terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Joaquim de Araújo, Alice Moderno e Antero de Quental



Joaquim de Araújo, Alice Moderno e Antero de Quental

Joaquim António Araújo e Castro nasceu, em Penafiel, no dia 16 de julho de 1858 e faleceu na Casa de Saúde do Telhal, em Lisboa, a 11 de maio de 1917.

Joaquim de Araújo foi Cônsul de Portugal em Génova, onde exerceu uma atividade cultural de relevo a nível internacional, tendo divulgado em vários países os maiores escritores portugueses, como o Padre António Vieira, Luís de Camões, João de Deus, Almeida Garrett, Eça de Queirós e Antero de Quental.

Joaquim de Araújo que, de acordo com Xavier Coutinho, foi um “bibliógrafo, bibliófilo e escritor benemérito” esteve de algum modo ligado aos Açores, através de Alice Moderno e de Antero de Quental.

No que diz respeito a Alice Moderno, Joaquim de Araújo manteve com ela correspondência e foi seu noivo, tendo estado na ilha de São Miguel, de outubro a dezembro de 1893.

De acordo com Ana Maria Almeida Martins, foi Joaquim de Araújo que pediu a Luís de Magalhães, o organizador do livro “Antero de Quental- In Memoriam” que incluísse um texto de Alice Moderno, alegando que “ela pertencia à melhor sociedade micaelense, era amiga da família Quental e carteara-se com Antero”, omitindo a principal razão, o seu noivado com aquela.

Com pequenas inexatidões o contributo de Joaquim de Araújo para o referido livro intitulado “Ensaio de Bibliografia Anteriana” foi, segundo Ana Martins, “um extraordinário trabalho de investigação” e um “subsídio indispensável para o estudo da vida e obra de Antero”.

Antero de Quental, desde muito cedo, conviveu com Joaquim de Araújo, tendo, segundo este, sido uma das pessoas que o confortou aquando da morte do pai, como se pode ler numa das cartas dirigidas a Alice Moderno: “Foi ele que me acompanhou na noite da morte de meu Pai, beijando as minhas lágrimas como ninguém as beijará mais.”

Ainda sobre a forte ligação entre os dois, pode ler-se numa carta de Joaquim de Araújo a Teófilo Braga: “…nunca pedi dinheiro emprestado a ninguém senão a Antero, que me emprestou três libras quando eu precisava apenas de duas.”

A notícia da morte de Antero para além de surpreender vários dos seus amigos, deixou alguns deles bastante abalados, como foi o caso de Joaquim de Araújo que em carta a Alice Moderno escreveu:

“Quando Antero morreu, eu fiquei numa exasperação extraordinária. Estava eu num hotel no Porto com o J. Dias Ferreira, nessa ocasião; e deixei-o abruptamente. Lembro-me que assobiava ao sair do hotel. Fui à minha pobre casa, de que te falei já. Eu tive sempre um grande espírito económico. Tinha 15 ou 16 libras. Tomei-as e segui num dos comboios: fui a Braga, a Amarante, a Penafiel, a Guimarães. Como a morte do meu grande amigo chocara em toda a parte, todos me falavam do Augusto suicida. Eu fugia. Cheguei a casa quatro dias depois.”

No seu testamento feito em Itália, datado de 24 de agosto de 1903, Joaquim de Araújo voltou a mostrar a sua ligação a Antero. Assim, entre os legatários figuraram Teófilo Braga e Ana Quental, irmã de Antero de Quental.

A Teófilo Braga, Joaquim de Araújo deixou “seis volumes dos mais preciosos” que possuía, sendo os restantes para a Biblioteca de São Marcos de Veneza, ficando Ana Quental com todos os seus objetos de prata.

Teófilo Soares de Braga
(Correio dos Açores, 31120, 4 de janeiro de 2017, p. 16)

1 comentário:

Margarida Bico disse...

Em Dezembro de 2011, estive nos Açores e visitei o dragoeiro existente na Escola Secundária Antero de Quental, em Ponta Delgada, provavelmente o mais antigo de Portugal e do tempo do Paço dos antigos Capitães do Donatário da Ilha.

Na escola, tive conhecimento de que, ao lado deste, coexistira um outro de igual porte e antiguidade, que foi abatido para construção de um apoio para o desporto escolar, o que me chocou sobremaneira.

Terá Ernesto Gois visto os dois dragoeiros e pela copa única julgou estar na presença de apenas uma árvore? (esta impressão repetiu-se comigo em dois casos em que dois dragoeiros centenários que cresceram lado a lado, me pareceram um só).

Em 2012, pedi a classificação deste dragoeiro como árvore de interesse público, na boa fé de que o conseguiria, à semelhança de outros dragoeiros centenários da região de Lisboa, onde num passado recente obtivera a mesma classificação. Mas a lei entretanto mudou, tornando-se mais exigente, e o compasso de espera gerado anulou os pedido que formulara, entre eles, o do dragoeiro dos Açores.

Siga um conselho meu, não espere que alguém peça a classificação do dragoeiro de Ponta Delgada como árvore de interesse público. Tenha a iniciativa de o solicitar, pois apesar de lei ser agora mais exigente, esta é uma causa que merece a pena e só alguém a residir nos Açores pode reunir a documentação necessária.