quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Manuel Medeiros Cabral (1)



Manuel Medeiros Cabral (1)

Manuel de Medeiros Cabral, natural da freguesia de São José, concelho de Ponta Delgada, nasceu a 19 de fevereiro de 1884 e faleceu a 22 de junho de 1956.

Profissionalmente, Manuel de Medeiros Cabral terá começado por ser carpinteiro/marceneiro e mais tarde teve uma oficina de carpintaria e uma agência funerária. Sobre a profissão de Manuel Cabral, um documento de identificação datado de 1979 refere que foi “industrial de carpintaria e agente funerário”.

Manuel Cabral residiu na Rua da Vila Nova de Baixo, nº 13, e possuía a Agência Funerária localizada na rua Manuel da Ponte, no prédio pertencente a Alice Moderno, mesmo ao lado do escritório daquela escritora, mulher de negócios e protetora dos animais.

Durante algum tempo, a Agência Funerária localizou-se na Travessa de Santa Bárbara e a oficina de carpintaria na rua Manuel da Ponte, nº 38. Antes de se estabelecer por conta própria Manuel de Medeiros Cabral chegou a prestar serviços de marcenaria, nomeadamente a restaurar imagens, a um senhor Manuel António que foi o primeiro preparador do Museu Carlos Machado.

O nome de Manuel Medeiros Cabral está associado à história da Banda “Rival da Musas, filarmónica fundada em Ponta Delgada, em 1871. Joaquim Maria Cabral no seu livro “Filarmónicas da Ilha de São Miguel” refere-se à sua dedicação à banda de música do seguinte modo:

“…Por entre muitas dificuldades assegurou-lhe a existência o recém-falecido proprietário duma Agência Funerária, sr. Manuel de Medeiros Cabral.
Incontestáveis foram, todavia, os seus esforços abnegados para reconduzir a “Rival das Musas” ao seu antigo prestígio!
Não os viu, porém, frutificados!... Consta mesmo, no público, que os seus dias se abreviaram com os desgostos que ela lhe causou!...”
Manuel Medeiros Cabral foi um dos subscritores dos estatutos da Associação de Classe dos Operários Tipógrafos e Artes Correlativas de Ponta Delgada, criada em 1912. Foi relator dos Estatutos, outro dirigente operário micaelense, Francisco Soares Silva que na altura era diretor do jornal “Vida Nova” e que em 1911 presidia à Federação Operária.

De acordo com os seus estatutos, Associação de Classe dos Operários Tipógrafos e Artes Correlativas de Ponta Delgada tinha por fins o estudo e a defesa dos interesses económicos e comuns dos seus associados, através da criação de escolas e gabinetes de leitura, da promoção de conferências e outras reuniões educativas e da instrução profissional dos seus membros.

Em 1922, Manuel Medeiros Cabral e Francisco Soares Silva voltaram a estar juntos na criação de outra organização, a Associação de Classe dos Operários e Artes Correlativas de Ponta Delgada., curiosamente com os mesmos fins.

Em 1926, Manuel Medeiros Cabral continuava ligado ao associativismo operário, sendo presidente das Associações das Classes Operárias e a 15 de março daquele ano passa a figurar como administrador do jornal “O Estandarte” que era o órgão dos obreiros micaelenses. Este jornal que começou a ser publicado a 1 de março de 1926, com sede na Federação Operária, na 2ª Travessa dos Mártires da Pátria, 13-D, terá durado até 31 de maio de 1927, desconhecendo-se as razões do seu fim: dificuldades financeiras ou outras dos seus promotores ou mandado encerrar pela ditadura militar?

Tendo em conta a orientação do jornal que nas suas páginas transcrevia textos do jornal “A Batalha”, ligado à CGT- Confederação Geral do Trabalho, de orientação anarquista, e o facto do mesmo ter sido encerrado pela ditadura militar no dia 26 de maio de 1927, tudo leva a crer que “O Estandarte” terá tido a mesma sorte, já que o último número a que tivemos acesso, o 31, é de 31 de maio daquele ano.

No próximo número daremos a conhecer um pouco mais da vida de Manuel Medeiros Cabral, nomeadamente a sua intervenção no “Estandarte”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31774, 20 de novembro de 2019, p.14)

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