terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

António Manuel Arruda


António Manuel Arruda


No dia 3 de dezembro de 1994, faleceu no Hospital de São José, em Ponta Delgada, António Manuel Arruda. Natural das Furnas, onde nasceu a 27 de fevereiro de 1943, era filho de Manuel José Arruda e de Maria dos Anjos Palhinha Arruda.

António Arruda, depois de ter feito a escola primária na sua freguesia natal e de ter frequentado o Seminário Maior de Angra do Heroísmo, concluiu os seus estudos na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

Depois de concluir a licenciatura, voltou aos Açores, tendo lecionado, entre outras, a disciplina de economia, na Escola Secundária Antero de Quental e na Escola Secundária Domingos Rebelo.

Participou na campanha eleitoral da oposição ao Estado Novo, em 1969, numa altura em que frequentava o segundo ano de Direito em Coimbra, não tendo figurado na lista que se submeteu à votação dos eleitores por não se encontrar recenseado. De qualquer modo o seu contributo para o movimento oposicionista foi fulcral, pois apesar das obstruções criadas pelas autoridades da Povoação, fiéis ao regime no poder, as Furnas contribuíram com 13 eleitores, num total de 54 que constituíram a Comissão Eleitoral Democrática de Ponta Delgada, o que corresponde a quase um quarto dos membros daquela comissão que era liderada por João Silvestre, Jorge Lopes e Manuel Barbosa.

De destacar, ainda, a mobilização conseguida para uma sessão de esclarecimento, realizada nas Furnas que, apesar do mau tempo e das dificuldades criadas, nomeadamente na cedência de um espaço, pela empresa dona do Cine Vale-Formoso e pela direção da Filarmónica local, acabou por se realizar numa barraca desmontável. Segundo o Dr. Manuel Barbosa, uma das pessoas que escreveu sobre a campanha eleitoral de 1969, apesar da intempérie “à hora marcada, começaram a afluir ao local dezenas de furnenses, para assistirem ao encontro, bem como dois agentes da PIDE, que se colocaram em ambos os lados do recinto”.

António Arruda foi também membro da Cooperativa Sextante, tendo sido representante da mesma numa reunião realizada em Coimbra. A Sextante que chegou a ter delegações na Ribeira Grande e em Angra do Heroísmo, foi fundada nos finais de 1970 por Eduardo Pontes, Jorge Lopes e Manuel Barbosa e terá fechado as portas, nos fins de 1972, por ordem do Conselho Superior de Segurança Pública. Em Angra do Heroísmo, um dos grandes dinamizadores da cooperativa foi o Padre Manuel António Pimentel, também, natural das Furnas.

De acordo com o suplemento do jornal “A Vila”, “Roncos do Vulcão”, de 22 de dezembro de 1994, António Arruda foi membro do Partido Socialista e grande admirador de Antero de Quental, tendo sido um “grande opositor do chamado “Cavaquismo” e da política preconizada pelo Dr. Mota Amaral para os Açores”.

António Arruda, colaborou na página literária do jornal “Açores”, quando este era diário, numa altura em que também faziam parte da equipa de colaboradores o jornalista Mário Mesquita que também esteve ligado à chamada Oposição Democrática, tendo colaborado com a CDE de Ponta Delgada nas campanhas eleitorais de 1969 e de 1973, e Jaime Gama, professor, jornalista e politico que durante o Estado Novo foi membro da Ação Socialista Portuguesa, tendo sido um dos fundadores do Partido Socialista, em 1973.

De acordo com uma nota publicada no jornal “Açoriano Oriental”, no dia 7 de dezembro de 1994, “o passamento do dr. António Manuel Arruda deixou pesar em quantos o conheciam e estimavam, graças ao seu espírito controverso e irreverente, servido por uma vasta cultura e grande apetência para as questões culturais”.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31168, 1 de março de 2016, p.14)

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