quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Oliveira San- Bento, Antero de Quental e o socialismo



Oliveira San- Bento, Antero de Quental e o socialismo

José de Oliveira San-Bento foi um advogado natural da Ribeira Grande que se distinguiu como poeta, jornalista e ativista político. Com o fim da Primeira República aderiu ao Estado Novo, tendo antes sido membro do Partido Republicano Português e do Partido Socialista Português.

Enquanto filiado no Partido Socialista Português, colaborou no seu órgão central, o jornal “O Combate”. O jornal “O Protesto”, órgão e propriedade do Centro Socialista “Antero de Quental”, de Ponta Delgada, dirigido por Augusto César, transcreveu o poema “Bandeira Vermelha” que foi publicado no referido jornal partidário e que damos a conhecer aos leitores do Correio dos Açores:

Bandeira Vermelha
AO POVO
Ei-los que passam, com a fronte erguida,
Carro do triunfo, os vencedores:
E vivem lautamente toda a vida
E as mulheres atiram-lhes flores!

E passam os vencidos, em seguida,
Os escravos, joguetes dos senhores;
Pisam-nos os cavalos de corrida,
São a rapina, os outros os condutores!

Na vida não há pobres, há vencidos!
Sois o número, a força, e só defronte
Estão tiranos sobre vós subidos…

Vencidos que passais, erguei a fronte,
Altivos, revoltados, redimidos:
Vai rasgar-se p’ra vós novo horizonte!...

Algum tempo depois, “O Protesto” voltou a referir-se a José Oliveira San-Bento e a transcrever um soneto, incluído no seu livro “Poema do Atlântico”, com o qual o autor “concorreu ao prémio da Liga Micaelense d’Instrução Pública, “Jácome Correia”, obtendo-o assim mais uma vez”. Aqui o reproduzimos:

ANTERO DO QUENTAL

Vou, muita vez, à tarde, ao cemitério
A ver esse gigante onde repoisa:
E as violetas, cheias de Mistério,
Falam-me dele, sobre a sua loisa…

Ouço-as, atento e triste… e a cada coisa
Que elas me dizem, vejo um vulto aéreo
Vaguear, por entre as campas onde poisa…
Depois, desfaz-se, como um sonho etéreo!

E a alma do Poeta, toda Graça,
Suavemente, num sereno adejo,
Se esvai em Cor e some-se nas flores…

Murmura um nome a brisa que perpassa,
Chamando Antero… e, ao ouvi-lo, ei vejo
Crescer, subir a terra dos Açores!
Cemitério de São Joaquim – Ponta Delgada, novembro de 1917
Quando escreveu este texto, Oliveira San-Bento já se havia desvinculado do Partido Socialista Português. Com efeito, na nota do jornal “O Protesto”, o autor refere-se a ele como “prezado amigo e ex-camarada” e, sem rancor, congratula-se “ com a distinção concedida” e acrescenta o seguinte: “com pesar nosso, desertou das fileiras do P.S.P. onde estava filiado, para o “Integralismo Lusitano”, pesar porque sempre nele reconhecemos testemunhos de boa amizade, sinceridade e provas de lúcida inteligência e talento”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31156, 15 de fevereiro de 2017, p.14)
http://oliveirasan-bento.ulusofona.pt/

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