terça-feira, 29 de outubro de 2024

Jacarandá

 


Jacarandá

 

O jacarandá (Jacaranda mimosifolia), pertencente à família Bignoniaceae, é uma árvore de folha caduca e de crescimento médio a rápido, oriunda da América do Sul (Argentina, Bolívia e Brasil).

 

De acordo com Saraiva (2020), “Jacaranda, deriva do nome nativo brasileiro (que em guarani significa madeira dura”. Mimosifolia, do latim, significa -com folhas semelhantes às de uma mimosa.”

 

O jacarandá, ainda de acordo com o autor citado acima, foi introduzido em Portugal, entre 1811 e 1828, pelo botânico português Félix de Avelar Brotero, quando o mesmo era diretor do Jardim Botânico da Ajuda.

 

Tal como a maioria das plantas ornamentais, é possível que o jacarandá tenha chegado aos Açores no século XIX, pela mão de algum dos membros da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, sendo o maior entusiasta e o que mais espécies introduziu José do Canto.

 

Num catálogo das plantas existentes no seu jardim de Ponta Delgada, em 1856, José do Canto enumera três espécies do género Jacaranda, entre as quais a mimosifolia. Numa publicação posterior, José do Canto refere que entre maio de 1865 e setembro de 1867, foram plantadas algumas espécies do referido género.

 

No que diz respeito ao “grande rival” de José do Canto, António Borges, sabe-se que no jardim de Ponta Delgada existiam, em 1865, várias espécies de jacarandá, entre as quais, a mimosifolia.

 

Na atualidade, na ilha da São Miguel é possível encontrar jacarandás em vários espaços ajardinados e em quintais de algumas residências. De entre os locais onde é possível observar jacarandás, destacamos os seguintes: Jardim Padre Sena Freitas, Recreio da Escola Secundária das Laranjeiras, Rua de São Paulo e Rua Maria José Borges, no Jardim António Borges, em Ponta Delgada.

 

Digna de uma visita é a cidade do Funchal, onde os jacarandás dão o ar da sua graça às avenidas Arriaga e do Infante, entre outros locais, como por exemplo o Jardim Municipal do Funchal, a Rua João de Deus, o Parque de Santa Catarina, a Quinta Jardins do Lago e o Jardim de Santa Luzia.

 

O jacarandá, que em média atinge 12 m de altura, apresenta uma longevidade que vai dos 60 a100 anos.

 

O jacarandá apresenta um tronco pequeno, com casca escura. As folhas são compostas, bipinuladas, com cerca de 16 pares de pinas, cada uma com 25 a 30 pares de folíolos pequenos. As flores do jacarandá, que surgem nos meses de maio, junho e julho, reúnem-se em panículas piramidais e apresentam uma coloração lilás azulada. O fruto que permanece muito tempo na planta é uma cápsula lenhosa de forma elipsoide.

 

A madeira do jacarandá, de cor creme, é compacta e duradoira e emite um aroma agradável, sendo muito apreciada e usada em carpintaria e marcenaria e na construção de instrumentos musicais. Os seus frutos são usados com fins decorativos.

 

É muito fácil, a propagação do jacarandá por sementes, que devem ser postas na terra logo após a frutificação, mas também é possível, embora não seja fácil, por estacas de madeira macia.

 

30 de outubro de 2024

 

T. Braga

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Virusaperiódico (46)

 




Virusaperiódico (46)

 

No dia 25, estive quase todo o tempo em repouso, à espera de que a constipação (?) se fosse embora. Acabei a leitura do “«Vendaval de Utopias»” os Católicos da Revolução e o PCP”, de Edgar Silva. Como não podia ficar parado, comecei a ler o “romance utópico” de William Morris, “Notícias de Lugar Nenhum”.

 

No dia 26, participei numa homenagem a António Borges Coutinho que se realizou na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Apesar de não estar em forma, aguentei até ao fim. Valeu a pena!

 

Comecei o dia 27 a investigar como é feito o amadurecimento forçado das bananas e cheguei à conclusão de que no passado usavam o gás acetileno (etino) que se obtinha a partir de "pedras" de carbureto ou carbeto de cálcio. Hoje, usa-se o etileno. A literatura diz que assim elas ficam mais doces, os consumidores que conheço dizem que não.

 

Ao investigar sobre as plantas fiquei a conhecer que Puta é uma deusa menor romana que preside à poda das árvores. Será por isso que as podas deixam muito a desejar?

 

O dia 28 foi destinado ao convívio, primeiro com uma pessoa amiga e depois com a família. Durante o passeio matinal com os cães observei em vários postes de eletricidade que alguém oferecia um prémio de 500 euros para quem encontrasse um gato.

 

27de outubro de 2024

ANTÓNIO BORGES COUTINHO: COOPERATIVISMO, ANTÓNIO SÉRGIO E AGOSTINHO DA SILVA

 


ANTÓNIO BORGES COUTINHO: COOPERATIVISMO, ANTÓNIO SÉRGIO E AGOSTINHO DA SILVA

 

Estou aqui porque partilho com ABC a minha admiração por António Sérgio, por Agostinho da Silva e por Tolstói, a solidariedade para com os mais desprotegidos e o combate pela liberdade.

Dado o tempo limitado que disponho vou apenas relembrar a relação de amizade de António Borges Coutinho com Agostinho da Silva, a sua opção pelo cooperativismo, paixão de António Sérgio, bem como o seu apoio ao movimento cooperativo através do jornal “Farol das Ilhas, depois da sua colaboração com a Cooperativa Sextante

António Borges Coutinho estudou no Colégio Infante de Sagres, onde Agostinho da Silva foi professor. Este, entre outras inovações pedagógicas, não seguia o livro único obrigatório para todos os alunos e segundo ele “organizou-se o Infante de Sagres em Município Escolar, inteiramente dos alunos, com suas eleições livres, a sua Câmara, a sua administração, o seu tribunal, os seus programas culturais, a sua actividade cívica. Em plena ditadura exterior, vivia o colégio democraticamente.”

 A ideia de só na autonomia e pela autonomia ser possível a verdadeira educação de Agostinho da Silva é também de António Sérgio, sendo uma pena que ainda hoje não seja implementada a participação democrática direta dos alunos dentro e fora da sala de aula.

 Ao contrário do que escreveu Manuel Barbosa, António Borges Coutinho não foi alheio  à constituição e ao funcionamento da Cooperativa Sextante.

 António Borges Coutinho foi mantido a par da iniciativa de criação da Sextante, através da correspondência que manteve com Eduardo Pontes,  terá contatado açorianos residentes em Lisboa e adiantava dinheiro para pagamento dos livros às editoras. Aquando do processo de encerramento da(s) cooperativa (s), António Borges Coutinho foi representante da Sextante, na qualidade de observador, em reuniões realizadas em Lisboa, e esteve presente na Assembleia Geral realizada a 28 de agosto de 1972, tendo sido, segundo informações da PIDE, um dos intervenientes mais ativos. Por último, foi da sua autoria o recurso, apresentado pela Sextante, para o Supremo Tribunal Administrativo, com vista a impedir o seu encerramento.

A situação dos rendeiros e dos trabalhadores agrícolas mereceram a atenção de Borges Coutinho, de que é exemplo a sua participação já como Governador Civil na homenagem a Carlos Ferreira, estufeiro morto pela polícia política salazarista em 1937, realizada no dia 3 de fevereiro de 1975, na Fajã de Baixo, por iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores da Cultura do Ananás, que contou com a presença de centenas de pessoas.

 

Na ocasião, entre outras palavras, António Borges Coutinho afirmou o seguinte:

 

“Esta é a segunda vez que sinto a entrada do 25 de Abril em S. Miguel A primeira foi quando foram congeladas as rendas e proibidos os despedimentos. Houve uma grande alegria na classe rendeira.

Esta é a primeira vez que vejo o proletariado rural a manifestar-se. É uma grande alegria para mim, e estou certo de que o vosso exemplo se vai estender pela ilha toda.

O entusiasmo pelo cooperativismo por parte de António Borges Coutinho está bem patente no jornal Farol das Ilhas (1977-1980). Com efeito em 44 dos 53 números consultados (83%) há textos sobre o cooperativismo ou sobre a criação e o funcionamento de cooperativas em várias ilhas dos Açores.

 

O interesse de António Borges Coutinho pelo movimento cooperativo deverá estar relacionado com a sua ligação a António Sérgio que considerava o cooperativismo como uma movimento de reforma moral e social.

 

Vejamos quais eram para António Sérgio (1984) as três ideias mestras do cooperativismo:

 

- “Tudo no cooperativismo deve ser voluntario e livre, feito de baixo para cima, sem nenhuma ingerência determinativa do Estado (embora o Estado possa auxiliar, sem nunca mandar coisa alguma)”;

 

- “O povo é capaz de se emancipar a si mesmo; sem ingerência dos políticos e do Estado […] Quando os povos esperam que os governos façam as coisas não há povos verdadeiramente bons nem governos verdadeiramente bons;”

 

— Uma cooperativa de consumo não deve ser só uma empresa, como uma empresa Capitalista: deve ser também ao mesmíssimo tempo, um centro de convivência fraterna e um foco de ascensão moral e cultural.”

 Termino com a recomendação da leitura de dois livros maravilhosos:” O apoio mútuo: um factor da evolução”, de Piotr. Kropotkine e “A Nação das Plantas”, de Stefano Mancuso.

 Através do primeiro, constata-se que “as pessoas tendem espontaneamente para a ajuda mútua, e que é o Estado, com a sua ânsia de regular coletividades e defender privilégios privados, que corrompe esta inclinação natural” e que o verdadeiro motor da evolução é a capacidade de cooperar dos indivíduos. O segundo autor, uma autoridade de renome mundial na área da Neurobiologia Vegetal, corrobora as afirmações do filósofo anarquista russo, ao terminar o seu livro com a seguinte frase: “A cooperação é a força através da qual a vida prospera, e a Nação das Plantas reconhece-a como o primeiro instrumento do progresso das comunidades”.

 Ponta Delgada, 26 de outubro de 2024

Teófilo (Soares) Braga

Fotografia: H. Medeiros

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Cedro-do-buçaco

 


Cedro-do-buçaco

 

O cedro-do-buçaco (também conhecido como cedro-do-bussaco), ou cedro-de-goa ou cipreste-do-buçaco (Hesperocyparis lusitanica (Mill.) Bartel) é uma espécie, pertencente à família Cupressaceae, que é originária duma região que vai do México às Honduras. Hoje, pode ser encontrado, noutros continentes para além do americano, como em África, Europa, Ásia e Oceânia.

 

Em Portugal continental, o cedro-do-buçaco pode ser observado em vários locais,  nomeadamente na Mata Nacional do Buçaco, em Coimbra, e, em Lisboa, no Jardim França Borges e na Quinta das Conchas.

 

O cedro-do-buçaco, que pode atingir 30 m de altura, é uma planta resinosa.de copa piramidal, sobretudo nas árvores jovens, o seu tronco é cilíndrico e a sua casca é castanho-avermelhada.

 

De folhagem persistente, segundo Saraiva (2020) apresenta dois tipos de folhas; “as folhas dos indivíduos jovens são aciculares; as dos indivíduos maduros escamiformes, imbricadas dispostas sobre os ramos, de modo tal que o par de folhas superior está disposto em posição cruzada em relação ao inferior, com 2 a 5 mm de comprimento, de um verde um pouco acinzentado até verde glauco”.

 

Tanto o nome comum como o científico desta espécie estão envoltos em alguma confusão porque a mesma não é um cedro, mas sim um cipreste, e não é nativa de Portugal, como terá pensado o botânico francês Joseph Pitton, de Tournefort, que, em 1698, a considerou como sendo autóctone da Serra do Buçaco daí a designação lusitânica.

 

O cedro-do-buçaco chegou à ilha de São Miguel em 1799, como prova um ofício do ministro e secretário de estado D. Rodrigo de Sousa Coutinho dirigido a Nicolau Maria Raposo, datado de 6 de dezembro daquele ano, de que abaixo se publica um extrato:

 

«Estimo muito que seu filho tenha feito huma boa sementeira das Arvores de que lhe remetti as sementes, e n’esta occasião receberá V. M.* para o mesmo fim huma nova porção de Semente do Cedro de Bussaco. Recommendo-lhe muito este objecto e espero que com o seu conhecido zelo por tudo o que é de utilidade publica, se propagarão n’essa Ilha estas plantações, de que para o futuro se podem., tirar grandes utilidades.»

 

O grande introdutor de espécies vegetais nos Açores, sobretudo ornamentais, José do Canto, também apreciou a espécie tendo-a introduzido no século XIX no seu Jardim em Ponta Delgada.

 

Hoje, para além da sua presença no Jardim José do Canto, em Ponta Delgada, é possível encontrar o cedro-do-buçaco noutros jardins e espaços ajardinados como o Jardim António Borges, em Ponta Delgada, ou o Parque Pedagógico Maria das Mercês, no Pico da Pedra.

 

O cedro-do-buçaco, para além do uso como planta ornamental, pode ser utilizado para formar barreiras para proteção dos efeitos nefastos do vento. Também pode ser usado em marcenaria, para a obtenção de lenha de boa qualidade e para a produção de celulose.

 

26 de outubro de 2024

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Virusaperiódico (45)

 



Virusaperiódico (45)

 

No dia em que faz 502 anos da subversão de Vila Franca do Campo (22 de outubro de 1522), a primeira notícia que recebo foi a de que um partido político defende o regresso do glifosato para combater infestantes. Já me habituei ao regresso (será que nunca esteve presente?) da ignorância e fico à espera do pedido do retorno da PIDE.

 

Nasci precisamente 435 anos depois da subversão da minha terra natal, tendo recebido várias prendas, sendo as mais importantes as mensagens de amigos e familiares. A todos o meu agradecimento.

 

Comecei o dia 23 com a leitura do prefácio e do posfácio do livro “Notícias de Lugar Nenhum”, de William Morris.

 

Num dos jornais de Ponta Delgada alguém que havia pertencido à ANP afirmou que depois do 25 de Abril de 1974 desconfiavam (quem?) que ele seria comunista! Felizmente há quem saiba ler jornais.

 

O dia 24, devido a uma “forte constipação” (?) foi passado quase todo em casa e repouso. Com a ajuda de alguma medicação espero estar em condições de participar na homenagem a realizar no próximo sábado ao mais destacado oposicionista ao Estado Novo nos Açores, António Borges Coutinho.

 

24 de outubro de 2024

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Sobreiro

 


Sobreiro

 

O sobreiro, sovereiro, chaparro ou sobro (Quercus suber L.) é uma árvore da família Fagaceae originária do sul da Europa e do norte de África.

 

O nome do género Quercus deriva do termo celta quercuez que significa bonita árvore e

o da espécie, suber, vem do latim suber que era o nome que naquela língua se dava à cortiça.

 

Nativo de Portugal continental, existe tanto a Norte como a Sul, nomeadamente no Alentejo, onde aparece como árvore isolada.

 

Em Portugal, há muitos sobreiros classificados como árvores monumentais, sendo o mais conhecido o sobreiro Assobiador que se encontra na aldeia de Águas de Moura, no concelho de Palmela, que é considerado o mais velho (estima-se que tem uma idade aproximada de 234 anos) e maior sobreiro do mundo (cerca de 30 m de diâmetro de copa e cerca de 17 m de altura) pelo Livro de Recordes do Guinness e foi eleito como Árvore Europeia de 2018.

 

Desconhece-se a data da chegada do primeiro sobreiro aos Açores. Sobre a sua presença no nosso arquipélago sabe-se que já existia na primavera de 1856 no Jardim José do Canto, em Ponta Delgada. 

 

Sobre a sua abundância, o regente agrícola Silvano Pereira, num texto intitulado “Principais plantas cultivadas e espontâneas nos Açores”, publicado em 1953, no Boletim da Comissão Reguladora do Arquipélago dos Açores, escreveu que era uma “árvore cultivada (rara).”

 

Na ilha de São Miguel, onde não existem muitos exemplares, a planta é usada com fins ornamentais, podendo ser observada no Jardim António Borges e no Jardim Botânico José do Canto, em Ponta Delgada, no Parque Terra Nostra, nas Furnas, no Quintal Etnográfico, na Ribeira Chã, e na Mata do Dr. Fraga, na Maia.

 

O sobreiro foi uma árvore protegida, desde muito cedo, datando de 1546 a proibição do seu corte e uso para o fabrico de carvão e das suas cinzas nas saboarias do Ribatejo. Dado os seus valores económicos e ecológicos, o sobreiro, por Resolução da Assembleia da República, datada de 22 de dezembro de 2011, foi declarado Árvore Nacional de Portugal.

 

O sobreiro é uma árvore de folha persistente, de copa mais larga do que alta, de crescimento lento e grande longevidade, distinguindo-se pela sua casca grossa gretada e rugosa, a cortiça, de que Portugal é o maior produtor mundial.

 

De grande valor ecológico, é resiliente ao fogo e abrigo e fonte de alimento para várias espécies animais, o sobreiro é também de grande importância económica não só pela cortiça que fornece, mas também pela sua madeira, que é usada em marcenaria, e pelas bolotas que eram usadas na alimentação de porcos e também consumidas. pelos humanos.

 

Na altura dos Descobrimentos, a madeira de sobreiro foi usada na construção naval, sobretudo nos cascos das naus e caravelas.

 

As folhas dos sobreiros são um pouco coriáceas, de forma ovado-lanceoladas e apresentam as margens ligeiramente dentadas. A sua página superior é glabra e a inferior apresenta pelos curtos acinzentados. As flores dos sobreiros são poucos notórias e surgem nos meses de abril, maio e junho. Os frutos, as bolotas, são glandes, ricas em amido, açucares e gorduras e têm a época de maturação de setembro a janeiro.

 

O sobreiro propaga-se muito bem por sementes. Segundo Saraiva (2020) “as bolotas perdem rapidamente a viabilidade (capacidade de germinação), pelo que devem ser semeadas tão cedo quanto possível, ou então devem ser estratificadas a temperaturas de 0 a 2ºC e plantadas na primavera seguinte.”

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Moinhos da Ribeira Seca




 Moinhos da Ribeiira Seca de Vila Franca do Campo: o passado (daqui: https://www.facebook.com/AcoresQuaseEsquecidos) e o presente /21 de outubro de 2024)

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Virusaperiódico (44)

 


Virusaperiódico (44)

 

O dia 19 de outubro foi dedicado às comemorações do 35º aniversário dos Amigos dos Açores-Associação Ecológica que fundei com outros amigos na ilha de São Miguel e que chegou a ter associados (desconheço se ainda tem) em várias ilhas dos Açores.

 

Recordo que os Amigos dos Açores começaram a sua atividade em janeiro de 1984, como núcleo dos Açores dos Amigos da Terra-Associação Portuguesa de Ecologistas e que a partir de 1987 se tornaram em associação regional com a designação Amigos da Terra/Açores. Dos associados que assinaram a escritura já não estão entre nós Eduardo Lopes, Humberto Furtado Costa e Gualter Cordeiro.

 

Antes das comemorações estive desde as 4 h da manhã a passar para o computador alguns textos do livro “As plantas usadas na medicina popular nos Açores” que no próximo ano terá uma versão em inglês.

 

As primeiras duas horas “úteis” do dia 20 foram usadas para concluir o trabalho iniciado no dia anterior.

 

Ainda antes do Sol nascer e do passeio matinal com os cães, li mais algumas páginas do livro já referido de Edgar Silva.

 

O dia 20 foi quase todo passado em reunião para preparar um evento que aí vem. Durante a tarde, numa conversa sobre o passado, um dos participantes na manifestação de 6 de junho de 1975 afirmou que viu uma carrinha carregada de cabos de sachos (ou de outras alfaias agrícolas). Deviam ser para começar uma guerra pacífica…com combatentes que desconheciam ao que iam.

 

No dia 21 andei por Vila Franca do Campo, onde fui cuidar das abelhas e colher bananas.

 

21 de outubro de 2024

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Virusaperiódico (43)

 


Virusaperiódico (43)

 

Comecei o dia 15 a alinhavar o boletim aperiódico “Santantoninho”, nº 12 e a fazer a sua divulgação. Voltei à leitura de mais um livro de um madeirense, desta vez de Edgar Silva. O título é “«Vendaval de Utopias»” os Católicos da Revolução e o PCP”.

 

No dia 16, estive a redigir um texto sobre uma figura da oposição ao Estado Novo nos Açores. O destino poderá ser o caixote do lixo. Ao anoitecer fiz duas tentativas, sem sucesso, de observar o cometa que anda por aí a passear.

 

No dia 17 li na capa de um jornal que o risco de pobreza e exclusão social tinha voltado a aumentar nos Açores e que as nossas lagoas estavam em perigo. É a sustentabilidade açoriana?!

 

Depois de alguns trabalhos domésticos e de arrancar alguma junça, estive a ler o documento “A situação política portuguesa-O FRACASSO DO REFORMISMO”, datado de maio de 1972, subscrito, por, entre outros, António Borges Coutinho. Deixo aqui as frases finais: “É bem verdade que uma saída democrática não está à vista; mas o caminho sim: só os progressos da consciência democrática e popular e as acções verdadeiramente implantadas num movimento de massas transformarão de modo substancial a correlação de forças. A salvação do país é tarefa nacional!

 

No dia 18, passei pela minha antiga escola e fiquei triste ao ver que um dos jacarandás havia morrido. Infelizmente não tive tempo para conversar com muitos colegas, pois as obras em casa não me deixam sossegado. Passei algum tempo a divulgar um evento que aí vem.

 

18 de outubro de 2024

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Piteira

 


Piteira

 

A piteira, pita, agave ou babosa (Agave americana L.) é uma planta suculenta originária do México e de algumas regiões dos Estados Unidos da América que se encontra naturalizada nos Açores, podendo ser encontrada em Santa Maria, São Miguel, Flores, Faial, Pico, São Jorge e Graciosa.

 

Pertencente à família Asparagaceae, a piteira prefere zonas costeiras, podendo ser vista geralmente até aos 200 m de altitude. Na ilha de Santa Maria apresenta um comportamento invasor.

 

A piteira, que pode atingir 8 m de altura, apresenta folhas carnudas, em roseta, lanceoladas e espinhosas que, em média, podem atingir 2,5 m de comprimento, 30 cm de largura e 3 cm de espessura. As flores são amarelo-esverdeadas, surgindo nos meses de junho a agosto e os frutos são cápsulas com 6 cm de comprimento.

 

Vieira, Moura e Silva (2020) referem o uso da piteira como ornamental e medicinal. Segundo eles, a planta apresenta “propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antimicrobianas, anticancerígenas, cardioprotetoras, antidiabéticas, analgésico e antialérgico”.

 

Sobre a utilização da piteira, o engenheiro agrónomo Arlindo Cabral, no texto “Sebes vivas ou abrigos, nos Açores – subsídios para o seu estudo”, publicado no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 17, relativo ao 1º semestre de 1953, escreveu o seguinte: “usada, por vezes, no litoral algarvio como sebe viva e em cômoros, também aparece nos Açores, mas mais a constituir vedações ou tapumes. Estaria indicada para sebe viva junto ao litoral, em terras de cultura, pois para pomar tem pouca altura.”

 

Nos Açores, a piteira foi usada na alimentação do gado e é utilizada como ornamental, sendo conhecida a sua presença em vários jardins, como o Jardim António Borges, em Ponta Delgada, ou a Mata do Dr. Fraga, na Maia.

 

De acordo com um texto publicado no jornal “O Agricultor Michaelense”, nº 2, relativo ao mês de fevereiro de 1848, pode-se ler que as suas folhas verdes e mais tenras na ilha de Santa Maria eram um suplemento dos pastos, sendo quase o único nos quatro meses de inverno. Depois de tirados os espinhos, as folhas são dadas aos animais que as apreciam muito, regalando-se “tanto, que lhes está continuamente a escorrer a baba pela boca, e não só se regalam senão que engordam desusadamente e fazem-se nédias e luzidias.”

 

Não se sabendo qual a data e quem introduziu a piteira nos Açores, no número referido do jornal da Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense, António Feliciano de Castilho apresentou uma proposta para que a planta fosse disseminada na ilha de São Miguel e não só, dada a sua utilização no fabrico de papel de elevada qualidade, tornando possível a criação de uma importante indústria que seria importante “quer pelo seu pecuniário, quer, e sobretudo, pelo influxo que a barateza do papel deverá exercer ao desenvolvimento da instrução.”

 

Castilho, no seu texto, enumera as qualidades do papel de piteira do seguinte modo:

 

“…sobreleva em consistencia, e iguala em alvura, ao do algodão, ao da folha de milho, ao da palha de arroz, e até ao do linho; serve maravilhosamente para a escrita, para a impressão, para a estamparia, para os fórros pintados das paredes, para tudo; e sáe por baixo preço, attendendo a que o vegetal da sua materia prima, contem em pequeno volume grande massa de fibra, e se cria sem trato até nos peores terrenos”.

 

Para além do já mencionado, no texto já referido de “O Agricultor Michaelense” há referência a outras utilizações da piteira, nomeadamente no fabrico de uma bebida, a pulca, e ao uso das suas fibras. Assim, “as fibras das folhas dão um fio d’ extrema rijeza, bem conhecido pelo nome de pita, utilizado não só nas obras de cordoaria, mas ainda em tecidos exquesitos, e outros lavores mui mimosos, de que podem servir de exemplos os primorosos artefactos obrados no Algarve, Madeira.”

 

18 de outubro de 2024

Teófilo Braga

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Bananeira

 


Bananeira

 

Neste texto faremos referência às bananeiras que consideramos mais comuns no nosso arquipélago, a bananeira-anã (Musa acuminata Colla) e a bananeira-de-prata (Musa x paradisiaca L.)

 

A bananeira (Musa spp.) é originária do Sudeste Asiático, sendo cultivada em regiões tropicais e subtropicais do mundo.

 

As bananeiras já existiam na região mediterrânica antes dos descobrimentos, tendo sido levadas pelos portugueses para as ilhas atlânticas africanas e para a costa ocidental africana ao sul da Gâmbia (Ferrão, 1999).

 

Na Madeira, a bananeira já era cultivada em 1552, vinda das Canárias ou de Cabo Verde e a sua introdução nos Açores terá ocorrido no século XV ou XVI, na chamada era dos descobrimentos.

 

Em 1884, ao descrever a flora e a fauna da Ilha Graciosa, António Borges do Canto Moniz escreveu o seguinte: “…Encontra-se na ilha esta excellente planta, e muito conveniente seria que se tratasse da sua vulgarização, porque além de ser de reconhecida utilidade ao homem, dá um aspecto muito particular á terra”.

 

Em 1952, o Eng.º Arlindo Cabral, no boletim nº 15 da CRCAA, sobre a Fajã das Almas escreveu que era vocacionada para a produção de bananas e que “a bananeira vegeta e frutifica muito bem no tracto de terreno, fundo, ligeiramente inclinado, portanto exposto à incidência dos raios solares e protegidos dos ventos do quadrante norte…”

 

A bananeira multiplica-se por divisão dos rebentos que nascem junto à base. Em Vila Franca do Campo é tradição fazer a plantação de bananeiras no mês de maio.

 

A bananeira é uma planta herbácea, com folhas muito grandes de limbo alongado e flores, que surgem ao longo de todo o ano, encontram-se em recetáculos de cor violeta. O seu fruto, carnudo e indeiscente, é muito rico em vitaminas e açúcares o que o torna um excelente alimento.

 

Feijão (1986), depois de mencionar que os frutos são ricos em vitaminas A, B1, B2, C, D e E” e que “são muito alimentícios”, apresentou a forma como se faz “Licor de Banana”. Assim, segundo ele: “ferver a polpa de três bananas num litro de água; adicionar meio copo de álcool e 50 g de açúcar; filtrar.”

 

Vieira, Moura e Silva (2020), para além de referirem os usos ornamental e alimentar, mencionam que a banana tem “propriedades antifúngicas, antibióticas, enzimáticas e revigorantes” e que “a casca usada diretamente serve para hidratar a pele, prevenir as rugas, eliminar hematomas e acelerar a cicatrização de feridas.”

 

Augusto Gomes (1993) menciona o uso, para tratar as calosidades, da “raspa da parte interior da casca da banana.”

 

Em 1992, nas Calhetas, concelho da Ribeira Grande, extraía-se “o sumo da folha da bananeira” e esfregava-se “na ferida” para tratar a erisipela.

 

 

Bibliografia

 

Ferrão, J. (1999). A aventura das plantas e os Descobrimentos Portugueses. Lisboa, Instituto de Investigação Tropical e Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 75 pp.

 

Feijão, R. (1986). Medicina pelas plantas. Lisboa, Progresso editora. 334 pp.

 

Gomes, A, (1993). A alma da nossa gente: repositório de usos e costumes da Ilha Terceira, Açores. Angra do Heroísmo, Direção Regional dos Assuntos Culturais. 498 pp.

Moniz, A. (1884). Ilha Graciosa (Açores)- Descripção Histórica e Topographica. Angra do Heroísmo, Imprensa da Junta Geral.


Vieira, V., Moura, M., Silva, L. (2020). Flora terrestre dos Açores. Ponta Delgada, Letras Lavadas. 356 pp.