terça-feira, 19 de abril de 2016

Algumas histórias pouco conhecidas da PIDE


Algumas histórias pouco conhecidas da PIDE

De acordo com o livro “PIDE, a história da repressão”, editado pela Jornal do Fundão, Editora, em junho de 1974, um dos grandes suportes do Estado Novo foi a polícia política que assumiu, ao longo dos tempos, os seguintes nomes: Polícia Especial, Policia Internacional Portuguesa, Polícia de Defesa Política e Social, Polícia de Vigilância e Defesa do estado, Policia Internacional e de Defesa do Estado e Direção-geral de Segurança.

De acordo com a mesma fonte, desde que aquela organização foi criada, para manter o regime ditatorial, mais de 200 mil pessoas colaboraram com as suas atividades, desde os inspetores, passando pelos simples funcionários administrativos e acabando nos informadores.

Para além da feroz perseguição às pessoas que tinham alguma intervenção cívica e política com ligações à oposição, a polícia política também chegou a ameaçar e a prender pessoas que de algum modo estavam ligadas ao regime em todo o território nacional.

Neste texto, apresentarei alguns exemplos ocorridos nos Açores ou com açorianos que demonstram a arbitrariedade da atuação da polícia política que perseguia, sem atender a idades e a opções políticas. Nalguns casos, omitirei os nomes, só referindo os mesmos quando os factos, de alguma forma, já tenham tido divulgação, quer na comunicação social, quer em livros.

Um jovem açoriano, com idade de 17 ou 18 anos, da ilha Terceira, que se envolveu no movimento associativo estudantil e em organizações oposicionistas viu a sua correspondência com os seus familiares ser violada e apreendida pela polícia política. Só teve conhecimento do facto, depois do 25 de abril, quando pediu para consultar o seu processo na PIDE/DGS.

Muitos outros poderão estar na mesma situação, mas para o saberem terão de solicitar autorização para consultar os seus processos.

Num concelho da ilha de São Miguel, um membro do partido que apoiava a ditadura, a ANP- Ação Nacional Popular, organização que sucedeu à União Nacional, acusou, não sabemos se com fundamento ou não, o presidente da Câmara Municipal de utilizar trabalhadores camarários na construção da sua casa. Foi obrigado a comparecer na PIDE por diversas vezes, onde foi alvo de vários interrogatórios.

Um dos poucos oposicionistas ao Estado Novo, nos Açores, foi o senhor António Guilherme Francisco, que foi cabo de mar e depois comerciante e industrial em Vila Franca do Campo.Tal como aconteceu com outros oposicionistas também foi perseguido pelo Estado Novo, nem sempre por razões políticas. O que lhe aconteceu, numa das vezes, está bem descrito no seguinte extrato publicado no livro “História dos Açores 1935-1974”, do Dr. Carlos Melo Bento:

“António Guilherme Francisco foi vítima de denúncias feitas por encomenda de rivais comerciais e sem mais nem menos a PIDE foi, um dia, algures em 1939, busca-lo a casa remetendo-o para o Forte de Angra do Heroísmo, onde um tribunal militar sumariamente o condenou a alguns anos de prisão. Mercê dos seus contactos junto da Seara Nova e da República, conseguiu que o seu caso fosse revisto e posteriormente considerado sem fundamento, pelo que o libertaram após uma detenção de 15 a 18 meses.”

Termino, apresentando o caso da prisão, pela PIDE, do Dr. Luís Bernardo Leite Ataíde e do filho, pertencentes a “uma família inquestionavelmente conservadora”, tão bem descrita, pelo Dr. Augusto de Ataíde, no livro “Percurso Solitário”.

De acordo com o autor referido, a prisão do pai e do avô deveu-se a um artigo publicado no Correio dos Açores “com criticas mal disfarçadas a prepotências das autoridades” e a outro tão bem exposto no extrato seguinte:

“ O Governador Civil tinha uma amante cuja família explorava um negócio ao qual o Correio dos Açores, na mesma linha desbocada, teceu críticas duras e, aparentemente, fundadas. Foi demais. A amante em fúria e prantos exigiu desforra! Acusados, pai e filho, da prática de delito antieconómico numa venda de chá, foram presos, sem mais conversas e com base num telegrama em que o segundo dizia ao primeiro que parecia possível negociar um bom preço junto de um comprador lisboeta... Foi o que bastou ao Governador, amante ofendido e dedicado: a referência a um «bom preço» era inquestionável prova de especulação...”

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 30915, 20 de abril de 2016, p.15)
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