas ou com ligações aos Açores: Alice Moderno, Ana Sara Brito, Clarisse Canha e Fátima Sequeira Dias.
Sobre Alice Moderno o livro refere que foi uma “senhora de uma grande cultura geral… notada pelos seus conhecimentos de mitologia grega, a Bíblia, a história de Portugal e a história da Rússia”. Também refere que “manteve correspondência com Tolstoi, foi professora, jornalista, escritora e diretora de um jornal local, A Folha”.
Em relação a Ana Sara Brito que foi enfermeira e professora de enfermagem o livro menciona que “entre 1963 e 1965 esteve na direção do Programa de Proteção Materno-Infantil dos Açores”.
Acerca de Clarisse Canha, Ana Barradas escreve que foi militante católica antes do 25 de abril de 1974 e que “é membro da direção nacional da UMAR e da delegação nos Açores”.
Sobre Fátima Sequeira Dias, através da leitura do livro fica-se a saber que era professora universitária, foi membro da UMAR e colaborava na Revista Açorianíssima com artigos sobre a condição feminina.
Tal como a própria autora escreve no prefácio, a seleção apresenta “lacunas evidentes” e no caso dos Açores, nota-se a ausência da professora Maria Evelina de Sousa, de Ponta Delgada, e de Ana Augusta de Castilho, natural de Angra do Heroísmo.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30751, 7 de outubro de 2015, p.17)

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