terça-feira, 20 de novembro de 2018
ALICE MODENO E MARIA EVELINA DE SOUSA HOMENAGEADAS EM LISBOA
ALICE MODENO E MARIA EVELINA DE SOUSA HOMENAGEADAS EM LISBOA
Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa foram duas mulheres que se distinguiram no seu tempo, tendo o seu trabalho em diversas áreas sido reconhecido não só no arquipélago como fora dele.
Se sobre Alice Moderno há várias obras publicadas, com destaque para três livros da Professora Doutora Maria da Conceição Vilhena, a vida e a obra de Maria Evelina de Sousa está muito longe de ser conhecida, entre nós açorianos.
Injustamente ignorada ou vista como uma “ajudante” de Alice Moderno Maria Evelina de Sousa teve um pensamento próprio e uma intervenção inovadora na área da educação, sendo de destacar a sua Revista Pedagógica que já serviu de tema a uma desse de mestrado de Isolina Júlia dos Reis e Reis de Medeiros, intitulada “Revista Pedagógica (1906-1916). A modernidade do Pensamento Pedagógico em São Miguel nos Inícios do Século XX”, que merece uma leitura atenta.
No texto de hoje, damos a conhecer dois eventos, ocorridos em Lisboa, em que as duas açorianas foram homenageadas. Assim, Alice Moderno, açoriana pelo coração, já que nasceu em Paris, e Maria Evelina de Sousa, natural de Ponta Delgada, foram alvo de reconhecimento público, em agosto de 1912, na sede da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e em maio de 1924, por ocasião do 1º Congresso Feminista e de Educação que se realizou de 4 a 9 de maio.
A primeira homenagem referida foi amplamente noticiada pela imprensa lisboeta, tendo “O Mundo”, dirigido por França Borges, publicado uma notícia no próprio dia e no dia a seguir ao evento. Na nota publicada, no dia 10 de agosto, dia da homenagem, podemos ler o seguinte: “É hoje, como noticiamos, que se realiza na sede da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas uma sessão de homenagem às distintas escritoras D. Maria Evelina de Sousa e D. Alice Moderno, a última das quais é sobretudo uma notável poetiza…”
A segunda, como já afirmámos ocorreu no 1º Congresso Feminista e de Educação, na sequência da intervenção de Tito de Sousa Larcher que mencionou o facto de que nos Açores, de acordo com os dados estatísticos, havia mais mulheres do que homens a saber ler. Aquele ilustre cidadão nascido em Braga, mas que se distinguiu pelo seu trabalho em Leiria, onde doou à Biblioteca e Arquivo Distrital cerca de 3200 obras, propôs “um voto de saudação às mulheres açoreanas que, no meu entender, deve partir da mesa, dada a alta categoria social do seu presidente.”
A congressista Judith Rocha associou-se às palavras de Tito Larcher e recordou os nomes de Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa. A sua intervenção, transcrita no livro “O Primeiro Congresso Feminista e de Educação (Relatório)” da autoria de Arnaldo Brazão, publicado pelas Edições Spartacus, em 1925, foi a seguinte:
“A propósito das considerações do Sr. Titi de Sousa Larcher, das quais se vê que a mulher açoreana é menos analfabeta que o homem, eu quero lembrar o nome de duas propagandistas do feminismo e da educação da mulher nos Açores, as senhoras D. Alice Moderno e D. Maria Evelina de Sousa, e apresento a seguinte proposta de aditamento à do Sr. Tito Larcher:
Proponho que dessa saudação proposta à mulher açoreana se destaquem os nomes das dedicadas propagandistas da instrução e das reivindicações feministas a professora D. Maria Evelina de Sousa e a poetisa D. Alice Moderno.”
A saudação não só foi aprovada como o presidente da mesa, Bernardino Machado, que foi presidente da República Portuguesa por duas vezes, de 6 de agosto de 1915 a 5 de dezembro de 1917 e de 1925 até ser destituído pelo golpe militar de 26 de maio de 1926, a propósito da mesma, afirmado o seguinte:
“Associo-me com todo o prazer ao aditamento apresentado pela ilustre congressista Srª D. Judith Rocha, saudando as Sras. D. Alice Moderno e D. Maria Evelina de Sousa.”
Teófilo Braga
Pico da Pedra, 20 de novembro de 2018
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