quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Jane e Alfredo Bensaúde e a educação


Jane e Alfredo Bensaúde e a educação

Jane Bensaúde, que nasceu em Paris em 1862 e faleceu em Ponta Delgada em 1938, foi casada com Alfredo Bensaúde, que nasceu em Ponta Delgada em 1835 e faleceu na mesma cidade em 1922.

Jane Bensaúde foi escritora de livros para a infância e autora de vários manuais didáticos, adotados para as Escolas Primárias. Um dos seus livros, o “Método Simultâneo de Escrita e Leitura”, publicado em 1930, foi alvo de uma longa referência por parte do pedagogo Adolfo Lima, na Enciclopédia Pedagógica Progredior.

De acordo com um texto publicado no Dicionário de Educadores Portugueses, obra dirigida por António Nóvoa, Jane Bensaúde defendia o seguinte:

“As crianças aprendem mais facilmente a escrever do que a ler. Reter símbolos gráficos convencionais, a que correspondem símbolos orais igualmente arbitrários, é um trabalho árido, puramente de memória, que em nada pode interessar uma criança. Não acontece o mesmo com a aprendizagem da escrita, que é uma forma especial de desenho. Toda a criança normal manifesta desde muito cedo a tendência para desenhar; aproveitando-se convenientemente esse desejo, ela é conduzida por este método, não só a traçar as letras do alfabeto, mas subsidiariamente, a reconhecê-las e a compor palavras com elas”.

Jane Bensaúde colaborou com a revista “Os Açores” tendo publicado no número de março de 1928 o conto “O gato maltês”, ilustrado por Domingos Rebelo.

Alfredo Bensaúde, filho do abastado industrial José Bensaúde, depois de estudar em Ponta Delgada, a conselho do poeta Antero de Quental, aos 16 anos foi estudar para a Alemanha, onde concluiu, em 1879, o curso de engenheiro de minas, na Escola de Clausthal e, em 1881, o seu doutoramento na Universidade de Göttingen.

Apesar das oportunidades que teve para ficar na Alemanha a trabalhar, decidiu regressar a Portugal, onde a partir de 1885 passou a exercer a função de professor no Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.

Alfredo Bensaúde que repudiou o tipo de ensino que era praticado em Ponta Delgada que classificou de “verbalista e mnemónico”, segundo Carlos Enes, num texto publicado no já referido Dicionário de Educadores Portugueses, não aceitou o que era praticado em Lisboa, tendo introduzido “as novas pedagogias de um ensino técnico virado para a prática e a experiência, improvisando alguns aparelhos e custeando as despesas para a aquisição de materiais.”

A grande obra de Alfredo Bensaúde, ninguém tem dúvidas, foi a criação do prestigiado Instituto Superior Técnico, de que foi diretor desde a sua fundação em 1911 até 1920 e a reforma do ensino da Engenharia em Portugal.

Como pedagogo, Alfredo Bensaúde, defendeu, o ensino prático e a Educação Física que deveria começar no seio das famílias, hoje importantíssima num país onde a obesidade é grande entre os mais jovens que vivem obcecados pelos jogos de computadores. Também considerou “a aspiração à independência pelo próprio esforço” como “um elemento moral de mais valia para o êxito na vida”, o que ainda hoje é sobrevalorizada pelos docentes e sobretudo pelos pais que muitas vezes não se preocupam com a formação integral dos seus filhos, mas apenas com os resultados académicos (as classificações) dos mesmos.

Das obras de Alfredo Bensaúde, merecem uma leitura para melhor conhecermos o seu pensamento, a biografia de seu pai e a sociedade micaelense, as “Notas histórico-pedagógicas sobre o Instituto Superior Técnico”, publicação de 1922 e o livro “Vida de José Bensaúde”, editado em 1936.

Termino, este meu texto, com uma curiosidade: Alfredo Bensaúde foi um exímio construtor de instrumentos de arco, nomeadamente violinos. Esta sua paixão iniciou-se em 1875, ano em que interrompeu os estudos para aprender na oficina do construtor de violinos dinamarquês Jacob Eritzoe.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 11 de dezembro de 2019, p. 9)

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