quarta-feira, 13 de julho de 2016

António Sérgio e a autonomia nas escolas


António Sérgio e a autonomia nas escolas


Um dos últimos textos publicados neste jornal foi dedicado ao pedagogo António Sérgio que tal como Álvaro Viana de Lemos, Adolfo Lima e Faria de Vasconcelos foi um dos pilares da Educação Nova no nosso país.

Neste texto, numa primeira parte faremos menção a algumas medidas tomadas por António Sérgio enquanto ministro e depois abordaremos, muito superficialmente, algumas das suas ideias sobre a escola e o ensino.

Apesar de algumas ideias geniais que, ainda hoje, com as devidas adaptações mantêm atualidade, foram integradas ou são seguidas por algumas correntes ou experiências pedagógicas, algumas medidas implementadas ou propostas por António Sérgio, na sua qualidade de ministro, foram fortemente contestadas pelos professores.

De entre as medidas que ele tomou, destacamos a extinção das escolas primárias superiores que sofreu forte contestação pelos professores daqueles estabelecimentos de ensino que se sentiram ofendidos e que o atacaram, usando, mesmo, argumentos que ponham em causa a sua pessoa. A exemplificar o referido, abaixo apresenta-se um extrato de um editorial do jornal “O Ensino do Povo”, transcrito por António Nóvoa, num texto publicado no número 3 da revista Portuguesa de Educação, editada, em 1988, pela Universidade do Minho:

“Até hoje, e já lá vai um ano e tanto, ainda o sr. Sérgio da Seara Nova se não lembrou de provar a acusação com que prendeu manchar uma classe inteira. Isto, quanto à competência científica. Quanto à competência moral, já ninguém ignora que, por ocasião do advento da República, sendo S. Exª oficial da marinha, pediu a demissão desse cargo para não servir o novo regímen. Contudo não lhe causou engulhos exercer, na mesma República, o cargo de ministro, alguns anos depois”.

Outra medida tentada por mais de uma vez durante a Primeira República foi a da descentralização do ensino. Tal como as tentativas anteriores, a de António Sérgio foi fortemente criticada, segundo António Nóvoa, porque os professores não queriam por um lado ser empregados camarários e por outro receavam “receber ordens de quem sabe menos”.

Hoje, qualquer tentativa de passar a gestão do pessoal docente para as autarquias seria fortemente repudiada pelos professores e quase de certeza pelos mesmos motivos.

António Sérgio distingue claramente instrução e educação, tendo afirmado que “ler, escrever e contar são instrumentos de cultura, mas não a própria cultura”. Segundo, Carlos Fino, num texto intitulado António Sérgio e o self government” publicado, em 1997, na revista “Arquipélago –Perspectivas e Debates”, para António Sérgio “educação consiste em formação, e firmeza crescente no saber fazer e no saber procurar”.

António Sérgio defendeu uma escola muito diferente das tradicionais, onde deveriam acabar os métodos passivos de ensinar e onde os alunos, à medida que fossem avançando na sua escolaridade, fossem assumindo cada vez maiores responsabilidades através da participação na direção da vida escolar.

Qual seria, então o papel do professor?

Para Sérgio “o professor ensinará pois os estudantes a governarem-se a si mesmos, criando leis justas e sensatas e sobretudo executando-as e fazendo-as executar”.

Segundo Carlos Fino, o papel do professor na escola idealizada por António Sérgio seria: “a) dirigir idoneamente as operações; b) elidir as suas falhas; c) consagrar tempo, atenção e interesse verdadeiro ao projeto educativo e d) assegurar que os alunos cidadãos tenham a maior responsabilidade possível para que tirem da autonomia que se lhes dá o maior valor educativo”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30983, 13 de julho de 2016, p. 13)

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